O silêncio da noite penetra em seus ouvidos, para um lugar tão barulhento, agora está em silêncio. As vozes, os comandos, as gritarias, os barulhos de perigo secos… tudo o perturba e parece já fazer parte de seu cotidiano.  Ao mesmo tempo, tudo isso é tão divertido! Tudo novo. Os cheiros, sons, e toques. Tudo novo e prazeroso.

    Claro há aqueles que querem acabar com as brincadeiras e cismam em atacar.

    Não importa. Agora sabe revidar.

    É o que acabou de fazer e colocou todo um grupo deles para dormir! Assim eles brincam também!

    O vento gelado corta por ele e o humano, que desce a grande ladeira ao seu lado. O humano fica em silêncio e esse ser sente ele olhando-o de canto de olho.

    — Starboy… — pergunta o humano. — ‘Cê tá bem?

    MARCUS! Esse é o nome dele.

    Marcus.

    O nome dele gruda na minha cabeça.

    Marcus. Marcus. Marcus.

    Eu gosto do som. Eu gosto dele.

    Marcus fala, eu escuto. Sempre.

     Esse ser balança a cabeça. Ah, é assim que se diz.

    — Sim. — Esse ser responde. Está aprendendo aos poucos.

     O rosa sente algo queimar dentro do peito e os cantos da boca puxam sozinhos. Estranho. Bom. Estranho. Quero isso de novo. Um que quer manter consigo para sempre. De alguma forma, também sabe como está MARCUS.

    Esse ser fecha os olhos. Não. Starboy. É com estão chamando esse ser.

     Starboy fecha os olhos e se concentra em sentir o amigo.

    MEDO.

    PREOCUPAÇÃO.

    JÚBILO.

    Starboy para a caminhada por um segundo e observa Marcus. Fecha a própria visão e começa a consertar o que está errado. Daqui em diante, a mente dele entra no automático. Milhões de neurosinapses começam a se conectar dentro da mente do rosa e os dados começam a fluir como um vulcão entrando em erupção e reduzindo tudo ao redor às cinzas. É uma enxurrada de dados e pressão que voam silenciosamente e de maneira impercetível até a mente de MARCUS. As sinapses queimam como trovões rosa, atravessando pele e oscilando nos circuitos, forçando passagem.

    O humano sente e cai de joelhos. Todo o seu corpo arde enquanto seus pensamentos começam a se moldar e a mudar. Uma verdadeira confusão é instaurada dentro de sua cabeça. O não vira sim. O medo vira confiança e a preocupação começa a se dispersar em uma névoa rosa.

    Marcus tenta resistir, porém a força é muito grande. Ele, com dificuldades, vira a cabeça para Starboy, que o encara com um sorriso. Palavras são sussurradas em sua mente.

    Tudo irá ficar bem.

    Vai passar.

    Eu estou aqui.

     Mas Marcus quer ficar bem? Ele morde os dentes enquanto um zilhão de pensamentos queimam a mente dele. Porém…

    Clique. Clique. Clique.

    A concentração do garoto rosa é quebrado pelo cintilar metálico vindo debaixo de um espaço vazio que serve de alicerce para uma das casas na comunidade. Não só isso. O cheiro ruim de mijo envelhecido e a sede insaciável por uma felicidade momentânea. Podridão. A subtração perfeita e suja que compõe os seres.

    Alguém os observa na escuridão, há algum tempo. Como um urubu esperando sua presa morrer para atacar.

    Como não viu antes? Como ousou deixar que Marcus fosse exposto? O medo de perder Marcus o cegou. E nada pode cegar Starboy. Nada. Exceto Marcus.

    O garoto para sua ação em cima de Marcus e cerra o olhar em direção do perigo. De lá, sai uma figura magra mais ou menos de sua altura. Os olhos bem abertos e a boca ferida. Em sua mão, um pedaço de metal pontiagudo.

    Marcus cai no chão, levando as mãos a cabeça enquanto se pergunta o que é que tinha sido aquilo. Ele respira de forma ofegante e então força a cabeça para tentar entender a situação.

    É quando vê de forma clara um cracudo correndo em direção a ele com algo em mãos. Marcus apenas fecha os olhos com medo do que vai acontecer.

    PERIGO.

    ELE QUER FERIR MARCUS.

    MATAR.

    MATAR.

     O corpo de Starboy reage de forma rápida, avançando para cima da ameaça e a pegando pelo pescoço.

    Raiva e Ódio. Precisa ser punido.

    Antes que o garoto possa fazer o que tem de ser feito, a voz de Marcus grita.

     — NÃO! — Marcus exclama e é uma ordem para Starboy.

     Starboy para.

     Marcus desaba em um choro angustiante e a voz sai fraca de sua garganta.

      — Solta ele — Ele retira de seus bolsos poucas unidades de NeoReais e joga no chão. — É só uma criança…

     Marcus repete algumas vezes essa última frase, tentando se convencer.

    Starboy acata a ordem e solta a ameaça, que se joga com tudo no dinheiro, catando tudo o que pode e voltando correndo para a escuridão.

    Marcus…

    É só uma criança?

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