Os sensores de KillSwitch analisavam a energia intensa que irradiava do Vulto Negro. As leituras indicavam que não se tratava de Miasma, o que contrariava as informações iniciais de que ele era apenas um Bestial fora do controle de Skarneth.

    Aquele mentiroso desgraçado… disse que seria apenas uma missão de captura simples. Mas eu não consigo nem tocar esse monstro sem que essa energia estranha me destrua.

    KillSwitch apontou a mão na direção do Vulto Negro. A energia do seu Núcleo Mutante percorreu seus circuitos internos até os cilindros em seus braços, pronto para disparar um jato de água pressurizada que o incapacitaria.

    Mas, antes que o ataque o alcançasse, algo frio e ossudo se fechou ao redor de seu torso. A força que o imobilizou veio acompanhada do estalo de vértebras e respirações ásperas.

    O Caçador de Ossos.

    — Eu ainda não terminei com você babaca — rosnou, a voz falhando como o ranger de um cadáver.

    O disparo errou, atingindo o solo e explodindo em uma cratera de cortes profundos e água fervente.

    KillSwitch soltou um riso robótico; dessa vez, era ele quem tinha sido pego desprevenido, mas isso não o impediria de cumprir sua missão.

    — Tá legal… ainda preciso de mais informações para neutralizá-lo por completo. Então vamos resolver na força bruta. — As palavras vieram acompanhadas do estalo de ossos se partindo, quando KillSwitch desferiu uma cotovelada brutal nas costelas do Caçador.

    Mesmo com metade do crânio reduzida a uma massa retorcida, o único olho vermelho do ciclope ósseo permanecia aceso, ardendo em ódio, enquanto se mantinha inabalável contra os golpes do Desperto.

    Um rosnado enfurecido fez KillSwitch voltar a atenção para o ponto onde o lobo metálico havia caído.

    Kaern cambaleou, a respiração entrecortada ecoando como um rugido metálico. O abdômen aberto ainda fumegava, as bordas da ferida queimadas e retorcidas, mas a centelha de seu Núcleo Mutante ainda pulsava, recarregando cada fibra de sua couraça negra.

    Segmento por segmento, a armadura viva se energizou, iluminando-se em veios carmesim até que todo o corpo do lobo metálico brilhou como uma forja prestes a explodir.

    O ar ao redor tremia, cortado por estalos, faíscas e descargas vermelhas que se enroscavam em sua carcaça de aço. Sem hesitar, Kaern avançou. Sua investida era uma linha reta, brutal, impossível de deter, um relâmpago carmesim que rasgava o campo de batalha com a promessa de devastação.

    KillSwitch percebeu, segundos antes do impacto, que não teria tempo de se livrar do Caçador, que por sua vez, não demonstrava se importar em receber parte do dano, contanto que ele também fosse atingido.

    O impacto chegou com a força de um trem. KillSwitch quase foi lançado pelos ares, os pés arrastando no chão do templo e abrindo sulcos profundos nas pedras. Por um milagre — ou talvez não — ele resistiu ao ataque relâmpago de Kaern.

    Com ambos os braços erguidos, canalizou o máximo de Miasma que possuía, criando um campo de força azulado que envolvia seus membros. A barreira vibrava, trincando sob a pressão, enquanto segurava a energia destrutiva avermelhada que ameaçava atropelá-lo.

    Ele só precisava resistir por mais alguns instantes, apenas o suficiente para que o lobo metálico perdesse o ímpeto e fosse forçado a recuar. Então, teria a brecha perfeita para se libertar e retomar o controle do combate. Porém, o Caçador de Ossos conhecia muito bem aquela tática, e não permitiria que isso acontecesse.

    Manipulando a própria carapaça óssea com a mesma maestria com que forjava suas armas, o Caçador fez brotar presas pontiagudas por toda a sua estrutura. O aperto se transformou em uma prisão de dor: as lâminas ósseas atravessaram a armadura de KillSwitch, rasgando fios, esmagando placas e obrigando-o a ranger os dentes diante da pressão sufocante.

    Por um único segundo, o tormento roubou-lhe a atenção, e esse lapso foi o bastante. Um clarão vermelho cortou sua visão periférica.

    Kaern arrancou como um trovão encarnado, o corpo envolto em energia instável, cada passo deixando rachaduras incandescentes no solo do templo. Não houve tempo para reação. O Undead lupino colidiu contra os dois, transformando KillSwitch e o Caçador de Ossos em projéteis involuntários.

    O trio atravessou pilastra após pilastra, cada uma explodindo em fragmentos de pedra e poeira, até que uma sequência inteira desmoronou em cascata, soterrando-os sob um mar de destroços e fumaça.

    Nada além de tremores preenchia o Templo de Narhma, e parecia que permaneceria assim por toda a eternidade, até que uma mão em carne viva irrompeu dos destroços

    Novamente o Caçador de Ossos começou a se erguer. Cada movimento fazia rangir os ossos quebrados e estilhaçar pedaços de pedra ao seu redor. Seu corpo estava ainda mais destruído do que antes: crânio parcialmente esfarelado, costelas retorcidas, placas ósseas arrancadas ou fragmentadas, e um fiapo de miasma escapando pelos ferimentos.

    Ainda assim, seu semblante permanecia aborrecido, indiferente ao caos ao redor. Não havia animação, nem fúria cega apenas aquele olhar frio e penetrante.

    Uma luta de pura racionalidade… tão entediante. Eu queria poupar energia, mas acabei me ferrando ainda mais. Por sorte, além daquele lacaio à minha frente, ainda tinha essa centopeia filhote para me proteger.

    — Hm… impressionante — murmurou o Caçador, a voz áspera ecoando pelos destroços — Coloquei você na linha de frente esperando que fosse destruída, que o impacto a despedaçasse, mas aqui está, inteira.

    Ele girou o braço com cuidado, como se estivesse testando novamente a resistência do pequeno aliado. A centopeia não recuou, nem se contorceu, mantendo-se firme e imóvel.

    — Se você continuar assim, pode acabar me surpreendendo mais do que eu esperava. — comentou, um sorriso torto se formando sob a máscara óssea. — Bem, agora só falta descobrir onde Kaern está soterrado.

    O Caçador de Ossos virou-se lentamente, seus olhos vermelhos varrendo os escombros em busca de Kaern. Mas antes que pudesse localizar o lobo metálico, uma presença familiar surgiu ao seu lado.

    KillSwitch ainda estava vivo. Seu peitoral metálico destroçado mal segurava sua estrutura, mas a determinação era inegável, desferindo um soco com precisão letal, mirando diretamente no olho vermelho do ciclope ósseo. O golpe vinha carregado de força concentrada e Miasma, pronto para destruir o Núcleo Mutante que residia ali.

    Por um instante, tudo parecia certo para KillSwitch, até que o Caçador reagiu. Em frações de segundo, ele posicionou seu escudo improvisado: a centopeia filhote se lançou entre o soco e seu rosto, suas presas e carapaça impenetrável formando uma barreira quase indestrutível.

    O punho de KillSwitch colidiu com o corpo da criatura, estilhaçando-se em inúmeros fragmentos metálicos. Mas isso não seria o suficiente para detê-lo.

    O ciclope recuou um passo, respirando pesadamente, o olho vermelho ainda intacto, enquanto a pequena centopeia se enroscava na proteção, emitindo estalos defensivos.

    Mas que merda! Por que diabos não consigo detectar a presença dele antes de quase ser atingido de forma letal? Talvez eu devesse usar aquilo…

    O Caçador de Ossos correu entre os escombros, rangendo os dentes, tentando localizar KillSwitch. Cada movimento levantava pequenas nuvens de poeira, mas a maior parte do ar ainda estava saturado de detritos flutuantes, resultado da queda das pilastras.

    O Undead tubarão já não estava onde o ciclope esperava. Ele havia desaparecido novamente, fundindo-se à densa névoa de poeira. A ausência do inimigo deixava o Caçador em desvantagem; ele não conseguia detectar com precisão os movimentos do predador mecânico.

    Por sorte, Kaern já havia retornado ao combate. O lobo metálico avançava com ímpeto, rasgando a neblina, os ruídos de metal e ossos ecoando enquanto ele se confrontava com KillSwitch.

    O ciclope apenas ouvia os estalos, colisões e rugidos, tentando decifrar a situação sem ter visão clara. A névoa e o caos agora trabalhavam contra ele, enquanto a ameaça invisível de KillSwitch pairava à espreita, pronta para atacar a qualquer momento.

    — Hmph… que se foda. Se eu for me autodestruir, que pelo menos seja esmagando aquela sardinha metálica. — resmungou, parando de correr e começando a se concentrar.

    Parando no meio da névoa, o Caçador de Ossos sentiu suas costelas rangendo, um lembrete desagradável da força do inimigo. Finalmente, ele deixou de se conter e começou a liberar o Miasma contido em seu Núcleo Mutante, algo que não fazia há muito tempo.

    Uma fenda de luz amarelada vazou do peito dele primeiro, pulsando como uma cicatriz viva, seguida por um fio de Miasma espesso que serpenteava no ar feito fumaça venenosa. Era para ser uma liberação descontrolada, mas o Caçador lutava com todas as forças para conter a energia radioativa, pelo menos o suficiente para não detonar o próprio Núcleo Mutante.

    Enquanto isso, seus músculos avermelhados começaram a se expandir sob as placas ósseas, cada fibra se tensionando e crescendo, deixando evidente que o ciclope ósseo não estava mais brincando. Ele estava lutando a sério, pronto para acabar com o conflito naquele instante.

    O Caçador de Ossos soltou um rugido baixo e ameaçador, ecoando entre as ruínas: aquele seria o momento de decidir quem sairia vivo dali.

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