Capítulo 136: Juntos (4)
*Tap* *Tap* *Tap*
O som de seus passos descendo a escada rapidamente ecoou pelo ambiente. No entanto, o grito da mestre espadachim Hannah, que aparecia de vez em quando, abafava tudo.
— Bin, você não disse que ela ainda estava nos estágios iniciais?
Bin respondeu urgentemente à pergunta de Cale.
— Sim senhor. Ela estava nos estágios iniciais quando recebemos a mensagem ontem à noite.
Cale, assim como Litana, deixou muitas poções de qualidade superior para Hannah permanecer nos estágios iniciais pelo máximo de tempo possível.
Cale podia ouvir Tasha começando a falar atrás dele.
— Ela está chegando aos estágios intermediários, mas ainda não chegou lá. No entanto, ainda é perigoso.
Havia uma sensação de urgência na voz de Tasha.
Cale se lembrou da conversa que teve com Mary enquanto continuava a descer as escadas correndo. Essa foi uma conversa que tiveram durante a viagem no navio.
— Você disse que há uma maneira de ajudá-la?
— Sim. É possível se ela for uma mestre espadachim.
— …Mary, eu não quero que ela apenas esteja viva.
— Eu sei, Cale-nim. Vou ajudá-la a se recuperar e voltar ao normal.
Mary parecia confiante.
Embora Mary pudesse parecer um pouco cabeça de vento, Cale sabia que o que ela dizia era sincero.
*Tap* *Tap*
Eles viram uma porta no pé da escada. A porta estava aberta.
Havia uma razão para os gritos saírem da sala.
O criado estava ali, sem saber se deveria fechar a porta ou mantê-la aberta.
— O que está acontecendo?
— Ah, Bin-nim!
O rosto do criado se iluminou ao ver Bin. Cale e Bin imediatamente se dirigiram para a porta. Conseguiram ver um corredor e uma sala pela fresta.
— Aaaaaaah!
O grito vinha daquele quarto.
O servo rapidamente relatou a Bin.
— A hóspede começou a ter convulsões há cerca de duas horas. O guarda está no quarto aguardando qualquer emergência, enquanto eu ainda não conseguia decidir a quem reportar.
A hóspede a quem o servo se referia era a mestre espadachim, Hannah. Cale podia ouvir o murmúrio chocado de Tasha.
— …Ela aguentou firme por duas horas. Sua resistência é incrível.
Cale tentou se virar para olhar para Tasha, mas acabou fazendo contato visual com o manto preto.
— Ela mal consegue se segurar. Precisamos nos apressar.
Cale não respondeu e, em vez disso, voltou o olhar para a porta. Bin e o criado conversavam perto da porta.
— As convulsões são tão graves que não conseguimos acalmar-
— Se mova.
— …Com licença?
Alguém caminhou entre Bin e o servo.
O servo deu um passo para trás, surpreso. Um homem com uma aura opressiva caminhava à sua frente.
Aquele homem era Cale.
— Jovem mestre-nim.
Bin chamou Cale e tentou passar na frente dele. No entanto, seu corpo congelou por um momento após fazer contato visual com Cale.
Naquele momento, Cale empurrou a grande porta com as duas mãos.
*Scrun* *Bang!*
A porta se abriu com um estrondo e Cale entrou. Mary, Tasha, os dois Dragões e Ron, naturalmente, o seguiram.
Bin observou isso por um momento antes de dar uma ordem ao servo.
— Informe Sua Majestade que um convidado importante chegou.
— Ah, sim, sim senhor!
Bin verificou se o criado havia saído antes de correr apressadamente atrás de Cale. Cale já havia chegado à porta aberta no corredor.
Cale estava no luxuoso carpete enquanto estava em frente à porta.
A porta estava escancarada.
O quarto era bem iluminado, o que facilitava a visão. Ron, que estava logo atrás de Cale, olhou para dentro do quarto e começou a franzir a testa.
“…Que terrível.”
Era uma visão terrível, até mesmo para Ron.
— Ugh, aaaahhh!
Eles podiam ver Hannah na cama se contorcendo de dor.
Falando honestamente, era difícil até dizer que era ela.
— Ahhhhhhh!
Veias negras por todo o corpo pareciam prestes a estourar. Seu nariz, olhos, orelhas e todos os outros orifícios do rosto de Hannah sangravam.
Também havia uma fumaça preta saindo do corpo dela.
— Ah. Ah-
Ela gritava com a voz rouca. Parecia ter se contido por um tempo, pois seus lábios sangravam onde ela havia mordido, e seus olhos estavam vermelhos.
— Hannah, Hannah! Por favor, meu Deus!
O Santo estava à beira da cama de Hannah, chorando e incapaz de sequer fazer uma oração. Ele não conseguia rezar, pois temia que rezar ao Deus Sol pudesse prejudicar Hannah, que estava infectada pela mana morta.
— Por favor. Hannah, só um pouquinho mais de força! Por favor!
O Santo implorou enquanto olhava para Hannah. Eles encontrariam um jeito de salvá-la se ela perseverasse um pouco mais. Dezenas de frascos vazios de poções de qualidade superior rolavam pelo chão.
Hannah começou a ter convulsões repentinas há cerca de duas horas. As poções não ajudaram.
— Snif… snif…
O Santo chorou ao ver os olhos vermelhos que o fitavam. Seus olhos também estavam vermelhos. Ele sentiu como se estivesse prestes a enlouquecer.
“Quero purificá-la.”
Ver sua irmã mais nova continuar a gerar fumaça preta fez com que seus pensamentos como irmão e como Santo se chocassem. Como Santo, ele queria purificar sua irmã com seus poderes de cura para se livrar da mana morta e da garota afetada deste mundo.
No entanto, fazer isso também mataria sua irmã.
Foi por isso que ele apertou as mãos e implorou desesperadamente enquanto olhava nos olhos da irmã.
— Hannah, aguente mais um pouquinho! Se você aguentar-
— Então ela vai melhorar.
*Tap*
Uma mão foi colocada no ombro do Santo. O Santo percebeu algo ao sentir a mão em seu ombro.
Ele pensou que a irmã o estava olhando, porém, ela olhava por cima do ombro dele. O Santo virou a cabeça lentamente ao ouvir a voz familiar.
Era Cale Henituse.
Cale estava olhando para Hannah enquanto continuava a falar.
— Bom trabalho aguentando até agora. Aguente só mais um pouquinho.
O Santo pôde soltar um suspiro de alívio. No entanto, sentiu uma pressão que apertou seu coração naquele momento.
O olhar do Santo dirigiu-se para a porta.
Havia alguém vestindo uma túnica preta e também outra mulher.
Suas mãos começaram a tremer assim que ele viu aquelas duas pessoas.
Seus instintos, seus poderes dados pelo Deus Sol, estavam lhe dizendo sobre eles.
— …Um humano que usa mana morta e um Elfo Negro.
Para alguém que cresceu na igreja como um Santo do Deus Sol, essas pessoas eram seus inimigos. Embora ele fosse um Santo com poderes apenas de cura, sua mente ainda era dominada por seus instintos naturais.
“…Preciso me livrar deles. Preciso purificá-los.”
Os poderes divinos concedidos pelo Deus Sol começaram a envolver seu corpo. Os olhos do Santo ficaram vermelhos por um motivo diferente.
Foi naquele momento.
A mão em seu ombro o apertou.
O Santo virou a cabeça em direção à pessoa que o apertava com tanta força que ele estava prestes a gemer.
Ele fez contato visual com Cale.
Cale começou a falar.
— Eles vieram para salvar sua irmã, mesmo sabendo que isso pode ser perigoso.
O Santo podia ouvir o tom sério de Cale.
— Você não quer salvar a Srta. Hannah? Não, você não quer salvar sua irmã?
O Santo cerrou os punhos e mordeu os lábios antes de se levantar lentamente. Em seguida, foi para os fundos. Seu corpo tremia enquanto se afastava, sem olhar para Mary e Tasha.
Ele então respondeu à pergunta de Cale.
— Eu posso lidar com isso.
Ele poderia se forçar a não agir de acordo com seus instintos.
O Santo pôde ver Cale começar a sorrir pela primeira vez hoje.
— Resista.
Cale deu essa resposta curta antes de imediatamente dar a ordem a Tasha e Mary.
— Começem.
— Sim senhor.
— Entendi.
As duas imediatamente se dirigiram a Hannah. Cale também se dirigiu à cama e se abaixou em direção a Hannah, que ainda o observava. Ele então se aproximou do ouvido dela para que ela pudesse ouvi-lo melhor antes que ele começasse a falar.
— Hannah.
Mary disse que isso era possível porque ela era uma mestre espadachim.
— É impossível se livrar completamente dela, mas a aura dela deve ser capaz de se fundir com a mana morta. No entanto, ela terá o atributo escuridão quando os dois se fundirem e também precisará manter o equilíbrio entre eles constantemente. Também pode haver alguns efeitos colaterais.
— Mas ela poderá viver.
— E eu serei aquela que unirá os dois.
Cale continuou falando com Hannah.
— Eleve sua aura ao nível mais alto. Haverá um poder ajudando você a fundir a mana morta com sua aura. Siga o caminho criado por esse poder.
— Argh, argh.
Hannah abriu a boca para dizer algo, mas só saiu sangue e fumaça preta. Cale olhou para ela antes de dizer mais alguma coisa.
— Certifique-se de sobreviver.
Naquele momento, Hannah fechou os olhos e uma aura dourada começou a sair de seu corpo.
Mary arregaçou as mangas, revelando as mãos cobertas pelo que pareciam ser teias de aranha pretas. Uma aura negra começou a emergir de sua mão.
Tasha sentou Hannah enquanto Mary colocava as duas mãos nas costas dela. Mary então começou a falar.
— Por favor, direcione sua aura seguindo minha orientação.
Tasha criou uma névoa negra que envolveu Hannah e Mary ao mesmo tempo.
Cale deu um passo para trás.
Não havia mais nada que ele pudesse fazer. Ron e Bin já haviam saído da sala com o guerreiro de mais alto nivel assim que Mary arregaçou as mangas.
Cale virou a cabeça para um canto da sala.
O Santo tremia enquanto olhava para eles. Eruhaben estava de pé ao lado do Santo, com os braços cruzados.
{O Humano, o Dragão de Ouro e eu vigiaremos o Santo.}
Eruhaben e Raon não tinham nada para fazer agora, pois não tinham o atributo escuridão.
Como Cale era do mesmo jeito, ele simplesmente se aproximou e ficou ao lado do Santo. Cale e Eruhaben estavam de pé, um de cada lado do Santo.
Cale podia ouvir Eruhaben começando a falar.
— Faz muito tempo que não vejo um necromante de verdade.
A sala foi lentamente se enchendo com uma aura sombria. Cale não se importava muito com ela, pois não era venenosa como a mana morta. No entanto, isso não se aplicava a uma única pessoa na sala.
— Ah… bufff…
O Santo respirava com dificuldade. Isso seria difícil para o Santo do Deus Sol. Cale olhou para o Santo por um instante antes de olhar para Eruhaben e começar a falar.
— Ela é a primeira necromante desde a morte do último necromante.
— Entendo. Enfim, ela é incrível. Deve ser doloroso para ela guiar a mana morta no corpo de outra pessoa.
Cale pôde ver o Santo estremecer após ouvir as palavras de Eruhaben.
Tasha se aproximou dele furtivamente durante o passeio até a selva.
— Mary será a que mais sofrerá durante o processo de fusão. Será ainda pior para ela do que para a Donzela Sagrada. No entanto, ela está determinada a ajudar a Donzela Sagrada.
— Tenho certeza de que você sabe sobre a boa natureza dela, jovem mestre Cale.
Cale começou a falar.
— Aquela necromante, Mary, estava atravessando o ‘Deserto da Morte’ com seus pobres pais quando foi envenenada por mana morta. O resto de sua família morreu e ela foi a única sobrevivente.1
O Santo virou lentamente a cabeça em direção a Cale.
— No entanto, por causa do veneno, a única maneira de ela sobreviver era absorvendo o atributo escuridão. Foi assim que ela acabou se tornando uma necromante. Ela veio aqui para salvar a Srta. Hannah.
As palavras de Cale soaram como um trovão para o Santo. Ao mesmo tempo, ele ouviu a mulher de túnica preta começar a gritar.
— Você precisa perseverar! Empurre toda a mana morta para mim.
As mãos cicatrizadas da mulher de túnica preta tremiam intensamente quando ela disse isso. Tasha estava ao lado dela, fornecendo-lhe fumaça preta.
O Santo não conseguia tirar os olhos deles.
Cale então começou a falar com o Santo novamente.
— Santo-nim, a Srta. Hannah também terá o atributo escuridão se sobreviver.
Cale fechou a boca sem dizer mais nada.
A sala se encheu com os gritos de Hannah, os berros de Mary e a voz desesperada de Tasha. No entanto, uma voz baixa conseguiu chegar aos ouvidos de Cale em meio a tudo isso.
— …Jovem mestre Cale.
Era o Santo.
— Muito obrigado.
Cale olhou para o Santo que estava se esforçando muito para sorrir.
— Eu sei diferenciar entre boas e más intenções
Naquele momento, Eruhaben interrompeu a conversa.
— É isso que significa ser um Santo.
As palavras de Eruhaben atingiram o coração do Santo. Ele fechou os olhos e apertou as mãos. Suas unhas cravavam-se na pele e o faziam sangrar, mas ele não as soltou.
Agora ele aprendeu que havia algumas coisas que eram mais importantes do que a justiça que o Deus Sol lhe havia ensinado.
Naquele momento, uma sensação fria começou a se formar ao redor de suas mãos. O Santo abriu as mãos e viu que uma poção fluía sobre elas.
— É bom resistir, mas você não pode se machucar no processo.
Cale estava derramando uma poção nas mãos do Santo. O Santo reprimiu as emoções que surgiam dentro dele e assentiu.
— A bondade não estava escondida em nenhum lugar como eu pensava.
Estava muito, muito perto dele.
O Santo sentiu que finalmente entendia o que significava a verdadeira bondade. Isso o deixou mais relaxado.
Vendo que o Santo parecia bem, Cale se virou para olhar para Hannah e Mary. Naquele momento, Raon começou a falar em sua mente.
Raon pareceu um pouco hesitante.
{Humano, me desculpe.}
“Que bobagem ele está falando agora?”
Cale começou a franzir um pouco a testa.
{Você estava com aquele sorriso maroto quando disse que iria curá-la, então pensei que estivesse mentindo. Humano, você é mesmo uma boa pessoa. Às vezes você é estranho, mas sua essência é boa.}
Cale ignorou Raon.
{Eu estava errado. Mas, humano, essa mestre espadachim vai melhorar, certo?}
“Claro.”
Hannah, a falsa Donzela Sagrada, precisava viver.
A Donzela Sagrada, envenenada pela bomba de mana morta, conseguiu superar a escuridão e continuar a usar sua aura dourada. Juntamente com o Santo justo, que possuía poderes de cura, os dois seriam capazes de encher de admiração os corações dos fiéis do Deus Sol.
O Santo e a Donzela Sagrada se tornarão reais e serão capazes de abalar o núcleo do Império.
Cale pôde ouvir a voz de Mary novamente.
— Sim, assim mesmo. Use sua aura para criar um caminho.
— Continue assim! Você consegue!
Tasha encorajou Hannah de lado.
Cale se lembrou da promessa que fez a Hannah na caverna localizada no ‘Caminho Sem Retorno’.
Independentemente de seu envolvimento com Arm ou de seu relacionamento como a Donzela Sagrada e do fato de que eles estavam sendo perseguidos pelo Império, Cale disse o seguinte.
— Trarei alguém que poderá curá-la, então espere por mim.
Cale era alguém que cumpria sua palavra.
- A “Terra da Morte” virou “Deserto da Morte”[↩]
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