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    [Arco do passado – formação da Hunides]

    Era uma manhã fria e calma em um orfanato no sul de Saitama, em uma parte pobre e bem carente. Na frente do orfanato, em um jardim um pouco acabado, três crianças brincavam alegremente, mesmo sem nada na vida, elas riam alegremente, e se distraiam do inferno que eles viviam.

    [Jakson Hassachibira – 12 anos]

    — Rui! Kevin! Vamos logo, o sol já apareceu! — gritou Jakson com um sorriso largo no rosto, os pés descalços correndo sobre a grama molhada do orvalho.

    [Rui Akasaki – 10 anos]

    — Tá frio demais, Jakson! — reclamou Rui, encolhido sob um cobertor remendado, mas não demorou muito até ser puxado pelo amigo.

    [Kevin Takashi – 11 anos]
    — Se a gente não for logo, o pão velho da cozinha vai acabar! — disse Kevin, rindo, e logo os três estavam correndo pela lateral do orfanato, como se o mundo fosse deles.

    Eles não tinham brinquedos de verdade, mas a imaginação era infinita. Um pedaço de madeira virava espada, uma garrafa quebrada virava tesouro, e uma caixa de papelão virava uma nave espacial. Eles gritavam, pulavam, rodopiavam entre si. Naquele mundo de abandono, os laços entre eles eram tudo. Eram irmãos de alma.

    Jakson, o mais velho, sempre foi o líder. Forte, destemido, mesmo sendo só um garoto. Ele sabia cuidar dos dois como se fosse um adulto. Era ele quem escondia parte do jantar para dar ao Kevin quando o garoto passava fome. Era ele quem brigava com os valentões mais velhos do orfanato quando Rui apanhava. Ele era como um escudo para os dois, mesmo que isso custasse cicatrizes em suas costas e mãos inchadas de tanto bater e apanhar.

    Kevin era o riso. O alívio. A mente criativa que transformava os dias cinzentos em verdadeiras aventuras. Mesmo com fome, com frio ou com medo, Kevin sempre sorria. Tinha sonhos altos, dizia que ia virar presidente um dia, ou talvez astronauta, ou quem sabe… “o herói de toda a quebrada.”

    E Rui… Rui era o coração. A mais quieta dos três, mas a mais sensível. Ela era quem cantava baixinho para os outros dormirem. Quem dividia o último pedaço de pão sem ninguém pedir. Rui era como uma brisa calma em meio à tempestade que era aquele orfanato.

    Naquela manhã, enquanto o céu ainda estava meio cinza, mas os primeiros raios dourados iluminavam o jardim quebrado, os três sentaram debaixo da árvore seca que mal dava sombra.

    — Um dia… — começou Jakson, com os olhos no céu — a gente vai sair daqui.

    — É mesmo? — perguntou Kevin, deitado na grama.

    — É. A gente vai ser grande. Vai ter nossa própria casa. Vai ter comida todo dia. E… vai ter uma placa com o nosso nome.

    — Placa? — Rui piscou confusa.

    — É. Uma placa bem grande: Hunides. É o nome do nosso grupo. Da nossa família.

    — Hunides? — Kevin riu — De onde tirou esse nome, Jakson?

    — É… um nome que inventei. Mas tem um significado. Significa que mesmo sem nada, a gente é unido. Que a gente nunca vai se abandonar. Nem se o mundo acabar.

    O silêncio tomou conta por um segundo. Então Rui sorriu, com os olhos brilhando.

    — Eu gosto… Hunides. A nossa família.

    — Família de verdade — completou Kevin, tocando os punhos com os dois amigos, formando um círculo.

    E ali, naquele chão gelado, três crianças fizeram um pacto sem saber que aquele dia seria lembrado para sempre.

    A infância deles foi marcada por dores, por fome, por abandono. Mas naquele instante, só havia esperança.

    O sol subiu mais um pouco, e a cidade acordava devagar. Lá dentro, as outras crianças começavam a se mexer. Mas no jardim, Jakson, Rui e Kevin ainda estavam ali, deitados, olhando o céu.

    — Ei, Jakson — disse Kevin — e se a gente não conseguir sair daqui?

    — A gente consegue sim — respondeu ele, convicto. — Porque temos uns aos outros. E isso já é o bastante pra começar.

    Daquele dia em diante, sempre que um dos três caía, os outros dois levantavam. Sempre que um chorava, os outros dois enxugavam suas lágrimas. E mesmo que o mundo não ligasse para eles, eles importavam entre si.

    O orfanato podia ser frio. A cidade podia ser cruel. Mas entre os três… havia algo quente, verdadeiro. Uma luz.

    Em um dia qualquer, uma nova pessoa chegou ao orfanato, e assim como todos que chegavam, a dona do orfanato ia apresentar para as demais crianças

    — Crianças, prestem bastante atenção! Esse garotinho aqui é o Dagon, ele perdeu seus pais recentemente e agora vai ficar conosco — ao falar aquilo, o Jakson logo encarou o garotinho chamado Dagon

    O Dagon tinha cabelos longos e negros, e um olhar totalmente sem vida alguma, o Jakson não ligou muito para o Dagon, e foi atrás de seus amigos para brincar um pouquinho

    Na frente do jardim acabado, o Jakson estava brincando com seus dois amigos de lançar pedras em latinhas, e enquanto eles conversavam, eles conversavam tranquilamente

    — Vocês viram o novo garoto? — perguntou Jakson, pegando mais uma pedra e mirando em uma latinha enferrujada. — Dagon, o nome dele.

    Kevin fez careta. — Vi sim. Ele parece um fantasma… ficou parado o tempo todo, só olhando pro chão.

    — Ele não falou nada — completou Rui, de forma suave, abraçando os joelhos. — Acho que ele tá triste demais pra isso.

    Jakson acertou a latinha com precisão, e ela caiu com um som oco. Ele ficou em silêncio por um momento, observando o céu nublado e o vento balançando as folhas secas da árvore morta.

    — Eu sei como é — disse ele por fim. — Quando cheguei aqui, eu também só queria ir embora. Queria a minha mãe. Queria tudo de volta…

    Kevin abaixou a cabeça, agora mais sério. Rui também olhou para o chão.

    — A gente sabe, Jakson — murmurou ela.

    Do outro lado do jardim, Dagon observava de longe. Sentado no chão de terra, ele os olhava como se estivesse vendo algo de outro mundo. Era uma mistura de inveja, raiva e dor. Ele não entendia como aquelas três crianças conseguiam sorrir naquele lugar. Como conseguiam brincar, rir e até conversar com leveza… como se não tivessem perdido tudo também.

    Na mente de Dagon, uma frase ecoava, como se fosse tatuada em seus pensamentos:

    “Eles não sabem o que é dor de verdade.”

    Ele apertou os punhos. Queria gritar. Queria fugir. Queria acordar e ver seus pais na cozinha, preparando o café da manhã. Queria sentir o cheiro do arroz e peixe da sua mãe. Mas não havia cheiro. Não havia risos. Havia só aquela dor silenciosa… e aqueles três idiotas jogando pedras em latas.

    — Talvez a gente devesse chamar ele pra brincar — sugeriu Rui, olhando discretamente para Dagon.

    — Ele parece que quer ficar sozinho — disse Kevin, hesitante. — E… ele dá um pouco de medo, pra falar a verdade.

    Jakson cruzou os braços, pensativo. Olhou para o garoto de longe. Mesmo sentado e imóvel, Dagon parecia carregar o peso de uma tempestade.

    — Ninguém quer ficar sozinho pra sempre — disse ele. — Nem mesmo ele.

    E com isso, Jakson deu alguns passos, atravessando o jardim em direção ao garoto novo. Kevin e Rui se entreolharam, depois o seguiram.

    Dagon levantou o olhar, desconfiado.

    — O que vocês querem? — perguntou, seco.

    Jakson parou em frente a ele e estendeu uma pedra redonda, lisa, perfeita para lançar.

    — A gente tá jogando pedra nas latinhas ali. Quer jogar também?

    Dagon encarou a pedra como se fosse uma arma.

    — Eu não quero brincar — respondeu, se levantando devagar. — Eu só quero ir embora daqui.

    — A gente também queria — disse Jakson, com um meio sorriso. — Mas como não dá… a gente aprendeu a fazer esse lugar doer menos.

    Dagon virou o rosto, irritado.

    — Isso é besteira. Isso não muda nada. Vocês tão fingindo que tá tudo bem.

    — Talvez — disse Rui, com um olhar compreensivo. — Mas… fingir juntos é melhor do que chorar sozinho.

    Dagon ficou em silêncio. Aquelas palavras pareciam bobas, mas… mexeram com algo lá dentro. Uma lembrança. Uma voz. Um cheiro.

    Kevin pegou outra pedra e jogou para ele. Dagon pegou no ar, com reflexo rápido.

    — Se mudar de ideia, a gente vai estar ali — disse Jakson, se virando.

    Eles voltaram devagar para o jogo. Dagon ficou parado, segurando a pedra na mão. Os olhos, ainda tristes, estavam agora… curiosos.

    Pela primeira vez desde que chegou, ele não pensou na morte. Pensou no barulho da latinha caindo. E isso… já era um começo.

    Naquele dia, Dagon não jogou nenhuma pedra. Mas ficou observando. E pela primeira vez, não se sentiu completamente sozinho.

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