Capítulo 56: Guerra sem palavras (1)
O monstro girou a barriga, lançando os braços para os lados em movimentos bruscos. Suas costas, antes dilaceradas, começaram a se regenerar rapidamente — a carne se fundia, recompondo-se até voltar a uma forma perfeita.
Sebastian cerrou os punhos, sentindo uma tortura aguda percorrer suas pernas, como se milhares de agulhas o espetassem de dentro para fora.
Takeshi, por sua vez, alongou lentamente as costas e o braço, preparando-se.
Então, a mesma névoa que Sebastian já havia presenciado emergiu novamente, agora escapando das costas dele. A névoa rastejou pelo chão e engoliu as pernas — não se via onde terminavam.
Os dois sentiram um arrepio atravessar o corpo — suor frio na barriga, um enjoo inexplicável, como se apenas olhar para aquilo fosse um erro.
Quando a névoa enfim se dissipou, a verdade surgiu: não eram mais pernas. Tentáculos se agitavam contra o chão, chicoteando com violência. Eram escuros como breu, e nas pontas havia um brilho fraco em tom arroxeado.
Eram pequenos, sim, mas exalavam uma letalidade sufocante. Suas formas eram uma aberração, algo que jamais deveria existir.
Os tentáculos arrastavam-se pelo chão de maneira macia, ondulando lentamente. Pequenas manchas cinzentas surgiam em sua superfície, apenas para desaparecerem segundos depois.
Sebastian ofegou, sentindo o pulmão falhar por um instante. O corpo dele se contraiu, buscando ar em desespero.
Takeshi o encarava de cima, firme, mas seus olhos carregavam algo mais profundo, como se lutassem contra o próprio impulso.
Até que…
Um som cortou o silêncio, ecoando pelo espaço e interrompendo o momento.
Crack. Crack.
— Alguém está forçando a porta… — Sebastian recuou instintivamente para o lado, a tensão evidente em sua voz.
A madeira cedeu num estrondo, e Lucius atravessou a abertura com um sorriso cansado.
— Ei, gente. Demorei… mas cheguei.
Takeshi e Sebastian sentiram seus corpos ficarem leves naquele instante, como se a gravidade diminuísse de repente.
— Saiam daqui! — Lucius ordenou, apontando para o buraco recém-aberto. — Rápido!
Os dois tremeram, mas não hesitaram. Com um salto ágil, se afastaram do perigo.
Takeshi sentiu uma onda de opressão percorrer seu corpo, e logo percebeu duas silhuetas correndo ao lado dele. Elas passaram em alta velocidade e desapareceram à frente, seguidas por Lucius que entrava rapidamente na cena. Cada um foi para um canto do buraco.
….
Agora, Takeshi e Sebastian permaneciam em um corredor estreito, iluminado apenas pelas lâmpadas vermelhas que piscavam de forma irregular, projetando sombras longas nas paredes.
Lucius surgiu do buraco deixado pela porta arrebentada.
— Tá, não me olhem desse jeito. Resolvi o problema… só não perguntem o que eram aquelas coisas. Melhor assim.
— E aqueles caras? — Sebastian disse acelerando.
— Relaxa. Eles estão vindo.
Lucius deu alguns passos para perto, e logo atrás dele duas figuras emergiram da escuridão, atravessando o mesmo buraco que ele.
Um homem surgiu à frente, trazendo consigo a aparência de quem havia atravessado uma longa jornada.
Usava um picote fino, as roupas cobertas por manchas de pó. Seus olhos, apagados e desanimados, carregavam o peso do cansaço, e seu rosto, marcado pelos anos, revelava a idade de alguém em torno dos trinta e nove. Os cabelos cacheados estavam bem alinhados, em contraste com o restante de sua figura.
Vestia uma camisa marrom, com pequenos potes presos próximos à gola que desciam até o ombro, um detalhe curioso do tecido. A calça era larga e preta, e nos pés trazia sapatos de ponta arredondada, lembrando a forma de um pão recém-assado.
— Já resolvemos o problema — disse, com voz grossa e pausada, cada palavra pesada como se exigisse esforço.
Sebastian respirou fundo antes de continuar:
— Se não fosse por vocês, sei lá o que teria acontecido com esses aqui.
Uma risada suave e animada cortou o ar, trazendo um contraste inesperado.
— Não precisa de tanta formalidade assim — respondeu a voz alegre de uma mulher que acabava de se aproximar.
Sua voz fina, graciosa, carregava uma firmeza que contrastava com a delicadeza do timbre. O cabelo negro e curto caía sobre um rosto marcado por traços precisos, e os olhos, estreitos e intensos, brilhavam em tons violeta-azulados — era impossível não sentir a energia que emanava deles.
Os saltos marrons ressoavam, impondo uma presença firme. A jaqueta vermelha, cortada por linhas violetas, vibrava com a mesma vitalidade de seu olhar, e o colar em forma de lua e estrela cintilava sob a luz.
Zíperes diagonais e fechos metálicos revelavam um ar moderno, quase rebelde, em contraste com a calça cargo ajustada, prática, repleta de bolsos e faixas neon que pareciam feitas para combate.
Os olhos de Takeshi pousaram sobre o colar; a cada instante, a sensação de curiosidade surgiu ao olhar.
— Tá olhando o quê? — a mulher tapou o nariz, dando alguns passos para trás. Sentindo um odor — Que cheiro horrível… não tomou banho?
Lucius soltou uma risada breve.
— É, realmente o cheiro é terrível. Mas vamos levá-lo para se lavar.
Todos voltaram os olhos para Lucius. A mulher, surpresa, levou a mão à boca, e no canto surgiu um sorriso discreto. O homem ao lado arregalou os olhos, embora permanecesse com a expressão neutra. Já Sebastian rangeu os dentes, o olhar trêmulo de indignação.
— Ficou louco, é?! Esse desgraçado quase matou todos nós, e você—
O homem ao lado tocou de leve o peito de Sebastian, pedindo silêncio.
— Precisamos apenas dos benefícios dessa luta. E me diga… o que você acha que esse garoto pode oferecer?
Lucius coçou a cabeça, pensativo.
— Hummm… vamos ver… — murmurou, levando o dedo ao queixo. — Ele tem informações valiosas, não é mesmo? — disse, lançando um olhar direto a Takeshi.
Takeshi apenas assentiu com a cabeça.
“Ele se lembrou disso!!!” O calor subiu ao rosto, e suas bochechas ficaram vermelhas ao recordar o momento em que havia revelado que guardava informações.
Lucius então estalou os dedos com um leve sorriso.
— Está vendo? Eu disse que ele tinha. Vamos usar isso para ficarmos em vantagem.
Uma voz cortou o ar em seguida, carregada de ironia.
— E como você pode acreditar nele? Mal o conhece e já confia assim… ou será que está pensando em outra coisa, senhor Lucius? — ela riu, como se já esperasse um desdobramento ainda mais intrigante.
Lucius permaneceu em silêncio por alguns segundos, o olhar sério fixo antes de se voltar lentamente para o assunto.
— Este mundo está mergulhado no caos. Precisamos de ajuda, de informações. Sem contar que ele estava ao lado de Ethan… logo, existe a possibilidade de realmente saber de algo. — A voz dele era firme, pesada. — Ou você tem outra ideia? — concluiu, encarando a mulher diante dele.
Ela apertou os punhos.
Depois, Lucius desviou o olhar e olhou para o homem, desta vez com um leve sorriso no rosto.
— Mas o meu objetivo é garantir que essas informações tenham valor. — Ele fez uma pausa, deixando o peso das palavras cair no ar. — Por isso, quero que você cuide dele, Marlon.
Marlon manteve o olhar fixo por alguns segundos, sem sequer piscar.
— Realmente faz sentido você ocupar um cargo maior — disse, enfim, enquanto começava a caminhar pelo corredor. — Vamos, garoto. Vou levá-lo, mas quero saber depois sua ideia.
— Fica tranquilo, zumbi. Vou dizer sim… mas vê se faz ele tomar um banho e vestir uma roupa decente. Ah, e quase esqueci: ninguém pode descobrir quem ele é de verdade. Isso poderia gerar um problema enorme.
A mulher não conseguiu conter as risadas. Sebastian apenas bufou, visivelmente contrariado, mas decidiu se calar.
Takeshi caminhou em passos firmes até alcançar Marlon.
“Odeio vocês… Não são vocês que a cada instante, têm que encarar uma nova luta!!!”
….
O silêncio se estendeu entre os dois. Aos poucos, já não conseguia ouvir nem ver o pessoal.
— Ei, garoto — Marlon quebrou o silêncio. — Você conseguiu perceber algo quando lutamos contra aquele monstro?
— Não… na verdade, nem notei nada. Não escutei barulho algum. O que exatamente vocês fizeram?
— Aquela mulher que você viu lá atrás tem uma habilidade bem especial. Graças a ela, a luta terminou rápido. Mas não pense que vencemos de verdade aquela criatura.
— Como assim? — Takeshi estreitou os olhos.
— Ela ainda pode se regenerar, por causa da tarefa. Aquilo é muito mais forte do que parece. Pra ser sincero, você e Sebastian teriam morrido juntos se não tivéssemos chegado a tempo. Pode considerar sorte.
Takeshi franziu a testa. — E o que vai acontecer com ela agora?
— Lucius vai cuidar disso. Não lutando diretamente, mas prendendo a criatura. Assim, evitamos que cause mais caos. Então, não… não vencemos. Foi tudo rápido apenas graças a um item raro, capaz de colocar qualquer ser em sono.
— Como funciona esse item?
Marlon lançou-lhe um olhar de canto, carregado de desdém.
— Você é curioso demais.
Takeshi permaneceu em silêncio diante da resposta seca.
— Você vai ser apenas uma peça, não alguém que precisa saber de tudo — disse Marlon, deslizando os dedos pela própria cabeça, num gesto lento. — Como eu sou responsável por você agora, é melhor obedecer… e não tentar lutar.
— Ok. Eu entendi — a voz curta, forçando-se a manter a calma. — Mas… se for possível, pode pelo menos tirar essas algemas?
Havia um cansaço nos olhos dele, e uma severidade contida que não combinava com gentileza.
— Quando chegarmos, eu trato disso — murmurou, devagar. — Por enquanto, há coisas que você precisa saber. O lugar para onde vamos… não é seguro. Você vai chamar atenção. Então esconda o rosto. Use qualquer coisa
Um calafrio percorreu a espinha de Takeshi. As algemas arranhavam a pele a cada movimento, e o nervosismo fazia seus dedos tremerem.
— E se alguém descobrir? — a voz afinando entre o medo e a curiosidade. — O que acontece comigo?
Marlon suspirou, longo e pesado.
— Você morre — respondeu, sem compaixão. — Morre como muitos que lutam com a loucura.
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