Capítulo 6 – Uma Ajuda Inesperada
O intervalo havia começado há poucos minutos, mas o vestiário do Time Z parecia pequeno demais para conter toda a tensão. O ar estava pesado, misturando o cheiro de suor, a poeira da grama e o nervosismo que se infiltrava em cada canto. Cada jogador respirava de forma irregular, tentando se recompor do primeiro tempo devastador, onde Kira e Agi haviam mostrado a força brutal do Time T.
O placar, 3 a 2, parecia pesar sobre cada ombro. O silêncio era quase ensurdecedor, apenas quebrado pelo som de respirações profundas e o tilintar de chuteiras contra o piso. Nenhum dos jogadores ousava falar, como se o ar estivesse carregado de eletricidade e qualquer palavra pudesse explodir.
Então, a porta do vestiário se abriu. Um estalo seco ecoou, e todos os olhos se voltaram instantaneamente. Uma figura surgiu na penumbra, mas os refletores da sala capturaram cada detalhe: passos firmes, cadenciados, sem pressa. A postura era impecável, quase aristocrática, mas carregava uma tensão que exigia respeito imediato.
Seishirou Koa, o Jogador mais temido do Japão, o melhor jogador do japão, entrou. O silêncio aumentou. Sua presença parecia moldar o espaço ao redor; o ar parecia mais frio, mais denso, como se cada respiração exigisse mais esforço.
— Olá, garotos… — disse ele, sua voz calma, mas carregada de autoridade. Cada sílaba parecia reverberar no vestiário. — Fiquei surpreso com a atuação de vocês.
Akira ergueu a cabeça lentamente, franzindo a testa. — Mas… nós estamos perdendo.
Koa sorriu levemente, quase como se estivesse desapontado com a própria preocupação de Akira. — Não importa… — disse, com aquela calma irritante que só alguém confiante até o osso poderia ter. — Vocês estão jogando melhor. Eu cheguei para ajudar vocês.
Os jogadores trocaram olhares incrédulos. Não era apenas um Joker qualquer, mas o melhor dos cinco, alguém capaz de mudar o rumo de qualquer partida apenas com sua presença e leitura de campo.
Koa deu um passo adiante, e cada movimento seu irradiava segurança e conhecimento absoluto do jogo. — Como dito anteriormente, os Jokers podem entrar em qualquer time a qualquer momento… — continuou, pausando, fazendo com que cada palavra caísse como um impacto silencioso no vestiário. — Mas tem outra opção: posso treinar vocês como se fossem meu próprio time. Ao mesmo tempo, posso entrar no jogo e ajudar diretamente.
Akira sentiu uma faísca de esperança acender dentro dele, um calor novo que cortava o desespero. Seus olhos brilharam, e ele respirou fundo. — Perfeito.
Koa assentiu com serenidade, como se aquela simples confirmação tivesse selado um pacto silencioso. Ele se virou levemente, analisando cada jogador com olhar crítico, mas justo. Cada um sentiu, sem precisar de palavras, que o próximo tempo seria diferente. Que, com ele ali, o Time Z finalmente teria uma chance de desafiar o impossível.
A tensão ainda estava no ar, mas agora havia algo a mais: esperança real, temperada com a adrenalina que só o contato com alguém tão acima de todos podia trazer.
O segundo tempo começou com um silêncio tenso que se espalhava pelo estádio. O Time Z entrou no gramado, olhos fixos no horizonte, respirando com força após o intervalo. Mas algo havia mudado: Koa estava ao lado deles, caminhando com passos firmes e decididos, como se o próprio campo tivesse se curvado à presença dele.
Koa assumiu o lugar de Sora Fujimura. A escalação mudou sutilmente, mas cada ajuste carregava precisão milimétrica: três zagueiros se posicionaram de forma compacta, Tsubasa ganhou liberdade total para avançar pelo flanco, enquanto Koa se instalou no meio-campo, tomando o controle da volância, organizando e conduzindo a jogada.
Assim que a bola rolou, o impacto foi imediato. Cada passe era calculado, perfeito, como se uma linha invisível ligasse os pés de Koa aos de seus companheiros. O Time Z parecia outro: não mais desorganizado, mas sincronizado, os jogadores movendo-se em harmonia quase artística.
Tsubasa recebeu a bola na lateral e acelerou como uma flecha, deixando defensores para trás com sua velocidade quase supersônica. Cada passo dele parecia desafiar a física, e mesmo correndo em máxima velocidade, seus olhos buscavam a melhor opção de passe. Ele levantou a cabeça e encontrou Akira, tocando a bola com precisão milimétrica.
Akira controlou, olhou para o gol e disparou um chute potente de fora da área, mirando o ângulo. O goleiro adversário mergulhou, mas a bola bateu nas mãos dele, resultando em escanteio.
Hiori correu para a bola e bateu com exatidão, enviando a bola direto para Koa. Cercado por três marcadores, ele recebeu, equilibrando o corpo com graça e firmeza. Com um toque de calcanhar quase poético, levantou a bola e a colocou nos pés de Nakki, que avançava livre.
Mas, antes que pudesse dominar completamente, uma voz fria cortou o ar:
— Tenta de novo, mascote.
Kira surgira do nada, interceptando o passe com uma facilidade que fez Akira congelar.
— Como… ele interceptou isso? — Akira piscou, confuso, sentindo o frio da incredulidade percorrer sua espinha. — O que está faltando para eu ter essa visão?
Então Akira percebeu: Kira não olhava para a bola. Ele não se limitava a reagir ao movimento do objeto; ele via o campo inteiro, antecipando cada passo, cada passe possível, cada brecha no posicionamento do adversário. Era como se cada jogador, cada linha, cada espaço estivesse codificado em sua mente.
A Visão do Kira não era apenas leitura de jogo; era uma quarta dimensão, enxergando o fluxo de possibilidades antes mesmo que elas acontecessem. Akira sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Ele sabia que, se conseguisse compreender essa visão e combiná-la à sua própria Ultra-Visão, alcançaria um poder que beirava o divino.
Koa observava silenciosamente, com um sorriso sutil nos lábios. Ele não precisou intervir ainda; sua simples presença já reorganizava o Time Z, tornando-os quase imbatíveis, e o campo parecia vibrar com potencial inexplorado.
O confronto estava apenas começando, mas agora o Time Z não era mais apenas azarão: eles tinham uma chance real.
O Time Z respirava fundo após a interceptação de Kira. A bola voltou para NKoa, que tocou com precisão cirúrgica para Akira. Cada movimento parecia ensaiado, mas desta vez Akira sentia algo diferente: a pressão não vinha só dos jogadores à sua frente, mas do próprio espaço do campo, que parecia vivo, pulsando com possibilidades que ele nunca havia notado.
Ele passou rapidamente para Tsubasa, que acelerou pela lateral com uma graça quase sobrenatural, seus olhos atentos a cada marcador. Akira, no centro do campo, começou a observar com atenção redobrada. Cada passo de Tsubasa, cada marcação do adversário, cada linha imaginária entre os jogadores — tudo formava um padrão complexo.
Foi então que ele percebeu o que faltava: Kira não olhava apenas para a bola. Ele via o campo inteiro, cada movimento potencial, cada brecha, cada ação que ainda não havia acontecido. Era como se o tempo se dobrasse à percepção dele, como se ele enxergasse a realidade em quatro dimensões.
O coração de Akira disparou. Ele piscou várias vezes, tentando digerir o que via. Sua própria Ultra-Visão começou a reagir, linhas de probabilidade e trajetórias possíveis surgindo em sua frente, mas agora algo novo aconteceu: símbolos e padrões se formaram em seu olho direito, como peças de um quebra-cabeça em constante movimento. Cada linha indicava uma possibilidade, cada forma uma chance de ataque ou defesa.
— Kira… — murmurou Akira, sentindo uma mistura de reverência e adrenalina. — Finalmente entendi… com essa visão, serei quase um deus.
Kira, à frente, avançava de forma calculada, movendo-se com a precisão de alguém que antecipava tudo antes que acontecesse. Ele sorriu, um sorriso frio, mas desafiador:
— Fala, Akira. Tá imaginando como é ser que nem eu?
Akira respirou fundo, os músculos tensos, mas os olhos brilhando com determinação. — Muito obrigado… — respondeu, sentindo respeito e ao mesmo tempo um ímpeto de desafio crescer dentro de si. — Mas agora… eu consigo enxergar você esmagando!
O campo parecia se expandir ao redor deles. Cada jogador, cada passo, cada chute, cada interceptação — tudo era visível em potencial. Akira sentiu que, pela primeira vez, poderia prever o imprevisível. Era como se estivesse segurando a essência do jogo inteiro em suas mãos, pronto para conduzir o Time Z de forma inédita.
Ele olhou para Koa e para os outros companheiros: todos percebiam que algo havia mudado. A conexão entre eles, os passes, a sincronia de movimentos, tudo começava a fluir de maneira quase sobrenatural. O Time Z não era mais apenas um azarão; agora eles tinham a chance de enfrentar a dimensão de Kira com inteligência e audácia, usando cada fio de estratégia que Akira conseguia ver.
O próximo toque de bola não seria apenas um passe: seria o início de uma reação calculada, quase divina, pronta para desafiar o impossível.
Akira recebeu a bola no centro do campo. O mundo parecia se dividir em camadas à sua frente: cada passo dos adversários, cada ângulo de ataque, cada linha de defesa — tudo mapeado instantaneamente pela sua Ultra-Visão. Ele respirou fundo, sentindo o coração acelerar, enquanto visualizava a posição exata de cada jogador:
Nakki avançava em diagonal, cortando defensores imaginários, pronto para receber a bola.
Tsubasa corria pela lateral, à espera de um passe que nunca viria.
Keo e Renji trocavam passes curtos, quase mecânicos, mas extremamente precisos.
O plano parecia simples: levar a bola até Nakki e finalizar com perfeição. Mas Akira queria mais — queria transformar o instante em algo que só ele poderia controlar. Sem hesitar, interceptou a própria jogada, roubando a bola de si mesmo.
— Akira, caralho, você tá louco? — gritou Nakki, boquiaberto.
— Esperem… fiquem quietos. A criatividade de vocês é simples, igual à mente de uma criança — respondeu Akira, com calma gelada, analisando cada movimento.
Ele começou a conduzir a bola sozinho, trocando passes incessantes com Hiori, cada toque medido em milésimos de segundo. Seus olhos — agora revelando o padrão de quebra-cabeça da Ultra-Visão — brilhavam com linhas de probabilidade, mostrando cada rota possível.
— Eu olho para baixo e foco na bola. Mas também olho para cima e analiso o campo. Eu sou… muito foda — murmurou Akira, quase sorrindo. — Se eu fosse um deus, para qual canto eu iria?
Genjiro foi usado como isca. Akira avançou pelo centro do campo, e os defensores do Time T caíram na armadilha, avançando todos para cobrir o falso passe. Ele alterou a trajetória no último instante, enganando todos os marcadores com um movimento rápido, quase imperceptível.
Chegando próximo da área, Akira preparou o chute. O ângulo parecia perfeito, aberto, limpo. A tensão pairava no ar, como se o estádio inteiro segurasse a respiração. Mas então, uma voz fria e arrogante cortou a cena:
— Desculpa atrapalhar o show… Bem-vindo à minha dimensão.
Kira surgiu no instante exato, desviando o chute com uma facilidade sobrenatural, como se estivesse manipulando o tempo e o espaço. O chute de Akira se transformou em passe involuntário, perfeitamente calculado, caindo nos pés de Genjiro.
Genjiro não hesitou. Com um toque calculado, controlou a bola no ar, girou e finalizou em um movimento fluido, impecável, no canto do gol adversário.
— GOOOOOOL! — explodiu Genjiro, enquanto o estádio parecia vibrar junto com o impacto do momento.
Placar: 3 a 3.
Akira explodiu em fúria, incapaz de conter a raiva misturada com admiração:
— ASSISTÊNCIA É O CARALHO! GENJIRO, ESSE ERA MEU!
— KIRA, EU TE ODEIO! EU VOU TE MATAR! — berrou, cada palavra carregada de frustração e adrenalina.
Kira apenas sorriu, desarmado e relaxado, como se estivesse se divertindo:
— Ops… eu sou tão desastrado.
— Eu não te entendo… mas pelo que eu vejo, tô ficando sem graça. Akira, eu também te amo — provocou mais ainda a ira de Akira.
— Cala a boca, filho da puta! — respondeu Akira, o rosto vermelho, as veias pulsando, misturando raiva, orgulho e a excitação do jogo.
O árbitro acionou o tempo de descanso. Os jogadores se retiraram para o banco de reservas, ofegantes, suados, mas pulsando com energia renovada.
— Akira, muito obrigado pela assistência — disse Genjiro, ainda sorrindo, olhando para o amigo com uma mistura de respeito e humor.
— Calado, não fale como se visse minha dimensão — retrucou Akira, os olhos ainda brilhando com o padrão do seu poder recém-descoberto.
— Só fala merda depois de marcar um gol… — provocou Genjiro, piscando.
—Você aproveitou minha falha… Você é uma hiena de merda que devora minhas migalhas! — finalizou Akira, rindo de forma amarga, entre raiva e cumplicidade.
O clima era elétrico: o Time Z havia reagido, e agora cada jogador sabia que estavam prestes a virar o jogo… mas também que Kira ainda guardava mais surpresas.
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