Capítulo 1 - O Anjo Arrancado dos Céus Parte 1
Alquimistas, médicos e engenheiros sempre tiveram um monumental destaque na história. Entretanto, existiram inevitavelmente figuras de maior destaque, tratadas como verdadeiros heróis por cada canto da terra. Essas pessoas seletas foram nomeadas como Anjos.
Incontáveis pesquisadores tiveram impactos no mundo, mas meramente ser lembrado e estar nos livros de história não era o suficiente. Um merecedor do título precisava transformar a vida da humanidade para sempre.
E após quarenta e nove anos na ausência de um intitulado, a chamada Ordem da Calamidade buscava um novo Anjo.
Ano 21 do Calendário da Calamidade.
O céu, em um azul intenso, contrastava com as folhas carmesins da árvore sob a qual um homem se encontrava. Nas mãos, uma carta aberta. Balançava-a suavemente, ponderando sobre o documento que segurava.
Por ordem expressa da suprema governante Layla Zayn, o pesquisador Elta Velgo, O Vagante Imaginário, é notificado da obrigatoriedade de sua presença na reunião de seleção, a ser realizada na Zona Neutra Internacional. A ausência a este evento constitui crime contra o regimento mundial e resultará em pena capital.
O chamado, autenticado pela inconfundível assinatura carmesim e pelo papel timbrado com cinco olhos vermelhos, foi recebido com um suspiro de negação do pesquisador. Nunca fora notificado diretamente pelo governo central, e essa primeira vez o incomodou a nível pessoal.
“Hahaha… bela ameaça de morte, mas demoraram tempo demais. É bom que eles estejam com outro processo de seleção de Anjo em mente para daqui uns meses.”
Um arrepio percorreu-lhe a espinha ao perceber uma sombra ao lado. Quando ergueu a cabeça, o olhar cruzou com Mirya, que o observava com uma expressão gélida. Os longos cabelos castanhos emolduravam o rosto raivoso, enquanto seus braços cruzados denunciavam um profundo desgosto.
— Eu fiz algo de errado? — indagou Elta ao se levantar do chão, curioso.
— Você se tornou tão mole assim após o término da guerra? Não ter me percebido me traz uma séria preocupação com o homem que escolhi para casar.
— Só fiquei distraído.
Ela espetou as unhas no rosto dele e resmungou: — Não deveria estar se preocupando com seus filhos?
— Hum… Mirya. — Entregou a carta para ela, pega sem qualquer paciência.
O olhar dela viajou pela carta, lendo cada palavra sem nem piscar. Em resposta a seu conteúdo, franziu as sobrancelhas e a devolveu.
— Entendo… Vá logo, preciso de você vivo. — Deu as costas e partiu na direção de casa sem qualquer cerimônia.
“Apática como sempre.”
— Devo resolver isso rápido. — Guardou o documento no bolso da calça.
— Darei início ao treinamento de Verion e Yunneh. Não quero desperdiçar tempo ou potencial.
“Eu queria fazer isso…”
Elta compreendia bem as atitudes de Mirya. Haviam lutado juntos em um cenário infernal, um campo de batalha aberrante. Por isso, sabia que a adaptação a uma vida pacata seria difícil para a esposa.
Era natural para ela transformar tanto a filha quanto o filho em guerreiros excepcionais ou, ao menos, incentivá-los a serem. A ideia de uma nova guerra pairava, apesar de tudo indicar o contrário.
Mais tarde naquele dia, o homem com longo cabelo castanho se despediu dos filhos e atendeu ao chamado que o aguardava. Era o momento de reivindicar aquilo que lhe pertencia por direito. Ele prometeu que retornaria em poucos dias.
O ponto chave.
Beirava o impossível encontrar palavras que capturassem a essência daquela terra. Um continente centrado na linha imaginária que dividia o ocidente do oriente, ZNI, a Zona Neutra Internacional.
Elta acompanhava, no convés de um navio, o barulho calmante das ondas. Chegando perto do porto da nação administrativa, fez preces às duas deusas que seguia, pedindo por resiliência e sabedoria para lidar adequadamente com aquelas circunstâncias. O temperamento dos nobres, que consideravam viver no coração do mundo, era um tanto volátil.
O pesquisador observava os enormes prédios brancos que dominavam a zona portuária. Até onde os olhos podiam ver, os arranha-céus projetavam suas imponentes sombras sobre construções menores.
Era uma cidade moderna, em forte contraste com parte considerável do mundo. As águas cristalinas do oceano e a metrópole branca adiante incutiam nele uma sensação nostálgica, mesmo tendo pisado lá apenas uma vez antes.
“Faz tempo que não vejo um prédio alto assim…”
— Muito obrigado por ser dispor a me trazer até aqui — disse ao dono do navio.
— Que nadaaa, não poderia negar isso a um herói nacional. Só foi chato pra caramba aquele monte de gente nos perseguindo! — resmungou, bem-humorado, e ajeitou o chapéu de marinheiro com as duas mãos.
— É, hehehe… Ter salvo tantas vidas me fez popular até demais. De toda forma, é ótimo saber que ainda se lembram dos meus feitos.
— Não precisa ser modesto, é impossível esquecer!
Elta abriu uma bolsa marrom que carregava no ombro. Passou a mão por seu interior até sentir a textura do que queria: diversas cédulas de dinheiro.
— Aqui está seu pagamento. — Entregou casualmente ao homem de barba grisalha.
— Q-quinhentos mil?! Isso não é um exagero?
— Nada, não precisa se preocupar! Só não sou bilionário porque não quero — respondeu em tom brincalhão. — Às vezes separo um bom dinheiro das minhas invenções para pagar bem quem me ajuda.
O navio atracou minutos depois. Após se despedir, seguiu pelo píer de concreto até a parte da ZNI que era conhecida como Mazda. Era onde residia a fortaleza na qual Layla habitava. Era a maior área daquela terra, um espaço circular claramente delimitado por uma linha dourada no ponto inicial do porto.
Cruzou a linha e foi adiante pelas ruas da cidade, tentando não chamar atenção… e falhando miseravelmente. Massas e mais massas de pessoas reconheceram sua figura por lá. Os raros olhos âmbar eram muitos chamativos para passarem despercebidos.
— Eltaaaaa, me dá um autógrafo!
— Valeu carinha do jaleco, minha filha só tá viva por sua causa!
— Posso morder o seu cabelo?! — pediu estranhamente uma mulher na multidão.
— N-não? — Deu um passo para trás, encolhendo os ombros.
Mantinha um sorriso doce no rosto, genuíno. Cada um dos agradecimentos, pelos remédios e poções que criou, por seus atos heroicos na última guerra ocorrida, atingiam-no certeiros. Aquilo era sua verdadeira alegria em vida, presenciar os outros e saber que fez algo por cada um que se dispunha a agradecê-lo.
“Mesmo agora, isso ainda é bom…”
Não gostava de se sentir como uma celebridade perseguida, mas jamais iria ignorar as pessoas que entendia terem uma relação de confiança para com seu nome e figura. As invenções que criara, levando o nome Velgo, infestavam farmácias e lojas pelo mundo.
Era impossível não conhecê-lo, mesmo que apenas por nome.
Gastou diversas horas do dia autografando as mais variadas coisas, desde biografias sobre ele até quinquilharias inusitadas como uma chave de fenda e uma torradeira cromada. Quando se viu livre para andar, percebeu que o sol se punha no horizonte.
“Ah… eu não andei nem um quarteirão, né?”
Ele olhou para trás, vendo o navio ainda atracado lá no fim do píer. O barqueiro inclusive acenou vigorosamente quando percebeu aquela coisinha ao longe se virar.
— Ai, ai, ai… — Retribuiu o gesto, emburrado.
“Tenho que me apressar.”
Buscando evitar novas interrupções, saltou ao topo de um arranha-céu. Analisou a cidade com olhos de águia, e, mesmo naquela altura, enxergou absolutamente tudo com perfeição. Luzes coloridas pouco a pouco eram ligadas para trespassar o obscuro véu noturno.
Sob o brilho lunar, carros luxuosos corriam pelas ruas enquanto helicópteros sobrevoavam a região. O pesquisar ficou distraído com o som repetitivo de buzinas e vozes que era capaz de ouvir ainda que no topo do prédio.
“É até estranho pensar que provavelmente tive impacto na vida de pelo menos uma pessoa em qualquer canto que eu vá.”
“Esse lugar é muito lindo, mas parece animado e barulho demais para mim. Prefiro minha casa no campo… Não trocaria aquela paz por nada.”
Um clarão escarlate pintou o horizonte e, subitamente, uma mudança no fluxo de ar, bem atrás de si, atraiu-lhe a atenção. Virou-se instintivamente, tendo uma surpresa estranha.
“Uma criança?”
Havia uma garotinha de cabelos pretos, com uma presilha em formato de estrela, bem ali. Elta entendeu tudo ao notar sua roupa: um traje completamente branco com detalhes pretos na altura do pescoço, braços e pernas, de um tecido denso; vestimentas padrão dos membros da segurança de Layla.
— O que quer comigo? — questionou, mantendo a voz calma e amigável.
— As movimentações suspeitas de um estrangeiro devem ser investigadas. Apenas quis saber o que veio fazer aqui no topo dessa construção.
“Ela fala de um jeito muito sério para a idade. Deve ser influência da Deusa do Conhecimento.”
— Sou Elta Velgo e só queria ficar longe das ruas. É que tá beeem difícil de andar por aqui por causa da minha fama, sabe? — Deu um sorriso meigo.
— Se manter esse tom infantil para se comunicar comigo, irei te arremessar contra o asfalto.
“Que que isso cara…?”
— Tá, tá bom! — Balançou as mãos no ar, pedindo calma. — Acho que sabe o que vim fazer por aqui. Onde acontecerá a reunião?
— Siga-me — ordenou, saltando para o prédio seguinte em uma velocidade imensa.
Conforme se aproximava do local, algo destacava-se no horizonte. Não tinha plena certeza do que era, porém, após percorrer quilômetros acima dos prédios, seus olhos se espantaram ao perceber de onde vinham aquelas fortes luzes que pareciam pintar o horizonte em vermelho.
Um colosso arquitetônico que, tão maior que as outras construções circundantes, fazia arranha-céus comuns parecerem brinquedos. A fortaleza de Layla estava bem diante de seus olhos, o dito ponto mais protegido do mundo.
O edifício de quartzo branco, em formato análogo ao de um zigurate, projetava-se nas alturas com seus mil e duzentos metros. Um irregular foco cintilante no topo manchava todo o branco da cidade num intenso escarlate em intervalos aleatórios.
Sempre que aquela coisa decidia brilhar, ouviam-se gritos comemorativos escapando por dentro e fora dos prédios próximos. Até mesmo fogos de artifício voavam pelos céus em resposta ao cintilar.
— Esse lugar é grande… — murmurou, analisando cada ponto da construção.
Uma enorme e ingrime escadaria, acompanhada de diversas luzes neon brancas nas laterais, seguia até uma das entradas. Elta sentiu que muitas pessoas poderosas encontravam-se naquela linha, possíveis membros da segurança de Layla.
Ocultar a própria presença era comum para pessoas mais experientes, porém, seja lá quem fossem, faziam o exato oposto por vontade própria. As energias de cada um atravessavam quilômetros da cidade como um alerta óbvio do que ocorreria a invasores.
Carros buzinavam loucamente e helicópteros pousavam em heliportos periféricos à fortaleza. O horário da reunião se avizinhava e tudo tornava-se mais vivo pelas ruas. Afinal, era um evento histórico que não ocorria há décadas, um novo Anjo.
— Siga até a escadaria, na entrada saberão quem é.
— Qual é seu nome? É um problema me dizer isso? — Elta permanecia com o olhar fincado no mesmo ponto, no aguardo da resposta da criança.
— Libel Rebus — afirmou e desapareceu na noite, sem qualquer rastro.
“Estão colocando pessoas muito jovens para trabalhar com essas coisas. Isso me traz memórias ruins sobre a guerra…”
Respirou fundo e estalou os dedos, fazendo uma ponte dourada e translúcida surgir diante de seus pés. Da própria imaginação, formava objetos temporários caso conhecesse a composição e método de construção. Caminhou pela ponte, acima dos prédios, encarando o mar policromático das lâmpadas elétricas uma última vez antes de prosseguir.
Na entrada, foi recebido com comentários elogiosos de pessoas que não fazia ideia de quem fossem, mas deu a cada um deles a atenção que acreditou ser necessária. Após isso, foi chamado por uma dupla de guardas que se dispuseram a guiá-lo pelos caminhos da estrutura. Não queriam que se perdesse.
Acompanhado pelos seguranças de cabelos tingidos de rosa e verde, andava por um longo corredor branco-acinzentado. Vasos com plantas exóticas adornavam o espaço com algumas flores pretas e roxas que atraiam o olhar pelo contraste com o ambiente.
— É sua primeira vez por aqui? — perguntava a rosa, descontraída.
— Não, já visitei o território do Deus da Calamidade há anos atrás.
— Então você ficar impressionado assim é só por ser meio bobo mesmo — complementou o verde, sorridente.
— É que na minha visita anterior eu não vi essa fortaleza, então me impressiona. Tenho algum conhecimento arquitetônico e estive no oriente, em Benten, então prédios não são novidades. Mas essa fortaleza aqui é até mesmo complicado de entender como está de pé.
“Talvez alguma magia para aliviar a tensão dos materiais.”
— O elevador fica bem ali. Vá ao primeiro andar, é lá.
Quando Elta olhou para trás, não existia qualquer vestígio deles. Desapareceram.
Ele caminhou até os botões e chamou para o andar, esperando com paciência. As portas se abriram, e o elevador estava vazio. Entrou e pressionou o botão para seu destino.
Alguns bons minutos depois, chegou no andar correto, esgueirando-se na escuridão para tentar não chamar muito atenção e evitar ser parado naquele momento. Entretanto, ao passar por uma porta, foi surpreendido por incontáveis flashes de câmeras.
Colocou a mão na frente dos olhos para se acostumar à claridade, e deu uma segunda olhada no ambiente interno do primeiro andar. A sala do trono, o Salão da Calamidade.
Na direita e na esquerda, em locais vigiados e separados do resto do ambiente, estava o público. Centenas de milhares de jornalistas, convidados e curiosos naquela linha lateral elevada que, como uma arquibancada, seguia por mais de um quilômetro e meio. Vibravam com sua chegada, uma gritaria imparável.
O pesquisador suspirou e seguiu adiante naquele centro, acenando. Sobre seus pés, um longo tapete dourado seguia pelo espaço branco. Era enorme o salão, e as luzes necessárias para iluminar aquele espaço monstruoso faziam os olhos doerem vez ou outra.
“Preciso ir mais rápido.”
As vozes unidas, sobrepostas e estranhamente misturadas, causavam algum nível de confusão a ele. Embora fosse capaz de entender cada mísera palavra e contexto discutido pelas massas ao redor — habilidade comum cedida a seguidores de uma certa deusa —, ainda se fadigava.
Processar tanta informação era algo usual, mas causava nele um desconforto. Sentia a cabeça queimar por dentro, uma condição que poucos outros seguidores da Deusa do Conhecimento tinham o desprazer de sofrer.
Intrometendo-se nas conversas de todos e extraindo o conhecimento, soube as informações propagadas no ar pelas vozes: quem eram os outros convocados à seleção de Anjo. Outras três pessoas, próximas ao trono, aguardavam sua chegada.
“Achei que teriam quatro por aqui…”
Cada voz foi silenciada por um único gesto de Layla Zayn, que ergueu a mão. Nem mesmo um único ruído, para além dos passos de Elta, podia ser ouvido. Aquela multidão silenciosa, que antes fora tão escandalosa, parecia uma imagem fantasmagórica em comparação.
A passos largos, o Velgo finalmente terminava seu percurso no sagrado tapete dourado, calmamente parando diante do imponente trono.
— Senhor Velgo, o tempo é precioso, especialmente para nós. — A governante apontou uma espada de lâmina negra em direção a ele. — Creio que tenha uma boa justificativa para seu atraso.
A voz dela ecoava pelo andar, e uma transmissão era repetida em telões espalhados no ambiente. O rosto de ambos dividiam uma mesma tela. Ele manteve a calma, era mais fácil no silêncio, apesar de sentir-se observado por tantos desconhecidos.
— Honestidade é uma virtude, então direi a verdade sem maiores rodeios. Atrasei-me por conta da população local que quis agradecer por meus feitos. Foi isso. — Elta abaixou a cabeça em reverência à figura.
— Oh, entendo… — declarou com rispidez quase cortante.
Os longuíssimos cabelos pretos de Layla derramavam-se pelo trono rubro, que ficava em uma elevação de alguns metros. O escarlate de seus olhos, estreitados por desgosto ao descompromisso de Elta, brilhava com leveza. Um elegantíssimo vestido cor de sangue cobria a bela pele parda.
“Achei que era só um boato exagerado ela ter proibido o vermelho para o resto da população dessa nação, mas de fato é a primeira pessoa de vermelho que vejo aqui.”
Demorou a notá-la, a garota que o guiou pelos prédios. Parecia ainda menor perante a imensidão do trono. Com as mãos unidas e de cabeça baixa, aguardava ordens ao lado da governante.
“Essa menina deve ser muito mais forte do que eu pensei…”
Percorreu a multidão o olhar que carregava as brasas capazes de causar o fim dos tempos. Com um movimento limpo, Layla cravou a lâmina negra no chão branco, arremessando-a.
— Que se inicie a seleção divina! Um novo pesquisador será agraciado com o epíteto de Anjo. Somente aqueles que realizaram feitos dignos de reconhecimento global possuem o direito de tocar o tapete dourado, e apenas um destes será consagrado! — declarou, enérgica.
Continuou: — Dentre os convocados, temos cinco nomes: Elta Velgo, Siralia Okeron, Pierluigi Espinossa, Zathan Nyte e Benten, a Deusa do Conhecimento.
“A quem do quê?!”
Encabulado, olhou para o lado e viu a segunda deusa que seguia, casualmente de pé a alguns metros de distância. Ela acenou, com um sorriso simpático nos lábios, e deu uma piscadinha.
“Tá brincando comigo… NÃO É INJUSTO COMPETIR COM UMA DEIDADE?”
“Ahh, não que importe agora de qualquer forma.”
Elta coçou a nuca.
“Não nos encontramos pessoalmente há décadas. Essa competição se tornou realmente descabida. Foi ela quem iniciou a exploração espacial, que chance eu teria?”
Benten era inconfundível com seus claríssimos cabelos azuis e quimono branco. Não ter a percebido antes por contato visual o fez se perguntar se estava de fato atento até aquele momento. Porém, ao questionar-se disso, percebeu uma situação mais complexa.
Ele havia captado informações ao extrair o conhecimento presente nas ondas sonoras que espalhavam-se no ar — as vozes solitárias e conversas. A presença de uma deidade chamaria atenção demais, ninguém sequer ter a citado naquele meio tempo era improvável.
“Afetou minha captação de informações só para fazer surpresa. Por isso achei tão estranho terem apenas três aqui…”
Nos minutos subsequentes, Layla explicou os mais relevantes feitos de cada competidor. Criações como reatores, armaduras tecnológicas, aviões e até foguetes foram citados. Era complicado para a imprensa manter-se calada durante o processo, mas sabiam que o primeiro a abrir a boca seria expurgado da terra.
Ao terminar de falar sobre Benten e suas contribuições, tais como o primeiro reator nuclear e o início da indústria aeroespacial, os repórteres entusiasmaram-se para ouvir sobre o Velgo. Câmeras analógicas eram timidamente erguidas por pessoas com pouco senso de autopreservação.
Elta tinha em mente que seus feitos na última guerra seriam citados por Zayn. Contudo, para seu desgosto, não seria isso a ocorrer. A governante tinha outra coisa em mente. Na verdade não uma coisa, mas um nome.
A mulher dirigiu seu olhar a ele e iniciou o discurso:
— Elta Velgo durante décadas apresentou grandes e consideráveis resultados à humanidade. Suas poções e medicamentos conseguiram erradicar dezenas de doenças que assolavam nosso mundo desde seus primórdios. Por suas mãos, foram confeccionados verdadeiros milagres que nem mesmo a Deusa da Vitalidade, sua principal inspiração, foi capaz de realizar.
Elta sentia o coração acelerando a cada palavra, numa explosão de felicidade arrepiante. Sabia que seria em vão, mas era um ótimo momento. Finalmente seu maior ato seria reconhecido por cada humano vivo na terra. Esse maior ato era…
— Mas esses milagres se apequenam diante daquilo que fez alguns anos atrás!
Sua mente, desejosa, concluiu com: “Salvar 250 milhões de pessoas na última guerra!”.
— Salvar nosso messias, Arthur Vogrinter! — O ecoar daquela voz, e da multidão que recebeu permissão de gritar o nome daquela criança, inundou sua consciência.
O rosto animado do pesquisador foi manchado pela incompreensão. Mantinha-se focado na face de Zayn, em meio ao turbilhão de gritos repetindo aquele nome em coro. Seu coração passou a acelerar ainda mais, porém, desta vez, com um rancor virulento.
“Ela…”
“Acho que teria sido melhor ter sido executado do que pisar aqui.”
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