Capítulo 185 - Hunides (10)
O prédio dos Hunides, outrora cheio de risos, planos e esperanças juvenis, agora parecia um mausoléu.
As paredes antes rabiscadas com desenhos toscos agora só abrigavam o eco dos gritos e lamentos. Desde a morte de Rui e Kevin, tudo tinha mudado. Ninguém mais cantava, ninguém mais fazia planos. Era como se a alma da casa tivesse morrido junto com eles.
No centro de tudo, restavam dois pilares em ruínas: Jakson e Dagon. E mesmo eles estavam à beira do colapso
— Ela se matou, cara! — Dagon gritou, olhos vermelhos. — E a culpa é nossa! VOCÊ ENTENDE ISSO?
— NÃO! — Jakson devolveu, com a voz quebrada. — A culpa é do mundo! A culpa é dessa vida de merda! A gente fez o que pôde!
Eles estavam frente a frente no andar vazio, cercados por colchões jogados, brinquedos velhos, restos de comida e o choro abafado da bebê ao fundo.
— Você… — Dagon apontou o dedo. — Você devia ter impedido ela. Devia ter ficado com ela. DEVIA TER SIDO O HOMEM, NÃO UM MOLEQUE!
Jakson avançou.
Dagon não hesitou.
O primeiro soco foi um trovão.
O segundo, um terremoto.
Eles caíram um sobre o outro, gritando, esmurrando, chorando. Sem técnica, sem honra, só desespero.
— EU QUERIA TRAZER ELE DE VOLTA! — gritou Jakson, com o nariz sangrando.
— E EU QUERIA SALVAR ELA! — devolveu Dagon, cuspindo sangue.
No fim, os dois estavam caídos no chão, lado a lado. Sem forças. Sem palavras. Apenas dor.
Na manhã seguinte, Dagon partiu.
Sem dizer adeus.
Uriu tentou segurar sua mochila.
— Você vai embora… mesmo?
— Não dá mais, moleque. Isso aqui… morreu.
— E ela? — apontou pra bebê.
Dagon desviou o olhar.
— Eu não sou pai. Nem tio. Nem nada.
E saiu.
O grupo Hunides se dissolveu.
Lara foi embora dias depois, levando Nilo.
Alguns outros foram adotados por famílias da periferia. Outros sumiram nas ruas.
Jakson ficou.
Sozinho.
Só ele… e a criança sem nome.
Era difícil. Muito mais do que qualquer luta.
Jakson dormia pouco. Se virava com restos de comida e bicos mal pagos no mercado clandestino de peças.
Ele aprendia a fazer leite com farinha, esquentava água com fios desencapados, costurava as fraldas com camisetas velhas.
Às vezes, ele chorava vendo a menina dormir.
Outras vezes, ele apenas a encarava.
— Você… é tudo que sobrou.
E isso basta.
Houve noites em que o estômago dele gritava por comida.
Mas ela sempre comia primeiro.
Jakson vendia o pouco que tinha pra comprar remédios quando ela tossia.
Cuidava dos ferimentos, dos choros, dos banhos gelados.
E ainda assim, em meio ao abandono do mundo…
Ela sorria.
Um sorriso pequeno, banguela.
Mas que derretia o coração dele toda vez.
Certa noite, chovendo forte, Jakson segurou a menina no colo e a cobriu com o último cobertor decente que restava.
Lá fora, o mundo era cruel.
Lá dentro, ele sussurrou:
— Eu não sei seu nome…
Mas… pra mim, você é esperança.
Ela encostou a cabecinha no peito dele, e o som do coração de Jakson foi o único som que a ninou naquela noite.
Ele era um tio solitário.
Ferido. Esmagado por tragédias.
Mas decidido.
Ele não ia desistir dela.
Nem que o mundo inteiro o abandonasse.
…
O quarto estava escuro, exceto pela luz trêmula de um poste quebrado que atravessava a janela rachada. Jakson acordou arfando, o suor colando a camiseta no peito. Os olhos arregalados, o coração disparado, e o som abafado do choro de uma criança vindo de algum lugar na memória.
Ele se sentou na cama improvisada, as mãos tremendo.
— De novo… — sussurrou, encarando o teto como se esperasse uma resposta.
— Jakson! — uma voz abafada chamou do andar de baixo. — Tá acordado, irmão?
Era Lince, o parceiro leal e estratégico que ficara com ele desde os tempos da rebelião.
Jakson calçou as botas gastas e desceu os degraus de madeira, que rangiam sob seus pés como sussurros de fantasmas.
Lince estava encostado na porta com o celular em mãos e expressão tensa.
— Temos um problema. — disse direto. — A Black G. e o Charles… estão planejando algo muito grande mesmo, e possivelmente a Yumi vai soltar os cachorros para cima da gente também.
Jakson franziu a testa, o corpo todo se armando.
— Tem certeza?
— Absoluta. Uma das fontes do centro sul passou isso hoje. A Black G. tá fornecendo recursos táticos e pessoas… E o Charles tá cuidando de limpar tudo com a GHV. Eles tão preparando alguma coisa grande, irmão. Muito grande.
Jakson passou a mão pelos cabelos, tentando manter a calma.
Respirou fundo.
Pegou seu celular.
Discou um número que já sabia de cor.
Chamando…
Chamando…
Clique.
— Fala, Jakson. — era Yoru, do outro lado da linha, a voz grave e precisa, como sempre.
— A hora chegou. — disse Jakson. — O Charles tá se movimentando, e não vai demorar pra fazer o próximo movimento. Ele quer varrer o subterrâneo pra sempre. E com a Black G. do lado dele, as chances estão contra nós.
Houve silêncio por um momento.
Yoru respondeu com firmeza:
— Então vamos virar o tabuleiro. Tem um jeito?
Jakson abriu um leve sorriso, apesar da tensão.
— Tenho uma estratégia. Arriscada, mas eficaz. A gente precisa cortar a cabeça da aliança: expor a relação dos dois publicamente e destruir o canal de financiamento da Black G. ao mesmo tempo.
— E como?
— A gente invade o armazém de registro da GHV. Tem tudo lá. Nomes, contratos, até vídeos. Mas… pra isso, precisamos de alguém com acesso. Alguém que já esteve lá dentro. Alguém que o Charles confia.
Yoru entendeu na hora.
— Você tá falando que existe alguém confiável para fazer esse trabalho para a gente?
— Exatamente. — Jakson suspirou. — A Mei.
Silêncio.
— Você acha que essa pessoa vai ajudar? — Yoru perguntou.
— Acho que… se ela tiver algo a perder, vai. Essa pessoa é alguém que conheço a um bom tempo, ela vai fazer a boa, e também, ela é uma pessoa um pouco influente.
— Sim. Vou confiar em você, Jakson, mas preste bem atenção…
— Então usamos isso. Não como ameaça. Como esperança.
Lince cruzou os braços, olhando Jakson com preocupação.
— E se der errado?
— Então… — Jakson respondeu, encarando a noite lá fora. — A gente morre tentando fazer o certo.
Do outro lado da linha, Yoru assentiu em silêncio.
— Vamos trazê-la pra mesa. Já. Esse jogo vai acabar, Jakson. Ou com a queda do Charles… ou com a nossa.
E com isso, a ligação caiu.
Jakson pegou seu casaco e disse rapidamente para Lince
— Olha, cuide muito bem daqui, você sabe o quanto esse lugar é importante para nós todos, caso aconteça alguma coisa, me ligue imediatamente, não tente fazer besteira, só segure, seja quem for, até eu chegar.
— Tudo bem, tenha muito cuidado…
O Jakson afirmou com a cabeça e foi até a porta, abrindo ela e saindo correndo o mais rápido possível, pois o tempo não estava afim de esperá-lo
[Prédio da TVcomp]
Em um prédio muito chique, com uma logo bem grande escrita “TVcomp”, o Jakson apareceu de frente a esse prédio, 20 minutos depois, ele estava bastante cansado, mas não poderia descansar, tudo dependia dele agora
“Tomara que ela esteja aqui, a senhora Park, ela é uma mulher que conheci a um ano atrás, e ela me ajudou muito com a papelada de autorização do meu prédio, ela é uma repórter bem influente que tive o privilégio de conhecer, ela é alguém de coração puro que detesta o Charles, se conseguir convencer ela a me ajudar… O Charles pode cair”
Assim que o Jakson ia abrir a porta, um carro de luxo estacionou de frente ao prédio, e de dentro, uma garota saiu do carro
[Ravena Park – 18 anos]
A garota tinha cabelos negros ondulados, um olhar radiante e vestia um vestido de oncinha e tinha um colar de ouro no seu pescoço
— Olha, você é o garoto que minha mãe havai falado para mim, Jake… Não é? — ela disse com uma voz doce e delicada
— Sim, sou eu mesmo, sua mãe está aqui na Tv?
A garota concordou rapidamente, e logo disse;
— Ela está em uma reunião extremamente importante agora… Mas já deve ter saído, me acompanhe — ela passou na frente do Jakson e o mesmo foi acompanhando ela até o elevador
O Jakson estava muito apreensivo, ele queria falar logo com ela, e estava louco para que isso acontecesse, após chegar no último andar, a Ravena foi caminhando até a última porta do corredor
Onde ela deu duas batidas, e abriu a porta lentamente, o Jakson se manteve atrás dela
— Mãe, o menino chamado Jake, veio falar com você… — assim que o Jakson tomou a frente dela, sua vista focou em uma única pessoa naquela sala
Era o Charles, estava estava com um paletó marrom, uma gravata vermelha, e usando óculos, assim que ele viu o Jakson, ele deu um sorriso e se levantou
— Então, senhora Park, acho que chegou minha hora… Estou me retirando — ele pegou sua bengala e saiu caminhando lentamente, quando ele passou pelo Jakson, ele parou um pouco e os dois trocaram olhares, e então, o Charles foi embora
O Jakson ficou soando bastante frio, por que que mesmo com o inimigo em sua frente, ele não conseguia eliminá-lo?
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