Capítulo 69 - A Trama de Hideki I
Toda a região central de São Paulo já estava evacuada. Nenhum civil permanecia — apenas as tropas da Torre, reunidas diante da entrada da Estação da Sé. O Capitão Tom, ao receber a atualização da urgência, pegou o megafone com firmeza, direcionando sua voz para os agentes.
— Tahiko, soldados, avancem! — ordenou, o tom carregado de pressa e tensão.
Mas antes que pudessem mover-se, uma nova informação chegou. Todas as bombas da cidade haviam sido reunidas em um único ponto — seis dispositivos de longo alcance, capazes de devastar a capital em instantes. O peso da responsabilidade fez Tahiko apertar os primeiros degraus do acesso ao subterrâneo, seguido pelos soldados. O corredor os recebeu com luzes tremeluzentes, piscando em tons amarelados, como presságio de morte. O ar era denso, quase sufocante. E então, diante deles, alguém os aguardava. Estático, quase imóvel, ladeado pelas seis bombas. A luz revelou o rosto que Tahiko jamais esqueceria.
Hideki. O portador da Fundação. O mesmo que, em Dynami, derramou sangue inocente, matou o Capitão Williams, capturou Riley e humilhou Tahiko pessoalmente. Agora, frente a frente, não era apenas a cidade que estava em risco. Tahiko encarava, finalmente, sua chance de vingança.
— Seu maldito… Onde está Riley? E Nikki Williams? — rugiu Tahiko, o corpo vibrando com o ódio. — Onde estão?
Sereno, impassível, Hideki ergueu a mão direita, segurando discretamente uma cordinha quase invisível. Um clique sutil e a maçaneta da porta do banheiro do subterrâneo se moveu, abrindo-se. E então, caiu ao chão o corpo de Nikki Williams. Amarrado, boca lacrada, completamente à mercê.
Os soldados da Torre ergueram suas armas, miras apontadas para Hideki. Tahiko sentiu a raiva percorrer cada músculo. Fechou os punhos, pronto para avançar, mas o ar pareceu congelar quando Hideki ergueu o dedo indicador:
— Não tente nada… ou toda esta cidade se tornará pó.
— Não aponte esse dedo imundo pra mim, seu verme! — retrucou Tahiko, quase avançando.
Pela câmera no colete de um soldado, o Capitão Tom observava a cena do lado de fora, murmurando para si mesmo:
— Hideki… finalmente estamos frente a um deles.
— Antes de entregar o Nikki, proponho uma troca — disse Hideki, a voz fria como metal.
— Que tipo d— — começou Tahiko, interrompido pelo Capitão Tom através da câmera:
— O que fez com o soldado Nikki?
Tahiko olhou para o soldado ao lado, cerrando os dentes:
— Por que não silencia essa merda?
— Nada. Nada fiz a ele… — respondeu Hideki, a indiferença estampada no rosto.
Três dias atrás…
Num esconderijo da Fundação, pouco mobiliado, Hideki entrou. Riley estava sentado, rabiscando desenhos espalhados sobre a mesa. Hideki aproximou-se, colocando sobre a mesa uma vasilha com maçãs cortadas.
— Coma isto — disse, sentando-se em frente.
Riley pegou uma maçã, sem tirar os olhos dos desenhos.
— Quer? — ofereceu ao portador.
— Não. — seco.
O menino apenas assentiu, mordendo devagar. Após alguns instantes, quebrou o silêncio:
— Você tem tabuleiro de xadrez?
Hideki desviou o olhar, impassível.
— Não.
— Você gosta de xadrez? — insistiu Riley, arqueando as sobrancelhas.
— Não. — resposta curta, como uma lâmina.
O menino inclinou a cabeça, intrigado:
— Por quê?
— Porque não para de comer as maçãs? — rebateu Hideki, irritado.
— Eu gosto de xadrez… desde pequeno. — Riley sorriu levemente, ajeitando os desenhos.
O silêncio caiu pesado, mas o garoto não desistiu:
— Você não gostava quando era criança?
Hideki respirou fundo, tentando controlar a irritação:
— Se eu responder, você continua comendo e cala a boca?
— Sim. — a convicção de Riley foi clara.
— Eu desgosto de especulação e contemplação — respondeu Hideki, a voz seca.
— Mas xadrez é pensar e praticar… — Riley insistiu.
Hideki levou a mão à testa, murmurando consigo:
— Isso é chato…
— Hideki, apresente-se ao canto de Zarek — anunciou uma voz metálica vinda do microfone no canto da porta.
Ele se levantou sem hesitar. Riley continuou a mastigar calmamente o último pedaço de maçã.
— Estavam muito boas… — comentou, valorizando o gesto simples.
— Eu vou te fazer gostar de xadrez — Riley disse, sorrindo, selando um pacto silencioso.
Hideki abriu a porta e saiu sem olhar para trás.
[…]
Pouco depois, no quintal do esconderijo, um espaço com gramado aparado e árvores isoladas, Zarek estava parado, braços erguidos, com a teatralidade de sempre.
— Por que não está na sala? — perguntou Hideki, aproximando-se, firme e contido.
— Ah, Hidekizinho… Aqui é melhor. Sente esse ar poluído… até as pequenas cidades são horríveis, mas eu gosto daqui — respondeu Zarek, o tom carregado de teatralidade.
— Fui chamado. O que tem para mim? — direto.
Zarek aproximou-se, sorriso torto, olhar curioso.
— O que acha daquele menino? — sussurrou.
— Não é burro como a maioria da idade dele — respondeu Hideki, seco.
— Ah, claro… Saik, aquele que cooperou com a Torre em Dynami. — Zarek sorriu de escárnio.
Hideki permaneceu imóvel.
— Me chamou por mais alguma coisa? — questionou.
Zarek tirou do bolso uma fotografia dobrada, mostrando Nikki Williams.
— Quem é esse? — perguntou Hideki, já sabendo a resposta.
— Nikki Williams. Quero que acabe com ele. Está por perto. Elimine-o. — firme, quase paternal no gesto.
— E daqui a três dias, você e seu irmão irão a São Paulo. Sem adiamento.
— Por que não deixar o Tramen sozinho? — indagou Hideki.
— Não… adoro ver vocês trabalhando juntos. Sempre perfeito — respondeu Zarek, indulgente.
— Já entendi. Deixa comigo — afirmou Hideki, firme, sem espaço para réplica.
Na mesma tarde, Hideki atravessava uma região movimentada. A multidão se movia em pressa caótica, mas ele avançava com calma letal. Entrou numa lanchonete quase vazia, silêncio pesado em torno. O olhar de Hideki encontrou imediatamente o do outro cliente: Nikki Williams.
— Posso fazer companhia? — disse Hideki, puxando a cadeira.
Nikki olhou desconfiado, tomando um gole de suco.
— É… — murmurou, tenso.
— Está acompanhado? — investigou Hideki.
— Sim! — mentiu Nikki, tentando soar convincente.
Hideki percebeu. — Está mentindo. — e virou-se para os atendentes.
— Fechem o estabelecimento.
— Quem é você? — exclamou um deles.
— Não podemos fazer isso! — protestou outro.
Hideki suspirou, exasperado.
Nikki o encarou, lembranças brotando:
— Você… — murmurou. — Foi você… matou meu pai!
Em um movimento rápido, Hideki arremessou a arma Nullite S1 de Nikki em uma lixeira. A luta começou. Socos, cadeiras, faca… tudo desordenado, tudo inútil. Hideki desviava com precisão. Em um instante, torceu o braço de Nikki com brutalidade, derrubando-o. Um golpe certeiro no tendão encerrou a resistência.
Hideki permaneceu de pé, frio:
— Se sua missão era me matar, esqueça. Perda de tempo. — Sua voz cortava o ar. — Pode salvar milhões, se cooperar.
— O que… está falando? — gemia Nikki, incapaz de se erguer.
— São Paulo sumirá do mapa em poucos dias. Duas opções: cooperar e viver, ou recusar e morrer agora. — Pausou, deixando o silêncio esmagar Nikki. — O que vai fazer?
Olá, leitores! Sou o Kailan. Quero avisar que os capítulos de Akarui! serão publicados semanalmente, sempre às segundas, quartas e sextas-feiras. Fiquem ligados para não perder nenhum detalhe da história.
Observação: O Arco dos Corajosos está…
Amo vcs!

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.