Índice de Capítulo

    A notícia se espalhou como pólvora em palha seca.

    Charles Choi, o homem por trás de incontáveis mistérios, havia aparecido dentro da escola 25, sem qualquer aviso, sem resistência, sem impedimentos. Aquilo não era só uma provocação — era uma declaração de domínio.

    Os corredores da escola, no dia seguinte, fervilhavam com rumores. Uns diziam que ele paralisou os alunos com um olhar. Outros, que os três – Yoru, Hiroshi e Sophie – foram ameaçados de morte. Alguns poucos até acreditavam que ele teria oferecido dinheiro para cooptá-los. Mas a verdade… ninguém sabia. Exceto os três.

    Yoru, por sua vez, estava silencioso como nunca.

    Sentado no topo do terraço da escola, encarava o céu noturno. O vento bagunçava seus cabelos escuros enquanto seus olhos buscavam respostas que não vinham. Charles era um monstro diferente. Um império com corpo e voz. Como alguém como ele poderia ser derrotado?

    — “É como tentar parar uma tempestade com uma espada…” — ele pensou.

    Hiroshi estava agitado. Sophie tentava encontrar qualquer brecha, qualquer falha. Mas Yoru… ele sentia o peso da responsabilidade invisível, como se cada passo em falso pudesse resultar em morte. Ou pior: dominação.

    Noite – Estúdios GHV

    No alto de um edifício espelhado no coração da cidade, o logotipo dourado da GHV, brilhava sob os refletores. Lá dentro, em uma sala privada, silenciosa e sofisticada, dois homens conversavam.

    O aroma forte de café colombiano preenchia o ambiente. A luz era suave, baixa, como em uma sala de interrogatório de luxo.

    Charles Choi estava recostado em uma poltrona de couro negro, trajando um suéter de lã fina e calça social escura. Seus olhos percorriam um tablet com gráficos financeiros, relatórios de inteligência, movimentações políticas e nomes. Muitos nomes.

    À sua frente, sentado com elegância quase robótica, estava Enzo.

    Um jovem franzino, de óculos redondos, camisa branca engomada e um olhar afiado como navalha. Com apenas 17 anos, Enzo havia fundado o Grupo V, um conglomerado tecnológico que revolucionava sistemas de vigilância, IA, drones e segurança digital. Claro… financiado silenciosamente por Charles.

    Ao lado de Enzo, imóvel, imponente como uma estátua viva, estava seu guarda-costas:

    Enrico.
    2,02 metros. Corpo forjado em aço e alma forjada na rua. Pele negra reluzente, olhos firmes, e um black power digno de respeito. Mestre em capoeira, Enrico era o escudo do garoto. Nunca falava. Nunca sorria. Só existia para esmagar qualquer ameaça.

    Charles sorveu um gole do café e falou com lentidão calculada:

    — A Hunides se aproxima do fim. Mas ainda é… irritantemente resistente.

    Enzo deslizou o dedo pela tela de seu próprio tablet e respondeu:

    — Eles estão tentando se reconectar com células independentes. Têm um informante dentro da diretoria G, mas ele é um imbecil impulsivo. A Hunides perdeu moral, mas não o instinto de sobrevivência.

    — Você previu isso, Enzo. — disse Charles, com um meio sorriso. — É por isso que é o “V”. “V” de visão. De vértice. De veneno.

    — V de vitória. — completou Enzo, sem falsa modéstia.

    — Quantos grupos temos ativos neste momento?

    Enzo não hesitou.

    — Onze.

    Charles se recostou mais na poltrona.

    — Diga os nomes.


    Grupo A – Atos públicos. Mobilização de massas, protestos, influenciadores, eventos.
    Grupo B – Burocracia. Manipulação de processos, cargos e documentos oficiais.
    Grupo C – Censura. Controle da mídia, redes sociais, vigilância.
    Grupo D – Distribuição. Controle de alimentos, água, energia e suprimentos.
    Grupo E – Economia. Investimentos, ações, bancos e moedas locais.
    Grupo F – Força. Mercenários, guardas, ex-policiais e milícias.
    Grupo G – Governo. Infiltrações políticas, vereadores, prefeitos e conselheiros.
    Grupo H – Hegemonia. Submissão de escolas e controle cultural.
    Grupo I – Inteligência. Rastreio, hackeamento, espionagem.
    Grupo J – Justiça. Juízes comprados, advogados sob comando.
    Grupo V – Visão. Tecnologia, monitoramento, criptografia e IA. Meu grupo.

    Charles assentiu lentamente.

    — Dez homens. Dez gênios. Cada um em seu pilar. E todos… nas minhas mãos.

    — Você disse dez. Mas são onze grupos. Quem lidera o Grupo K? — perguntou Enzo, com um olhar curioso.

    Charles apenas sorriu, mas o sorriso não alcançou os olhos.

    — O Grupo K ainda não existe. Mas quando nascer… será o fim da Hunides. E o começo da nova era.

    — E o garoto? Yoru? — Enzo perguntou. — Você acha que ele pode… despertar algo?

    Charles ficou em silêncio. O silêncio durou longos segundos. Por fim, ele respondeu:

    — Yoru não é uma ameaça. Ainda. Mas ele tem… algo. Algo que até mesmo os relatórios não conseguem mensurar. Talvez seja sorte. Talvez seja sangue. Talvez seja… legado.

    — Vai deixá-lo viver por muito tempo?

    — Ele precisa ver. Precisa entender que o mundo já foi moldado. Eu só empurrei as peças. Quando ele perceber… será tarde demais.

    Enzo sorriu.

    — Posso testar algo com ele. Uma IA de análise emocional em tempo real, acoplada a microdrones invisíveis.

    Charles balançou a cabeça, aprovando.

    — Faça. E se ele passar no teste…

    Ele olhou para Enrico, que continuava impassível, como um leão em repouso.

    — Mande o Grupo F. Mas não para matar. Para dobrar.

    Enzo fechou o tablet. Enrico deu um passo à frente, sinal claro de que a reunião havia acabado.

    Charles pegou sua bengala, se levantou, e lançou um último olhar para o horizonte pela janela de vidro.

    — Em breve, o mundo será apenas um nome: Charles

    E com isso, ele saiu da sala, deixando para trás a certeza de que o jogo estava longe do fim. Mas as peças já estavam se movendo. E Yoru… estava no centro do tabuleiro.

    Dois dias haviam se passado desde a aparição de Charles na escola 25. O clima seguia pesado, como se uma nuvem escura pairasse sobre todos. Mas naquele dia, algo diferente aconteceria.

    Yoru estava com os punhos cerrados enquanto o grupo se reunia em frente às portas da Hunides, a base de resistência que ainda lutava contra o império de Charles. Ao seu lado, estavam Hayato, Ben, Sophie, Nathan, Hiroshi, Bunkjae, Kaito, Mia, Lee, Beak, Leonard, Susan, Yuna, Mac-Donny, Sora, Phantom, Ryuji, Hajuki, Juan e Matabi Huai. Um exército informal de jovens com corações pulsando esperança e medo.

    A entrada da Hunides era discreta, escondida por entre ruínas de uma antiga estação ferroviária subterrânea. Portas de ferro se abriram com um rangido abafado. Ali dentro, o cheiro de metal e óleo dominava o ar, misturado à tensão.

    Dentro da sala principal, iluminada por luzes brancas foscas, estavam Jakson, Lince, Nayra, Arlo, Rika, Hanzo, Kane, Domi e Yuri. Cada um com olhar atento, mas cansado. Anos de resistência haviam marcado seus rostos.

    Yoru deu um passo à frente.

    — Viemos para saber a verdade. — sua voz ecoou.

    Arlo, um homem de pele morena e olhar afiado, cruzou os braços.

    — Finalmente vieram. Estávamos esperando por isso.

    Sophie caminhou ao lado de Yoru.

    — Charles apareceu diante de nós. Ele não está mais se escondendo.

    Hanzo bufou.

    — Claro que não. Ele quer que o mundo o veja. Ele não é mais uma sombra. Ele é o sol maldito que queima tudo.

    Yuna se aproximou, os olhos semicerrados.

    — Vocês sabem mais do que deixam transparecer. Nós queremos saber tudo.

    Houve um momento de silêncio tenso. Arlo fez um sinal, e todos os veteranos da Hunides se sentaram à frente de uma tela grande. Rika digitou códigos no painel, e arquivos confidenciais surgiram.

    — Vocês estão prestes a ouvir verdades que podem matá-los. Mas se chegaram até aqui, talvez estejam prontos. — Arlo começou.

    As imagens mostravam documentos, fotos borradas, escutas, gravações.

    — Charles não controla apenas a GHV. Ele criou um império em onze núcleos. Um para cada tipo de dominação. — Nayra falou, com a voz firme.

    — Já sabemos disso. — disse Hiroshi. — Mas o que a Black G está fazendo nesse meio

    Arlo cruzou os dedos e encarou todos.

    — A Black G se vinculou a o grupo clandestino dentro do Grupo G: o Governo. Um organismo secreto dentro do organismo. Charles tem prefeitos, juízes, policiais, mas a Black G é diferente. Eles operam com identidades falsas, agem como terroristas, derrubam oque quiserem e plantam revoltas para reconstruir conforme os interesses do Charles

    Todos engoliram seco.

    — Isso é real? — perguntou Leonard, em choque.

    — Totalmente. E tem mais. — disse Domi, puxando outra tela. — Encontrei um arquivo criptografado que mostra Charles manipulando a rankeabilidade da GHV. Ele subiu no ranking para ter imunidade internacional.

    Ben se levantou.

    — Isso é loucura…

    Arlo olhou diretamente para Yoru.

    — A parte mais importante é essa: encontramos documentos que ligam Charles ao assassinato de um homem chamado Caprio.

    O nome ecoou pela sala.

    Yoru arregalou os olhos.

    — Caprio? Quem seria esse?

    Arlo assentiu.

    — Puxei alguns arquivos e ele e o homem que poderia destruir Charles se vivo estivesse. Mas foi traído. E sabe quem ajudou? Akira.

    O coração de Yoru pareceu parar.

    — A… Akira? Ela…

    — Ela participava mais ativamente das atividades dele. Ela trabalhou com Charles para derrubar Caprio. E depois “sumiu” Mas temos razões para crer que ela ainda está mexendo alguns pauzinhos junto com o Charles. E pior… ela quer você, Yoru.

    Sophie segurou o braço de Yoru.

    — Não está sozinho nisso.

    Mia, Kaito, Phantom e todos os outros assentiram. Ninguém mais podia voltar atrás.

    — Agora é guerra. — disse Hayato. — E vamos acabar com esse reinado.

    Yoru apertou os punhos e encarou os arquivos na tela. O império tinha nome, rosto, documentos, sangue.

    E ele… ele tinha um objetivo agora.

    Derrubar Charles

    A verdadeira guerra estava prestes a começar

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