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    O som do giz sendo usado era a única coisa preenchendo a sala naquele momento. O professor explicava os últimos conteúdos da matéria, mas ninguém mais estava prestando atenção.

    Uns cochichavam. Outros mexiam no celular. Alguns rabiscavam no canto do caderno, enquanto vários encaravam o lado de fora da janela, como eu.

    Era o último dia de aulas.

    As provas tinham acabado, o Festival Escolar passado. A única coisa que restou ali eram só os corpos de todos, as mentes estavam completamente em outro lugar. 

    O professor parou de escrever, abaixou a mão com o giz e olhou para a turma com um suspiro contido.

    — Bem… suponho que ninguém mais esteja prestando atenção… — começou, com um tom do tipo resignado, mas ainda paciente o suficiente para alguns olhares voltarem para ele. — Mas bom trabalho até aqui.

    Ele continuou, enquanto alguns erguiam o olhar para a frente da sala, cruzando os braços.

    — Já está prestes a tocar… — Ele olhou pro relógio no pulso. — Mas, de novo, parabéns por terem chegado até aqui. Vocês aguentaram mais um semestre inteiro.

    Ele fez uma pausa, respirando fundo.

    — Só não se esqueçam de uma coisa: férias não são desculpa pra esquecer os estudos. — O tom dele ficou um pouco mais sério, enquanto olhava no rosto de cada um. — O próximo semestre é o último antes do terceiro ano, então descansem, mas estudem também. Entenderam?

    — Sim, professor! — a sala respondeu em conjunto.

    — Ótimo. — Um sorriso surgiu no canto da boca dele. — Estão liberados.

    Então, a sala explodiu cheia de vida.

    Cadeiras se arrastaram, mochilas eram fechadas rapidamente, alunos riam, conversavam e faziam planos, quase como se todos ali tivessem segurado o ar até aquele instante e finalmente puderam expirar.

    — Ei, onde você vai passar as férias?

    — Quer ir no shopping amanhã!?

    — Também vou viajar pra lá!

    Me levantei com calma, guardando o material na mochila, enquanto Seiji se aproximava com aquele ar no rosto, aquele ar de um alívio absoluto.

    — Finalmente… — Ele se espreguiçou exageradamente, antes de abrir um sorriso grande no rosto.. — Liberdade! Mal posso esperar pra me jogar na cama e fingir que despertadores não existem!

    — Ei. Não se esqueça do que o professor acabou de falar. — Rintarou deu um leve tapa com o lado da mão na cabeça dele.

    — Ai! Dá um tempo, vai… só por hoje — Seiji reclamou, tocando o lugar que foi atingido. — Vamos jogar todos juntos! Ei, que tal? Tá dentro, né, Shin!?

    — Claro. Depois vem pedir minha ajuda pra copiar as respostas… — Rintarou suspirou, ajeitando os óculos no lugar.

    — Fala sério… vocês dois nunca mudam mesmo — comentei, rindo, enquanto fechava a mochila.

    Saímos juntos da sala, andando pelo corredor lotado de vozes altas conversando e passos apressados. Pessoas marcando encontros, saídas durante o natal, viagens e tudo mais.

    A escola respirava. Tudo parecia tão… leve.

    — Ah, vou ter que passar no clube de futebol bem rápido — Seiji comentou, já se afastando enquanto acenava. — Me encontro com vocês lá fora!

    — Vai lá — respondi.

    Logo nos despedimos e seguimos para o clube de literatura. Nosso último dia do ano ali.

    Chegamos perto da porta, e Rintarou a abriu, rangendo levemente. 

    Kaori parecia concentrada, enquanto revisava algo num caderno que estava na mesa. Mai estava perto da janela, com um chá enquanto lia um livro com a outra mão. Takumi arrumava alguns papéis numa pilha, enquanto Taro… estava acordado?

    Hein?

    Pisquei, tentando ter a certeza de que não era um sonho.

    Algo raro de se ver. Bem raro mesmo.

    — Olha só quem decidiu aparecer — Kaori começou, sem tirar os olhos do caderno.

    — Nossa última reunião do ano… — murmurei, me aproximando da mesa e pousando a mochila.

    — Conseguimos sobreviver a mais um semestre… — Takumi bocejou, enquanto segurava alguns papéis. — Só resta mais um agora.

    — Verdade… — Mai comentou, soprando o chá antes de beber.

    O clima na sala era leve, todos focados nas suas próprias coisas. Eu puxei uma cadeira e me sentei, pegando uma folha em branco para anotar algumas ideias soltas que ainda ecoavam na minha cabeça do dia anterior.

    O silêncio confortável durou alguns minutos, até Rintarou quebrá-lo com um comentário:

    — Falando nisso, já separaram as leituras para as férias? — Ele abriu um caderno da bolsa dele.

    Mai ficou animada no mesmo instante, os olhos dela brilhando.

    — Já sim! Tinha… três livros que guardei durante esse semestre inteiro!

    — Eu também. Mas será um pouco complicado conciliar o tempo de leitura e estudos… — Takumi pousou os papéis de lado, olhando para Rintarou. — Não devo conseguir ler mais do que dois livros durante as férias.

    — É, também não vou conseguir focar só nisso — Rintarou disse, suspirando. — Preciso estudar mais pro último semestre.

    Eu apenas escutava, com a caneta parada na mão. Sendo sincero, não teria bastante tempo para ler ou sequer estudar. Precisa de toda a atenção voltada para a minha nova história.

    Mas, talvez, eu devesse estudar um pouco também.

    Talvez se Yuki me ajudasse… 

    “Não, não!”

    Balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos.

    — Estudar? Nas férias? Vocês são malucos mesmo… — Kaori resmungou, apoiando a cabeça nos braços cruzados sobre a mesa. — Não quero voltar a olhar pra um livro nem tão cedo…

    — Kaori… o terceiro ano tá quase aí — Takumi respondeu, sorrindo, quase provocando ela. — E ele vem mais rápido do que você imagina.

    — E mais difícil do que agora — Mai completou, rindo.

    — E mais decisivo — Rintarou entrou junto, o canto da boca subindo levemente.

    — E muito mais puxado… — completei, sorrindo pra ela. — Dizem que mal sobra tempo pra respirar…

    — E… é melhor começar agora. — Taro terminou, bocejando.

    Ela olhou pra todos por um segundo, completamente sem reação.

    — Tá, tá! Eu já entendi! Que chatos! — Ela respondeu, fazendo uma careta enquanto cruzava os braços. — Eu vou abrir um livro, tá!?

    Houve um breve segundo de silêncio antes de todos caírem na risada, e Kaori apenas bufou dramaticamente. 

    O tempo continuou voando sem que percebêssemos, entre algumas discussões sobre livros para ler durante as férias, planos de estudo, e conversas sobre os melhores dias para ler e estudar.

    Logo o sol começava a baixar, indicando que já era a hora de ir embora.

    — Bom, acho que isso é tudo por hoje — Takumi começou, se levantando e esticando os braços.

    — Finalmente! — Kaori falou alto, com as mãos erguidas.

    — Se cuidem nas férias! — Mai disse, ainda segurando o copo de chá.

    — E não se esqueçam de respirar também — Rintarou acrescentou, levantando os óculos enquanto sorria.

    Todos nós se cumprimentamos, acenando e trocando sorrisos antes de sairmos.

    — Até mais, pessoal! — falei, me despedindo na porta, enquanto olhava para eles e para a sala uma última vez.

    — Boas férias! — responderam em conjunto, e logo nos separamos.

    O sol já se escondia atrás dos prédios, junto do céu com as típicas cores alaranjadas. Uma brisa suave nos envolvia, enquanto nos encontrávamos com Seiji que já nos esperava no portão da escola. 

    Logo começamos a caminhar juntos para casa. Sem nenhuma pressa, apenas aproveitando o momento, e o início das férias de inverno.

    — Uh… que frio — comentou Kaori, cruzando os braços e encolhendo os ombros.

    — Sim… — respondi, olhando pro céu já escurecendo. — O inverno tá quase chegando, né?

    — E junto dele…— Seiji comentou, cruzando os braços atrás da cabeça, olhando pro céu. Com um tom diferente do habitual. — O último semestre do segundo ano. 

    Um silêncio se instalou naquele momento.

    Não um silêncio pesado, mas um silêncio… reflexivo.

    — É… passou rápido — comentei, olhando para alguns pássaros voando juntos.

    — Muito rápido mesmo — Kaori murmurou com a voz baixa e o olhar perdido no chão à sua frente.

    — E ainda falta muita coisa pra acontecer — completou Rintarou, com um tom calmo, olhando para cada um de nós.

    Pisamos em algumas folhas secas pelo caminho, enquanto um vento gelado passava por nós.

    Um lembrete que o ano se aproximava do seu fim.

    Caminhamos assim durante um tempo, todos juntos, sem necessidade ir logo pra casa. Como se quiséssemos que o tempo esticasse e pudéssemos ficar juntos por mais uns instantes, antes das férias nos levarem cada um para um lado diferente.

    Como se cada segundo carregasse um tipo de sensação de encerramento. 

    Ou melhor, de uma pausa. Uma pequena pausa.

    Um novo ano se aproximava de nós. E com ele… um novo ciclo também.

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