Índice de Capítulo

    Segundo dia de treinamento, primeira etapa: introdução à magia contemporânea.

    — Bom-dia a todos — disse Nihaya, apresentando-se como Nietsz frente Quinta Legião, com apenas Aidna, Kyle e Zypher ausentes.

    Novamente, eles se reuniram no gramado do Palácio dos Sete Condes e estavam submetidos as apresentações dos mentores.

    No entanto, desta vez, Theo estava ao lado deles.

    — Após a realizada reunião entre nós, os superiores dessa Legião, que ocorreu ontem a noite, decidimos alterar completamente o cronograma de treinamento apresentado anteriormente.

    “Quanta chatice…” Theo pensou ao bocejar. Estava sendo entediante tamanha formalidade.

    — Visualizamos uma falha na agenda de treinamento, tendo em vista que estamos em momentos difíceis e que precisam de atenção dobrada. Para àqueles que ainda não entenderam o nível da situação, estamos em uma corda sustentada por um mísero fio. Tal qual pode se romper a qualquer instante, resultando, portanto, na guerra que nos preparamos para enfrentar.

    Theo desceu a mão pelo ombro de Nihaya, tirando as palavras do djinn e puxando-o para trás.

    — Tendo isso em mente, avaliamos que o antigo cronograma foi criado erroneamente. Afinal, por que durar semanas para inserir o básico? Após questionado isso, nossos mentores decidiram ensinar os fundamentos de suas disciplinas casualmente, como uma aula — disse o General.

    — Depois, iremos conduzir vocês a se desenvolverem. — Nihaya interrompeu.

    Conjurando vértices de energia, gradualmente o djinn moldou uma tabela holográfica no ar.

    TreinadorTreinamento
    Moris ZizielSemana 1: Aprimoramento Físico
    Javier MoralesSemana 2: Introdução à manipulação da ciência e magia
    NietszSemana 3: Introdução ao controle de magia 
    ZemynderSemana 4: Introdução ao desenvolvimento de técnicas marciais

    — Este era o antigo modelo. Iriamos demorar quatro semanas para treiná-los, e decidimos apresentar esse modelo mesmo levando em consideração os riscos de retardação, já que deduzimos um talento que nem todos teriam.

    — Pedimos perdão por isso — Moris tomou a frente pondo a mão no peito — Acabamos deduzindo muito, afinal, somos donos de talentos e dons que nascem em um a cada milhão. Porém, por sempre estarmos no topo, acabamos esquecendo que nem todos são assim… Vocês estão no início da escada, e não quero que interpretem errado. Com dons ou não, iremos fazê-los encontrar seus talentos e chegar ao topo.

    O Titã da Ira e o djinn trocaram olhares.

    Os vértices se alteraram, projetando uma nova tabela.

    TreinadorTreinamento
    Javier e NietszPrimeiro dia: Introdução ao controle e manipulação da magia
    ZemynderSegundo dia, primeira etapa: Desenvolvimento de técnicas
    Moris ZizielSegundo dia, segunda etapa: Aprimoramento físico

    — Como podem ver, nas próximas horas, Nietsz e Javier irão introduzir os fundamentos da magia dos dois mundos, aplicar técnicas de refinamento e ajudar na criação de feitiços. Amanhã será um novo dia, então, não precisamos explicar o que acontecerá por enquanto. Peço a compreensão…

    Javier deu um soco na nuca de Moris, que resmungou com a dor.

    Aproveitando, Theo tomou a frente dos Titãs.

    — Pedir? Você ordena — Javier cochichou arrumando a postura.

    — Novamente, peço perdão pelo infortúnio. Como General, assumo a responsabilidade desse atraso e, assim como qualquer erro dentro da minha Legião, assumirei total responsabilidade. Porém, entendam: somos aliados distantes, embora íntimos. A junção de Nietsz e Zemynder deixou alguns espaços para estranheza, graças ao costume divergente do domínio se comparado ao nosso.

    Nora, que assistia no fundo ao lado de Jeanne e a rainha Marelia, se contorceu com a postura de Theo. Para ela, era inadmissível…

    A General da Terceira Legião colocou a mão na cintura, prendendo o cinto de pano que segurava sua saia curta.

    — Esse cara não serve para ser general. Que tipo de general fala assim com seus subordinados? Fazendo pedidos? Que idiotice — resmungou Nora.

    Ela ainda não aceitava a intimidade entre Theo e Jeanne, muito menos a promoção do recém consagrado General.

    — Foi esse cara que a Senhorita nomeou General? Poderia ter sido o Bastien…

    — Na verdade… Esse é o cara ideal para aderir tal posição — interrompeu Marelia. — Generais são líderes, não chefes. Sabe me dizer a diferença entre um líder e um chefe, General Nora?

    Intimidada pela intervenção da figura real, Nora não conseguiu responder com clareza ao questionamento. Porém, sua princesa respondeu no lugar.

    — Hmm… Um chefe tem o papel de ordenar, certo? Eles apenas dão ordens e pressupõem que você conseguirá fazer sem precisar de ajuda. Mas, quando algum de seus subordinados erram, o chefe sempre irá buscar alguém para pôr a culpa — disse Jeanne, abraçando suas próprias pernas — É nesse ponto que o líder entra: alguém que não apenas ordena, mas que ensina e tira as dúvidas… Caso seu subordinado erre, ele assume a responsabilidade, afinal, está sob autorial de tal.

    — Exatamente, — concordou Marelia, sorrindo para Jane — é também essa liderança que diferencia um rei de um mero guerreiro. Entende, Nora? No campo de guerra, se botarmos as duas filosofias lado a lado, provavelmente a Quinta Legião sairia com um número de baixas inferior à sua, mas, com vitórias acima de todos… Por que…

    — Nós temos um bom líder — completou Aidna.

    A druida havia surpreendido as três mulheres, que deram um pequeno salto para trás.

    De cabeça para baixo no galho da árvore que lhe fazia sombra, Aidna permitiu que seus belos cabelos prateados caíssem como o véu de uma neblina.

    Entretanto, ela estava notoriamente incomodada. Não à toa, já que Theo havia forçado-lhe a manter a roupa que ele e Nora julgaram mais “descente”. Uma caracterização de toda Quinta Legião; as roupas pretas com duas camadas cobrindo metade do corpo e uma parte inferior que impedia a exposição.

    Cada membro tinha a possibilidade de personalizar suas roupas conforme desejarem. A druida não podia escolher outra cor se não o verde, todavia, ela detestou que Theo havia retirado seus decotes.

    — Diabo! Desde quando está aqui?! — Nora espantou-se.

    — Diabo? Uma dama tão bela quanto eu? Se estiver se referindo a Lilith, irei aderir o elogio. Mas… Tô aqui há um tempo. Me recuso a participar daquela reunião — respondeu.

    Marelia estranhou o comportamento da druida e questionou-lhe:

    — E por que? É teu esquadrão. Não deveria estar…

    — Primeiro: o Theo já me repassou tudo, então não tenho interesse em respirar o mesmo ar que aquele Titã. Segundo; o treinamento deles não passará de uma aula para boi dormir. Eles não irão ensinar nada de novo para mim, afinal, sou uma druida. Tenho conhecimento sobre o que eles ainda julgam impossível…

    — Ah é? Bom, então… Por que não se torna uma mentora da Legião também? — inquiriu Theo, com os braços na cintura enquanto encarava Aidna.

    A druida tomou um susto ao ver seu General. Suas pernas escorregaram do galho e a mulher caiu de costas no chão.

    Contudo, Theo criou um pequeno vórtice para amortecer a queda.

    O General olhou para Aidna e esperou sua subordinada se reerguer. Ela, portanto, coçou o olho e arrumou os cabelos enquanto sentia raiva do General Mason.

    — E aí, Mason — disse Nora dando um leve toque no braço de Theo — O que tá pretendendo fazer?

    — Já que a rainha está aqui, presumo que ela já informou tudo. 

    — Um pouco… Mas, por que você irá se ausentar logo agora? Sua Legião vai começar a treinar, e estamos precisando de seus serviços lá fora…

    — Estou indo treinar também. Mas, em meu plano espiritual.

    — Mas…

    Nora cruzou os braços e inclinou o tronco para trás, franzindo o cenho e olhando de lado para Theo; este, por sua vez, a encarou como se dissesse “Que foi?”.

    — E os ensinamentos dos Titãs? Pensei que estaria interessado para aprender sobre o que eles têm a ensinar…

    Levando o braço direito para baixo do terno, ele retirou um caderno preto e o girou na ponta do dedo.

    — Tá tudo anotado aqui. Além disso, também tenho as anotações que a Jane trouxe da tradução nos últimos dias.

    — Tradução? Deixa eu ver…

    A General da Terceira Legião tentou pegar o caderno, mas Theo tomou distância e a segurou pela testa.

    — É um segredo só nosso. Além do mais, você pode ser o braço direito, mas eu quem sou a prioridade dela agora — disse sorrindo.

    — O quê?!

    Jeanne sorriu atenciosamente, se levantando do gramado.

    Batendo o vestido branco e vermelho, ela chamou a atenção de todos.

    — Mason… Tem certeza de que anotou tudo certo? Referente ao conteúdo dos mentores — perguntou.

    — Sim, sim. Só não tenho certeza se àquele conteúdo da materialização vai ser o suficiente para eu conseguir levá-lo comigo.

    Jeanne cruzou os dedos nas costas e se esticou por de trás de Nora.

    — Vai sim. Eu já o transformei em um artefato vinculável, ou seja, você pode levá-lo para qualquer dimensão, seja espiritual ou física. 

    — Hm…

    Marelia murmurou ao longe, analisando o olhar que Theo e a deusa Vanir trocavam.

    Eles não tinham conhecimento total sobre o outro, muito menos intimidade o suficiente, mas agiam de uma forma próxima.

    A rainha chegou a sorrir quando percebeu o que de fato estava acontecendo.

    “São apenas dois jovens sentindo atração… Mas, sem sentir uma vontade secundaria. Eles apenas se conectam…” ela se recordou que foi obrigado a se casar com Pendaculos, sem sentir o mínimo de sentimento.

    — General Mason… — chamou Marelia — Me acompanhe, por favor.

    A rainha, embora tenha pedido, sua intenção era notoriamente uma ordem.

    “E eu tenho escolha?” pensou Theo.

    Seguindo Marelia para longe do campo, o General acompanhou a rainha pela praça onde o exército de Kiescrone treinava.

    Com poucos desviantes entre os soldados, a maioria era humanos comuns. Carregavam armas e gritavam enquanto praticavam o treinamento, mostrando a disciplina em cada berro.

    Eles eram garrafas de vidro aos olhos de Theo, frágeis o bastante para um pequeno vento esmagar.

    Mas, com uma determinação inabalável a ponto de querer rivalizar com o exército inimigo.

    A bandeira de Galahard, o principal Capitão de Kiescrone, com uma asa etérea rasgando toda a extensão do tecido azul, balançou acima da cabeça de Theo.

    — Pela Santa Teresa! — berrou Galahard, tomando a frente de seus subordinados enfraquecidos.

    Os cabelos, miticamente azulados, do Capitão expulsaram o suor junto do vento. Com seus olhos verdes quase fechados graças ao cansaço excessivo, Galahard tomou ar e exclamou após seus agente repetirem seu canto:

    — Proteja-nos da avareza!

    Os soldados repetiram o grito do Capitão novamente.

    — Cobiça que os reina!

    O canto seguia um ritmo pausado e com bastante entonação nas palavras de conexão.

    — Declare sua sentença! A força que governa, se desmancha em pedra! E essa tal força, cairá por terra!

    Galahard retornou ao início, seguindo a linha cronológica de sua canção.

    “É isso que ela quer me ensinar?” Theo pensou assistindo ao treinamento. “A determinação e disciplina?”

    Marelia limpou a garganta e olhou para o chão, decidindo, por fim, chamar atenção de Theo.

    — Quando a família Zal e Dür decidiram fazer as pazes, há quase cinquenta anos, eu era comprometida com um cavaleiro real. Ele não era talentoso, nobre ou bem-vestido, mas tinha um caráter que nenhum outro humano conseguiria replicar, ao menos para mim. Ele estudava para ser da elite, das Três Lâminas do Rei. Enquanto eu era uma princesa sendo educada para herdar o trono…

    Ela manteve sua postura rígida e coesa, autoritária e governanta como nenhuma outra rainha.

    — Embora não andasse de terno e gravata, a elegância estava em seu olhar e personalidade. E foi esse charme que chamou atenção até das sombras de Kiescrone…

    — Hm… — O General Mason já havia previsto o futuro daquela conversa. — Ele morreu, não foi?

    Marelia suspirou intensamente.

    Foi um sim tão carregado de tristeza que o ar ficou sobrecarregado negativamente aos olhos e sensores de Theo.

    Ele jamais havia visto alguém conseguir mudar o vento apenas pelo sentimento…

    A rainha era uma controladora do vento assim como Theo, isso foi o que ele concluiu.

    Mas, alterar a propriedade neutra do elemento para a negativa, sem um feitiço prévio… É beirar o impossível.

    Até transferir as propriedades de mana para converter em éter é mais simples, já que a conversão de Marelia não se trata de algo elementar, mas sim atômico.

    “Magnifico…” foi a única palavra que ele encontrou.

    — O homem que fui obrigada a me casar por mais de quarenta anos o matou, só por que ele era carente de algum talento. Entende onde eu quero chegar, General Mason?

    — É este homem que você está em conflito, Pendaculos, certo? Não contra Bvoyna.

    — Exatamente…

    — Eu sabia que esse debate iria chegar algum dia.

    Theo suspirou com a guarda alta.

    — Não se preocupe. Embora minha luta seja contra Bvoyna, seu inimigo é a ponte entre nós. Portanto, o aliado do meu inimigo, há de ser meu inimigo prioritário. Não tenha medo, pois qualquer um da minha Legião está ao seu lado, te garanto isso. Afinal, até o momento em que você parar de pensar da mesma forma que eu, enquanto a senhorita não mudar sua ética… Serei seu aliado.

    Marelia parou no meio do caminho e assistiu ao General andar até o templo no fundo da Torre do Castelo Zal.

    Ela riu.

    — Então, se eu não penso da forma que pensa, sou tua inimiga?

    — Essencialmente, é dessa forma que funciona! — respondeu em tom alto para suprir a distância, mas carregava um sorriso no rosto.

    A rainha piscou para Theo e, rapidamente, virou-se para os soldados em treinamento.

    Abafando a boca para que sua voz saísse com um tom maior, ela exclamou:

    — Pessoal! Desejem um bom treinamento para o nosso futuro aliado mais poderoso!

    Ao ouvir a voz de Marelia, Galahard interrompeu o treinamento de maneira abrupta. Porém, ao escutar a ordem de Vossa Majestade, o capitão de Kiescrone trocou olhares repentinamente com o General Mason.

    Fazendo uma saudação direta, Galahard exclamou algo que, segundos depois, estrondou no campo.

    Enquanto Theo entrava na passagem para o Templo do Senhor Todo-Poderoso, os soldados de Kiescrone entoaram quase como um grito de guerra capaz de estremecer o ambiente:

    — Em nome do Pai, do Filho, e de teu Espírito Absoluto: Ascenda à Santidade!

    Sorrindo e de olhos fechados, Theo assentiu com sua mão aberta à medida que sentia o chão estremecer.

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