Capítulo 432: Conquista [1]
Na manhã seguinte.
Com a Audiência Confessional adiada, todos os cadetes ganharam alguns dias de folga. Como resultado, a sala comum do dormitório estava incomumente lotada.
No entanto, se havia algo que se destacava especialmente, era…
Ding~ Dong~
O contínuo sino que ecoava no ar.
O que se seguiu foi uma pequena voz.
—Não deixe o mal prevalecer! Que todo o mal seja derrotado! Um mundo puro é um mundo bom!
“Mundo puro. Mundo bom.”
Theresa tinha um problema.
—Nenhum mal viverá sob o mesmo céu que eu!
“Nenhum mal!”
Ela havia desenvolvido um vício.
Um vício que a fez ficar acordada a noite toda. Apesar de ser feita de energia, olheiras escuras se formaram sob seus olhinhos enquanto seu rosto grudava no dispositivo à sua frente.
“…Mal ruim.”
Sem sua comida, Theresa encontrou uma nova alternativa para se divertir.
Ela pensou que a vida continuaria assim.
Mas ela estava errada.
“Hum? Theresa, você pode abaixar o volume? As pessoas estão tentando estudar aqui.”
Evelyn foi a primeira a reclamar;
“O que você está fazendo acordada tão cedo…? Ung! Não me diga…”
A realização de repente atingiu Evelyn.
Click—!
Aoife desceu as escadas. Penteando seus longos cabelos vermelhos e sedosos, ela franziu a testa.
“Ela passou a noite toda assistindo ao desenho.”
“O quê…!?”
“Olhe para os olhos dela. Estão todos vermelhos.”
“Agora que você menciona…”
“Quem era o responsável por colocá-la na cama?”
“Era a Kier—”
Clank—!
A porta da sala comum se abriu violentamente.
“Droga, Theresa! Eu disse para você ir para a cama depois de dez minutos! Por que você ainda está acordada!”
“Então era ela mesmo…”
“Sim. Ela esqueceu, não foi?”
“Chega! Chega de desenho para você.”
E assim, o dispositivo foi arrancado das mãos de Theresa.
Talvez porque não tivesse dormido a noite toda, ou talvez porque não esperasse que tivessem tais reações, Theresa levou um momento para processar a situação.
Ela olhou fixamente para a gravação que agora estava nas mãos de Kiera.
Primeiro, a comida.
E agora…
O Homem da Justiça. O lutador contra todo o mal.
O cão herói super voador. O ajudante que auxilia o Homem da Justiça a combater todo o mal.
Eles… não estavam mais lá.
Quem iria salvar o mundo agora?
“…Este… é… o… fim…?”
Os joelhos de Theresa tremeram.
Baque.
E ela caiu de joelhos no chão.
Desespero estava escrito em todo o seu rostinho.
“Oh, isso é ruim. Ela assistiu tanto drama que agora ficou dramática demais.”
“É muito ruim. Kiera, droga! Isso era para ser sua tarefa.”
“Eu sei! Eu sei! Eu disse para ela desligar e ir para a cama depois de dez minutos. Não esperava que o vício dela fosse tão ruim. Com todo esse drama, ela poderia muito bem ser uma atriz agora.”
“Bem…”
Aoife cobriu a boca, tentando ao máximo esconder o tremor em seus lábios.
‘Eu sei uma coisa ou duas sobre isso…’
Baque!
Um som alto de batida tirou todos de seus pensamentos.
Quando viraram a cabeça, seus olhos pousaram em Theresa, que estava de joelhos no chão, de quatro.
Baque. Baque. Baque.
“O mal…”
Os punhos de Theresa bateram contra o chão enquanto ela choramingava em desespero.
“…prevaleceu.”
***
“Então… Alguém pode explicar exatamente o que aconteceu aqui?”
A primeira coisa que chamou minha atenção quando voltei para o dormitório das garotas foi Theresa, que estava estirada no chão com um olhar perdido.
Era como se o mundo tivesse desabado sobre ela.
“Deixe-a em paz, Julien.”
“Não, é que…”
Eu não podia simplesmente deixá-la assim. Ela parecia um homem de meia-idade passando por uma crise existencial.
Que tipo de trauma ela teria passado para ficar assim?
“Proibimos ela de assistir ao desenho dela.”
Todas as minhas dúvidas foram esclarecidas por Aoife.
“Ela passou a noite toda assistindo ao desenho, então decidimos confiscar o controle dela.”
“Ah.”
Se era esse o caso…
“Não deveríamos ter feito isso?”
“Não, vocês fizeram certo.”
Já estava na hora de lidarmos com o vício de Theresa.
“Não podemos mimá-la demais. Alguém precisa regulá-la.”
“Fico feliz em ouvir isso.”
E assim, o incidente chegou ao fim.
Sem pensar muito, me dirigi à mesa próxima e peguei meus livros. Como eu havia me juntado à Academia tarde, era hora de estudar.
Eu tinha muito o que recuperar.
***
“…”
Theresa deitou no chão, olhando fixamente para o teto. O mundo parecia ter perdido sua cor usual, e tudo ao seu redor parecia sombrio e desolado.
“…Para que estou vivendo…?”
A vida parecia completamente sem sentido no momento. O mal reinava em cada canto do lugar que ela pensava ser seu novo lar.
Oh, como ela estava enganada.
“Levante do chão. Está sujo.”
Piscando os olhos, Theresa virou levemente a cabeça. Papai Falso. Era assim que ela o chamava. Ele era a luz que a tirara da escuridão.
…Ele era aquele que a tirara do lugar que ela um dia chamou de lar.
Seu papai falso.
Ele estava sentado sozinho em uma mesa, rabiscando algo com sua caneta.
“Levante-se. Seu pequeno protesto já durou muito tempo. Já está tarde da tarde. Levante-se.”
Sua vida costumava ser sombria antes dele aparecer.
Nos últimos dois dias, seus cabelos e bochechas haviam sofrido inúmeros ataques dos quais ela não podia escapar. Da manhã até a noite, ela estava sob as garras malignas daqueles que agora chamava de os três reis demônios.
Isso até ele aparecer.
‘Parem com isso, não veem que ela não gosta?’
‘…Só porque ela é feita de energia não significa que não fique irritada com o que vocês fazem.’
A vida tinha sido boa desde então.
Seu rosto era assustador, mas ele sempre foi bom com ela.
Ele era seu papai falso.
…E ainda assim.
“Homem da Justiça.”
“Não.”
“…Por favor.”
“Não.”
Aquele mesmo papai falso a traíra. Ele se juntara ao lado dos Reis Demônios.
E então. Theresa fez o que sabia fazer de melhor.
“…”
Cruzar os braços e fazer bico em protesto enquanto deitava no chão.
“Você sabe que posso simplesmente te levantar, certo?”
“…?”
“Eu vou se você não se levantar agora…”
“…?!”
“Estou indo.”
“…!”
Que adversário formidável.
Vendo que ele realmente iria se mover, Theresa desistiu e se levantou. Fazendo bico novamente, sentou-se no sofá e cruzou seus bracinhos.
Depois disso, esta jovem respeitável continuou seu protesto unilateral.
“…Hmph.”
Claro, ela tinha que deixar claro que estava protestando.
“…Hmp—!!!”
O protesto parou abruptamente quando um meleca escorreu de seu nariz.
“Você quer um lenço…?”
“…”
Theresa balançou a cabeça.
Como se fosse aceitar caridade do inimigo.
“Você realmente não quer? Está escorrendo até o queixo…”
“…”
Theresa hesitou.
Não, ela tinha que ser firme sobre isso. Não podia se deixar corromper pelo mal.
“Bem, faça como quiser. Os lenços estão aqui do meu lado se precisar.”
Que feitiço poderoso.
Como esperado do homem que ela um dia considerou seu papai falso. Mesmo corrompido, ele era poderoso.
“…!”
Mas foi então que algo repentinamente a atingiu. Sentando-se ereta, ela ajustou suas roupas para parecer o mais profissional possível.
Com um olhar determinado, respirou fundo e deu um passo à frente.
“Você veio pegar os lenços?”
Balança. Balança.
“Então…?”
“Eu vou te libertar.”
“Me libertar?”
“Sim.”
“Ok…? E como você vai fazer isso?”
“Eu vou conquistá-los.”
Penteando seus cabelos para trás de maneira adulta, ela compôs seu rosto para parecer mais maduro.
“Quando eu fizer isso, você vai me deixar assistir ao Homem da Justiça?”
Uma expressão de compreensão cruzou o rosto do papai falso corrompido.
“Ah, entendi agora. Bem…”
Ele mergulhou em pensamentos profundos.
“…Hmph!”
“Tá bom, tudo bem.”
Riip—!
Rasgando uma página de seu caderno e rabiscando algumas coisas nela, o papai falso corrompido entregou a página a ela.
O que é isso?
“Se você conseguir fazer todas as garotas assinarem esta página concordando, então eu te devolvo o controle. Ah, pegue a do Leon também.”
Uma missão!
Uma missão de subjugar os Reis Demônios!
Que reviravolta inesperada.
“…Isso está ok?”
Acena. Acena.
Theresa pegou o papel com as duas mãos. Ela não esperava ter sucesso, mas parecia que o papai falso corrompido não estava totalmente corrompido.
Um olhar de solenidade substituiu seu rostinho de bico.
Então, no final, tinha chegado a isso. Ela sabia há muito tempo que um dia como esse chegaria, mas não esperava que fosse tão cedo.
…O dia em que ela subjugaría os Reis Demônios.
“Huu.”
Theresa respirou fundo, acalmando seu coração trêmulo.
Ela podia fazer isso.
Ela sabia que podia.
E assim, ela deu um passo à frente. Um passo em direção à sua grande conquista.
“Ah, Theresa, espera.”
“…!”
“Aqui. Sua meleca está secando. Deixa eu limpar antes que seja tarde.”
Mas quem diria que ela enfrentaria um revés logo no primeiro passo?
*
‘Nenhuma jornada começa sem obstáculos. Todos os grandes heróis enfrentam contratempos.’
Uma citação que Theresa aprendera com o Homem da Justiça nos últimos dias. Como se justificasse o revés que enfrentou no início de sua missão.
Theresa ficou em frente a uma porta familiar. As palavras [Evelyn] estavam gravadas bem naquela porta.
Era um quarto que ela frequentara muitas vezes nos últimos dias, mas hoje…
Hoje a porta parecia imponente. Como se fosse engoli-la viva com um passo errado.
Tok—!
Apesar de sua hesitação, ela conseguiu bater na porta.
“Nn…? Theresa?”
Ha. A primeira Rainha Demônio havia aparecido.
“Você precisa de algo de mim?”
“…Assinar.”
Theresa entregou o pedaço de papel.
“Assinar…? Para quê?”
“Liberdade.”
“Ah?”
Evelyn, que estava olhando para o papel, subitamente ergueu o olhar.
“Liberdade?”
Acena.
“Liberdade.”
Theresa reiterou.
“O que uma criança como você sabe sobre liberdade? …Espera aí.”
Mas foi então que Evelyn notou as palavras escritas no papel. Ela as leu em voz alta.
“Termo de permissão para Theresa assistir ‘desenho’. Ao assinar, concordo em conceder a Theresa o privilégio de assistir ao Homem da Justiça novamente… Ei.”
Evelyn olhou para Theresa.
“É dessa liberdade que você está falando?”
Acena.
“Liberdade.”
“Oh? Então liberdade é poder assistir ao Homem da Justiça?”
“…Um. Liberdade. Direito humano.”
Evelyn de repente sorriu, como se achasse a situação engraçada.
Os olhos de Theresa se estreitaram.
Bruxa má.
“Ho~ Quando você aprendeu sobre direitos humanos?”
“…Me devolva o que é meu.”
“Mhhh.”
Evelyn colocou o dedo no queixo e ponderou. Mas acabou balançando a cabeça.
“Eu não quero~”
Theresa apertou o papel.
“Por quê.”
“…Quanto tempo você dormiu?”
“Eu vou dormir.”
“Você não respondeu à pergunta. Quanto tempo?”
“…”
“Exatamente.”
“Então…?”
“Eu não vou assinar. Você precisa dormir. Não pode ficar acordada a noite toda assistindo ao Homem da Justiça. Especialmente alguém tão jovem e ainda crescendo.”
“…!”
A expressão de Theresa se quebrou, assim como algo dentro dela.
Como esperado de uma Rainha Demônio. Eram difíceis de lidar. Mas ela não estava despreparada.
Ela passou os últimos dois dias estudando e analisando cada um dos Reis Demônios. Ela sabia tudo o que precisava sobre eles. Seus hábitos, hobbies, maneira de falar e…
Suas fraquezas.
“Sniff… Sniff…”
“Eh..? Eh! Theresa!?”
“Snifff…”
“V,você está chorando?”
Agitada, Evelyn correu até Theresa e enxugou as lágrimas que escorriam de suas bochechas com as mangas de seu cardigã.
“Ei… Ei, me desculpe. Me desculpe, Theresa.”
“Sniff…”
“Oh, não.”
Os olhos de Evelyn tremeram. Ela não esperava que Theresa chorasse assim de repente. Estava extremamente perturbada.
“Q… ah, tá bom! Tá bom! Eu assino! Eu assino!”
“D-de verdade?”
Theresa parou de chorar imediatamente e olhou para cima com olhos esperançosos.
“Sim! Sim! Me dá aqui. Deixa eu assinar.”
Depois de entregar o papel a Evelyn, Theresa tentou ao máximo evitar que seus lábios se curvassem.
“Ukh.”
Oh não.
Theresa cobriu a boca com as duas mãos. Quase tinha revelado seu plano ao rir.
“Aqui está… Não chore mais. Ok?”
“Um.”
Theresa pegou o papel de volta e olhou para a assinatura.
Que assinatura extraordinária.
A tinta, graciosamente gravada no papel, brilhava sob a luz do teto, lançando uma aura sobrenatural que envolvia seu entorno.
Se pudesse, ela se banharia no brilho da assinatura, mas sabia que estava com pressa.
O mal não espera por ninguém.
E assim…
Ela continuou sua missão.
A primeira Rainha Demônio havia sido conquistada.
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