Capítulo 89 — Panela Velha é que faz Comida Boa
Era apenas mais um dia iluminado, fresco e tranquilo em Santa Marília, até um círculo cintilante azulado se formar no chão de uma passarela ladrilhada. Subitamente, uma coluna de energia se formou no lugar, emitindo uma onda de choque leve, soprando todas as plantas ao redor e expulsando os pássaros nas proximidades.
Quando a luz se extinguiu, duas pessoas apareceram no lugar: Leonard e Denise, com suas malas de viagem em mãos. Na sua frente, seu pai o aguardava com um sorriso no rosto, junto com a empregada que segurava um balde na mão esquerda e uma toalha apoiada no braço direito.
— Sogrinho! — exclamou Denise, correndo para abraçá-lo.
— Já estava com saudades, querida! — respondeu, com seus braços envolvendo sua nora.
Leonard deu um sorriso gentil e silencioso, mas seus passos cambalearam até a empregada, que imediatamente o entregou o balde, segundos antes dele colocar tudo o que tinha comido nas últimas vinte e quatro horas para fora.
Os círculos de teletransporte foram bastante populares na era da Alta Magia, devido a quantidade de magos com o conhecimento necessário para construir um deles, junto com os recursos que eram mais abundantes. Porém, diversos fatores como a escassez de recursos necessários, a diminuição de magos poderosos e o advento dos veículos motorizados, como trens, carruagens a vapor e a criação de estradas mais seguras fizeram com que o transporte convencional fosse bem mais em conta do que as altas taxas de teletransporte.
Isso sem contar o fator de risco. O teletransporte era um rearranjo em nível atômico que era transmitido do ponto A ao ponto B através da Dimensão Quântica. O que garantia o maior grau de sucesso era a mana interna do usuário, que auxiliava na reorganização do corpo. Porém, ocasionalmente acidentes aconteciam. No melhor dos casos, a consequência era um refluxo. No pior, sua perna dividiria espaço com os órgãos do tórax.
— Bom ver você, pai — disse Leonard, limpando a boca. — Obrigado, Ilivana!
Devar colocou suas duas mãos no ombro do seu filho mais velho, com uma expressão de orgulho profundo. Desde criança, aquele garoto tinha tanta ambição quanto o pai, além de ter herdado a força para ter um punho dominador e conquistar tudo que fosse seu por direito.
— Seu treinamento nas artes místicas têm dado resultado?
— Nunca estive tão afiado quanto agora, pai. O meu potencial vai trazer resultados que colocará os Bakir em um ponto nunca visto antes! E em breve, novos recursos estarão à nossa disposição.
Aquelas palavras fizeram os olhos do patriarca brilharem.
— Você recebeu minha carta, não foi? Eu estou para receber algumas visitas, por que não toma um bom banho e nos acompanha mais tarde? Tenho certeza que você quer ficar um tempo com a Denise antes de lidar com as coisas chatas.
Os dois se entreolharam por alguns segundos, quase como se conversassem silenciosamente.
— Eu acho que vou visitar umas amigas antes de descansar. Além disso, deixo esses assuntos importantes com vocês — disse ela, com um sorriso.
— É uma boa ideia — concordou Leonard. — Faz uns seis meses que você não vem aqui, certo? Vamos ter muito tempo depois.
— Bom, vou indo então! Até mais tarde! — respondeu, com um sorriso.
Algumas horas tinham se passado e Leonard se encontrava sozinho em seu quarto mais uma vez. Embora seu pai fosse um homem orgulhoso das suas conquistas, com suas exibições em móveis de luxo, criaturas empalhadas e até a cabeça de um leão sob a cabeceira da cama, esse não era um traço que compartilhava com o mesmo.
Um papel de parede azul em tons de pastel revestia as paredes, combinando com os móveis simples que mobiliavam todo aquele espaço. Um guarda-roupa de carvalho que existia desde a fundação dos Bakir como uma família nobre, uma escrivaninha com um armário ao seu lado e um abajur ao lado da sua cama espaçosa. A coisa mais destoante daquele local era a mesa de sinuca que estava no centro do quarto, junto com um quadro e uma pequena estrutura para os tacos e as bolas.
No canto da escrivaninha, uma memória antiga: um pequeno quadro, com a imagem de uma família feliz. Seu pai antes de deixar a barba crescer, seu irmão mais novo no colo da sua mãe, sua irmã mais nova aos quatro anos e o próprio Leonard com dez.
Um tempo em que tudo parecia mais fácil, mais tranquilo. Leonard, sempre que estava imerso em seus pensamentos, olhava aquele quadro, pensando como as coisas poderiam ter sido diferentes se sua mãe e seu irmão ainda estivessem presentes.
— Com licença — disse uma voz familiar, adentrando o quarto.
O jovem, sentado na cama, olhou na direção da porta. Se havia uma residente da casa que Leonard confiava mais do que seu pai, era Ilivana. Desde seus cinco anos, ela tem sido a empregada que cuida de todas as suas necessidades, principalmente após sua mãe ter falecido. Alguns fios brancos já despontavam em sua cabeça, mas sua expressão terna não tinha envelhecido nem um pouco.
— Os convidados do meu pai já chegaram?
— Ainda não — respondeu ela. — Mas já recebemos uma ligação dos seus homens que estavam na entrada da cidade. Eles já adentraram Santa Marília. Acredito que devam estar chegando na mansão daqui a uns trinta minutos.
O jovem coçou o queixo.
— Trinta minutos, é? Um bom tempo.
— E então, como foi a viagem com a senhorita Van Der Sar? Fazia um tempo que não viajavam juntos.
Leonard começou a caminhar pelo quarto, como se tentasse arejar seus pensamentos.
— Ela é uma garota inteligente, espirituosa e que tem potencial. Confesso que tive minhas ressalvas com a indicação do meu pai, mas foi uma decisão acertada. Acho que temos futuro como parceiros, em longa data.
— Senhor, não deveria falar dela desse jeito! Ela será sua noiva muito em breve.
— Pode ser, eu acho — respondeu. — Quer dizer, tanto ela quanto eu estamos interessados em nossas carreiras e na nossa evolução mística, não posso dizer que nossos sentimentos são nossas prioridades.
— Eu não acho que a Siobhan iria querer isso para você, que estivesse se casando com alguém por puro interesse.
De repente, seus passos pararam. A postura calma e controlada fora substituída por uma respiração pesada, acompanhada do movimento errático de suas mãos. O apego de Leonard pela mãe ainda era algo que persistia conectado ao seu íntimo, mesmo que desejasse negar isso a todo custo. Quando ela era citada em certos contextos, isso acabava aflorando alguns sentimentos reprimidos.
— Entendo…Ilivana, poderia me fazer um favor? Acho que o abajur da escrivaninha está com defeito. Poderia dar uma conferida? Eu vou precisar dele mais tarde.
A empregada ergueu uma sobrancelha, pois tinha limpado o quarto no dia anterior e tinha conferido o abajur. Mesmo assim, ela se dirigiu à escrivaninha. Aquele espaço entre ela e a porta era o que Leonard precisava. Sutilmente, ele a fechou e girou a chave.
Enquanto confirmava o funcionamento do abajur, o som da chave selando a fechadura chamou sua atenção, o que a fez virar rapidamente. Porém, Leonard já tinha diminuído a distância entre os dois graças a sua velocidade. Seus olhares estavam próximos, mais uma vez, junto com uma respiração pesada que chegava a ser audível.
— Leonard… — murmurou ela. — Não deveríamos mais continuar fazendo isso…
Ele a segurou pelo braço, firme demais para ser um afeto, mas não forte o bastante para machucá-la. O choque entre ambos foi imediato. Sua outra mão tocou na suave nuca da mulher e a puxou para si, colidindo os seus lábios em um beijo profundo, úmido e voraz. Todo o estresse, a responsabilidade e tensão em seu corpo eram tão palpáveis apenas por aquele contato.
Por um lado, Ilivana sentia culpa vinda de diversas frontes. A culpa de estar se envolvendo com um homem comprometido, a culpa de estar se envolvendo com um garoto que carregou no colo e cuidou como se fosse o próprio filho, a culpa de uma simples empregada estar se arriscando com um homem nobre e a culpa de ter que manter tudo isso em segredo absoluto. Por outro lado, aquela energia, vitalidade e potência vinda do seu toque a fazia se sentir viva novamente.
Doía como o inferno, mas sentia como o paraíso.
Suas mãos, que antes pareciam tentar afastar o peito jovem nobre, agora se arrastavam pelas suas costas, puxando-o para si. Usando sua força, ele a ergueu pela cintura e a colocou sentada sobre a escrivaninha. Suas mãos deslizaram pelo corpo dela, agilmente desatando o nó do avental e erguendo sua saia, revelando as pernas alvas e macias da sua governanta.
— Você não sabe o quanto eu te desejei nesses últimos dias! — afirmou Leonard, olhando-a com intensidade.
Seus beijos desceram pelo pescoço, alternando entre mordidas gentis e carícias ardentes com sua língua. A cada toque, seu corpo arqueava, rendendo-se cada vez mais ao seu controle. Quando a mão dele alcançou sua pele quente e lisa, toda a preocupação, tensão e culpa deram lugar a um desejo feroz que precisava ser consumado.
Leonard moveu suas mãos através para a parte mais íntima de Ilivana, removendo a última coisa que estava entre ele e o seu desejo: uma fina peça de algodão, que estava parcialmente úmida e cheirando a intimidade. As pernas da empregada o enlaçaram, ao mesmo tempo que seu olhar suplicante se conectava com a voracidade do garoto que um dia esteve em seu colo.
Então, seus lábios se conectaram mais uma vez. Ela o puxou para si com suas pernas, ele a puxou para si com suas mãos e então seus corpos estavam conectados. O primeiro movimento arrancou um gemido seco e frágil de Ilivana. Ele, um rosnado contido na garganta. A cada investida, a escrivaninha tremia, derrubando os papéis no chão, junto com o abajur e o quadro da família. Seus sons animalescos ecoavam pelo quarto, o suor percorria suas peles e as gotas do prazer manchavam o chão.
Foram os quinze minutos mais prazerosos no mês inteiro do Leonard.

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