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    — Não posso fazer mais de uma vez no dia. – Dante sentou-se na cadeira em frente a Simone, esticando os dois braços. – Achei que fosse ser mais fácil, mas…

    — Lidar com habilidades enquanto suas mente pensa em um jeito de sobreviver é mais custoso do que você pode achar, Dante. – As mãos dela, enluvadas, tocaram algumas partes de seu braço. Aos poucos, pressionando alguns pontos mais tensos, ele gemia de dor. – Como pensei, seu corpo está mais fraco do que você realmente imagina. Lutar com Leonardo, mesmo sendo uma demonstração, custa muito pra você. Muito mesmo.

    Dante enfiou a mão de volta ao casaco negro.

    — Sinto que meus braços vão cair.

    — E vão se continuar fazendo isso. – Ela o fitou com sinceridade, revelando um suspiro. – Sei que já deve ter ouvido isso antes, mas vou reforçar, está bem? Você é uma pessoa importante, não só pra Clara, mas pra todos eles.

    — Já ouvi isso mesmo. – Mesmo não entendendo muito o motivo.

    — Se sabe do que estou falando, então entende que só o fato de estar aqui já deixa tudo mais fácil. Clara tem uma queda imensa por você. Ela sempre diz que se não fosse pelas coisas malucas que você fez naquela vez, seria praticamente impossível termos qualquer coisa aqui hoje. Heian fala o mesmo. Salvou muitas vidas, fez esse lugar uma fortaleza, Dante. Então, me diz, o peso da insuficiência de não ter o que fazer é mais importante do que ver o que construiu bem na sua frente?

    Queria poder responder com sinceridade a Simone. Falar dos dias que imaginou em paz, conversando ou vivendo uma vida tranquila na Capital ou em Kappz, ao lado de pessoas que realmente queriam estar perto.

    Com esses pensamentos, o medo de não ter mais a luta preenchia seu vazio. Um medo justo já que foi feito para isso. Tantos anos dedicados e doando seu tempo para algo que não era mais algo usual.

    — Você vai encontrar a resposta no tempo certo – continuou Simone depois daqueles segundos em silêncio. Ela reparou na estranheza, no olhar perdido. – Enquanto isso, você me disse que estava estudando. O que seria?

    — Clara disse que Duna precisa de um assistente. E ele também quer ouvir sobre as coisas que vi fora da cidade. – Vick seria ideal para deixar registrado visualmente as estações em Selenor e Singapura. – Vou passar lá depois.

    Simone concordou puxando a luva da mão e jogando fora.

    — Sei que não é o momento perfeito, mas se possível, force ele um pouco nas instalações médicas. Temos poucos instrumentos e gente o suficiente pra trabalhar. Sei que ele gosta de você.

    Dante ficou de pé, posicionando a cadeira mais ao lado.

    — Claro. Tem alguma lista pra eu poder intimar ele mais rápido?

    Num sorriso largo, a doutora foi até uma das gavetas e entregou a ele.

    — Essas dez primeiras são as mais básicas. Não encontramos mais em nenhum lugar por perto, e o antigo Hospital Liantro Wester virou um Lagmorato desde que você foi embora. O restante da lista são materiais que normalmente usamos em casos mais específicos, uma ultrassonografia, alguns exames de sangue, mas precisamos da máquina.

    O hospital tinha se tornado um Lagmorato, então. Dante lembrava que Marcus e Clara gostavam de explorar por lá justamente por conta dos objetos, os kits de primeiros socorros também. Tão importantes quanto comida.

    — Pode deixar, eu falo com ele.

    Dante saiu pela porta lendo a lista. Não era tão difícil achar alguns deles, pelo menos os mais simples, mas pelo que Duna tinha de projetos pela frente, duvidava de que conseguiria lidar com tudo.

    Lidar com as pessoas da Cuba era de Clara, mas os projetos eram completamente da mente mais estranha. E mesmo que fosse considerado um gênio, ele ainda tinha suas próprias limitações. Dante seguiu o caminho pelo terceiro andar, seguindo até do outro lado, praticamente cinco minutos caminhando.

    Alguns dos moradores mais novos não o reconheceram, mantendo descrição de seus quartos, escondendo qualquer coisa que fosse importante.

    Ainda sentem medo de pessoas.

    Perto da beirada, Dante se aproximou mais. Lá embaixo, Arsena e Juno treinavam combate direto. Não era novidade, pelo que parecia, mas ambas se enfrentavam em uma velocidade alarmante e com armas.

    Notavelmente, ambas tiveram uma melhora significativa. A precisão de Juno aumentou. Os golpes eram mais rápidos, os ângulos mais acentuados. E os raios eram usados como propulsores, tanto que Arsena se defendia mais do que atacava.

    Na verdade, Arsena não estava apenas se defendendo. Dante reparou. Ela utilizava as duas armas em sua mão para conseguir criar uma disposição de erro. Ela defendia mais rápido do que Juno chegava, e esse bloqueio criava um problema.

    A defesa estava forçando o ataque, não o contrário.

    — Garota esperta… — Dante sorriu ao ver Arsena trocando a espada por uma adaga em questão de segundos. E girar por cima de Juno, velozmente. A acrobacia dela ainda era um manejo e também uma dificuldade para os inimigos.

    Rápido, flexível, inteligente. Juno tinha uma rival a sua altura que utilizava tudo o que tinha para pará-la.

    — Se continuar andando sem olhar pra frente, vai bater em alguém.

    Dante se jogou pro lado. Marcus estava praticamente na sua direita, poucos centímetros.

    — Por que você faz isso? – perguntou colocando a mão no peito. – Não pode fazer algo normal e só chamar? Quer me matar de susto?

    A roupa escura de Marcus era sempre a mesma, com o coldre coberto de armas. Ele sorriu ao repousar uma da mãos em cima de uma delas.

    — Não deveria ficar assim depois de ter feito Leonardo de bobo. Mas, você se machucou.

    — Primeiro, comece a falar de longe – disse apontando pra ele. – Segundo, eu só fiquei com algumas dores no pulso.

    O Atirador nem deu muito tempo. Depois de encarar seu braço e depois seu ombro, soltou um suspiro.

    — Pare de achar que ainda é o mesmo. Todos temos limites, você era uma anomalia que ficava mais forte sempre que se machucava. Agora, você é normal, como as pessoas ao seu redor. Se precisar, posso te ensinar a atirar para passar seu tempo.

    — Sério? – Não era uma ideia ruim. – Eu vou aceitar, mas pare de chegar na surdina, entendeu?

    Marcus balançou a cabeça virando na direção de outro corredor. Assim como ele chegou, se foi. Sem dizer nada, sumindo no meio das sombras de dentro dos andares. Ele era praticamente um fantasma.

    E isso deixava Dante mais seguro do que desconfortável.

    Assim que chegou ao laboratório, bateu na porta duas vezes. Antes de girar a maçaneta pra entrar, ouviu um berro de dentro:

    — Solta isso, agora. É meu!

    Dante forçou a porta, mas ela não abriu. Ouviu Duna berrar novamente, e quando a porta não abriu, fechou o punho. Girou para socar a porta, mas ao dar um passo para frente e abrir a força, a maçaneta girou mais uma vez.

    A porta abriu.

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