Do pequeno redemoinho, emerge na água um ser de pele completamente branca com aparência humana.

    Ele não tinha pelos em seu corpo e não usava algo para cobri-lo, seu corpo era longo e também não aparecia ter olhos.

    Inicialmente aquilo foi um choque para ambos, principalmente para Isha que jamais tinha visto uma criatura daquelas, então aquilo logo o atemorizou.

    Kenji também estava assustado, mas imaginou que poderia ser como o sapo da taverna, um ser estranho mas que tinha sim a habilidade da fala.

    A tal criatura não parecia assustada mas sim curiosa, como um animal em um novo ambiente, simplesmente explorando por puro instinto.

    A criatura gradualmente foi se adaptando e quanto mais ela saia da água mais revelava da extensão do seu corpo, e que na verdade ela não era completamente humana, mas tinha na outra metade de seu corpo da cintura para baixo, imensos tentáculos de polvo.

    — Cacete! O que é isso, Isha!? — exclamou Kenji dando um passo para trás.

    — E-eu não sei… Cancele o ritual!

    Kenji ficou confuso, não tinha noção do que fazer para acabar com aquilo, logo Isha agiu na sua frente e com seu pé direito pisou no símbolo rúnico no chão o apagando, assim desfazendo ritual. O símbolo que também emitia sob a água se desfez e a criatura sumiu num piscar de olhos.

    Para Isha foi uma experiência assustadora, mas como ela mesma se forçou a estar naquela situação, se sentiu desafiada e quis provar para Kenji que era capaz de finalizar aquele ritual.

    — Vamos mais uma vez!

    Com isso eles ficaram repetindo esse mesmo processo que volta e meia dava “errado” novamente.

    Às vezes nenhuma criatura era invocada pelo ritual, e em outras ocasiões as criaturas que “atendiam o chamado” com êxito não passavam de criaturas burras ou grandes predadores que ao serem chamados tentavam atacar a dupla.

    O tempo passou e isso permaneceu até o entardecer, onde ambos estavam completamente fadigados e Isha já não tinha vontade de continuar.

    — Amanhã a gente tenta, vamos parar por hoje. — disse Kenji recolhendo a bússola do chão e esperando Isha para andarem juntos.

    No caminho de volta, a decepção de Kenji é notável devido ao silêncio durante todo o percurso. Isha também permanece em silêncio, ela se sente desafiada, e pessoalmente confrontada devido às suas inúmeras “falhas”.

    Algo que não deveria ser atribuído a ela, já que o ritual tem realmente um efeito de aleatoriedade, mas ambos ficaram chateados pensando quanto tempo aquilo levaria, algo que deveria ser simples e rápido, levando mais tempo do que imaginaram.

    — Eu deveria ter em mente que nada poderia acontecer hoje, mas acabei te decepcionando, né? — indagou Isha.

    — N-não, tudo bem. — Kenji responde meio sem jeito. — Você já tinha tido que qualquer coisa poderia ser chamada… Talvez eu tenha criado muita expectativa na verdade, mas coisas assim acontecem.

    Ambos chegam em casa.

    — Talvez eu seja um desastre fazendo esse tipo de coisa, amanhã irei procurar alguém para nos ajudar, pode ser uma boa ideia! — exclamou Isha.

    Isha abre a porta e Kenji entra em seguida, antes que ele possa se virar e fechar a porta, pequenas partículas de pó de fada cobrem a porta, fazendo ela se fechar sozinha.

    Cada vez mais Kenji se surpreende com o quão mágico era a casa de Isha em específico, ele nunca poderia imaginar que chegaria onde chegou.
    Kenji senta em uma cadeira próxima e recosta sua cabeça, pensativo.

    “E pensar que tudo isso tá acontecendo porque eu vim procurar uma cura que não existe…”

    — O que foi Kenji? Tá tão sério!

    — Hã?! Nada não, só pensando um pouco.

    Isha já naquele momento usava outra vestimenta, algo mais simples e diferente do habitual.

    Ela usava uma blusa branca que parecia cortada num comprimento mais curto, revelando parte de sua barriga, completando com uma pequena saia rodada curta de cor preta.

    Kenji fita a garota de cima a baixo e pensa consigo mesmo que deve ser comum para as fadas usarem roupas mais leves, ao contrário dos humanos.

    — Tá pensando na sua família?

    — Mais ou menos isso…

    — Você não me contou muito sobre sua família. Eles estão bem com você longe por tanto tempo?

    — Eles estão acostumados eu acho, não devem sentir tanto minha falta. E também gostei daqui, de você, dos lagartos, enfim… Aqui realmente é um ótimo lugar, certeza que o governo vai tornar aqui uma cidade!

    — Fico feliz em ouvir isso! — ela sorri. — Como você já sabe, não vou te prender aqui, você está livre pra sair e visitar sua família quando quiser. Família também é muito importante, não vejo motivos para ficar longe dela por tanto tempo.

    Kenji encarou Isha um pouco desconcertado e titubeou.

    — A-as vezes famílias são difíceis de lidar, não acha?!

    — Verdade! Mas mesmo que nem tudo seja flores, estar próximo de quem ama é algo incrível!

    — Você já amou alguma vez?

    Kenji muda de assunto de forma magistral, evitando o assunto sobre família.

    — Esse sentimento para nós fadas é muito diferente do que em humanos. Nós amamos cada coisinha que encontramos, cuidamos daquilo como se fosse algo importante mesmo que seja a primeira vez que tenhamos visto, é difícil explicar, mas é assim que eu me sinto! — suas asas começam a brilhar ao concluir sua fala, evidenciando esse sentimento tão aflorado das fadas.

    — Então quer dizer que você “ama” literalmente todas as pessoas que você conhece, ou conheceu? Inclusive as pessoas aqui da vila?

    Isha não responde verbalmente, mas acena com a cabeça concordando.

    — Ok… Chega desse assunto, é muito confuso. Vou descansar. Boa noite Isha!

    — Boa noite Kenji!

    Isha se retira, indo para seu quarto para finalmente descansar depois de um dia exaustivo.

    Kenji deita no sofá e fica pensando nas palavras que Isha tinha dito sobre família. E em determinado momento ele acaba pegando no sono.

    Quando ele desperta se vê em sua casa, junto ao seu irmão e pais. Ao primeiro momento ele fica confuso mas a alegria vai tomando conta dele, assim ambos tem um maravilhoso jantar em família.

    — Porque você me deixou irmão? — diz Shiro olhando fixamente para Kenji. — Você me deixou aqui, sozinho, para morrer!

    — Hã?! O que você tá falando? Eu tô aqui, Shiro!

    — MENTIROSO! — a voz de Brook brada como um trovão ensurdecedor. — Você é um merdinha egoísta! Eu sempre falei pra sua mãe que você tinha que trabalhar na taverna comigo, mas ela apoia seus sonhos. Você é uma puta decepção para mim!

    — Ô meu filho!! — Yuki fala num tom mais suave, mas de extrema angústia. — Porque nos abandonou?

    — Mãe? Pai? Eu tô aqui! Eu voltei por vocês, e pelo Shiro!

    — Porque ainda nos engana?! Eu confiei em você! EU CONFIEI EM VOCÊ! EU CONFIEI EM VOCÊ! GAROTO IMPRESTÁVEL! — ela começa a chorar e sua voz soa mais estridente.

    Kenji se desespera, começa a correr mas tem a impressão de que não sai do lugar, ainda se encontrava em sua casa, ouvindo tudo aquilo.

    — Alguém me tira daqui! M-me desculpa… Eu não queria fazer isso!

    Sven que ali também estava, observa tudo de longe. E quando Kenji percebe a presença do elfo logo pede ajuda.

    — Sven! O que tá acontecendo? Me tira daqui!

    — Sinto muito Kenji. Mas nessa posição eu não posso fazer nada. Isso só cabe a você!

    Parando de correr Kenji se vê sozinho, já sem sua família e Sven.

    E enfim ele acorda de seu pesadelo atordoado.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota