Capítulo 174 — Testes
O calor estava expansivo, não literalmente, derretendo qualquer ser vivo.
Mas, não era isso que incomodava a seguidora de Alunne.
— Vocês sabem que seguir esse ritmo não irá ajudar ninguém, certo? Ensinar apenas os fundamentos vai prejudicar, invés de ajudar…
— Na verdade, estamos classificando a capacidade deles. Queremos ver até onde eles dominam os fundamentos, para depois implementar novos conceitos.
— Por que já não fizeram isso ontem?
— Por que seus “deuses” são complicados. Egoístas, bastante egoístas. Eles não conseguem identificar a forma como vocês podem progredir, estão frustrados por não terem domínio deste mundo. Não conseguem pensar além do próprio nariz, por isso estão dificultando tudo.
Selina coçou o braço, incomodada pela petulância do djinn.
— E com você deveria ser mais fácil, creio eu…
— Será mais fácil. Por isso assumi que você iria ser a primeira a concluir os cinco fundamentos do controle de energia e seguiria para a próxima etapa facilmente. Você é a mais talentosa aos meus olhos, e isso permanecerá um fato até ver como aquele loiro esnobe irá sair.
— Sair? Sair de onde…
— Irei treiná-la, porém, preciso que conclua os próximos fundamentos com êxito. Assim, saberei o que precisa evoluir para te desconfigurar.
Selina saltou para trás com os olhos, tomando um susto imenso.
— Você quer desfazer minha ignição?! Sabe quantos anos demorei para aplicá-la em combate?!
— Não me interessa. Iremos desfazê-la, para que se adeque melhor a sua técnica do “Ponteiro de Ártemis”. Vou desconfigurar esse pacto que você fez, retirar a fraqueza e torná-la algo mais poderoso.
— Quê?
— Mas, para isso, preciso que colabore.
Nihaya abriu uma porta de madeira arqueada no final do corredor, selada por uma tranca de metal que rodeava a estrutura.
A pressão interior da sala explodiu contra o exterior, levando o manto e cabelos pretos de Selina para trás. Com uma mana avassaladora fugindo daquele cômodo, algumas velas por fim acenderam parcialmente o local.
Sentado de braços cruzados no canto da sala, Kyle resmungou: — Hm?… Ah! Selina! Você foi mesmo a primeira?
— Como eu havia dito, apenas confie em mim — pediu Nihaya, permitindo a passagem da seguidora de Alunne.
Passando cautelosamente para dentro, ela absorveu um pouco da atmosfera.
Era tenso, quase como nas salas de treinamento do Monastério de Alunne. Todavia, as partículas naquele local estavam menos densas e mais onipresentes — isso significa que estavam tomando todos os centímetros do cômodo e não aglomeradas como as partículas densas ficam.
— Ah… Onde o General Mason está? — Nihaya previu a pergunta de Selina — Treinando isoladamente no plano espiritual dele, local que você estará em breve.
— Isoladamente? — Perguntou dando pausas e engolindo em seco.
Kyle levantou-se do banco e bateu a poeira na calça branca que vestia.
Acompanhando Selina pelo cômodo, o seguidor de Surya alongava os braços quando explicou:
— Ele está no Templo do Senhor Todo-Poderoso, o equivalente ao nosso Deus Criador. Zypher está acompanhando, já que ambos irão participar do treinamento de domínio espiritual. Relaxe, estão trancados a sete portões de aço com padrões variados entre cinquenta e oitenta centímetros de espessura. A única ameaça é o que está acontecendo no domínio deles.
Kyle abraçou Selina pelo ombro e guiou sua lua para o fim do cômodo, onde havia uma almofada vermelha rodeada por bacias d’água.
☽✪☾
O último portão de aço, por fim, foi selado. O estrondo proveniente do selamento estremeceu toda a estrutura do templo.
Theo caminhou descalço por um enorme saguão iluminado por pequenas partículas de mana. A água rasa cobria os pés, mas não substitui a sensação da superfície desigual de pedra.
Ele analisou as extremidades locais, embora devidamente apagadas, onde vislumbres das paredes de cor de âmbar eram raros.
— É sério que o Zemynder construiu tudo isso em cinco dias?… — questionou Theo, duvidando da capacidade do carrasco.
— Sim, eu o ajudei. Foi bem fácil, na realidade. Nós dois destruímos o local com força bruta e conjuradores do reino conseguiram replicar as propriedades dos minérios na parede.
“Na força bruta?” ponderou “Esse lugar não era, tipo, de rocha matriz maciça?”
A rocha matriz que acompanhava a região do Castelo Zal era quase inquebrável. Quando a estrutura fora construída, foi difícil até para conjuradores quebrá-las com feitiços avançados, pois eram compostas de diversas rochas duráveis.
Quebrar àquela camada com força bruta surpreendeu Theo. 1
— Bom… — Zypher suspirou de esforço buscando uma rocha para se sentar. — As paredes são feitas de âmbar, tal qual, assim como a ametista no seu colar que pode absorver a energia do ambiente, também é uma rocha com propriedade espiritual. O âmbar, no caso, reflete a energia; já que estamos dentro de quatro paredes formadas por ela, isso significa que a energia expulsa dos nossos corpos enquanto meditamos será aprisionada no ambiente, assim, voltando para nós mais densa e refinada.
— Logo, não perderemos uma grama de energia.
— Correto. Esta é uma “Câmara de Âmbar”.
Zypher olhou admirado e orgulhoso para os quatro cantos da câmara. Ele ainda estava incrédulo que havia ajudado para erguer tal estrutura.
As ondas de energia que Theo e Zypher emanavam batiam nas paredes como um oceano em rochas.
Como um véu espiritual, a energia despencou para trás após o contato e voltou para seus libertadores. Por adquirir a capacidade de absorver mana para converter em éter, Theo acabou “furtando” uma boa porcentagem da energia de Zypher.
Mas, o assistente de Moris tinha reservas além do núcleo principal e uma técnica de multiplicação de energia, portanto, não iria ser prejudicado.
Esticando o braço para trás, tentando estalar a coluna, Zypher se alongou por completo e procurou Theo.
— Certo, vamos lá… Quê?
Quando seus olhos alcançaram Theo…
— Que corno. Nem me esperou!
O General já havia entrado em seu plano espiritual.
Balançando o trigo com o vento, o horizonte se mostrou ainda mais distante que da última vez. Theo não havia notado, pois as montanhas continuaram bloqueando o vislumbre do firmamento circular.
Mas, o inabalável e colossal Horológio de Boreas continuava inigualável e tocando as nuvens.
Ele suspirou quando viu o monumento novamente.
Não importava quantas vezes ele visse aquela estrutura, para sempre seria divina.
‘Bem-vindo novamente, Portador do Vento.’ anunciou a pixie.
— E aí! — cumprimentou Theo — Vamos para mais uma sessão com o dentinho?
O General estava certo que, desta vez, ele iria aniquilar o espírito do vento; Khun.
- e Theo tinha informações sobre essa composição pois o território de Kiescrone é famoso no ramo geológico do mundo dele[↩]
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