Índice de Capítulo

    Na penumbra de uma câmara subterrânea, os Elfos Negros se reuniam. A sala era esculpida em pedra negra, com tochas tremeluzindo nas paredes. Os capuzes sombrios ocultavam seus rostos, mas seus olhos brilhavam escondendo mistérios e segredos.

    Um deles, batia impaciente o pé no chão frio. — Milveg demora demais — resmungou. — O que ele está fazendo?

    Mas antes que a impaciência pudesse se transformar em raiva, a porta se abriu.

    Um homem alto, vestido de negro, entrou. Os Elfos se ergueram, mãos indo instintivamente para as adagas em suas cinturas.

    “Quem era esse intruso?” pensavam.

    — Milveg está de férias — disse o homem, sua voz calma como o vento noturno. — Eu sou Ryan. E agora, estou no comando.

    Os murmúrios se espalharam.

    Ryan? Quem era ele? Mas antes que pudessem reagir, espectros emergiram das sombras. Soldados trajando armaduras negras, com olhos sem vida e espadas afiadas. Os Elfos recuaram, gargantas secas.

    Ryan se sentou no chão, as pernas cruzadas. — Continuem — ordenou. — O que está acontecendo?

    Um dos Elfos, trêmulo, falou. — Miogve está morto. Alguns de nossos principais nomes também. E estamos perdendo a guerra contra Runyra…

    Ryan assentiu, como se esperasse essas notícias.

    Ele pegou uma xícara de chá — E agora, onde estão as boas notícias?

    Outro Elfo Negro se adiantou, entregando um pergaminho. — Nobres de Runyra conspiram contra o rei. Dez navios partirão de uma ilha no norte para o continente…

    Ryan leu o pergaminho rapidamente. — Cessem os ataques — ordenou. — Quero ver como esses nobres e os navios de guerra podem mudar o jogo.

    A luz dos orbes tremeluzia, lançando sombras dançantes nas paredes de pedra. Ryan observava cada rosto tenso.

    O mais velho do grupo, falou primeiro

    — Também tivemos vitórias. A cidade de Thalor caiu, e o rei de Runyra está enfraquecido. Ele não tem muitos homens a sua disposição.

    Ryan se inclinou para a frente. — Certo, a partir de hoje, honraremos o deus morto em seus templos e monastérios. Construiremos estátuas em sua honra. Grandes monumentos que desafiem a Santa de Runyra.

    Os Elfos não gostaram de ouvir aquilo, mas não tiveram coragem de retrucar.

    — Quando eu precisar de vocês, eu os convoco.

    Após erguer-se, Ryan deixou a sala.


    Dez navios de guerra avançavam como bestas marinhas, suas proas imponentes rompendo as placas de gelo com estalidos que ecoavam pelo silêncio gélido.

    O céu, anuviado, e o mar, um manto escuro pontilhado de flocos de neve.

    Cada navio, colossal em seu tamanho, estava armado com canhões prontos para o combate, as bocas de ferro apontando como predadores vorazes.

    Aos poucos, uma silhueta indistinta começou a tomar forma no horizonte, revelando o contorno de um continente há muito aguardado.

    À medida que os navios se aproximavam, uma vila pacata emergia das sombras, suas construções de madeira e pedra alinhadas de maneira ordenada ao longo da costa.

    Pequenos chalés, uma praça central com um poço e algumas lojas humildes compunham a paisagem tranquila, enquanto os habitantes, envoltos em suas rotinas, permaneciam alheios à ameaça que se aproximava.

    Sem aviso, o silêncio foi rompido pelo estrondo ensurdecedor dos canhões.

    Boom! Boom! Boom!

    As balas de ferro cortaram o ar com um assobio sinistro, caindo sobre a vila com precisão assustadora. Explosões sacudiram o chão, lançando destroços e chamas ao ar.

    Casas foram reduzidas a escombros em questão de segundos, e a praça central se transformou em um campo de batalha infernal. Gritos de terror e dor ecoaram, enquanto os sobreviventes corriam em busca de abrigo, apenas para serem engolfados pelo fogo ou esmagados pelos destroços.

    Dez escotilhas se abriram nos flancos dos navios, e magos de vestes vermelhas desceram em fileiras ordenadas, suas mãos brilhando com o poder arcano.

    Cada um deles começou a conjurar chamas e relâmpagos, lançando-os contra o que restava da vila.

    Ao lado deles, homens enormes em armaduras reluzentes marchavam com precisão militar, suas espadas e machados descendo impiedosamente sobre qualquer um que cruzasse seu caminho.

    A resistência foi esmagada com brutalidade e eficiência, e em minutos, a vila foi reduzida a um mar de ruínas fumegantes e corpos.

    Na proa de um dos navios, Linald observava a cena com uma mistura de fascinação e horror. Seus olhos azuis refletiam as chamas dançantes abaixo, enquanto ele absorvia o espetáculo de destruição.

    Ele já ouvira histórias sobre o poder dos magos da Ilha das Brumas, mas testemunhar tal devastação em primeira mão era algo completamente diferente.

    — Vamos vencer — murmurou — Vamos vencer o rei!

    Ao seu lado, uma figura imponente se aproximou. O general Aeldric, um homem de feições duras e olhos sombrios, parou ao lado de Linald, sua armadura reluzindo com o reflexo das chamas.

    — A visão é impressionante, não acha? — disse Aeldric, sua voz grave ressoando no ar frio.

    Linald desviou o olhar das ruínas para encarar o general. — Sim, mas o que faremos agora, general? Avançar por todo norte com esses homens?

    Antes que Aeldric pudesse responder, Naryn, um estrategista conhecido por sua astúcia e frieza, se juntou a eles.

    — Devemos nos dividir — declarou ele, sem preâmbulos. — Forças menores arrasam as vilas ao longo do caminho. Uma força mais numerosa marchará diretamente para a Cidade de Gelo dos Gigantes. Nosso objetivo é claro: matar Closgant, o rei dos gigantes.

    Aeldric ponderou por um momento, seu olhar fixo em Naryn. Então, com um aceno firme, ele concordou. — Muito bem. É um plano ousado, mas eficaz. Você, Linald dos nobres de Runyra, deve retornar para sua cidade.

    — Certo…

    Com um movimento decidido, Aeldric ergueu sua trombeta de guerra e soprou uma nota longa e penetrante.

    Fuoooooon!

    O som ecoou pelo campo de gelo, alcançando os ouvidos dos guerreiros e magos. Imediatamente, a marcha recomeçou. Os homens se organizaram em formações disciplinadas, prontos para seguir as ordens do general.

    Era hora de recolher os espólios. As ordens foram claras: não apenas riquezas e suprimentos seriam tomados, mas também mulheres e crianças.

    A brutalidade da guerra exigia sacrifícios, e a sobrevivência dependia de recursos e novos súditos para fortalecer suas fileiras.

    Linald observou enquanto os soldados vasculhavam as ruínas, arrancando portas, vasculhando escombros e arrastando os sobreviventes.

    As mulheres gritavam, as crianças choravam, mas a disciplina dos invasores era implacável. Não havia espaço para piedade no coração daqueles homens endurecidos pela guerra.


    O castelo de mármore erguia-se majestoso contra o horizonte, suas torres e muralhas refletindo a luz do sol com um brilho etéreo.

    Cada pedra polida parecia contar uma história centenária, e as sombras dançavam ao longo dos corredores largos e resplandecentes.

    Adornando o exterior e o interior do castelo, estátuas impressionantes de seres híbridos — uma mistura fascinante de humanos e animais — guardavam os portões e corredores.

    Com suas poses dinâmicas e expressões vívidas, essas figuras esculpidas pareciam ganhar vida sob a luz suave das tochas.

    Adris, conhecido como o Rei dos Elfos do Mar, avançava pelo enorme salão, escorado em sua bengala de madrepérola.

    Suas vestes ondulavam ao seu redor, feitas de tecidos finos e leves.

    O salão era uma maravilha de arquitetura, com abóbadas altas sustentadas por colunas de mármore esculpido, que se misturavam perfeitamente com as estátuas híbridas que observavam de seus pedestais elevados.

    Os habitantes do salão eram tão exóticos quanto as estátuas. Seres humanoides com características de felinos e canídeos.

    Atrás de Adris, um pequeno grupo de Elfos do Mar seguia em silêncio, suas expressões sérias e reservadas.

    Eles se moviam com a graça e a fluidez da água, seus olhares fixos no trono à frente.

    Ali, sentado com uma majestade indomável, estava Grakk, o Rei da Grande Ilha Marcada do Sul.

    Grakk era um homem-tigre, sua pele listrada de laranja e preto contrastando com os olhos verdes brilhantes que observavam Adris com uma mistura de curiosidade e desconfiança.

    Seu trono, esculpido em osso de baleia e adornado com plumas e dentes de aves.

    Adris parou diante do trono e fez uma reverência respeitosa, seus movimentos lentos e deliberados.

    — Saudações, Rei Grakk — começou ele, sua voz suave e melodiosa. — Eu sou Adris, Rei dos Elfos do Mar. Trago os cumprimentos do Rei Colin de Runyra, do continente. Serei direto para não tomar seu tempo nem o meu… Meu rei, deseja estabelecer uma aliança com vossa majestade, uma união que beneficiaria tanto nossos povos quanto os seus.

    Grakk inclinou-se ligeiramente para a frente, seus olhos estreitando-se enquanto estudava Adris.

    — E por que o Rei Colin de Runyra deveria buscar uma aliança conosco, habitantes da Grande Ilha Marcada do Sul? — sua voz era grave e cheia de autoridade. — Homens como ele não buscam alianças deliberadamente, diga suas intenções, Runyriano.

    Adris sorriu levemente, mantendo a calma. — O Rei Colin reconhece a força e a sabedoria de vosso povo. Em tempos de guerra, alianças são essenciais para garantir a sobrevivência e prosperidade de todos. Juntos, podemos enfrentar ameaças comuns e garantir um futuro seguro para nossas terras.

    Grakk emitiu um som gutural, um misto de riso e desprezo. — Há séculos, um rei do continente veio até aqui, prometendo paz e prosperidade. Mas ele trouxe apenas destruição e ruína para nosso lar. As cicatrizes daquele tempo continuam frescas em nossa memória. Por que deveríamos confiar novamente em palavras vazias de um rei que os boatos dizem ser louco e desonroso?

    Adris assentiu lentamente.

    — Entendo a vossa hesitação, Rei Grakk. O seu passado com o povo do continente é uma história complicada… Mas peço que considerem o presente e as circunstâncias atuais. O Rei Colin não é como seus antecessores. Ele busca redenção e uma chance de provar sua lealdade e honra, uma chance de estabelecer a paz entre nós, quem sabe, uma aliança longa e duradoura que entraria para a história.

    Grakk ergueu uma mão, silenciando Adris.

    — O vento me trouxe as notícias. Esta é uma guerra sua e do Rei de Runyra. Não temos interesse em nos envolver em conflitos que não nos dizem respeito. Nosso povo já sofreu demais às mãos dos homens do continente. Não repetiremos os erros do passado.

    Adris abriu a boca para responder, mas Grakk levantou-se do trono, sua presença imponente dominando o salão.

    — Vocês são livres para partir, mensageiro. Mas levem esta mensagem de volta ao vosso rei: não desejamos ter nada com os homens de Runyra. Esta é a guerra de vocês, não nossa.

    Com um aceno final, Grakk virou-se e saiu do salão, deixando Adris e seus seguidores em silêncio. Adris, com os olhos cheios de determinação, ergueu sua bengala e deu um passo à frente.

    — Rei Grakk, o abismo avança. Se não ajudarmos o Rei Colin, o abismo chegará até aqui e destruirá tudo o que conhecem. Não é apenas uma questão de aliança, mas de sobrevivência.

    Grakk voltou-se lentamente, os olhos verdes brilhando com uma fúria contida.

    — Confio no Rei Colin e sei que ele não deixará isso acontecer. Mas isso não muda o que peço: saiam do meu país e nunca mais voltem. Se algum outro mensageiro for enviado, será morto. Qualquer mensagem será destruída imediatamente. Se continuarem a nos importunar, o abismo não será a única coisa que o Rei Colin precisará se preocupar.

    Adris tentou manter a calma, mas a urgência em sua voz era evidente.

    — Vossa majestade, o Rei Colin está salvando o continente. Ele não é como o homem que destruiu vossa ilha. Colin nunca faria nada assim.

    Grakk deu um passo ameaçador em direção a Adris, seus olhos brilhando com uma intensidade mortal.

    — Se disser mais uma palavra, enviarei sua cabeça ao rei de Runyra.

    Adris engoliu em seco, sentindo o peso da ameaça. Ele abaixou a cabeça em sinal de rendição e recuou lentamente, os passos ecoando pelo salão silencioso.

    Os Elfos do Mar que o acompanhavam seguiram seu líder em silêncio. A tentativa de uma aliança havia falhado miseravelmente.

    Adris sentiu um nó apertar em seu estômago enquanto deixava o castelo. As estátuas híbridas que antes pareciam apenas guardiões agora pareciam juízes silenciosos de sua derrota. A rejeição de Grakk foi clara.

    Retornar a Runyra com tais notícias seria um golpe duro.

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