Índice de Capítulo

    — Olha, se não é o Kuzimu.

    — AArhgh.

    Sua mente vibrou e quase trocou, mas se esforçou para se manter. Aisha aparou o corpo de Kizimu que vacilou com a dor.

    — Senhor, por favor não me chama assim, me chame de Kizimu.

    — Senhor, por favor, não. Até por que eu sou o mais incrível, o melhor, o mais aguardado, Ronan Ruinante.

    A apresentação animada dele mostrava que era um homem confiante e seguro de si.

    — E eu não vou te chamar pelo nome coisa alguma. Seu pai eu chamava de jenipapo, você vai ser o… deixa eu ver… você é filho do meu melhor amigo, entãããão.

    — Tio Ron, chama ele de garotão. Acho que combina.

    — Isso brotinho, pegou a essência, a sinergia! A dicotomia!

    — Senhor, acho que dicotomia não se usa nessa frase.

    A animação de Ronan estava em harmonia com a animação de Aisha que falavam em tom brincalhão completamente. Kim estava começando a se cansar e a loira não entendia por que ambos estavam tão risonhos.

    Aisha pulou nos braços de Kizimu e riu para Ronan.

    — Esse é meu irmãozão, mas ele não lembra de você tio, ele está com a memória perdida.

    — Irmãozão? Bem, acho que não tem problema. Há. Sua irmã é cheia de energia e cheia de vida, não é? O que importa é estar com pessoas que você confia, não é? Há. Há. Há.

    — Quê?

    O sorriso do homem era acalentador, jovem, mas adulto. Seus membros eram fortes, sua aparência era indomável e assim ele rugiu.

    — Espera, você perdeu as memórias? Ai se seu pai estivesse aqui, isso seria resolvido rapidinho.

    O homem era exagerado, bem confiante e com um sorriso no rosto. Uma coisa que o mesmo disse o chamou atenção.

    — Senhor Ronan, você conheceu meu pai?

    — Senhor é o caralho. E eu fui o melhor amigo dele! … — Sua energia passava confiança e muita força de vontade. — Ao menos eu sentia isso, claro ele tinha o Hugo, o Benedito, a Ártemis, o Liam, o Levi, a Mérope, a Kerly, a Vi. Ah não posso esquecer do Maxuel, a Calista, ah o Jason… caramba é muita gente. Mas eu sei que eu era o melhor amigo dele — apontou para si com o polegar depois de contar nos dedos da mão todos os melhores amigos de Anastácio.

    — Com certeza, tio Ron.

    — Você me conheceu mais novo também?

    — Claro que sim, eu te peguei no colo moleque.

    Kizimu sentiu algo indescritível. Alguém finalmente poderia o ajudar a saber sobre seu passado. Talvez dessa forma ele pudesse entender uma dúvida que não pensou muito.

    Tinha acordado sem memórias, mas não tinha pistas do porquê estava sem memórias. Conhecer alguém que sabia seu passado poderia ajudar.

    — Ronan, você sabe dizer quando eu fiquei em coma? Com quantos anos ao menos?

    — Ah, faz sentido, você não deve saber… tcs… — Ronan estalou a língua enquanto pegava no rosto, como se coçasse a barba… mas ele não tinha barba. — Olha moleque, tem um problemão. Eu não vivia com vocês.

    — Não?

    — Olha, o que eu lembro é que depois do acidente vocês se mudaram…

    Acidente…?

    — Que aciden-

    — Irmãozão! Temos que ver o resto da casa ainda, estamos no segundo andar ainda.

    — Aisha, eu quero saber sobre-

    — Não! Ainda não.

    Aisha o interrompeu com ímpeto, Aisha estava muito estranha, seu olhar e boca tremiam levemente. Queria perguntar mais, porém queria confiar nela. Talvez não fosse o momento para saber sobre. Olhou para Loira que estava neutra e Kim estava apenas de braços cruzados aguardando.

    — Certo.

    — Yupii, vamos ver o próximo quarto. Tio Ron, pode consertar isso para a gente, por favor?

    — Claro, brotinho, deixa com o Tio aqui.

    O homem brandiu uma chave de boca e girou em seus dedos habilidosamente. O homem entrou no banheiro e fechou a porta. Kizimu ainda ficou com um amargo nessa interação, queria saber mais, porém…

    — Aisha, eu vou confiar em você quanto saber sobre meu passado, mas pode me responder algumas coisas?

    — Fale.

    — Quem é Ronan? Qual a função dele e qual sua maldição?

    — Bem… se é só isso, tudo bem. Tio Ronan é um grande amigo do… seu pai, ele é um mecânico, mas ele é praticamente um faz tudo. Foi ele que fez todas as reformas que pedi. Agora sobre maldição… Ele até sabe sobre as maldições, mas, ele não tem nenhuma. Ele é um humano normal.

    O fato dele ser um faz tudo era algo bem interessante, mas ele ser um residente sem maldição o assustou muito. Um ser humano normal dentro desse hospício de anormalidade? Por que o pai dele trouxe ele para a residência, então? Queria pensar mais sobre, porém alguém interrompeu seus pensamentos.

    — Senhor Kizimu, o próximo quarto é o meu.

    — Sem senhor, caramba! Ah que bom, vamos conhecer seu quarto.

    Kim guiou até a próxima porta e abriu-a, oferecendo para todos entrar.

    Entrando no quarto, notou algo particularmente normal. Nada muito extravagante, ou chamativo, apenas um guarda-roupa, cama e alguns quadros que ficavam em cima dos armários. Ao canto tinha uma escrivaninha e nada mais. O quarto em si era muito bem-arrumado e cheiroso.

    — Kimzinho seu quarto parece de garotinha.

    — Me desculpe se ele não tem nada de mais.

    Kizimu pegou na mão um dos quadros que tinha no quarto e viu Kim criança, com um enorme sorriso no rosto. Isso fez palpitar seu coração, esse era o sorriso que queria, que precisava, que queria conquistar nele.

    Na imagem tinha Kim abraçado de lado com uma garota de grandes cabelos brancos, também com um sorriso meigo no rosto, mas parecia estar muito feliz também.

    — Essa é Dalia, ela é… umas das poucas pessoas no meu passado que posso chamar de amiga — disse Kim fracamente.

    — Uau, o loirinho tem amigos, sempre achei pelas memórias de Pandora que ele fosse um recluso na infância. — A loira riu para si e Kizimu deu um peteleco na cabeça dela, a mesma resmungou um “Ai”

    — Kim, um dia me conta sobre seu passado?

    Kizimu prestou bastante atenção em como o garoto loiro iria reagir, e o garoto voltou com o seu sorriso triste usual.

    — Seria um prazer.

    Com certeza era mentira.

    — Kimzinho, eu nunca soube sobre onde você morou na infância, na verdade, nunca conversamos muito.

    — A senhorita sempre me evitava.

    — Ah, me desculpa, mas você entende né? Tipo, sua maldição é assustadora. Meu… bem, senhor Anastásio me disse para eu ser sua amiga, mas não é tão simples.

    Kizimu ficou confuso. Já tinha aprendido que Kim tinha uma aura que assustava as pessoas, mas não entendia por que não era afetado. Talvez fosse coisa do Kuzimu.

    — Kim, eu pensei em algo… que tal um dia visitarmos sua terra natal?

    — … Olha, eu não sei o que falar…

    Kim não queria voltar, se pudesse ficar longe de lá e nunca mais voltar, ele seria minimamente feliz.

    — Se não quiser…

    — Acho que fugir do meu passado é impossível, um dia vou ter que enfrentar. Certo, vamos marcar um dia para irmos.

    — Certo…

    — Senhor, aqui não tem muito mais o que ver, vamos para o próximo cômodo.

    Kizimu assentiu. — Vamos para o próximo.

    Seguindo para o próximo quarto, tinha bem grande escrito com letras chamativas “RONAN” Kizimu nunca tinha dado atenção a isso, mas agora ficava claro que era um nome.

    — Há, então agora vocês querem ver meu quarto?

    — Wow!

    — Eita!

    Kizimu e Aisha tomaram um susto quando Ronan rugiu atrás deles. O homem apareceu atrás de todos como se sempre estivesse lá?

    — Conseguiu consertar, tio?

    — Com quem acha que está falando brotinho? Foi só um. Ia! Pow! Pew! E tudo estava resolvido.

    — Que legal.

    Aisha tinha ficado surpresa com a velocidade em que Ronan consertou o banheiro e Kizimu ficou impressionado com a explicação exagerada, como se ele tivesse lutando contra o encanamento.

    — Querem ver meu quarto, verão meu quarto.

    PAHW!

    Ronan com um chute escancarou a porta de forma que todos ficaram boquiabertos. O mesmo riu e andou para dentro como se fosse o rei do lugar.

    — Gente, para que isso? — A loira estava trêmula.

    — Há, se quebrar eu concerto, mas não vai quebrar com um chutinho desse.

    — Tio, estamos entrando.

    Todos entraram dentro do quarto e foram tomados por confusão. Aquilo era um quarto, mas por todo o quarto tinha diversos equipamentos, maquinas, ferramentas, um monte de mecanismos e bugigangas, era difícil até andar pelo chão.

    Em cima de uma mesa pouco organizada tinha uma flor morta, mas pelo cuidado que ela estava lá, parecia ser importante.

    — O que é tudo isso?

    — São brinquedos meus. Não toquem se pedir, a maioria está amaldiçoado.

    — Amaldiçoado?

    Kizimu ficou muito surpreso e parou de tocar em um cubo que tinha na sua mão.

    — O pai do garotão tinha o poder de colocar a alma dele dentro de objetos, e atribuir qual função quisesse. Eu e ele brincamos muito com isso.

    — Caramba, então temos muitas bugigangas amaldiçoadas?

    — Exatamente. Sabe esse cubo na sua mão? Ele é capaz de fazer um escudo de braço que absorve impacto.

    Ronan andou até Kizimu, pegou o cubo e apertou o botão, o cubo abriu como um bracelete. O homem puxou a mangá do moletom de Kizimu, colocou no braço e apertou novamente o botão. Ele entrou no braço e ficou fixo.

    — Se qualquer coisa bater nesse metal, ele vai absorver o impacto. Tipo, qualquer coisa, já testamos. É absurdo.

    — Que legal, eu posso ficar com isso?

    — Fica a vontade, tenho ainda muitas loucuras aqui. Podemos brincar com todas elas depois.

    Kizimu ficou admirado com tudo a sua volta, a loira pegou um colar na mão.

    — Ruivo, isso aqui é o quê?

    — Essa joia tem uma maldição de luz ser absorvida. Ele pode sugar toda energia, luz, eletricidade a volta para esse centro. Deixar no peito e dizer “Light off”

    — É muito belo, eu posso usar?

    — Pode ficar meu bem.

    Kim e Aisha também ficaram interessados em coisas específicas. Kim estava diante de luvas pretas, elas chamaram sua atenção, como se o chamasse.

    — Senhor Ronan, o que isso faz?

    — Essas luvas podem avançar. Literalmente. Ela funciona com o pensar, fixe seu pensamento em atingir um local a frente do que pode atingir. Para entender melhor, soque o ar.

    Kim não entendeu bem, mas testou. Ergueu os punhos e socou e. — Arf. — Seu punho atravessou o ar como se puxasse seu corpo em uma velocidade absurda. Não foi algo belo ou útil, apenas avançou seu braço de forma inescrupulosa fazendo seu punho atingir mais longe.

    Como seu corpo foi puxado, sentiu uma dor surda, mas ignorou.

    — Pode ficar se quiser, ela é bem útil.

    — Não sei como o loirinho vai usar essa coisa.

    — Muito obrigado senhor Ronan.

    — Há. Pode ficar tranquilo.

    Ronan bateu nas costas de Kim com força e fez o mesmo tropeçar para frente.

    — E você Brotinho, o que está vendo aí?

    Aisha, por sua vez, ficou muito fixa em algo. Era um anel, ele tinha uma bola de cristal pequena, porém dentro do cristal tinha uma chama que queimava. O fogo refletia em seus olhos.

    — Isso dai é um lançador de chamas, ele pode lançar fogo com alta intensidade. Porém, quanto maior a quantidade de fogo, mais perigoso é.

    — …

    — Faz sentido isso chamar sua atenção… lembra sua mãe, não é? Se quiser pode ficar.

    — Mesmo? Obrigada Tio.

    Todos ficaram admirando seus presentes, até que Ronan bradou.— Fiquem felizes, pois estão juntos do incrível e do grandessíssimo Ronan Ruinante, o maior, o melhor, aquele que está acima de tudo e de todos. O mecânico da casa Kuokoa. Há. Há. Há — rugiu.

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