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    Os diabos permanecem em prontidão com as armas empunhadas em mãos. 

    Rubi está atenta ao som de algo movendo-se entre as árvores à diante. Um eco raso e compassado de estalos, quase imperceptível, mas que ainda se destaca na quietude da floresta. 

    “Não parece ser mais de uma, mas…”, diz Rubi, um incômodo entoando junto da voz. Apesar de os ruídos virem de frente, a progressão deles não é na direção da dupla. “Parece que não está vindo reto até nós.”

    “Então, irei até ela. Talvez esteja tentando nos flanquear”, Byron afirma. “Se for apenas uma, não irá demorar mais do que alguns segundos.”

    “Pode ir, ficarei de olho. Bem atrás de você.”

    O som entre as árvores se intensifica. A fonte da movimentação se aproxima, estalando galhos e folhas, agora alto o bastante para alcançar até mesmo os ouvidos de Byron.

    Ele se foca em um ponto entre as árvores, o lugar de onde a criatura parece trilhar. “Está próximo…”, ele alerta. “Vou avançar antes que ele passe por nós, certo?”

    A pergunta se perde no vento. Byron não ouve resposta alguma. Ele olha para trás e não vê mais a diaba. 

    O demônio volta a atenção para frente. Ela já se posicionou, ele pensa, erguendo a espada e levando a segunda mão ao cabo. Agora só cabe a mim lidar com isso.

    A chama envolve seu corpo e, um segundo depois, ele emerge das labaredas como um poderoso demônio sombrio, com linhas incandescentes ao redor do corpo. Suas asas se abrem com um estalo cortante, lançando brasas no ar enquanto ele encara o desconhecido.

    Com um lufar de asas, o demônio se lança à frente, voando baixo entre os troncos. 

    Em uma moita ao lado, uma fina e longa cauda avermelhada, escapulida entre as folhas, balança no chão. Rubi, dentro dela, abaixada, observa, por meio das folhas, o diabo avançando na floresta. 

    Pega ela!, torce a diaba, com um brilho no olhar. Ele já está bem confiante com a espada. Deixar ele agir com autonomia está fazendo ele se adaptar bem mais rápido do que eu pensei. Me pergunto em que tipo de classe e subclasses ele vai se encaixar… 

    Diante de várias possibilidades, Rubi, curiosa, divaga, vendo Byron desaparecer em sua caçada.

    Com certeza ele não vai ser um bom patrulheiro, deve ficar entre guardião ou guerreiro mesmo. Essas duas têm subclasses que combinam bastante com o que eu vi dele até agora, ela analisa. Talvez cavaleiro ou combatente padrão. Por ele ser um behemoth, bárbaro também poderia ser uma boa opção, mas não acho que seja uma subclasse que combine com ele. Paladino também seria uma boa, mas será que existem paladinos demônios? Até onde eu sei, o Mael é um deus, então quem sabe…

    Algumas dezenas de metros adiante, Byron avista uma garra-branca correndo entre as árvores. 

    Logo ele nota que, diferente da estética quase puramente branca comum da espécie, uma mancha vermelha destaca-se no peito da ave.

    Aquilo é…?, ele se pergunta. Não importa agora.

    Sem questionar muito, o demônio se concentra no alvo e avança contra a criatura, brandindo sua grande espada em um ataque contra as pernas dela.

    A garra-branca não para seu movimento e salta, por cima de Byron, desviando-se da arma, deixando o diabo passar diretamente por baixo.

    A ave, ao aterrissar, segue correndo sem olhar para trás, fugindo do combate como se seu foco no momento fosse outro.

    Byron, após errar o golpe, a observa com olhos estreitos, intrigado. Não posso deixá-la escapar, ele afirma a si mesmo.

    Ele recolhe suas asas e crava as garras da mão direita no chão, reduzindo rapidamente sua velocidade. Poucos segundos depois, o demônio vira-se na direção da ave fugitiva e já alça voo novamente. 

    A perseguição segue ininterruptamente entre as árvores, com Byron pouco a pouco reduzindo a distância entre sua presa.

    Ao aproximar-se o bastante, o demônio aproveita-se do alcance da arma e realiza um ataque de estocada contra a garra-branca.

    A ponta da arma crava-se na coxa da ave, travando-a e deixando-a incapaz de correr ou sequer se manter de pé. A ave tomba ao chão, deslizando entre a vegetação e o solo, com Byron ainda pressionando sua arma contra o corpo dela. 

    Conforme ela é arrastada, a ponta da espada atravessa seu corpo e, quando o movimento para, a garra-branca já está completamente empalada e sem vida.

    Byron se levanta, retirando sua arma das entranhas ainda quentes do animal. Em seguida, limpa a lâmina, manchada de vermelho, nas penas brancas, passando-a dos dois lados, até livrar-se do sangue acumulado.

    A floresta volta a ficar quieta e, momentos depois, Rubi chega até onde está o demônio. 

    Ela observa o animal abatido, seguido da trilha de folhas e pedras empurradas, causada por seu tombo. 

    Foi meio brutal, né? Como sempre, a diaba pensa.

    “Enfim, mais um pra conta”, ela congratula, fazendo um joinha para Byron.

    Apesar da vitória, o demônio se mostra desconfiado. Os olhos meio abertos correm as redondezas.

    “Aconteceu algo?”, Rubi pergunta, preocupada.

    “A senhorita tinha razão. Ela não estava vindo diretamente até nós. E muito provavelmente ela nem nos atacaria.”

    “Por quê?”

    “Ela estava fugindo de algo. Nem tentou revidar os meus ataques. Aos meus olhos, pareceu que estava muito mais preocupada em sair daqui.”

    O diabo vai até a frente do animal e aponta a espada para a mancha vermelha no meio das penas amassadas e sujas. 

    “Isso é… ?”

    Byron não responde com palavras, antes, empurra as penas longas do peito com a ponta da arma e revela uma ferida sobre a pele no formato de um corte, com sangue manchando as penas.

    “Foi você?”, a diaba indaga.

    “Esse ferimento não veio da espada ou da queda”, ele afirma. “Já estava aqui antes mesmo de eu me aproximar.”

    Rubi arregala os olhos e rapidamente examina atentamente o ambiente ao redor. Ela apronta o arco, segurando a corda com firmeza. “Sentiu mais algo por aqui?”, ela questiona. 

    “Não. Também não vi nem ouvi nada estranho.”

    Rubi olha para a região mais escura da mata, o lugar de onde veio a garra-branca.

    “Aquele grito agora há pouco… pode não ter sido para a gente.”

    Byron, ao lado dela, repousa sua arma sobre o ombro e também encara a mesma direção.

    “Seja o que quer que tenha causado aquele ferimento, está próximo e logo iremos descobrir.”

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