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    Reino Zahara!

    Era um Reino Humano com mais de dois séculos de existência, e razoavelmente próspero entre seus pares.

    Estabelecido no topo de uma cordilheira, o Reino Zahara era uma civilização montanhosa que aproveitava a vantagem do terreno para forjar seu futuro. E nisso, eles obtiveram um sucesso considerável.

    A cordilheira era rica em recursos, incluindo materiais poderosos para forjar Avatares Humanos. E apesar das mortes enfrentadas nas invasões das Bestas Prânicas vizinhas, a população do Reino não parava de crescer.

    Nesse ritmo, se continuassem se desenvolvendo por mais alguns séculos, acabariam evoluindo para um Império. Eles só precisavam tomar decisões razoavelmente inteligentes e evitar reveses drásticos para ter sucesso.

    Se fizessem as jogadas certas, sobreviveriam por mais de um milênio — o critério alcançado por todos os grandes Impérios em Sumatra. Até agora, estavam no caminho certo. Mas só até agora.

    O Rei Zahara saiu do palácio e caiu de joelhos, tremendo de terror ao lado de seus ministros — os homens mais fortes do Reino. Nenhum deles tinha confiança para resistir, enquanto a sensação de desgraça inundava suas mentes.

    “Trabalhamos tanto para chegar até aqui”, o Rei Zahara se desesperou. “Hoje é o nosso fim? Frustrante! Não posso fazer nada, não contra ele!”

    O Rei, os Príncipes e Princesas, os ministros, figuras importantes do governo… Mais de oitenta por cento do poder máximo do Reino estava concentrado nos terrenos do palácio, e o cultivo de todos eles se aproximava da segunda metade do Estágio Vital.

    Mas, apesar disso, não tinham esperança de enfrentar a outra parte: um jovem no auge do Estágio Corporal. Uma figura notória e amplamente conhecida no Continente de Sumatra pelo puro terror que causava.

    Quase toda civilização humana tinha pôsteres de sua imagem circulando. Criavam-se contos, cantavam-se canções sobre seu poder e até se encenavam peças para exibir seus feitos. A única pessoa que causou sozinha o enfraquecimento drástico da força mais poderosa de Sumatra e instilou medo suficiente neles para que o evitassem até hoje.

    Besta Prânica de Grau Místico — Rei Javali Empíreo!

    Quem visitava o Reino Zahara era ninguém menos que Brangara, o Rei Javali. Ele podia estar apenas no auge do Estágio Corporal, mas era uma Besta Prânica de Grau Místico. A força que ele possuía agora era a de uma Besta Prânica de Grau Místico que havia atingido a maturidade.

    Não era algo que um Reino pudesse enfrentar. Talvez um Império pudesse lhe resistir em seu estado atual, contanto que estivessem preparados para perder a maior parte de sua força no processo.

    O Rei Zahara prostrou-se no chão, sem demonstrar vontade de lutar, sabendo muito bem as consequências de tal ato. Ele nem mesmo perguntou o motivo da visita de Brangara ao Reino, apenas esperando que ele partisse após conseguir o que quer que quisesse ali.

    — Vocês não precisam temer — Brangara disse com naturalidade, observando os humanos. — Cinco mil mulheres virgens, no Estágio Espiritual e com menos de trinta anos. Tragam-nas para mim.

    — Por favor, nos dê uma semana — o Rei Zahara não questionou o motivo nem recusou; apenas pediu o tempo necessário para reunir essa quantidade. — Precisaremos trazê-las de cidades muito distantes.

    — Uma semana — Brangara assentiu, entendendo que o Rei Zahara havia pedido o prazo mais curto possível. — É justo. Vou esperar aqui.

    — Vão, encontrem as melhores mulheres do nosso Reino — ordenou o Rei Zahara a seus ministros.

    Embora os ministros estivessem desapontados com o Rei, não tinham outra escolha a não ser acatar suas ordens. Eles entendiam o que estava em jogo. Mesmo que quisessem, não havia nada que pudessem fazer. Claro, embora o Rei tenha ordenado que trouxessem suas “melhores” mulheres, não era bem isso que ele queria dizer.

    Eles não trariam as mulheres talentosas destinadas a se tornarem os futuros alicerces do Reino. Os ministros começaram a pensar em maneiras de agradar o Rei Javali, planejando selecionar apenas aquelas que, dentro das exigências, tivessem mais beleza do que talento.

    — Entendam, elas darão à luz à minha família — disse Brangara, como se pudesse adivinhar seus pensamentos.

    — V-Você quer dizer? — o Rei Zahara sentiu que seus ouvidos o enganavam. Ele encarou Brangara com uma mistura de medo e respeito, perguntando novamente: — Você não vai… devorá-las?

    — Por que eu lhe perguntaria se quisesse fazer isso? — Brangara bufou. — Eu poderia apenas engolir seu Reino inteiro e filtrar as Naturezas Primárias que eu quisesse.

    — Essas cinco mil mulheres serão minhas esposas e terão meus descendentes. Elas serão fundamentais na criação do meu Clã Wean1 — concluiu ele.

    Ele mal terminou de falar quando Prana explodiu dos corpos de todos os ministros, incluindo o Rei — não de raiva, mas de euforia. Todos os humanos instintivamente consideravam Membros de Tribo e Membros de Clã como seres inferiores e desprezíveis, independentemente de sua força, e relutavam em se tornar parte deles.

    Mas, tornar-se Membro de Clã do Rei Javali era totalmente diferente. O Clã Wean seria o primeiro Clã em Sumatra relacionado a uma Besta Prânica de Grau Místico. Os Membros do Clã Wean seriam superiores até mesmo aos membros do Clã Mamute e do Clã Tartaruga.

    Além disso, quando isso acontecesse, significaria que o Reino Zahara estaria intrinsecamente ligado ao Rei Javali. Já que todas as suas esposas seriam do Reino Zahara, eles teriam esse vínculo através de suas filhas.

    Isso significava que, caso o Reino Zahara enfrentasse uma ameaça, poderiam pedir a ajuda do Rei Javali. No futuro, o próprio Clã Wean os apoiaria.

    Toda Sumatra saberia que o Clã Wean nasceu do Reino Zahara. Portanto, nenhuma força, fosse Humana ou Besta Prânica, ousaria atacar o Reino.

    Pouco importava se o Clã Wean não os apoiasse no futuro. O simples fato de que nenhuma outra força os atacaria significava que o Reino Zahara poderia crescer livremente e alcançar rapidamente o status de Império.

    Além disso, através desse vínculo, eles poderiam até minerar os minerais preciosos do Enclave Varahan para forjar Avatares Humanos mais fortes. Talvez essa fosse a chave que permitiria ao Reino Zahara gerar um herói que um dia atingisse força comparável à de uma Besta Prânica de Grau Místico — algo que apenas o Império Brimgan havia alcançado até hoje.

    Todos no palácio real saíram em disparada, determinados a trazer as melhores mulheres de suas próprias famílias. Contanto que sua filha se tornasse a primeira esposa oficial de Brangara, sua posição dispararia a um patamar sem precedentes.

    — Por favor, olhe para ela — o Rei Zahara foi o primeiro a chegar, trazendo consigo sua filha mais querida. — Ela é a joia do nosso Reino, a mais talentosa da nossa história. Ela nasceu com 99 de Prana, um feito sem precedentes.

    — Eu a forcei a permanecer no Estágio Espiritual, pois ainda não encontrei um mineral digno o bastante para construir seu Avatar Humano.

    — É mesmo? — Brangara encarou a garota, surpreendendo-se um momento depois.

    “Ela é especial!”

    Yarsha Zahara — Heroína das Crônicas de Sumatra!


    1. O termo “Wean”, mantido do original, tem um duplo sentido intencional. O verbo “to wean” significa “desmamar”, o processo de um bebê parar de se alimentar do leite materno. Além disso, “wean” (pronunciado de forma similar a “wain” ou “uêin”) é um substantivo usado em dialetos da Escócia e Irlanda que significa “criança” ou “filho pequeno”. O nome “Clã Wean” refere-se, portanto, ao seu propósito literal: ser um clã formado pelos filhos de Brangara.[]

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