Índice de Capítulo

    O prédio dos Hunides, outrora cheio de risos, planos e esperanças juvenis, agora parecia um mausoléu.

    As paredes antes rabiscadas com desenhos toscos agora só abrigavam o eco dos gritos e lamentos. Desde a morte de Rui e Kevin, tudo tinha mudado. Ninguém mais cantava, ninguém mais fazia planos. Era como se a alma da casa tivesse morrido junto com eles.

    No centro de tudo, restavam dois pilares em ruínas: Jakson e Dagon. E mesmo eles estavam à beira do colapso

    — Ela se matou, cara! — Dagon gritou, olhos vermelhos. — E a culpa é nossa! VOCÊ ENTENDE ISSO?

    — NÃO! — Jakson devolveu, com a voz quebrada. — A culpa é do mundo! A culpa é dessa vida de merda! A gente fez o que pôde!

    Eles estavam frente a frente no andar vazio, cercados por colchões jogados, brinquedos velhos, restos de comida e o choro abafado da bebê ao fundo.

    — Você… — Dagon apontou o dedo. — Você devia ter impedido ela. Devia ter ficado com ela. DEVIA TER SIDO O HOMEM, NÃO UM MOLEQUE!

    Jakson avançou.
    Dagon não hesitou.

    O primeiro soco foi um trovão.

    O segundo, um terremoto.

    Eles caíram um sobre o outro, gritando, esmurrando, chorando. Sem técnica, sem honra, só desespero.

    — EU QUERIA TRAZER ELE DE VOLTA! — gritou Jakson, com o nariz sangrando.
    — E EU QUERIA SALVAR ELA! — devolveu Dagon, cuspindo sangue.

    No fim, os dois estavam caídos no chão, lado a lado. Sem forças. Sem palavras. Apenas dor.

    Na manhã seguinte, Dagon partiu.

    Sem dizer adeus.

    Uriu tentou segurar sua mochila.

    — Você vai embora… mesmo?

    — Não dá mais, moleque. Isso aqui… morreu.

    — E ela? — apontou pra bebê.

    Dagon desviou o olhar.

    — Eu não sou pai. Nem tio. Nem nada.

    E saiu.

    O grupo Hunides se dissolveu.

    Lara foi embora dias depois, levando Nilo.
    Alguns outros foram adotados por famílias da periferia. Outros sumiram nas ruas.

    Jakson ficou.

    Sozinho.

    Só ele… e a criança sem nome.

    Era difícil. Muito mais do que qualquer luta.

    Jakson dormia pouco. Se virava com restos de comida e bicos mal pagos no mercado clandestino de peças.

    Ele aprendia a fazer leite com farinha, esquentava água com fios desencapados, costurava as fraldas com camisetas velhas.

    Às vezes, ele chorava vendo a menina dormir.

    Outras vezes, ele apenas a encarava.

    — Você… é tudo que sobrou.
    E isso basta.

    Houve noites em que o estômago dele gritava por comida.
    Mas ela sempre comia primeiro.

    Jakson vendia o pouco que tinha pra comprar remédios quando ela tossia.
    Cuidava dos ferimentos, dos choros, dos banhos gelados.

    E ainda assim, em meio ao abandono do mundo…
    Ela sorria.

    Um sorriso pequeno, banguela.
    Mas que derretia o coração dele toda vez.

    Certa noite, chovendo forte, Jakson segurou a menina no colo e a cobriu com o último cobertor decente que restava.
    Lá fora, o mundo era cruel.
    Lá dentro, ele sussurrou:

    — Eu não sei seu nome…
    Mas… pra mim, você é esperança.

    Ela encostou a cabecinha no peito dele, e o som do coração de Jakson foi o único som que a ninou naquela noite.

    Ele era um tio solitário.
    Ferido. Esmagado por tragédias.
    Mas decidido.

    Ele não ia desistir dela.
    Nem que o mundo inteiro o abandonasse.

    O quarto estava escuro, exceto pela luz trêmula de um poste quebrado que atravessava a janela rachada. Jakson acordou arfando, o suor colando a camiseta no peito. Os olhos arregalados, o coração disparado, e o som abafado do choro de uma criança vindo de algum lugar na memória.

    Ele se sentou na cama improvisada, as mãos tremendo.

    — De novo… — sussurrou, encarando o teto como se esperasse uma resposta.

    — Jakson! — uma voz abafada chamou do andar de baixo. — Tá acordado, irmão?

    Era Lince, o parceiro leal e estratégico que ficara com ele desde os tempos da rebelião.

    Jakson calçou as botas gastas e desceu os degraus de madeira, que rangiam sob seus pés como sussurros de fantasmas.

    Lince estava encostado na porta com o celular em mãos e expressão tensa.

    — Temos um problema. — disse direto. — A Black G. e o Charles… estão planejando algo muito grande mesmo, e possivelmente a Yumi vai soltar os cachorros para cima da gente também.

    Jakson franziu a testa, o corpo todo se armando.

    — Tem certeza?

    — Absoluta. Uma das fontes do centro sul passou isso hoje. A Black G. tá fornecendo recursos táticos e pessoas… E o Charles tá cuidando de limpar tudo com a GHV. Eles tão preparando alguma coisa grande, irmão. Muito grande.

    Jakson passou a mão pelos cabelos, tentando manter a calma.
    Respirou fundo.
    Pegou seu celular.

    Discou um número que já sabia de cor.

    Chamando…

    Chamando…

    Clique.

    — Fala, Jakson. — era Yoru, do outro lado da linha, a voz grave e precisa, como sempre.

    — A hora chegou. — disse Jakson. — O Charles tá se movimentando, e não vai demorar pra fazer o próximo movimento. Ele quer varrer o subterrâneo pra sempre. E com a Black G. do lado dele, as chances estão contra nós.

    Houve silêncio por um momento.
    Yoru respondeu com firmeza:

    — Então vamos virar o tabuleiro. Tem um jeito?

    Jakson abriu um leve sorriso, apesar da tensão.

    — Tenho uma estratégia. Arriscada, mas eficaz. A gente precisa cortar a cabeça da aliança: expor a relação dos dois publicamente e destruir o canal de financiamento da Black G. ao mesmo tempo.

    — E como?

    — A gente invade o armazém de registro da GHV. Tem tudo lá. Nomes, contratos, até vídeos. Mas… pra isso, precisamos de alguém com acesso. Alguém que já esteve lá dentro. Alguém que o Charles confia.

    Yoru entendeu na hora.

    — Você tá falando que existe alguém confiável para fazer esse trabalho para a gente?

    — Exatamente. — Jakson suspirou. — A Mei.

    Silêncio.

    — Você acha que essa pessoa vai ajudar? — Yoru perguntou.

    — Acho que… se ela tiver algo a perder, vai. Essa pessoa é alguém que conheço a um bom tempo, ela vai fazer a boa, e também, ela é uma pessoa um pouco influente.

    — Sim. Vou confiar em você, Jakson, mas preste bem atenção…

    — Então usamos isso. Não como ameaça. Como esperança.

    Lince cruzou os braços, olhando Jakson com preocupação.

    — E se der errado?

    — Então… — Jakson respondeu, encarando a noite lá fora. — A gente morre tentando fazer o certo.

    Do outro lado da linha, Yoru assentiu em silêncio.

    — Vamos trazê-la pra mesa. Já. Esse jogo vai acabar, Jakson. Ou com a queda do Charles… ou com a nossa.

    E com isso, a ligação caiu.

    Jakson pegou seu casaco e disse rapidamente para Lince

    — Olha, cuide muito bem daqui, você sabe o quanto esse lugar é importante para nós todos, caso aconteça alguma coisa, me ligue imediatamente, não tente fazer besteira, só segure, seja quem for, até eu chegar.

    — Tudo bem, tenha muito cuidado…

    O Jakson afirmou com a cabeça e foi até a porta, abrindo ela e saindo correndo o mais rápido possível, pois o tempo não estava afim de esperá-lo

    [Prédio da TVcomp]

    Em um prédio muito chique, com uma logo bem grande escrita “TVcomp”, o Jakson apareceu de frente a esse prédio, 20 minutos depois, ele estava bastante cansado, mas não poderia descansar, tudo dependia dele agora

    “Tomara que ela esteja aqui, a senhora Park, ela é uma mulher que conheci a um ano atrás, e ela me ajudou muito com a papelada de autorização do meu prédio, ela é uma repórter bem influente que tive o privilégio de conhecer, ela é alguém de coração puro que detesta o Charles, se conseguir convencer ela a me ajudar… O Charles pode cair”

    Assim que o Jakson ia abrir a porta, um carro de luxo estacionou de frente ao prédio, e de dentro, uma garota saiu do carro

    [Ravena Park – 18 anos]

    A garota tinha cabelos negros ondulados, um olhar radiante e vestia um vestido de oncinha e tinha um colar de ouro no seu pescoço

    — Olha, você é o garoto que minha mãe havai falado para mim, Jake… Não é? — ela disse com uma voz doce e delicada

    — Sim, sou eu mesmo, sua mãe está aqui na Tv?

    A garota concordou rapidamente, e logo disse;

    — Ela está em uma reunião extremamente importante agora… Mas já deve ter saído, me acompanhe — ela passou na frente do Jakson e o mesmo foi acompanhando ela até o elevador

    O Jakson estava muito apreensivo, ele queria falar logo com ela, e estava louco para que isso acontecesse, após chegar no último andar, a Ravena foi caminhando até a última porta do corredor

    Onde ela deu duas batidas, e abriu a porta lentamente, o Jakson se manteve atrás dela

    — Mãe, o menino chamado Jake, veio falar com você… — assim que o Jakson tomou a frente dela, sua vista focou em uma única pessoa naquela sala

    Era o Charles, estava estava com um paletó marrom, uma gravata vermelha, e usando óculos, assim que ele viu o Jakson, ele deu um sorriso e se levantou

    — Então, senhora Park, acho que chegou minha hora… Estou me retirando — ele pegou sua bengala e saiu caminhando lentamente, quando ele passou pelo Jakson, ele parou um pouco e os dois trocaram olhares, e então, o Charles foi embora

    O Jakson ficou soando bastante frio, por que que mesmo com o inimigo em sua frente, ele não conseguia eliminá-lo?

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