— Infelizmente, muitos faleceram… Homens e mulheres valentes, pessoas que vocês amavam, que lutaram até o último suspiro. Mas nem sempre a coragem é suficiente. A vida é cruel… e eu sei que a dor que pesa em seus corações agora parece insuportável, a ponto de lhes roubar até a vontade de viver.

    Os rostos se curvaram, marcados pela tristeza. Um silêncio pesado tomou o salão.

    — Mas ouçam bem — a voz dele ecoou firme — vocês ainda estão vivos. Os deuses escolheram poupá-los. Não foi por acaso. Então não cedam ao desespero, não se rendam à fraqueza! Aqueles que se foram não voltarão… mas se pudessem falar, implorariam que vocês continuassem. Que carregassem seus nomes adiante.

    Ele avançou lentamente, apoiado na bengala. O som dela era seco batendo no chão, de maneira ritmada. Aproximou-se deles, olhando nos olhos de cada um.

    — Eu também sangro com a mesma dor que vocês. Perdi mais do que posso dizer… e sei o que é sentir o peito doer como se fosse se despedaçar. Mas ouçam bem, se lhes falta um propósito, eu lhes darei um. Sejam meu povo… e eu serei o vosso lorde. Juntos, vamos construir um legado que fará os mortos se orgulharem.

    Os ajoelhados ergueram os rostos, e então, em uníssono, proclamaram:

    — Viva, Lorde Jaro!

    — Viva, Lorde Jaro!

    — Viva, Lorde Jaro!

    — Viva, Lorde Jaro!!

    Ele havia hesitado por um instante, pensando que o título de Lorde fosse um pouco vergonhoso, mas deixou escapar um meio sorriso.

    Talvez fosse melhor assim.

    — Muito bem… agora… vamos para a segunda parte desta reunião.

    Jaro recuou alguns passos, subindo lentamente os degraus que levavam ao trono destruído. Não chegou a sentar-se no assento quebrado, mas acomodou-se entre os degraus, de onde podia observar a todos de cima. Sua presença, reforçada pela mana que ainda percorria ao redor, fazia com que cada olhar permanecesse preso nele.

    — Eu, felizmente conversei bastante com o falecido ancião Baldar… — comentou Jaro.

    Nesse momento, seus olhos pousaram em Freya. Antes, a jovem tinha no rosto um brilho alegre. Agora, seu corpo estava magro e a expressão amarga denunciavam o peso do luto que ela enfrentava.

    Pois não fora apenas Baldar seu pai que havia morrido.

    Mas, diante de seus olhos, sua mãe, as outras esposas e suas irmãs haviam sido brutalmente devoradas pelas feras, os dollaks. Apenas ela e sua irmã, mais nova sobreviveram, salvas no último instante pelo próprio pai, que, em um gesto desesperado, as empurrou para longe antes de ser esmagado pelo Rei Dollak.

    Jaro se sentiu mal ao vê-la naquele estado, mas permanecia devoto em tornar a vida não só de Freya, como também de todas aquelas pessoas, um pouco melhor.

    — Ele me contou que ainda existem, no mínimo, trinta vilas remotas ao redor da montanha, cada uma com aproximadamente cem a trezentos habitantes… E que entre elas, incluindo a vila Crim, vocês mantinham negócios entre si, vendas de alimentos, animais, roupas, armas, e assim por diante.

    Os olhos de Jaro pousaram sobre um jovem que também tinha cabelos negros como ele, mas aparentava ser um pouco mais velho.

    — Você confirma isso, é…

    — Meu nome é Alrik, senhor! — respondeu ele com firmeza. — E confirmo as palavras do ancião Baldar com minha vida.

    — É um prazer, Alrik. Diga-me, você já comprou algo de outra vila ou já as visitou?

    — Não, senhor… Como é muito perigoso, apenas enviamos os mais fortes e corajosos. Mas… infelizmente, todos morreram.

    — Oh… que lástima. Seria muito mais fácil se tivéssemos alguém aqui que soubesse exatamente onde ficam essas outras vilas. Assim poderíamos estabelecer contato.

    — Sim, senhor… — disse o jovem, hesitante. — Me perdoe se estou sendo ousado, mas… o que o senhor deseja com as outras vilas?

    — Excelente pergunta, querido Alrik. — Jaro sorriu de leve. — Não é segredo para nenhum de vocês que eu sou um guerreiro do poderosíssimo clã Moong. Vim até a vila Crim com a única missão de derrotar um Dollak, por ordem de um superior… uma punição, digamos assim.
    Mas acabei indo um pouco além disso, matando o rei.

    Seus súditos deram algumas risadas com o comentário final que seu lorde havia feito.

    — E… o ancião também me contou que o clã já não ajudava a vila Crim há meses com o controle das feras. E, se eu não estiver enganado, acredito que também não estão protegendo as outras vilas…

    Os novos servos de Jaro começaram a murmurar entre si, irritados. Todos sabiam que aquelas vilas remotas existiam muito antes da chegada do clã Moong. No entanto, foram subjugadas, seus guerreiros foram mortos e, em troca de sobrevivência, aceitaram pagar tributos. O clã prometeu protegê-los… e assim foi por muitos anos.

    — Que canalhas!

    — Não acredito que o prestigiado clã Moong quebrou sua palavra!

    — Precisamos nos vingar deles!

    — Vamos nos vingar!

    O tumulto crescia. Então, Jaro intensificou sua mana no ambiente e ordenou: — Parem!

    Ao ouvir a voz do jovem guerreiro, todos se calaram de imediato. Lembraram-se de que Jaro era um guerreiro do clã Moong e perceberam que estavam falando de vingança bem diante dele… todos notaram que aquilo tinha sido uma atitude muito tola.

    — Não se preocupem… eu não sou fiel ao clã Moong. Mas, se vocês querem vingança, precisam se tornar mais fortes. E devo informá-los de que sou um dos mais fracos do clã. Um simples professor conseguiria matar um rei Dollak com as mãos amarradas nas costas.

    E respondendo à pergunta de Alrik, eu quero formar um exército para derrotar o clã Moong. Para isso, preciso salvar as outras vilas de serem destruídas. É óbvio que isso vai levar tempo e preparo, mas é justamente disso que precisamos agora: tempo para ficarmos mais fortes e numerosos. Até aqui, vocês têm alguma dúvida?

    Um homem de idade avançada indagou:

    — Por que pediu para queimarmos a vila? É que… vivi minha vida toda lá e tinha um apego… principalmente porque minha esposa morreu lá.

    Jaro curvou a cabeça.

    — Me perdoe.

    O homem ficou nervoso e preocupado. Como permitiria que aquele a quem havia jurado lealdade, seu lorde, curvasse a cabeça diante dele?

    — N-não, por favor, levante a cabeça, meu senhor. Eu só… gostaria de saber o motivo.

    — Entendo… É porque eu tenho muitos segredos a serem guardados. Por exemplo — disse, apontando para os esqueletos. — Ninguém pode saber deles além de vocês. Sem eles eu não teria conseguido derrotar os Dollaks. Foi por isso que pedi para queimarem a vila, provavelmente irão investigar todos os meus atos.

    Além disso, o clã também não pode saber que vocês sobreviveram, pois nunca acreditariam que um simples adolescente, um guerreiro secundário do clã Moong, teria capacidade de derrotar uma horda de Dollaks, ainda mais um rei Dollak. Isso responde à sua dúvida?

    — Sim…

    — Senhor Jaro… — disse Alrik. — Eu comentei que não havia ninguém, mas existe um único guerreiro corajoso e forte que já viajou por todas as vilas remotas da montanha e ele está aqui presente. — O rapaz apontou para Joanan.

    — Isso é verdade, Joanan?

    — É sim, senhor… Me perdoe por não ter falado antes… é que isso foi há muito tempo, e não tenho certeza se ainda me lembro de tudo.

    — Não tem problema, já é uma grande ajuda. Sendo assim, a partir de hoje eu o coloco na função de batedor.

    — Muito obrigado, senhor.

    — Agora, para finalizar… vocês estão vendo que este lugar está caindo aos pedaços, não é? No entanto, ele é muito maior do que pensei e ainda não consegui explorá-lo por completo. Mas o mais importante é que, por algum motivo, ele está localizado em um ponto extremamente estratégico e escondido.

    Quero que vocês vivam aqui, explorem toda esta dungeon, se tornem mais fortes e a transformem em meu Quartel-General, onde serão guardados nossos tesouros mais importantes e onde realizaremos reuniões como esta.

    Para isso, deixarei com vocês todos os meus esqueletos e meu lobo, já que seria muito arriscado levá-los para o Distrito Azul. Isso será bom para vocês; eles os ajudarão a ficarem mais fortes.

    E não se preocupem em serem descobertos, esta dungeon possui uma magia poderosa que a camufla, creio que já perceberam isso ao entrarem aqui.

    Enfim… infelizmente não poderei ficar mais tempo com vocês. Terei que voltar imediatamente ao Distrito Azul amanhã pela manhã. Mas não é um adeus. Logo que eu tiver permissão e tempo, voltarei periodicamente para visitá-los.

    No entanto, Serena, ao ouvir que Jaro partiria, sentiu-se aflita.

    — Então, vamos aproveitar o pouco tempo que temos agora, vamos comer muito e festejar! — declarou se levantando com dificuldade, mas animado.

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