Capítulo 148: A Compra da Loja de Tornozeleiras
Loja de Tornozeleiras Erwahllu!
Era uma loja precária, com três metros de largura e poucos metros de profundidade. Na entrada, havia uma mesa velha onde um monte de tornozeleiras estava exposto. A julgar pela poeira que as cobria, fazia tempo que nenhum cliente aparecia.
As tornozeleiras estavam sem vender há meses. Sentada atrás da mesa, com um leque de papel nas mãos e o olhar perdido nelas, uma velha senhora vigiava a rua estreita.
Esta rua estreita já foi uma área movimentada, quando uma gangue local atuava ali e a usava como sede. Mas quando o nível de suas atividades ficou chamativo demais, o Senhor da Cidade enviou tropas para conter a perturbação.
A gangue foi desmantelada. Os membros foram punidos de acordo com seus crimes. Aqueles que cometeram delitos mais leves foram condenados à vida nas minas. O resto foi morto.
Infelizmente, os membros da gangue eram filhos e parentes dos donos das lojas desta rua. Com a gangue desfeita, os pais mais velhos ficaram desolados. A maioria deles apenas esperava pela morte, sentados à toa em suas lojas.
Erwahllu era uma dessas mulheres. Ela estava com oitenta e poucos anos e apenas contava os dias para sua morte.
Ao lado da loja havia um portão que levava a um amplo pátio com pelo menos duzentos metros quadrados de área. Este costumava ser o setor de logística da loja. À direita e à esquerda do pátio, havia prédios que serviam como oficinas para criar as tornozeleiras.
Um era uma unidade para processar as matérias-primas, enquanto o outro era para o processo de entalhe final. Ambos estavam em ruínas agora, tendo sido abandonados por anos, senão décadas.
No fundo do pátio havia uma casa. Era uma casa de dois andares com uma varanda no topo, nada luxuosa para a região, mas era confortável o suficiente para morar.
Quando Inala procurava um lugar para morar pela cidade, ele topou com a casa.
Ao parar perto da entrada, Inala encarou Erwahllu e fez uma reverência: — Vovó, cheguei.
— Eu já passei a propriedade deste lugar para você — Erwahllu nem piscou enquanto colocava uma placa sobre a mesa. Nela estavam esculpidos o nome e o rosto de Inala, confirmando sua propriedade do local.
No verso estavam esculpidos um mapa e as medidas exatas da extensão de terra que ele possuía. Já havia sido registrado.
Inala mal usou metade do dinheiro que roubou de Safara para fazer a compra. Considerando que este beco estreito ficava ao lado da estrada principal, ele praticamente o conseguiu por uma ninharia.
— Vovó, esta é minha esposa, Asaeya — Inala apontou para a mulher ricamente vestida e então ergueu a pequena Gannala, aproximando-se de Erwahllu. — Ela é minha filha.
— Que criança encantadora — Erwahllu sorriu com ternura enquanto tocava a pequena Gannala. Seus olhos umedeceram, lembrando-se de sua família que havia sido morta.
Muitos mercadores a procuraram após aquele incidente para comprar sua propriedade. Todos eles estavam estabelecidos na estrada principal. Assim, poderiam com facilidade estender os espaços de suas lojas para englobar a dela depois que a comprassem.
Erwahllu nunca cedeu, assim como o resto das pessoas na rua estreita. Eles odiavam os grandes mercadores do fundo da alma, já que eles foram a causa que levou o Senhor da Cidade a desmantelar a gangue.1
Ela era teimosa no começo, mas agora, estava na reta final de sua vida, sem saber se viveria para ver o dia seguinte. Ciente de que sua propriedade seria apenas tomada pelos grandes mercadores após sua morte, ela esperava que alguém viesse comprá-la.
Claro, os grandes mercadores impediram qualquer um de fazer isso, mantendo sua propriedade sem vender por anos, desde que ela teve essa ideia. Isso mudou com a chegada de Inala.
— Este lugar é muito velho — Asaeya comentou enquanto caminhava pelo pátio. — Os prédios vão desabar no momento em que começarmos nosso treino.
— Bem, quase ninguém morou aqui por décadas — disse Inala. — Então, é normal. Você não deveria se concentrar nisso. Este lugar fica bem ao lado da estrada principal. Com um pouco de divulgação, posso atrair muito movimento.
O pátio, antes quieto, tornou-se barulhento com a chegada da família de três pessoas. Erwahllu os observava com calma, sentindo que seus últimos dias de vida não seriam tão monótonos e sem graça.
— Vovó, podemos reformar o lugar? — Inala perguntou, com respeito. Embora ele tivesse comprado a propriedade, a cláusula em seu contrato dizia que Erwahllu moraria no local até morrer de velhice.
Ele não se incomodou com isso. Ou melhor, gostou da ideia. Uma avó idosa era a melhor pessoa para se ter por perto ao criar uma criança. Ela poderia passar sabedoria à pequena Gannala através de suas experiências de vida.
— Faça o que quiser — Erwahllu não pareceu se importar. — Você é o dono agora.
— Obrigado — Inala fez uma reverência e começou a conversar com Asaeya sobre os projetos de reforma.
“Ele é um garoto tão educado“, pensou Erwahllu enquanto observava Inala e Asaeya. “Eles são jovens e fortes. A julgar por suas roupas e modos, devem ser nobres que fugiram de outra cidade para cá.“
Havia política em toda parte. Não era raro alguém no poder perder tudo para um parente rival e não ter outra escolha a não ser fugir para outro lugar. Um olhar para Inala e ela soube que ele tinha um passado. Foi um dos motivos pelos quais ela decidiu vender sua casa para ele.
Erwahllu continuou sentada em seu lugar enquanto Inala começava a levar as mercadorias da carroça para dentro da casa.
Não haviam se passado nem alguns minutos desde a chegada deles quando um grupo de homens, armados com lâminas, aproximou-se da loja. Eram sete, em níveis diferentes de força no Estágio Espiritual.
O líder era um homem parrudo com um bigode grosso. Sua barba parecia uma colcha de retalhos no rosto, falhada e desgrenhada, dando-lhe a aparência perfeita de um bandido.
Olhando para a carroça, o homem parrudo bufou alto: — Um bastardo ousa comprar a loja que o Lorde do Estabelecimento Maharell estava de olho?
— Sua velha podre. Você ficou caduca? — ele rosnou para Erwahllu, ficando mais furioso ao vê-la ignorar sua existência.
Ele desviou o olhar para a carroça e encarou as mercadorias nela, sorrindo com malícia enquanto chutava a carroça com toda a força, na intenção de destruí-la. Seu pé bateu nela com um estrondo, amassando a superfície de madeira.
Mas, ao contrário do que ele esperava, a carroça não quebrou, o que o confundiu por um momento. Antes que pudesse atacar novamente, ele perdeu a consciência.
Quando ele acordou, ele, junto com seus seis capangas, estava amarrado no chão, forçado a se ajoelhar. Sentado relaxadamente diante deles estava Inala, que os encarava como se fossem lixo: — Digam…
Sua voz transbordava poder e autoridade, fazendo a frequência cardíaca do homem parrudo disparar: — Quantos membros vocês querem manter?
— A escolha de vocês é entre ficar sem membros e a morte.
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