Entrei, para presenciar Lingxin no meio do salão, com a mão apontada para Renyan de braços cruzados na frente do pai, o rapaz demonstrava um rosto emburrado e tedioso.

    — Eu aceito o seu duelo pela mão de Mei! — gritou Lingxin, eu e todos na sala podíamos sentir o medo em sua voz.

    O ambiente não era agradável, e eu podia sentir a tensão como se fosse sólida no ar. Havia um silêncio tenso, os olhares fixos uns nos outros. Jiahao e Song estavam atrás do balcão, os rostos sérios e preocupados.

    — O que raios está acontecendo aqui? — indaguei, e quebrei completamente a tensão ao adentrar sem ser anunciado.

    Um dos guardas da comitiva me lançou um olhar carregado de nojo, a mão sobre o cabo da espada.

    — Forasteiro, não se envolva em nossos assuntos.

    — Eu me envolvo no que quiser. — Levantei a mão, num gesto de desprezo, os olhos fixos nele como lâminas. — Quem é você para me negar isso?

    — Forasteiro, escute, esse é assunto pessoal — falou Hua Yuling Kai, com uma voz calma e pacífica. — Por favor, espere do lado de fora.

    Coloquei a mão no queixo, como se realmente ponderasse essa opção.

    — Que tal eu falar que não? Afinal, Lingxin me salvou, nada mais do que justo do que estar do lado dele.

    A surpresa caiu sobre a sala como um raio. Todos arregalaram os olhos. Ninguém esperava minha interferência.

    — O que você quer? — O patriarca Hua Yuling falou, agora com desprezo onde antes havia respeito.

    — Ainda não descobri. Assim que souber, te aviso. Que tal?

    — Que insolência! — O guarda sacou a espada e a apontou para mim. — Senhor Hua Yuling, solicito permissão para matá-lo aqui e agora. Este homem corteja a morte.

    — No momento em que sua espada sequer pensar em tocar minha sombra, todos aqui estarão mortos — respondi, sem alterar meu tom de voz.

    — Solicito permissão para iniciar um duelo de combate! 

    Hua Yuling Kai assentiu com um simples gesto.

    — Está concedido.

    Ele avançou contra mim. Pela minha experiência na luta do dia anterior, o meu casaco resistente seria inútil ao lidar contra um cultivador, ainda não sabia como me proteger adequadamente daquela técnica

    O que eu ainda tinha, no entanto, era uma garrafa de refrigerante vazia na mão.

    Sem hesitar, joguei o objeto com força. A garrafa voou num arco improvisado, e o atingi em cheio no rosto.

    A sequência posterior ao impacto foi ridícula.

    Ele tropeçou, caiu de costas, e rolou no chão com gemidos abafados. Cacos de vidro estavam cravados no rosto dele. Sangue escorria em fios finos pela bochecha.

    O salão ficou em silêncio mais uma vez, mas agora de puro choque.

    — Muito bem — falei, ao sacudir as mãos. — Vamos resolver isso como pessoas civilizadas? Métodos diplomáticos convencionais, talvez?

    — Você que começou! — protestou outro guarda, ajoelhando-se ao lado do companheiro ferido.

    — É que eu ainda não sabia o que queria — respondi, com um sorriso. — Agora eu sei.

    — Insolente! — rugiu Hua Yuling Kai, batendo com força no balcão ao lado. A madeira estalou e se partiu como se fosse papelão.

    Song e Jiahao, que estavam atrás do balcão se encolheram. Até eu fiquei surpreso com a força bruta daquele golpe.

    Kai respirou fundo, e tentou se recompor, e então me encarou. Os olhos dele não escondiam mais o desprezo, havia ódio puro neles agora.

    — Me desculpe, amigo — disse ele ao olhar para Jiahao, que se lamentava pelo balcão destruído. — Não se preocupe, eu pago pelos danos. Agora fale… o que você quer?

    — Pelo que vi, vocês têm esse costume de julgamentos por combate, certo? Que tal fazermos isso?

    — Contra quem quer lutar?

    — Que tal ele? — Apontei diretamente para Hua Yuling Renyan.

    — Meu filho já tem um duelo marcado — respondeu Kai, de forma automática.

    — Contra quem?

    Todos se viraram ao mesmo tempo. O foco agora era Lingxin.

    Entendi de imediato. Dei uma gargalhada alta e provocadora.

    — Ótimo. Então lutemos antes. Assim ele só precisa lutar uma vez e não se preocupa em chegar atrasado no pós-vida.

    — Você tem um ego absurdo para alguém tão inferior — disse Renyan, com frieza.

    — Será? — Fiz um biquinho debochado. — Enfim, quando é o duelo de vocês? Posso esperar. Na verdade, é até melhor.

    — Não se preocupem, eu luto contra ele. — Hua Yuling Jin entrou no salão principal da livraria, acompanhado por Yan Hu.

    — Aceito, me parece bem razoável — falei com um sorriso.

    Agora, meu principal objetivo era saber qual o potencial de batalha de um verdadeiro cultivador, não órfãos de rua. 

    — Como querem o seu duelo? Um duelo até a morte? Ou por pontuação? — questionou o patriarca Hua Yuling, satisfeito pela prestatividade do seu sobrinho.

    — Prefiro duelo por pontuação — respondi, com um leve encolher de ombros.

    Afinal, uma luta até a morte provavelmente me obrigaria a usar meu baralho, algo que eu não estava disposto a fazer naquele momento.

    — E você, Lingxin? — Hua Yuling Kai se virou para o jovem, que ainda parecia abalado pelos acontecimentos.

    — Duelo por pontuação — disse ele, com a cabeça baixa.

    — Eu aceito — Renyan deu um passo à frente, confiante.

    — Está decidido, então — declarou Hua Yuling Kai, voltando-se para todos os presentes. — Todos aqui são testemunhas de que todas partes aceitaram as condições do duelo.

    Ele então encarou Jiahao.

    — Wen Qishu Jiahao, velho amigo… confio em sua honra para garantir que esses dois encrenqueiros não fujam do compromisso. Peço que os vigie de perto. Os combates ocorrerão em uma semana, no pátio externo da Seita Hua Yuling. Serão abertos ao público.

    Jiahao fez uma reverência respeitosa.

    — Naturalmente, senhor. Aceitamos suas condições. E, pela honra do meu clã, dou minha palavra de que ambos os duelos acontecerão como acordado. Sem atrasos, sem interferências. E as regras serão respeitadas por todos os competidores.

    O silêncio pairou sobre a sala. A tensão se manteve ao máximo. Aquilo era desconfortável demais para continuar, então tive que quebrá-la.

    — E quanto ao meu julgamento? — questionei, eu não podia esquecer que estava sendo investigado por assassinato naquele momento.

    — Suspenso até o duelo. Considere isso uma prova de boa-fé da minha parte. Agora se me dão licença, tenho outros assuntos a tratar na cidade. — Hua Yuling Kai retirou-se da sala junto com o resto da comitiva.

    No final, apenas eu, Lingxin, Jiahao e Song permanecemos no salão. Havia sangue do guarda espalhado no chão, e o balcão de madeira bruta destruído. Abri um sorriso para eles, e fiz uma pergunta que muito me interessava naquele momento:

    — O que é um duelo por pontuação?

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (3 votos)

    Nota