Capítulo 53 - Maravilha
Alice pegou o telefone, sorrindo de canto.
— Tá, então me passa seu número — disse ela, abrindo o app de contatos.
— Claro, claro… — Ele digitou rapidamente. — Pronto, agora se eu sumir vocês podem me cobrar.
— Pode deixar, eu cobro mesmo! — brincou Alice, cutucando ele no ombro.
Jaro e Serena foram passando seus números para cada um da equipe Fantasma. Quando terminou, Taylor olhou pro grupo e sugeriu: — Bora comer alguma coisa? Tô morrendo de fome.
— Boa! — respondeu Alice, já empolgada. — Tem um restaurante aqui perto que é tem uma comida muito boa.
— Podem pedir a vontade, eu pago hoje — declarou Jaro.
Todos olharam pra ele ao mesmo tempo.
— O quê?! — exclamou Alice, arregalando os olhos. — Desde quando você é tão generoso?
Vitória riu. — Aposto que foi por causa daquela missão.
— Talvez… Mas bora, antes que minha generosidade acabe.
— Então vambora! — exclamou Alice, rindo.
O grupo caiu na risada e foram caminhando até um restaurante ali perto. O lugar era pequeno, mas aconchegante, com aquele cheirinho de comida caseira que fazia o estômago roncar só de entrar. Depois de se alimentarem e conversarem um pouco, Jaro perguntou: — Vitória, será que posso te pedir um favor?
— Fale, se estiver ao meu alcance…
Jaro colocou a mão sobre a cabeça de Serena.
— Será que você poderia treiná-la? Infelizmente, ela não tem nenhuma prática com esgrima. E você é a melhor na nossa equipe.
Vitória olhou para Serena, que parecia tímida como um pobre animalzinho.
— Hmmm… tudo bem. Eu não gosto de ficar sozinha mesmo. Acho que ela vai ser uma ótima companhia pra mim.
— M-muito obrigada! Eu não vou esquecer disso — respondeu Serena, corando.
— Não precisa ficar tão nervosa — falou Vitória, pegando nas mãos dela. — Falando em treino… amanhã, depois do treino matinal na base subterrânea, que tal treinarmos entre nós à tarde?
— É uma ótima ideia — concordou Taylor. — Mas… onde?
Todos ficaram em silêncio, pensando. Eles até poderiam descer e treinar na base subterrânea, mas certamente outras equipes estariam lá, e ninguém queria que os outros vissem suas técnicas ou habilidades. Encontrar um lugar mais reservado seria o ideal.
Então, Jaro tirou do bolso da calça uma moeda de ouro, mostrou aos companheiros e comentou: — Na missão que concluí, o senhor Kyle me deu essa moeda de ouro como recompensa.
— Caramba! — exclamou Taylor, arregalando os olhos.
Alice olhou a moeda com espanto. — Jaro, não dá pra gente usar isso… é muito dinheiro. Você devia guardar.
— C-c-concordo — assentiu Peter. — Não é justo gastar algo que você ganhou sozinho. A gente pode dividir o aluguel entre nós.
— É, Jaro, você já fez o suficiente. A gente dá um jeito.
O jovem balançou a cabeça, sorrindo. — Relaxem. Eu tô insistindo porque quero fazer isso. Não é sobre dinheiro, é sobre o que a gente vai construir juntos.
Por um instante, todos ficaram em silêncio, trocando olhares. Taylor coçou a nuca, meio sem jeito.
— Tá bom, cara… se você tá certo disso, não vou discutir.
— Mas você não escapa de deixar a gente pagar o próximo almoço — brincou Vitória.
Jaro riu sob a máscara.
— Fechado.
— Então tá decidido — anunciou Vitória, animada.
Depois de conversarem mais alguns minutos, o grupo começou a se dispersar. Vitória, empolgada, levou Serena consigo para achar um bom lugar pra alugar e já iniciar o treino. Jaro comentou que iria fazer algumas compras. Já Taylor, Alice e Peter decidiram ir descansar.
…
Jaro caminhava pelas ruas do Distrito Azul, distraído, girando no pulso a pulseira de metal que Ryan, o mesmo guarda que tinha espancado ele semanas atrás, havia lhe dado. Ele nunca entendeu o motivo daquele presente. Talvez culpa? Ou ironia?
De qualquer forma, a pulseira já tava toda amassada e riscada, e ele tinha decidido trocar.
Enquanto andava, lia algumas placas nas lojas e barracas. Já conseguia entender bem mais palavras do idioma do Império Olimpo, mérito de Serena, que vinha ensinando ele havia dias. Depois de andar por um tempo, Jaro parou em frente a um prédio elegante, cheio de vidro espelhado e um letreiro dourado: Banco Ye.
Ele respirou fundo e foi. Assim que passou da porta, assim que se sentou em uma poltrona no Hall de entrada, uma mulher se aproximou, alta, cabelo castanho preso, decote bem presente e uma roupa social justa.
— Seja bem-vindo ao Banco Ye. Em que posso ajudar? — perguntou, com um leve tom doce.
— Eu quero abrir uma conta… e também preciso de um dispositivo Halo.
A mulher arqueou uma sobrancelha, surpresa com o pedido.
— Claro… posso ver sua identidade?
— Pode. — Com um simples pensamento, as informações sobre ele apareceram no dispositivo da funcionária através do sistema Halo.
— Ah, desculpe, quase esqueci de me apresentar — falou, sorrindo de novo. — Sou Rebeca.
— Jaro — respondeu ele, simples.
Rebeca digitou rápido em uma tela transparente e, em poucos minutos, anunciou: — Tudo certo, sua conta já está criada. Agora, me siga, por favor, vou te mostrar os dispositivos disponíveis.
Eles foram até uma vitrine iluminada. Havia dezenas de modelos: anéis, braceletes, colares, até pequenas esferas.
— Pode escolher com calma. Temos de todos os tipos, formas e valores.
O sujeito ficou analisando por um tempo. Preciso de algo discreto. Após algum tempo, ele apontou pra um anel de metal escuro com pequenos detalhes dourados.
— Esse aqui.
— Esse? — Ela arregalou os olhos. — Esse modelo é… bem caro.
— Quanto?
— Cem mil crons. Ou dez moedas de ouro — respondeu ela, meio sem acreditar.
É o salário de uns dez anos pra um trabalhador comum. Pensou Rebeca, surpresa.
Jaro apenas deu de ombros.
— Tudo bem. Eu quero esse. E também quero depositar noventa moedas de ouro na conta.
Rebeca piscou algumas vezes, confusa.
— Noventa… moedas? — repetiu, engasgando.
— Isso mesmo.
Jaro enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno saquinho de couro pesado. Pegando em mãos, Rebeca examinou com cuidado, torcendo pra não ser falsa. Porém, assim que viu o brilho e sentiu o peso certo, olhou pra ele boquiaberta.
São reais! Pensou a mulher.
— Posso confiar no banco Ye pra guardar isso?
— Cla-claro! — Rebeca endireitou a postura num instante. — Senhor, por favor, sente-se ali. Vou preparar seu produto imediatamente!
Jaro assentiu e voltou pra poltrona macia onde tinha estado antes. Alguns olhares curiosos o seguiam, era raro ver, um funcionário do banco Ye tão nervoso, como Rebeca estava naquele momento.
Pouco tempo depois, a jovem mulher voltou, segurando o anel negro com um pano fino.
— Aqui está. Só precisa sincronizar com sua identidade.
— Como faz isso? — perguntou ele.
— É simples. Basta encostar o anel na marca do seu peito, e o sistema vai registrar tudo em seu nome. Ah, e houve uma pequena taxa de abertura de conta e manutenção.
— Sem problema — respondeu, calmo.
Ele fez o que ela disse, tocou o anel contra o peito. Uma leve luz branca percorreu o metal, e uma tela translúcida apareceu na frente dele com várias informações:
Nome: Jaro
Idade: 15
Status: Ficha limpa
Saldo: 800.000 crons
Capacidade total: 1.000.000 crons
Rebeca ficou muda por um instante, olhando pro jovem como se estivesse diante de um nobre disfarçado. Isso era algo que ocorria com certa frequência, já que alguns nobres não desejam ser vistos com muito dinheiro.
— Com todo respeito… como alguém da sua idade tem tanto dinheiro assim?
— Não posso contar.
— E-entendo.
Eu sou uma idiota… como posso fazer esse tipo de pergunta pra um cliente?! Ah! Eu queria me enterrar! Pensava a jovem, dando um longo suspiro. Não posso permitir que a reputação da Ye seja afetada por mim!
— Jovem mestre… se quiser fazer o dinheiro render, posso te mostrar algumas opções de investimento, o que acha?
Investimento? Que palavra maravilhosa!!

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