Capítulo 309: O Despertar
Com aquelas palavras, a silhueta da jovem tornava-se cada vez mais difusa, como se dissolvesse na escuridão.
Quem era aquela garota? A dúvida de Gu Jun cresceu enquanto ouvia. Por que ela estava no mundo mental de Xie Yiman? Como podiam estar ligadas desse jeito…
Pelas informações reveladas em suas falas… ela era uma streamer, mas o simples fato de tratar uma alergia de pele já lhe parecia ser um grande gasto, provavelmente não tinha uma renda alta e não era uma grande streamer. Essa paciente havia ido ao hospital. Onde estaria agora? Será que está entre os 156 pacientes atualmente identificados pela Phecda?
De repente, um lampejo atravessou sua mente. Não. Eles sempre haviam acreditado que Xie Yiman fosse a paciente zero, além de ser a mais grave.
E se não fosse? E se, na verdade, fosse essa jovem diante dele?
“Moça, eu quero ajudá-la!”, disse Gu Jun no mesmo instante. “Farei tudo que estiver ao meu alcance.”
“Você não pode me ajudar.” A voz da jovem soava cada vez mais sombria e pesada, como folhas de outono em decomposição. “Há problemas demais, você não pode…”
“Mas…” Gu Jun se apressava em falar, quando de repente sentiu uma onda colossal de impacto, como muralhas de pedra de um castelo em colapso, como demônios do abismo em gritos frenéticos. Ele tentou soltar um grito, mas só pôde observar aquela silhueta feminina sumir nas trevas…
De repente, a ilusão se desfez, e aquela coceira maldita também se dissipou.
“Ah!” Gu Jun voltou a si, ofegando fundo, antes de começar a respirar em grandes e rápidas golfadas.
Ao lado, viu Deng Ximei igualmente arfando, enquanto o tio Dan, Li Weiyuan e os outros ainda se ocupavam em tentar despertar Xie Yiman na cama do hospital. Ele olhou para a paciente, depois para os dados nos monitores. A pressão arterial e a frequência cardíaca, ambas estavam elevadas, mas não em nível perigoso. Perguntou: “Como ela está?”
“Vocês ficaram em transe por cinco minutos”, relatou o tio Dan. “A paciente apresentou uma instabilidade hemodinâmica, mas agora já voltou ao normal.”
“Eu vi a Xie Yiman…” Deng Ximei cambaleou, visivelmente exaurida em espírito. “Ela não conseguia se mover. Sentia uma coceira terrível, uma dor atroz. Estava quase sem forças. Eu a ajudei um pouco, dividi com ela a sensação da coceira… Mas parecia haver mais alguém lá.”
Gu Jun assentiu, pensativo. Ele não tinha visto Xie Yiman. Deng Ximei, por sua vez, não tinha visto aquela jovem?
De repente, uma ideia lhe ocorreu. E se aquela jovem fosse, na verdade, Deng Ximei?
No fundo, ele ainda não confiava cem por cento em Deng Ximei… mas isso era de se esperar. Afinal, ele sofria de transtorno paranoide persecutório.
Nesse momento, Gu Jun voltou a se lembrar de Wu Shiyu. Ele precisava de informações certas, de mais informações confirmadas.
Algum tempo depois, quando já tinha se passado cerca de dez minutos, Xie Yiman finalmente despertou. Devido ao efeito residual do relaxante muscular, seu corpo ainda não conseguia se mover. O lado positivo era que não havia movimentos musculares involuntários. O negativo, que seus olhos abertos transbordavam dor, enquanto de sua boca saía um gemido fraco e indistinto.
Normalmente, após despertar o paciente, aplica-se atropina e neostigmina para antagonizar os efeitos remanescentes do relaxante muscular, acelerando o alívio e a recuperação.
Mas todo fármaco traz efeitos colaterais. Como Xie Yiman havia acabado de sofrer uma instabilidade hemodinâmica, Gu Jun não se atreveu a medicar de forma leviana. Os sinais vitais estavam relativamente estáveis, e a dose anterior não fora elevada. Era melhor deixar que o efeito passasse naturalmente. Por isso, apenas instruiu a enfermeira que movimentasse os membros da paciente.
Passado algum tempo, Xie Yiman enfim conseguiu falar. Seus gemidos ganharam força: “Socorro… me salvem… tirem-me daqui…”
“Está tudo bem, está tudo bem.” Gu Jun a tranquilizou repetidamente. “Você já acordou, está tudo bem.”
Mas, por mais que ele dissesse, Xie Yiman não dava nenhuma resposta lúcida, apenas soltava palavras desconexas, claramente em estado de delírio.
Pacientes comuns também podiam apresentar delírio pós-anestésico. Portanto, se a consciência de Xie Yiman se restabeleceria ou não dependeria de como reagiria depois que o efeito dos fármacos passasse por completo.
Gu Jun pediu à enfermeira que coçasse o rosto dela. Isso pareceu surtir efeito. Os gemidos diminuíram, dando lugar a sons de respiração irregular.
Tio Dan e os outros também respiraram aliviados. Estava claro que não seria possível recorrer ao coma induzido. Se não fosse pela conexão espiritual de Gu Jun e Deng Ximei sustentando-a, talvez Xie Yiman já não estivesse viva. Do outro lado, no centro de comando, as discussões se acirravam. Seria esse um caso isolado? Ou todos os pacientes apresentariam o mesmo quadro? Uma única paciente é uma amostra insuficiente. Para uma questão médica assim, só examinando mais pacientes se alcançaria uma resposta.
Já que não conseguiria mais nada de Xie Yiman por ora, Gu Jun tomou algumas decisões. Ele saiu do quarto e, pelo rádio, comunicou-se com o centro de comando:
“A paciente zero é outra pessoa. Uma jovem, uma pequena streamer, que foi ao hospital e foi diagnosticada com alergia de pele durante a madrugada. Encontrem-na imediatamente. Ela é muito importante!”
O centro de comando entrou imediatamente em ação. Entre os 156 pacientes registrados até agora, não havia nenhuma correspondência. Essa paciente ainda não fora identificada!
Se ela tivesse ido a um hospital regular, posto de saúde ou clínica particular, não seria difícil localizá-la, já que as características e o horário da consulta estavam claros. Mas isso ainda levaria algum tempo.
Gu Jun só esperava que a encontrassem logo, e que não fosse para receber a notícia de sua morte…
“Yu de mente suja, venha já, preciso de você.” Logo em seguida, ele fez outra ligação. Havia coisas que não previra no início.
“Entendido”, a voz de Wu Shiyu soou pelo telefone. “Quer que eu leve algo para comer?”
“Traga alguns pratos de arroz com porco assado”, disse Gu Jun sem nem precisar pensar. “Traga várias porções, todos aqui precisam repor energias.”
“Então vou acrescentar uma coxa de frango para você”, disse Wu Shiyu.
Chamar a Yu de mente suja não tinha a ver com a comida, isso era só um extra. O que Gu Jun queria mesmo era perguntar a Deng Ximei sobre a técnica da barreira mental e o sentido de comunicação empática da Yu de mente suja poderia funcionar como uma espécie de detector de mentiras.
Depois daquele dia, Deng Ximei já tinha apresentado os poemas e retratos que conhecia, mas a técnica da barreira mental ainda não.
Porque isso para ela era extremamente difícil. Pedir-lhe que explicasse o princípio era quase o mesmo que pedir que descrevesse como havia inventado para si mesma uma barreira mental.
A questão da barreira mental ainda não era clara para a Phecda. E havia uma dúvida que atormentava Gu Jun, o culto da Vida Após a Morte certamente já sabia que a Deng Ximei havia se unido à Phecda, mesmo assim recorreram ao ritual do “Verme Conquistador”. Primeiro os vídeos heréticos, depois essa doença bizarra, seria por falta de alternativas, ou haveria outro propósito por trás?
Ele se inclinava para a segunda hipótese, mas não sabia que papel Deng Ximei teria nesse enredo.
Pouco depois, Wu Shiyu chegou acompanhado de uma equipe do departamento de feitiços e do departamento de recreação, trazendo também algumas comidas.
Sem perder tempo, Gu Jun chamou Deng Ximei de lado. Wu Shiyu, meio travessa, agarrou-se ao ombro dela como uma coala numa árvore, piscando para Gu Jun: “Tudo pronto, pode perguntar.” Será que não podia ser mais discreta? Ainda bem que a comunicação empática não exigia uma conexão espiritual direta, assim não haveria problema.
“Ah Mei, eu estava pensando… será que a técnica da barreira mental poderia ser usada nos pacientes?”, perguntou ele. “Talvez assim eles conseguissem resistir àquela coceira insuportável?”
“…não é possível.” Ao tocar nesse tema, a expressão serena de Deng Ximei se turvou. “A barreira mental não pode ser aplicada a qualquer pessoa. É necessário certo talento espiritual, além de um tempo considerável para a construção. No mínimo, levaria um mês… Com o estado mental atual desses pacientes, eu sinto que não funcionaria.”
Wu Shiyu, ainda agarrada a ela, lançou um olhar para Gu Jun. Ele compreendeu de imediato. A Yu de mente suja julgara que, naquele momento, Deng Ximei não estava mentindo.
Na verdade, ele também não acreditava que Deng Ximei estivesse fingindo.
Talvez o Culto da Vida Após a Morte possuísse informações sobre o “Verme Conquistador” que nem mesmo ela conhecia, obtidas a partir daquelas outras crianças espirituais…
Nesse instante, o tio Dan veio apressado, a voz carregada de urgência: “Ah Jun, o rosto de Xie Yiman apresentou um novo sintoma!”
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