Mesmo após derrotar Dargan e mutilar Jaro, o rei Dollak não parecia vitorioso. Cego e ferido, ele queria fugir para se regenerar e voltar mais tarde, para devorar toda a vila e, principalmente, Jaro.

    Mas, ao dar alguns passos, trombou contra uma barreira invisível. Confuso, bateu repetidas vezes na barreira para quebrá-la, até que, de repente, sentiu uma dor aguda no peito.

    — Como ousa deixar meu senhor nesse estado? — indagou Velmir, ao apunhalar o dollak.

    Enquanto isso, Jaro recobrava a consciência. Quando abriu os olhos, encontrou Serena ao seu lado, chorando e também conseguia ver uma pequena tela que dizia que o colar do Guardião havia sido ativado, isso o deixou aliviado por um momento. Se não fosse o colar provavelmente, ele teria morrido com o choque da dor.

    — Ah, é você, Serena… Eu não te disse para ficar no quarto? Aqui é perigoso… — exclamou ele, mesmo banhado em sangue e marcado por feridas mortais.

    — Por que… você luta por pessoas que nem conhece? — perguntou Serena, com lágrimas descendo pela bochecha e a voz rouca.

    — Porque… acredito que isso é… ser humano. E eu não quero esquecer esse sentimento…

    Essas palavras aqueceram o peito da jovem de cabelos negros e a fizeram refletir sobre empatia, algo que ela ainda não conhecia. Mais a frente, Velmir duelava contra o monstro, causando-lhe ferimentos profundos. Jaro percebeu que o seu vassalo conseguia cortar o monstro com mais facilidade que ele e Dargan juntos.

    — Como Velmir está conseguindo causar tanto dano ao rei dollak? — indagou, surpreso.

    — Os Dollaks são criaturas das trevas. Por isso, mergulhei a espada e o escudo de Velmir em água sagrada e também os imbuí com minha mana, potencializando o poder de fogo da arma de seu servo — explicou ela.

    Isso deu uma ideia a Jaro.

    — Serena, esqueça meus ferimentos. Pegue toda a água sagrada que tiver… e mergulhe em mim.

    Ela hesitou, mas obedeceu. Jaro também pediu que lhe entregasse as gomas que estavam em seu bolso, mastigando duas de uma vez.

    — Agora me leve até Velmir, por favor.

    Mesmo preocupada, Serena o ajudou a se aproximar. Ao mesmo tempo que curava suas feridas, Jaro se preparava para o último confronto. Apesar de lutar bem contra o rei Dollak, a diferença de força entre o monstro e o esqueleto era gigantesca.

    Em um momento de fraqueza, o monstro agarrou Velmir com uma única mão e o esmagou. Muito ferido, o rei Dollak estava prestes a fugir quando uma voz familiar ecoou: — Ei, grandão… não tá se esquecendo de alguém?

    — Hieeekk!! — gritou o monstro, furioso.

    Jaro, banhado em água sagrada, agarrou com a boca a Espada da Verdade que estava na mão de Serena e, depois, partiu pra cima do rei.

    Percebendo a aproximação, o dollak lançou um soco devastador, mas o jovem desviou com agilidade. O golpe atingiu o solo, abrindo um enorme buraco, e o rapaz escalou o braço da criatura até alcançar o ombro.

    Ostentando a Espada da Verdade entre os dentes, desferiu um corte profundo que rasgou o pescoço do monstro, arrancando um rugido de dor. O dollak tentou golpeá-lo, mas Jaro saltou no último instante, e o próprio ataque atingiu a criatura, a deixando desorientada.

    Aproveitando a confusão, o garoto desceu cortando suas costas com ataques ágeis e ferozes. Mesmo gravemente ferido, o monstro ainda tentou reagir, mas Jaro, implacável, cortou-lhe a perna direita, o derrubandode joelhos. Em sequência, desferiu um golpe final que abriu o estômago do rei, espalhando suas entranhas pelo chão.

    Você vai desmaiar em poucos segundos.

    — Eu sei… — respondeu ele, já vendo tudo escurecer.

    Aproveitando suas últimas forças, declarou diante da criatura que agonizava: — Que morte patética… Deve ter amado devorar carne humana até hoje. Não sei se culpo você ou seu criador… mas no meu mundo ideal, monstros como você não existirão. Eu vou exterminar todos!

    Jaro, segurando a Espada da Verdade firmemente entre os dentes, respirava com dificuldade, cada fibra de seu corpo estava exausta após a batalha. O rei Dollak permanecia de joelhos, também ofegante, e seu corpo enorme tremia de dor. Aproveitando o momento de vulnerabilidade, Jaro correu, saltou mais uma vez, empunhando a espada entre os dentes.

    Então, desferiu um corte fulminante no pescoço do monstro, atravessando carne e osso. Um rugido final ecoou, à medida que a cabeça colossal do rei, tombava no chão, provocando um estrondo pesado. O corpo do dollak tombou, sacudindo a terra com o choque. Já Jaro caiu ao lado dele, trêmulo e exausto, sentindo o peso da vitória.

    — JARO!! — gritou Serena, correndo até ele.

    — E-eu vou ficar bem… só perdi muito sangue — respondeu ele, tentando se recompor.

    — Você é louco! Como pode fazer uma coisa dessas estando nesse estado? — Serena o repreendeu, sua voz soava cheia de preocupação.

    — É que eu não suporto deixar nada pela metade — murmurou Jaro.

    E em um último fio de força, ergueu a mão direita.

    — Dargan.

    Uma fumaça começou a se formar diante dele, moldando-se até se transformar em um esqueleto gigante empunhando uma lança.
    Ao invocar mais uma vez Dargan, seu servo mais poderoso, Jaro acabou esgotando sua mana.

    — Salve o máximo de pessoas… por favor — disse Jaro, antes de desmaiar.

    — Como desejar, meu senhor.

    Posteriormente, o esqueleto, observando a maneira gentil e dedicada com que a humana cuidava de seu senhor seriamente ferido, compreendeu que ele estava em boas mãos.

    — Humana, leve meu mestre para um lugar seguro.

    Antes que Serena pudesse responder, Dargan já havia desaparecido dali.

    ⧖⧗

    Mais e mais humanos caíam, e até mesmo muitos dentro do círculo foram mortos pelos dollaks. Restava pouco para todos serem aniquilados. Alguns esqueletos também já haviam se desfeito em fumaça, retornando ao anel.

    Mas, naquele momento de aflição, uma criatura gigante, esquelética, empunhando uma arma colossal, surgiu. Apenas sua presença fez todas as pequenas criaturas cinzentas estremecerem. E, se aquele esqueleto estava ali em pé diante deles, significava que seu rei havia sido derrotado.

    Os dollaks, que atacavam furiosamente o círculo de humanos, agora hesitavam. Havia medo, mas eles já haviam avançado longe demais para recuar. De modo instintivo, entenderam que se não eliminassem o inimigo à sua frente, não poderiam devorar aqueles humanos.

    Todos os dollaks cessaram o ataque ao grupo de humanos e se voltaram para Dargan, o gigante esqueleto.

    — Isso mesmo venham todos pra mim.

    Pouco mais de cem dollaks avançaram contra o único esqueleto. Dargan brandiu sua arma, que começou a brilhar com um azul intenso, aumentando gradualmente até um ponto em que cegou todos a metros de distância.

    Os dollaks, ficaram paralisados pelo brilho. Então, um baque ensurdecedor ecoou. Aos poucos, a visão de todos retornou, e o horror se revelou, mais de cinquenta dollaks estavam cortados ao meio, totalmente irreconhecíveis.

    Apesar do choque, os sobreviventes não recuaram. Instintivamente, continuaram a investida contra Dargan, no entanto, sozinho, o gigante esqueleto aniquilava inúmeros monstros em poucos minutos, cada ataque seu era mortal. Ao testemunhar Dargan eliminando os dollaks, os camponeses ficaram assombrados; era como observar um leão abatendo hienas impiedosamente.

    Depois de assistirem ao último dollak ser derrotado, sentiram satisfação e alívio, mas o pequeno grupo de humanos estava exausto. Haviam lutado por mais de trinta minutos sem parar e logo se jogaram no chão para recuperar o fôlego.

    — Humanos! Meu mestre derrotou o rei dollak! — proclamou o gigante esqueleto, erguendo sua lança pro alto.

    Ao ouvirem tal notícia, todos ali vibraram e gritaram de alegria pela vitória.

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