Capítulo 479: O Hospital (II)
Rupestre já esperava por Dante. O que deixava o humano mais impressionado era que todos os Sugadores que tinha encontrado pelo caminho não tinham mais o rosto deformado ou coberto por lodo ou sujeira.
Os olhos foram praticamente limpos, os cabelos tinham sido lavados e usavam roupas bem volumosas. Quando Dante entrou onde o antigo e famoso ‘Terminal Koapo’, uma das paradas em Kappz que ligava ao centro da cidade, onde tudo acontecia, ele deu de cara com dezenas das crianças Sugadores correndo de um lado para o outro, brincando, se divertindo, mas afastadas de qualquer que fosse a entrada ou saída.
— A configuração de seus corpos está em um estado praticamente límpido. O coração do Rastro foi ajustado para limpar o que foi corrompido por praticamente centenas de anos de corrupção dos humanos.
Dante abaixou perto de um deles. Era um Sugador do tamanho de uma criança de três anos, e esse usava um capacete de melância na cabeça, com dois buracos que faziam seus olhos aparecerem. Praticamente, uma fantasia.
O Sugador mostrou seu punho, esticando com um pouco de medo. E Dante bateu bem de leve, dando um imenso sorriso.
— Isso ai, pequenino.
— Registros indicam que a Energia Cósmica emitidas do corpo dessas criaturas se tornaram partes essenciais para seu funcionamento. Eles praticamente respiram e expiram Energia Cósmica. — Vick fez uma pausa enquanto Dante se levantava e voltasse a caminhar. — Se fosse possível, com um segundo coração, eles retornariam a ser praticamente humanos com habilidades de Felroz.
— Seria bom não citar isso na frente do Rupestre, Vick.
Ela compreendeu na mesma hora o motivo.
— Não falarei sobre métodos evolutivos, então.
Dante continuou o caminho, passando por alguns bancos de pedra até girar uma roleta antiga e enferrujada. Depois daquele ponto, os pequenos Sugadores não corriam mais. O espaço deles era reservado, agora o ar parecia menos leve e mais recheado de observadores.
Eram olhos escondidos nas sombras, apenas fitando seus movimentos.
— São os mais velhos — informou Vick. — Eles atuam como observadores dos humanos, para que possam caminhar lado a lado quando chegarem a vida adulta.
— Um pouco assustador — Dante deu um sorriso ao virar o rosto e viu um deles parado, bem no final de um corredor, o fitando com dois olhos brancos imensos. — Bem assustador na verdade.
— Não parece sentir medo de verdade, Dante. Isso seria sarcasmo?
— Um pouco. — Ele demonstrou um pouco de empatia por Vick tentar adivinhar. — Já sou acostumado a ser observado por um tipo de monstro diferente.
Nos tempos do vilarejo, ser observado e testado constantemente pelo seu próprio pai já era assustador demais. Quando não seguia as regras, quando não atingia os objetivos, quando seu corpo parava de seguir as ordens… tudo o que lembrava era da dor e do desprezo.
Uma última ação contra seu antigo mestre foi ter entendido que as dores fizeram parte do seu aprendizado.
— Sua mente está em um lugar bem distante — mencionou Vick ao passarem por outra catraca. — Algo te deixou um pouco… chateado.
— Apenas lembranças. — Dores demais para serem curadas com palavras. Partes boas demais para serem curativos. — Já estamos chegando, eu acho.
Eles saíram em uma outra escadas. Pisos deformes ocultavam as marcas de lodo nas paredes, colocados por qualquer coisa pegajosa, mas dando um aspecto menos pior. O ambiente já era estranho demais, e parecia que Rupestre queria deixar com uma cara mais ‘familiar’.
Quando chegaram ao topo, as raízes ao redor da porta se contorceram em espirais, subindo e chegando até a maçaneta. Elas puxaram a porta para fora, abrindo caminho para Dante.
— Isso foi maneiro.
— Um desperdício de energia — respondeu Vick.
Dante riu do comentário e entrou. A sala era cheia de arbustos no teto, com flores e pequenas árvores tentando crescer em cada buraco maior que uma moeda. E mesmo assim, era uma bosta vista quando bem iluminada pela lâmpada do teto.
Bem no centro, Rupestre. Ele ajustava a mesa, colocando pratos espalhados, panelas maiores. E o cheiro, Dante sentiu apenas naquele instante, era perigosamente delicioso. Nem deu tempo para Vick perguntar. Ele mesmo o fez:
— Tudo isso por uma reunião, meu amigo? — Dante abriu os braços, chegando mais perto. — Não precisava.
— Existe muitos rumores, Dante. — Rupestre levantou o rosto, um pouco apressado. — De que você é um monstro que gosta de comer bastante. Então, eu fiz todos os pratos que podia. E também… eu trouxe ela.
A outra porta abriu. Era Clara. Ela tinha um pequeno Sugador em seus braços, do tamanho de uma criança. Dante abriu a boca, chocado. E deu uma risada logo depois.
— Merda, você trouxe a mulher que eu amo e o Nick. — Ele rapidamente correu na direção dela. — Ah, ele joga sujo mesmo.
Clara o abraçou e lhe deu um beijo leve nos lábios. Os cabelos dela ficavam perfeitos quando soltos, e jogando para trás da orelha, tinha o aspecto de que tinha descido dos céus apenas para ser deslumbrada.
Dante tocou seu queixo, dando um sorriso de lado.
— Realmente — disse Clara o admirando com o coração. — Ele joga sujo em me trazer aqui pra te ver. E eu trouxe o Nick. Ele queria muito te ver. Ficou muito triste por você ter deixado ele e Lilo para trás.
O pequeno Sugador saltou para os braços de Dante, ficando com os pequenos braços esticados. E ele deitou no seu peito, respirando fundo e o apertando. Realmente, depois que Dante tinha voltado, deixou os dois com Rupestre para poderem rever suas famílias, seus amigos.
Nunca imaginou que Nick estaria com saudades dele.
— Tá tudo bem, Nick. — Passou o braço por trás dele e com a outra mão segurou a de Clara. — Vamos comer, depois podemos fazer alguma coisa que goste.
— Nick. — Foi um som triste e animado ao mesmo tempo. — Nick.
Dante sentou-se com o Sugador em seu colo e Clara fez questão de observar a mesa.
— Nossa, ficou bem montado, Rupestre. O livro que Leia te deu fez bem.
As bochechas do Rupestre ficaram vermelhas na mesma hora.
— Senhora Leia me ajuda bastante com muitas coisas. Ela me ensinou alguns dos antigos costumes dos humanos para refeições. Eu tentei deixar tudo do jeito mais organizado possível para vocês já que temos que conversar sobre os objetivos em comuns que temos.
Dante deixou Nick pegar um dos pratos, de pé em cima da sua perna, e começar a montá-lo com comidas. Mas, não deixou de notar nas últimas palavras do Sugador.
— Objetivos em comum?
— Sim. — Rupestre encarou Clara, curioso. — Não falou para ele sobre os planos do Hospital?
Dante arqueou as sobrancelhas, achando mais divertido ainda. E fitou Clara.
— Hospital?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.