Capítulo 436 - Mago Louco
“Hyah!” gritou o Mago Diode, enquanto uma ‘bola de fogo’ disparava de sua mão, queimando a mesa à sua frente até reduzir-la a cinzas.
Ele estava com ciúmes. Observava os três magos devorando sua refeição. No entanto, eles não conseguiam saboreá-la de verdade. Estavam atônitos demais com a bola de fogo que acabou de ser conjurada. Afinal, era proibido lançar feitiços dentro da Cidade Liante.
Os três olharam para o Mago Diode e, de imediato, conjuraram feitiços defensivos em si mesmos. Então, trocaram olhares. Todos pensaram a mesma coisa:
Isso é ruim.
O dia estava agradável, e eles estavam se divertindo… até que um lunático apareceu para estragar tudo. Bem, não havia muito o que pudessem fazer, a não ser se preparar para a luta que estava por vir.
E não era como se pudessem simplesmente chamar os magos da lei. No fim das contas, tudo não passou de uma simples bola de fogo lançada por alguém. Convocar as autoridades através de um círculo de teletransporte seria, francamente, um enorme desperdício. Geralmente, casos assim eram resolvidos por algum mago intermediário que estivesse por perto, talvez até no mesmo prédio.
Quando o Mago Diode percebeu os feitiços defensivos nos três magos, desviou rapidamente o olhar. Seu foco foi para o Gerente Mahler, que estava atrás do balcão junto de Garen e Mike. Ambos se escondiam atrás dele, assustados com a bola de fogo q destruiu a mesa.
“Como ousa mentir para mim!” rugiu o Mago Diode. As chamas em suas mãos tremeluziram. Um feitiço de nível iniciante, chama inferna, estava prestes a ser lançado.
Esse feitiço incineraria todos e reduziria a loja inteira a pó. Ninguém sobreviveria. Os três magos assistiam horrorizados, aguardando o momento em que seriam engolidos pelas chamas.
De repente, uma figura surgiu diante deles. Um toque suave, com um dedo delicado, encostou na “chama infernal”. Como se fosse drenada de sua mana, ela se dissipou em uma minúscula fagulha.
Era Bartoli. A única que dominava o segredo do elemento fogo. Se tivesse sido lançado um feitiço de outro elemento, qualquer coisa atingida teria sido destruída na hora, e não haveria nada que ela pudesse fazer.
Bartoli não lançou nenhum feitiço contra o Mago Diode, porque um mago enlouquecido já não representava uma ameaça. Ele sequer tinha conjurado suas defesas, e, nesse estado, ela poderia alcançá-lo facilmente para dar um fim “limpo” à situação. Sua mão já estava cortando sua garganta.
O Mago Diode engoliu em seco e desabou no chão. Lutava para puxar ar pela traqueia ferida. Foi por pouco. Se Bartoli não tivesse aprendido a técnica “movimento instantâneo” dias atrás, junto com a “poção de fortalecimento da alma” que Abel lhe deu, ela não teria sido rápida o bastante para salvar o Gerente Mahler a tempo.
“Pela autoridade da força de lei, Mago Diode, você será julgado por lançar feitiços sem permissão na Cidade de Liante!” uma luz branca brilhou no saguão do Recanto Esquecido, e um mago intermediário de túnica vermelha surgiu, usando ‘movimento instantâneo’. Seu olhar pousou imediatamente sobre o Mago Diode, que arfava no chão.
O círculo mágico defensivo da Cidade de Liante era capaz de identificar infratores porque todos que entravam na cidade registravam sua aura no banco de memórias do Espírito da Cidade. Assim, sempre que alguém cometia uma infração, o círculo determinava quem havia sido o primeiro a quebrar a lei.
Por isso, o mago da lei apontou diretamente para Diode assim que apareceu. Ele o algemou com um par de algemas encantados com um feitiço proibitivo, capazes de impedir temporariamente o uso de mana.
“Maga Bartoli, muito obrigado por subjugar o Mago Diode. As coisas teriam ficado sérias se alguém tivesse se ferido!” disse o mago da lei, fazendo uma reverência em agradecimento.
Na Cidade de Liante, havia vários níveis de incidentes: tentativa de violação da lei, lesão, morte… A avaliação dos magos patrulheiros era diretamente ligada a seus rendimentos, razão pela qual o mago de túnica vermelha demonstrava tanta gratidão.
Naquela mesma noite, espalharam-se rumores de que o Mago Diode enlouquecera após provar os pratos do Recanto Esquecido, sendo detido em seguida pelos magos da lei.
A reputação do restaurante ficou dividida. Alguns insistiam que os pratos do Recanto Esquecido auxiliavam no avanço, e a maioria deles já estavam prestes a subir de nível.Outros, porém, eram céticos, acreditando que os dois avanços testemunhados poderiam ser apenas boatos inventados pelo restaurante para promover sua comida. Algo insustentável, claro, que seria desmentido assim que os nomes dos dois magos fossem confirmados. Mas nem todos os conheciam.
No décimo dia de funcionamento, sob a influência de rumores, Acheson, um velho mago do décimo nível, apareceu com uma aura de ascensão enquanto saboreava a sopa de costela. Bartoli, que monitorava de perto, surgiu imediatamente e preparou um círculo de coleta de mana para auxiliá-lo.
Todos no restaurante conheciam o Mago Acheson. Ele vivia em Liante há muito mais tempo que quase qualquer outro mago da cidade. O detalhe é que sua vida estava no limite. Muitos diziam que lhe restavam apenas alguns anos.
Preso por décadas entre os níveis de mago iniciante e intermediário, ele, que já aguardava o fim de sua vida, finalmente conseguiu subir de nível… graças a uma sopa de costela de 150 pontos
A maioria lembrava que o Mago Acheson já era de décimo nível quando chegou a Liante, e que, nos últimos anos, havia desistido de tentar. Aceitara apenas o fim inevitável.
Mas, diante de dezenas de testemunhas, o Mago Acheson rompeu suas correntes. A poderosa aura de ascensão encheu a sala, despertando a inveja de todos. A partir daquele momento, ele não apenas se tornara um mago intermediário, como também escapou as garras da morte.
Do lado de fora do Recanto Esquecido, o Gerente Mahler observava em silêncio, acompanhado de quatro lojistas que já haviam se acostumado a esse tipo de cena. Todos sabiam o que viria a seguir: outra explosão de vendas para o restaurante.
Quando o Mago Intermediário Acheson abriu os olhos, lágrimas escorreram pelo canto de seu rosto. Sentia-se renascido, cheio de energia, tomado pela vontade de gritar.
A repressão de quase cem anos foi lavada pela alegria da ascensão. Um título que parecia tão distante agora lhe pertencia.
Assim, o rumor caiu por terra com a o terceiro avanço. Como o Mago Acheson era conhecido, especialmente entre os magos de nível inferior, quase todos sabiam de sua história e lamentavam por ele.
O Recanto Esquecido ainda era frequentado, em sua maioria, por magos iniciantes, sem a presença de magos intermediários. Afinal, esses possuíam status elevado demais para se misturar. Mas com a ascensão de Acheson, o nome do restaurante atravessou também o círculo dos intermediários.
Poucos dias depois, eles começaram a aparecer. E, ao mesmo tempo, muitos iniciantes já tratavam o lugar como ponto habitual para refeições. Apesar dos preços altos, até os ovos cozidos no vapor, o prato mais barato, valiam a pena.
Cada mago que chegava sabia que três avanços já haviam ocorrido ali. Todos compreendiam o peso disso, principalmente no caso de Acheson, que alcançara o nível intermediário. Era um feito colossal. Uma poção capaz de oferecer chance semelhante de avanço custaria, no mínimo, dez mil pontos.
Agora, com tantos testemunhos confirmando, os rumores negativos desapareceram. Combinando a fama dos pratos com o delicioso ‘essência de coelho’, o Recanto Esquecido rapidamente se tornou o melhor restaurante de toda a Cidade de Liante.
“Mestre, aqui está a renda de vinte dias. Já a transferi para você!” disse Bartoli, estendendo seu cartão de identificação para Abel.
Haviam se passado vinte dias desde a inauguração do Recanto Esquecido. Nesse tempo, ainda recebiam alguns comandantes de cavaleiros como clientes. Porém, as coisas haviam mudado. Os magos agora eram a principal fonte de receita. De dia ou à noite, filas se formavam diante do restaurante para experimentar as delícias do cardápio. Logo, começaram até mesmo as reclamações: “Não há cadeiras e mesas suficientes!”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.