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Capítulo 12: O plano.
Quinta-feira, 19/08/2027.
O dia já tinha começado péssimo! Minha filha chorou por boa parte da madrugada, atrapalhando meu sono; quando finalmente conseguimos acalmá-la, era mais de três horas da madrugada!
E pra piorar, quando acordei pela segunda vez, além de mais sonolento que o normal, acordei com um peso desgraçado nas costas.
E agora, acabando de chegar no trabalho, tudo que mais almejava era sentar-se naquela cadeira confortável e relaxar o corpo desengonçado e debilitado.
— Ahhh….! — Sentei na cadeira de forma tão bruta, que até rangeu.
Jogando a cabeça contra o encosto, bufei enquanto fechava os olhos. Faltava trinta minutos para o expediente começar; era sete e meia da manhã, queria descansar até lá.
Entretanto, alguns minutinhos depois…
— E aí, Will? Chegou cedo hoje, hein? — Tal voz familiar só podia ser de Michael.
Ah, verdade, tinha chegado antes dele… nem tinha reparado a cadeira vazia antes, pois eu estava de olhos fechados, olhando para cima. Mas, agora pelo ranger dela, poderia perceber que agora estava ocupada.
Não mudei a postura, continuei relaxado. Porém, respondi:
— É claro que cheguei cedo, pois em plena madrugada meu sono foi interrompido… — Suspirei.
— Deixa eu adivinhar… agora sim foi por causa da sua filha, né?
Respondi um sim, balançando a cabeça.
— 2:30 da manhã, cara… duas e meia! Depois disso o sono foi pouco. E pra piorar, o cansaço e sono tá batendo forte agora.
— Haha! Imagino o quão tenso tu deve tá agora.
Aquele “haha” me deixou um pouco aborrecido e meu humor não estava bom também. Dito isso, dei uma resposta seca:
— É. Então se você puder parar de atrapalhar o meu breve descanso, eu agradeceria muito.
— Tá porra… que humor é esse? — Mesmo não o vendo, senti uma sutil risada acompanhando sua voz — Tá bom, tá bom.
Incrivelmente, ele realmente me deixou quieto. Apesar de não se importar com os comentários, naquele momento eu realmente estava estressado e fiquei feliz por Michael ter compreendido.
Contudo… Michael pode ter entendido a situação, mas outra pessoa…
— Que bonito, dormindo no trabalho. — Aquela voz irritante… só podia ser de Cassandra mesmo.
— Aff! — buffei, mas sem desfazer a postura.
Sinceramente, queria ter desabafado tudo que sentia naquele momento. Meu humor não estava bom, dai vinha aquela maldita para me atormentar? Meus nervos já estavam saltados. Contudo, tentei manter meu bom senso, ignorando sua fala.
— Ah, que isso, Cassandra? Deixa ele, o cara só tá cansado. Ele teve uma noite péssima, releva um pouco aí — pontuava Michael.
— Tô vendo. Eu ouvir a conversa de vocês. Mas fazer o que, né? Eu disse que criança só trazia problemas. Problema é dele.
Aquilo fora a gota d’água para mim. Voltei a compostura normal e me virei para o lado, encarando-a com uma seriedade anormal.
— Se o problema é meu, então não se intrometa, tudo bem? — A fala foi espontânea, franca, vinda direto da alma.
Todos ao redor, inclusive ela, ficaram um pouco surpresos; nem Michael acreditou de início.
É, eu estava irritado, transparecendo não só pela face como também agora por voz. Geralmente, por mais provocativo que seja a coisa, nunca respondi desse jeito, então não era à toa aquelas caras.
— Hahaha! É isso aí, William. — Olhei à frente, era Luci parabenizando minha atitude.
— Ohoh… — Rebecca tomou a voz, com aquele olhar sério, mas ao mesmo tempo pouco surpreso.
O clima mudou de uma maneira que eu não esperava e um silêncio desconfortável brotou.
Cassandra me encarava e por um momento cogitou em responder, mas desistiu:
— Hump! — desdenhou ela. Voltando ao seu lugar.
Também fiquei quieto.
— Be-bem… vamos trabalhar, né? Olha lá, já tá na hora. — Michael tentava diminuir o clima esquisito do ambiente, e conseguiu.
Acalmei um pouco, suspirando. Depois de se consertar na cadeira, Michael olhou para mim. Olhei de volta. Pude notá-lo um tanto quanto Incrédulo, mas logo soltara um riso franco.
A partir daquela cena, todos voltaram aos seus trabalhos, e bem na hora, já que o chefe acabara de chegar:
— Bom dia, equipe.
— Bom dia — respondemos em uníssono.
Antes de entrar na sua sala como sempre fazia, parou de lentamente. Parecia ter notado algo. Bem, talvez seja pelo fato de o bom dia ter sido mais fraco do que normalmente, e por minha parte, eu diria. Meu bom dia mais soou como um sussurro.
— Hmm… estão mais quietos hoje, hein? — disse a nós.
Contudo, estávamos tão quietos ao ponto de nem termos respondido, alguns apenas o olhou, como eu. Mas também, não adiantaria muito, pois ele deixou isso de lado rapidamente e adentrou a sua sala. Contudo, antes de ir, ele visou minha pessoa… provavelmente já tinha percebido o porquê, olhando pro meu rosto abatido.
Como esperado do chefe Fernando, o cara conseguia ler toda a equipe apenas com o olhar. Enfim, deixando isso de lado, o trabalho começou.
Segundos, minutos, horas se passaram desde então. Mesmo o dia não tendo muito trabalho quanto o anterior, eu ainda o passava com uma lentidão e cansaço incomum. Não sei… minha produtividade diminuía aos poucos também.
Chegando no fim do expediente, dei graças a Deus por ter terminado. O esgotamento aumentara, assim como a vontade de sair daquele escritório e ir direto para casa.
— Uhff! Finalmente… — expressei alívio, encostando a cabeça no apoio da cadeira.
— Terminou bem na hora — Michael dizia, já se levantando.
— Sim — Relaxei o pescoço.
— Aí, aí… agora é ir pra casa… tomar uma cerveja… — Ele contava, relaxando as costas com a mão.
— Hm… — Comecei a arrumar minhas coisas. Michael a mesma coisa.
— E ai, que tal tomar uma comi…
— Nem pensar — O Interrompi, pondo a mochila nas costas.
— Caramba… — desapontou-se, mas logo compreendeu — Entendi, entendi… você virou pai, não tem mais tempo para isso.
— Ainda bem que você sabe — respondi com riso franco — Sendo pai ou não, tu sabe que eu não iria do mesmo jeito.
— Claro, claro. Agora vamos logo, daqui a pouco o ônibus passa. — Sorria de leve.
E assim foi; tínhamos acabado de sair do prédio, agora em direção ao ponto. Um trajeto rotineiro, imutável… porém, a medida em que nos aproximávamos do ponto, pensamentos sobre aquele gato me veio à cabeça:
Será que ele aparecerá de novo? E se aparecer, algo de ruim como ontem poderia acontecer comigo? Ou pior, com o Michael? Não… acho que não…
Perante a devaneios, uma ideia surgiu! Pensei o seguinte: ele geralmente aparecia no mesmo ponto e aproximadamente no mesmo horário, então… e se eu mudasse de ponto? Será que me deixaria em paz?
A hipótese parecia ter um pingo de lógica e só tinha um jeito de descobrir.
— Michael, pode ir na frente, eu vou depois. Eu… vou passar no supermercado, comprar umas coisas que minha mulher pediu. — Parei.
Mentira. Obviamente arranjei uma desculpa qualquer, não queria que ele soubesse da minha real intenção.
E claro, ele estranhou, pois não era do meu feitio desviar rotas alheias, muito menos a de casa.
— Ué, mas tem mercado no nosso bairro — argumentou, olhando para mim e erguendo o cenho.
Droga! Vacilei! Não tinha parado para pensar nisso. Tive de bolar uma resposta rápida, mas minimamente descendente:
— É que ela disse que o preço daqui é mais em conta.
Contudo, até que interceptou minha fala com compreensão, embora pude perceber uma leve desconfiança na sua face.
— Beleza, cara.
Dito isso, retornei à caminhada, partindo para uma curva à direita da avenida.
Pra falar a verdade, nem sabia para onde estava indo… teria algum mercado por aquele caminho, aliás? Tanto faz. A intenção fora ir para outro ponto de ônibus, mas não do mesmo ônibus que Michael pegaria, claro.
Dessa maneira, poderia testar a ideia.
— Falou! — me despedi, já um pouco afastado.
— Falou! E se cuida, viu! — retrucou, caminhando ao seu ponto.
Apenas assenti com a cabeça, recobrando a minha nova rota.
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