Índice de Capítulo

    O garoto estava ajoelhado à beira do rio, as mãos pequenas e ágeis segurando um balde de madeira enquanto o enchia com a água límpida.

    Ele observou seu reflexo tremulando na superfície, os olhos grandes e curiosos fixos nas ondulações. Com o balde cheio, levantou-se e seguiu em direção à pequena cabana onde vivia com sua mãe.

    Ao chegar em casa, ele acendeu o fogo a lenha com habilidade e cuidado. Despejou a água do balde em uma panela sobre as chamas, esperando pacientemente a água aquecer.

    O som reconfortante do crepitar da madeira preencheu a sala enquanto ele molhava um pano na água quente, torcendo-o com habilidade.

    Com o pano quente em mãos, o garoto dirigiu-se ao quarto de sua mãe.

    Ela estava deitada, pálida e doente, os olhos fechados e a respiração fraca.

    Suas feições marcadas pelo sofrimento contrastavam com a suavidade de seu rosto. Ele passou gentilmente o pano úmido em seu rosto, tentando aliviar um pouco de sua dor.

    De repente, ouviu batidas na porta. A mãe abriu os olhos, fracos, e sussurrou: — Vá atender.

    O garoto correu até a porta, abrindo-a com curiosidade. Diante dele estava uma mulher bonita, de cabelos e olhos verdes que brilhavam como esmeraldas. Ele ficou vislumbrado com sua presença.

    Ele a conhecia pelos boatos. Brighid sorriu gentilmente, abaixando-se para ficar à altura do garoto.

    — Oi! Foi você quem pediu ajuda? — perguntou Brighid, sua voz suave e reconfortante como o toque de uma arpa.

    O garoto assentiu vigorosamente, os olhos cheios de esperança. — Minha mãe está doente…

    — Leve-me até ela — disse Brighid, colocando uma mão reconfortante no ombro do garoto. — Posso ajudá-la.

    Eles caminharam até o quarto onde a mãe do garoto estava deitada. Brighid analisou a situação com um olhar experiente, colocando a mão na testa da mulher.

    — Pode se acalmar, não vai doer nadinha, prometo! — disse com um sorriso gentil.

    Uma luz esverdeada começou a envolver a mãe do garoto, pulsando suavemente. Após alguns minutos de concentração, a mãe abriu os olhos e sorriu fraco para seu filho, que a abraçou com força, lágrimas de alegria escorrendo por seu rosto.

    — Prontinho! — Brighid olhou para a mulher com preocupação. — Sabe me dizer como isso começou?

    A mãe balançou a cabeça, confusa. — Não me lembro… Foi de repente…

    Brighid suspirou, a expressão séria. — Centenas de casos como o seu começaram a aparecer na cidade. Acho que isso pode ser transmitido pelo ar. Por sorte, ninguém morreu ainda.

    A mulher se esforçou para levantar, inclinando-se e encostando a cabeça no chão em um gesto de devoção. — Eu sou sua devota desde Ultan — murmurou. — Eu sabia que a senhora viria.

    Brighid rapidamente a ajudou a deitar-se novamente. — Por favor, descanse. Você precisa recuperar suas forças.

    A mulher assentiu, grata. Brighid levantou-se, olhando para o garoto. — Há outras pessoas precisando de minha ajuda. Cuide bem dela, tá bom?

    O garoto assentiu, observando enquanto Brighid deixava a cabana. Virou-se para sua mãe, que sussurrou com um sorriso fraco. — Confie nela… Ela nos salvou mais de uma vez. Confie no rei… na família real. Eles vão nos salvar…

    O garoto segurou a mão da mãe, sentindo a esperança renascer em seu coração.


    Brighid, exausta, caminhava pela vila ainda envolta na penumbra da madrugada. Sua missão de ajudar os necessitados a levara de casa em casa, ouvindo anseios, curando os enfermos e oferecendo consolo aos aflitos.

    As faces marcadas pelo sofrimento refletiam a gravidade da situação, e Brighid fazia o possível para trazer esperança e alívio àqueles que encontrava.

    A luz esverdeada de sua magia iluminava a escuridão, trazendo um brilho de esperança nas casas que visitava.

    O cansaço pesava em seus ombros enquanto o sol começava a despontar no horizonte. Sentia cada fibra de seu ser clamando por descanso, mas a determinação a mantinha em movimento.

    Com passos lentos e cuidadosos, Brighid finalmente retornou ao palácio.

    As escadas do palácio pareciam intermináveis.

    Cada degrau era um esforço consciente, como se o próprio castelo testasse sua resiliência. Mas ela subia com calma, fiel à sua causa.

    Ao abrir a porta de seu quarto, Brighid encontrou uma cena que instantaneamente recarregou suas energias: Colin, sentado em uma poltrona, observava atentamente os cinco bebês que brincavam ao seu redor.

    O sorriso de Colin ao vê-la trouxe uma sensação de calor e conforto.

    — Como foi? — perguntou ele, colocando o livro de lado.

    Brighid, exausta, acomodou-se no chão, rodeada pelas crianças que brincavam com seus pequenos tesouros de madeira.

    Ela balançou alguns brinquedos improvisados, como se buscasse dissipar a fadiga que pesava sobre seus ombros. — Foi cansativo — admitiu. — Centenas de pessoas adoeceram de forma súbita, e a causa permanece um enigma.

    O franzir de testa de Colin denunciava sua preocupação. — Ayla está investigando, mas há um problema maior. — Ele pausou, escolhendo as palavras com cuidado. — Isabella desapareceu.

    Brighid ergueu os olhos, surpresa. — Quando foi isso?

    — Faz alguns dias — respondeu Colin, com um tom sombrio. — Todos os espiões dela também desapareceram. Nem mesmo Elhad sabe onde ela está.

    Astuta, uma questão surgiu na mente dela.

    — Você acha que ela poderia ser uma traidora? — perguntou Brighid, a incredulidade em sua voz.

    — Isso é impossível — disse Colin, balançando a cabeça. — Ela e Ayla têm um pacto ligado à vida. Podem tê-la assassinado. Pode ter sido obra dos Elfos Negros ou… outra coisa, uma ameaça interna talvez.

    Brighid mordeu a ponta do dedão, pensativa. — Ayla já cuidou de tudo, certo? Dos traidores e conspiradores.

    — Já — disse Colin, suspirando. — Mas Runyra está fragilizada. Oportunistas podem ter surgido nesse tempo de crise.

    Brighid franziu a testa, a preocupação crescendo. — Colin… Você acha que pode estar se formando uma tentativa de golpe?

    — Não sei — respondeu. — Mas não descarto a possibilidade.

    Brighid, sentada no chão, balançava os brinquedos com uma distração que escondia a tempestade em seu coração. 

    — Se isso estiver mesmo ocorrendo, as crianças não poderão ficar em Runyra. Eu não quero reviver o que aconteceu com Ultan.

    Colin, com sua voz firme e gentil, chamou sua atenção. — Estou na cidade, Brighid. Nada acontecerá enquanto eu estiver aqui.

    Ela desviou o olhar, um suspiro escapando de seus lábios. — Desculpe, Colin. Estou apenas preocupada. Tem as pessoas da vila, nossos filhos, as crianças… Tem muita coisa em jogo…

    Colin se ergueu e se agachou ao lado dela, a palma da mão acariciando seu rosto. — Você confia em mim?

    Os olhos de Brighid brilharam, refletindo a luz tênue dos orbes. — Sim.

    — Então, fique calma. Darei um jeito, como sempre. Você não precisa se preocupar.

    Brighid ainda desviava o olhar, a ansiedade marcando sulcos em sua expressão. — Ainda não consegui decifrar o artefato do avô de Morwyna.

    Colin a interrompeu com um beijo suave. — Está tudo bem. Descanse. Cuidarei das crianças hoje.

    Ela retribuiu o beijo e agradeceu, levantando-se e se retirando do quarto. Colin manteve os olhos nas crianças, observando-as brincar por um momento antes de voltar para sua poltrona.

    Pensativo, ele ponderava sobre as ameaças que ainda pairavam sobre ele e sua família.

    Será que os nobres estavam conspirando novamente contra ele?

    A irritação começou a crescer em seu interior. Eles nunca se cansavam de tentar arruinar o que ele havia construído, mesmo que ele tivesse os poupado.

    “Se for mesmo isso… então é melhor fazer como Ayla… sem segundas chances…”

    De repente, ouviu batidas na porta. Uma voz do outro lado anunciou: — Senhor, alguém deseja vê-lo.

    Colin franziu a testa. — Quem?

    — É Josan. Ele retornou — respondeu Tuly.

    Colin respirou fundo, afastando a irritação. — Peça para ele entrar.

    Ele se endireitou na poltrona, preparando-se para a chegada de Josan que entrou na sala com passos lentos e pesados, parte de seu corpo enfaixado e com vários curativos visíveis. Colin observou o estado do homem.

    — O que aconteceu? — perguntou.

    — Conseguimos eliminar 80% da lista que a rainha Ayla nos entregou — respondeu Josan, a voz cansada.

    Colin fez um gesto para que ele se sentasse, e Josan se acomodou com dificuldade, lançando um olhar às crianças que brincavam no chão.

    — Yonolondor perdeu um braço — continuou Josan, a tristeza na voz. — Não tínhamos curas suficientes para tratá-lo… Leona e Lettini foram gravemente feridas, mas estão bem. Milveg apareceu de repente… ele estava enfrentando uma mulher, uma mulher poderosa… Ela era alta, usava armadura escura e exalava uma energia inigualável do abismo…

    Colin estreitou os olhos. — O que aconteceu com ela?

    — Eles desapareceram — disse Josan. — Isso é tudo o que tenho para relatar.

    Josan então respirou fundo, como se preparasse para um discurso. — Senhor… tenho um pedido a fazer.

    — Continue — disse Colin, encorajando-o.

    — Quero me afastar das missões por enquanto — disse Josan, olhando para as crianças. — Casei-me não faz muito tempo, e soube que minha esposa está grávida de alguns meses. Quero ficar fora um tempo para cuidar dela. Sei que você é pai, então espero que entenda…

    Colin abanou uma das mãos, sinalizando compreensão. — Tudo bem.

    Ele se levantou e estendeu a mão para Josan, um gesto de respeito inédito. — Agradeço pelos seus serviços, Josan. Cuide bem da sua esposa. Ser marido não é fácil.

    Josan apertou a mão de Colin, surpreso pela consideração. — Obrigado, senhor.

    Colin assentiu. — Mude-se para a cidade. Posso proteger você e sua esposa se estiverem por perto.

    Josan estranhou a educação de Colin, mas aceitou. — Tudo bem.

    — Não tivemos um começo bom, mas você é um bom homem — disse Colin, um raro elogio.

    Josan agradeceu novamente e se retirou. Colin voltou para sua poltrona, observando as crianças enquanto ponderava sobre a situação.

    Estava ficando sem pessoal, e a guerra parecia interminável. Sabia que só havia um jeito de terminar, derrotando Milveg de uma vez por todas.


    O dia passou em um ritmo tranquilo, apesar das preocupações que atormentavam o rei. Ele brincou com as crianças, levando-as para o almoço, penteando o cabelo das meninas e lendo com os meninos.

    A casa estava cheia de risadas e alegria, algo raro em tempos de guerra. À tarde, ele leu para todos eles histórias de bravura e aventuras, os pequenos olhos brilhando de entusiasmo.

    Quando o sol começou a se pôr, ele os colocou para dormir, um por um, beijando-lhes a testa e sussurrando palavras reconfortantes.

    Finalmente, ele voltou para seu quarto escuro e sentou-se na poltrona, soltando um longo suspiro. Fechou os olhos, deixando-se levar pela exaustão do dia.

    Ao abri-los novamente, viu Jane sentada em seu colo, um sorriso sedutor nos lábios. — O que preocupa o meu senhor? — perguntou ela, a voz melíflua.

    — Para onde Isabella foi? — Colin pergunta, a frustração evidente em suas palavras.

    Jane fez um beicinho e o abraçou, apoiando a cabeça no peito dele. — Eu não sei — disse ela, fingindo tristeza.

    Colin estreitou os olhos. — Você deveria saber.

    Jane fingiu chorar, o som melodramático. — Faço tudo o que você manda e ainda assim você me trata como uma qualquer… não cansa de ser malvado comigo?

    Um silêncio pairou entre eles antes que Colin falasse novamente. — Vou te dar o braço, mas sob uma condição.

    — Sério? — Jane, empolgada, começou a pular no colo dele. — O que é? É só dizer, faço qualquer coisa!

    — Você não pode se transformar em mim sem me avisar — respondeu ele.

    Jane o abraçou com força. — Eu faria isso sem problema — disse ela, curiosa. — O que te fez mudar de ideia tão rápido?

    Colin sorriu de canto, sua mão acariciando o rosto dela, o polegar passando pelos lábios carnudos da súcubos. — Porque você merece — disse ele, a voz baixa e suave. — Você é a única que sabe quem eu realmente sou, e não posso deixar isso desaparecer.

    Ele ofereceu o braço direito, e Jane se afastou.

    Sua cabeça transformou-se na de uma aranha gigante, com olhos múltiplos e presas ameaçadoras. Em um movimento rápido, ela abocanhou o braço de Colin, mastigando-o. O braço dele começou a se regenerar quase instantaneamente.

    — Satisfeita? — perguntou, observando-a.

    Jane voltou ao normal, corada como pimenta. Ela assentiu e beijou o rosto dele. — Vou fazer algo incrível para você! — prometeu, antes de se transformar em uma aranha minúscula e escorregar para a escuridão.

    Colin sabia que Jane o estava usando, mas decidiu usá-la também. Ficou curioso para saber o que ela tanto escondia.

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