Capítulo 38 - Vila Crim|Parte 13
O rei Dollak ergueu-se dos escombros da casa destruída, a poeira ainda deslizava por seu corpo. Seus olhos chamejavam de fúria, e ele saiu em disparada, lembrando um cão raivoso. Em segundos, a distância entre ele e seus inimigos desapareceu. As garras monstruosas vieram em um arco cortante, mas Jaro ergueu a lâmina a tempo.
Atrás dele, Dargan surgiu com a lança em punho, investindo em um golpe certeiro contra as costelas da criatura. Mas o aço não penetrou. Com um rugido gutural, o Dollak agarrou a haste, a girou e, junto dela, arremessou Dargan ao chão.
Jaro com os músculos tensionados e a respiração arfante, lançou uma sequência de golpes rápidos. Ainda assim, os cortes apenas arranhavam a pele espessa do monstro, despertando nele mais raiva do que dor.
O monstro respondeu com uma fúria avassaladora, desferindo uma sequência de socos pesados. Jaro recuava a cada batida, erguendo a lâmina como um escudo improvisado para aparar os golpes.
Nessa hora, Dargan já se levantava, preparando-se para atacar. Investindo pela esquerda, ele pressionava o rei. Ainda assim, a besta era como uma muralha viva de músculos. Num momento de descuido, um chute certeiro atingiu Jaro, o arremessado contra uma árvore, a colisão o fez vomitar sangue.
Em sequência, o monstro agarrou Dargan pela cabeça e o jogou contra uma casa. Sem dar trégua, o rei avançou contra Jaro, que ainda tentava se recuperar.
O jovem, contudo, ergueu-se com esforço e brandiu a espada.
— Preciso ser mais rápido — murmurou Jaro.
O monstro disparou mais um soco, porém Jaro se esquivou; a pancada pulverizou a árvore atrás dele. Outros golpes vieram, e, no limite de seus reflexos, ele conseguiu escapar de todos. Decidido a não arrastar a batalha até os camponeses, Jaro correu para longe da vila, tentando ao mesmo tempo encontrar uma forma de derrotar o Dollak.
Irritado por ver sua presa em fuga, o monstro começou a arrancar árvores e pedras enormes, arremessando-as contra o jovem. Jaro desviava como podia e, quando não conseguia escapar, cortava os projéteis. Ainda assim, em pouco tempo, a besta o alcançou e desferiu um golpe certeiro no lado esquerdo do corpo de Jaro, o jogando contra um celeiro abandonado, afastado da vila.
Convencido de que o jovem estava próximo da morte, o Dollak prosseguiu para se alimentar dele, adentrando o celeiro, porém a escuridão ocultava, o rapaz de seus olhos. De repente, um grito ecoou. Do alto, Dargan despencou em alta velocidade pelo teto e, pela primeira vez, sua lança perfurou o rei, cravando sua lâmina nas costas e o prendendo ao chão, de barriga para baixo.
Jaro saiu da sombra com o braço esquerdo esmagado, mas, mesmo assim, desferiu ataques cortantes que caíram com toda a fúria sobre o pescoço da criatura. O monstro berrava e Dargan forçava a lança para impedir que o Dollak se mexesse, enquanto Jaro golpeava o pescoço sem parar; ainda assim, os cortes não eram profundos o bastante.
Irritado, o monstro começou a se erguer, apesar de Dargan segurá-lo. Em desespero, vendo que a criatura iria se levantar, Jaro cortou os dois olhos do monstro. O rei rugiu de dor e se ergueu por completo, lançando Dargan contra a parede do celeiro, que se despedaçou.
Depois, foi para cima de Jaro com uma velocidade impressionante, desferindo um chute nas costelas que o jogou ao chão, perto de Dargan. Cego de fúria, o monstro começou a berrar sem controle. O barulho fez Jaro, que tinha desmaiado por um instante, voltar a si de repente.
— Essa dor de cabeça tá me matando… Deve ser por causa do grito desse desgraçado.
O rapaz, fincando a espada no chão e, apoiando-se pelo braço direito, se ergueu.
— Você ainda consegue lutar, Dargan?
— Sim… mas este corpo já está virando fumaça novamente.
— Não tem jeito. — O jovem, tocou novamente no braço de Dargan, transferindo um pouco de sua mana e restaurando por completo o corpo do esqueleto.
Jaro havia descoberto há pouco tempo que ele e os esqueletos estavam ligados por um fio de mana, cujo núcleo era o anel. Quando um deles era destruído ou sofria dano, Jaro não sentia a dor, mas sabia imediatamente o que havia acontecido. Também descobriu que, ao tocar os esqueletos, conseguia transferir sua própria mana para eles, restaurando os danos sofridos.
— Faltou pouco para matá-lo só preciso de uma abertura pra cortar o pescoço dele — disse Jaro.
— Vou abrir uma para você — assentiu Dargan.
Chefe, preciso que me cure de novo. Esse verme explodiu meu braço esquerdo e, com certeza, quebrou minhas costelas…
Entendido.
O corpo de Jaro foi tomado por uma luz branca. Seu braço, antes desfigurado, e todos os ferimentos começaram a sarar. Ele se alongou levemente, sentindo o corpo voltar ao normal.
Do outro lado, o rei parecia estar mais cauteloso com seus inimigos.
— Mais uma vez! — gritou Jaro.
— Sim! — respondeu Dargan, brandindo sua poderosa lança.
Eles partiram, deixando atrás de si uma cratera que ainda soltava lascas de madeira. O esqueleto ergueu a arma e desceu um golpe vertical, tão pesado que fez o ar vibrar; o rei só conseguiu erguer a defesa no último instante, o choque ressoou dentro do celeiro.
Foi então que Jaro surgiu pela lateral e perfurou a axila do monstro, arrancando dele um grito agonizante. Antes que a criatura pudesse reagir, Dargan investiu, A ponta da lança acertou o abdômen do rei e o lançou para fora do celeiro. Sem dar trégua, o jovem e seu vassalo rumaram atrás dele. Seus golpes choveram incessantes sobre a besta, não lhe permitindo sequer recuperar o fôlego.
O monstro tentava contra-atacar; mesmo cego, seus sentidos ainda eram aguçados e, por vezes, conseguia atingi-los. Ainda assim, os guerreiros sabiam que não podiam recuar. O jovem atacava e recuava sempre que o monstro tentava mordê-lo ou socá-lo, enquanto, Dargan lançava cortes precisos tentando causar algum dano mesmo que pequeno. Aos poucos, o monstro parecia enfraquecer.
Quando perceberam que o rei estava mais lento e debilitado, Jaro gritou: — Vamos cortar o pescoço dele! — Dargan concordou com um aceno.
Enquanto Dargan se engajava em um duelo direto com o rei, trocando golpes que faziam o chão tremer, Jaro avançava sorrateiro por trás. Com movimentos rápidos e precisos, ele atingiu várias áreas vitais na perna do monstro, que gemeu de dor e caiu de joelhos, fazendo estilhaços de pedra saltarem ao redor.
Dargan percebeu a oportunidade e concentrou toda a sua mana na lança. Num corte lateral cheio de força, a lâmina cortou o ar com um assobio agudo, mirando diretamente o pescoço da besta.
Mas, no último instante, o rei soltou um rugido tão estrondoso que interrompeu o ataque, lançando uma onda de choque que fez os braços de Dargan se erguerem involuntariamente.
Esse desgraçado! Pensou o esqueleto, nervoso.
Aproveitando a brecha, o Dollak avançou, ignorando a dor que queimava em sua perna. O esqueleto tentou reagir com um último ataque, mas o monstro se moveu com surpreendente velocidade. Num único golpe, suas garras rasgaram o peito de Dargan, o dividindo em duas metades, enquanto o corpo do esqueleto se desfez em fumaça.
A besta abriu um sorriso macabro, saboreando a morte de seu obstáculo. Finalmente estava livre desse inseto. Agora, restava apenas esmagar o humano. Mas, no exato instante em que se virou, uma lâmina irrompeu contra seu rosto, perfurando novamente o olho já ferido, fazendo jorrar sangue por todos os lados.
— MORRA DE UMA VEZ!!! — brandou Jaro, pressionando a espada com toda a sua força contra o crânio do monstro.
O Dollak cambaleava e urrava de dor, mas, em meio ao desespero, ele agarrou os braços do jovem, que ficou ainda mais ansioso para matá-lo o quanto antes, mas a lâmina não atingia o cérebro do rei.
Chefe! Eu preciso de mais poder. Só assim conseguirei derrotar esse monstro!
Não.
Jaro arregalou os olhos, surpreso.
Eu disse que você poderia comprar poder. Mas seu corpo não suporta mais mana agora. Talvez se alcançar o próximo estágio…
Do jeito que você fala, parece que estou sendo empurrado a aceitar o contrato de qualquer jeito!
Nesse momento, a Chefe, surgiu ao lado de Jaro como um espírito, e sussurrou em seu ouvido: — Que tal aceitar, o contrato? Se aceitar, poderá derrotar esse monstro e salvar aqueles humanos…
— Vai à merda.
— É uma pena, então…
Em seguida, o rei Dollak esticava os braços, e a carne se rasgava devagar. O jovem gritava de dor, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto e se misturavam com o sangue que saía de seus braços.
Até que, finalmente, a besta arrancou os dois braços de uma vez, e ele caiu sobre as próprias carnes, inconsciente.
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