Capítulo 26: Pétala Celeste.
Seguimos a investigação por algum tempo, buscando evidências até que encontramos um registro de alguns meses atrás. O mesmo símbolo que eu já conhecia o significado gravado em um parque próximo ao prédio dos Inquisidores.
Talvez não seja tão fácil convencer eles de que isso não é nada… Que droga. Esses caras não facilitam as coisas pra mim.
— Esses seus amigos, Sato… — falei mentalmente.
— É, as vezes eles são meio “barulhentos”… Gostam de deixar sua marca, sabe? — respondeu Satoshi.
— Notei.
Yuri nos puxou para mais perto de si e apontou para o símbolo no documento, então apontou o dedo para a figura desenhada com grãos de arroz no chão do galpão.
— Não é a primeira vez. — disse Yuri.
— Quem quer que esteja fazendo isso, é bom no que faz. — Aiko prosseguiu, complementando.
— Existem registros de suspeitos nesses casos do símbolo da rosa? — indaguei.
Yuri deslizou pela tela do seu celular, dentro do programa dos Inquisidores. O jovem buscou na barra de pesquisa utilizando palavras chave: “Rosa + Símbolo + Invasão”.
— Não… Não tem nada. São poucos casos com esse símbolo, aparentemente vão ser arquivados. Sem nenhum suspeito. — disse Yuri.
— Isso é estranho, Yuri… — disse Aiko.
Que merda. Eu sei da capacidade do meu esquadrão, e também sei que se eles continuarem investigando isso podem acabar descobrindo algo. Algo que eu faço parte…
— Kenji. Você precisa falar com Kafka o mais rápido possível, se ela souber disso, pode resolver a situação. — disse Satoshi.
— Assim que eu sair daqui.
——————
Estávamos sentados em um local da zona de lazer da sede dos Inquisidores, andar que se assemelhava a uma praça de alimentação. Eu, Aiko e Yuri conversávamos sobre o caso em nosso intervalo. Os dois buscavam respostas e criavam teorias, enquanto eu tentava sutilmente os desviar do caminho, até que Aiko menciona algo…
— Gente. Eu observei bem e lembro que alguns grãos eram…estranhos?
— Como assim, Aiko? — perguntou Yuri, confuso.
Que outra peça aqueles caras pregaram em mim hein…? Parece que eles querem ser descobertos. Vão acabar me levando junto nessa brincadeira.
— Já trabalhei com isso e tenho certa experiência com especiarias e com ingredientes culinários no geral… A textura desses outros grãos era diferente da dureza do arroz cru. Era mais macio. — explicou Aiko.
— Não notei nada disso… Não toquei muito neles, fiquei com medo de danificar as evidências. — disse Yuri.
O que foi que eles aprontaram…
— Não podia ser outro tipo de arroz, cultivado de outra forma talvez…? — falei, tentando desviá-los.
— Pode ser… Mas mesmo que fosse, por qual motivo não utilizaram o mesmo grão para todo o desenho?
— Talvez tenha acabado… — falei.
— Não faz sentido, era um galpão cheio. — discordou Yuri.
— Yuri, você pediu para que preservassem a cena? Precisamos voltar lá mais tarde, quero verificar uma coisa. — perguntou Aiko.
— Sim sim, é um caso que me intrigou, não pude deixar de proteger o local. Pedi que alguns guardas nossos ficassem junto dos seguranças do velho dono do galpão. É bom voltarmos lá logo. — respondeu Yuri.
O nó do medo apertou meu peito e eu engoli seco. A sombra da culpa e do medo me corroem. Preciso resolver isso logo. Não gosto de mentir para eles, porém não é apenas por mim, e sim por outro amigo… Desculpa galera.
——————
Após o almoço retornamos para o mesmo galpão. Yuri e Aiko conversaram com os guardas e perguntaram se havia algo de diferente, porém eles negaram.
Que droga… Eles vão acabar descobrindo algo assim. Eles deixaram pistas só pra me complicar… Será que isso é algum tipo de teste?
— Você disse que eram macios… Né Aiko? — perguntou Yuri.
— Exatamente. — respondeu a jovem.
Caminhamos em direção ao galpão e o local exato onde a figura estava desenhada no chão enquanto conversávamos sobre o assunto. Aiko e Yuri pensavam em teorias e eu tentava sutilmente os desviar do caminho.
— Como assim…? — disse Yuri, confuso.
— Eles disseram que não havia nada de diferente… — disse Aiko.
O chão estava limpo, sem um grão de arroz. A figura havia sumido. Sem desenho nem rastros, apenas testemunhas e registros. Isso aumenta ainda mais a suspeita deles em relação a alguma organização, mas isso atrasa a investigação. Quem será que fez isso? Eu não te conheço mas obrigado!
— Que droga! Quem será fez isso…? Galera, deixa comigo. Eu vou tentar investigar, podem ir buscar mais agentes para auxiliar na missão. Eu cuido das coisas por aqui. — falei, tentando convencê-los de deixar o local para mim tentar conseguir alguma pista que me ajudasse.
— Impossível… Tem que ter algo aqui. — disse Yuri, que olhava aos arredores em busca de algo diferente.
——————
Finalmente sozinho… Ou quase.
— Deve ter algum rastro proposital aqui. Eles sabem que do seu grupo, só você é capaz de detectar a energia. — disse Satoshi.
— Eles ainda estão em treinamento. E o pessoal do setor de inteligência não recebe um treinamento tão frequente nesse aspecto.
— O conhecimento dos Inquisidores é pouco ainda. Existem tantas coisas sobre o místico que não está no alcance de vocês.
Senti uma energia permear minha visão. O poder atravessou minhas pupilas e eu pude enxergar os rastros presentes no local.
Os fios que meus olhos podiam ver levaram meus olhos até uma caixa ao longe. Fixei meu olhar no alvo ao longe.1
Em seu rótulo havia um nome: “Grãos Celestes” e logo abaixo, “Um arroz divino”. Essa caixa não estava aí antes, estava?
Caminhei até a caixa, confuso, e cada vez mais que me aproximava, a coloração do fio ficava mais forte e o brilho que emanava do objeto se intensificava.
— Com toda certeza tem uma pista aí. — disse Satoshi.
Ao abrir da caixa, notei um brilho intenso que me cego por alguns instantes. Apertei os olhos e os abri lentamente para enxergar o que havia ali dentro.
Um… broche?
Dentro da caixa havia um broche de uma rosa com pétalas brancas. O que é isso?
— Sabia. — disse Satoshi mentalmente.
A energia percorreu meu corpo, fluindo até minhas mãos. Ao tocar no broche com as mãos energizadas, senti a nascente de energia em meu peito crescer, como se criasse uma conexão com o objeto.
“Satoshi” ecoou em minha mente, e eu pude notar aquele sentimento de poder em meu corpo se esvazir lentamente. Talvez a conexão não fosse comigo….
— Que saudade eu senti de vocês. — disse Satoshi enquanto fui puxado para o meu espaço mental que lentamente estava sendo transformado.
O espaço mental se transformou, e cadeiras surgiram ali, além de alguns outros objetos. Figuras se materializaram de baixo para cima, revelando cada membro da Pétala Celeste.

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