Capítulo 102 — Amador enfrenta Pró em luta de mano-a-mano

Cinco dias antes da queda de Santa Marília…

Robert estava em uma situação complicada. Não haviam muitas pessoas que tinham coragem em tentar parar um Investigador Imperial, considerando todas as consequências que poderiam resultar disso. Atraído para um longo pasto, seu oponente residia na sua frente, usando nada além de um jaquetão preto e com uma espada embainhada na cintura. Seu rosto estava coberto por um elmo completamente fechado, com espaço apenas para os olhos e uma pequena abertura para boca.

— Você deve ser bastante tolo para ter me atraído para esse lugar, claramente sabendo o que eu sou — disse ele.

Ao lado de Robert, uma jovem observava a situação completamente apreensiva. Faziam dois anos desde que começou a trabalhar como assistente do investigador, inclusive já o viu em combate algumas vezes e sabia da sua capacidade, porém tinha algo naquele inimigo que a fazia se sentir desconfortável.

— Ji-hyun, recue. Não vou demorar aqui — disse ele, puxando suas luvas do bolso.

A jovem acenou em sinal de concordância e recuou uns vinte metros do seu superior. Mesmo naquela distância, sua segurança não estava garantida. Porém, ela acreditava fielmente que seu colega iria se sair melhor.

— Não vai mesmo me dizer quem é? — perguntou Robert.

O homem o encarava em silêncio, enquanto sacava sua espada da bainha. O que chamava atenção era a sua lâmina vítrea, que criava um retrato refratado do seu portador quando se olhava através dela.

O investigador, por sua vez, colocou ambas as luvas de couro cinzas em suas mãos e retirou seu sobretudo. Ao esticar os dedos, pequenas descargas elétricas começaram a dançarem entre eles. O zumbido da eletricidade ecoava pelo ar toda vez que seus punhos se fechavam.

— Você vai se arrepender disso! — disse Robert.

Seu oponente balançou a lâmina do ar, canalizando sua mana através dela e conduzindo uma forte luz dourada pela sua extensão. Sua espada parecia um pequeno fragmento do sol em suas mãos.

A maioria dos oponentes recuariam ao ver algo daquele tipo, mas Robert já tinha enfrentado diversos tipos de oponentes, sendo que muitos deles eram espadachins místicos. Baseado nisso, ele avançou contra o seu oponente, deixando nada além de estática pelo trajeto e encurtando a distância entre os dois.

— Técnica Imperial: Punho Meteórico! — conjurou.

Com a aproximação repentina, o investigador canalizou sua mana através das luvas, aumentando consideravelmente a quantidade de eletricidade sobre ela. Seu punho cerrado se dirigiu na direção do queixo do seu oponente, que imediatamente colocou a espada na frente para impedir sua morte iminente. O impacto foi devidamente atenuado, mas a enorme descarga elétrica empurrou seu corpo para trás, que por muito pouco não perdeu o equilíbrio.

O homem de armadura sentia a eletricidade alfinetar sua pele, causando uma sensação de desconforto constante. Porém, não teria tempo para cuidar disso, pois seu oponente já tinha encurtado a distância mais uma vez.

— Liga Solar: Guardião Solar!

Quando Robert ia emendar um chute frontal poderoso, uma barreira translúcida dourada surgiu na sua frente, como um escudo resiliente. Aproveitando aquela abertura, seu oponente ergueu a espada e contra-atacou com uma estocada veloz e poderosa, forçando o investigador a recuar dois passos. O homem não parou por aí e aproveitou do alcance da sua arma para oprimir Robert.

Aumentando a intensidade do calor transmitido pela sua espada vítrea, ele a ergueu sobre o topo da cabeça e a desceu na direção do investigador, tentando parti-lo ao meio. Robert, por sua vez, ergueu sua mão esquerda eletrizada e parou o avanço da arma, com certa dificuldade.

— Que? — murmurou o homem misterioso, surpreso.

— Você ficaria surpreso com o quanto o Santo Império investe em tecnologia militar — respondeu Robert, com um sorriso arrogante no rosto.

Suas luvas, outrora de couro, estavam completamente revestidas por uma densa malha de aço cromado e galvanizado. Aquilo não apenas minimizou qualquer possibilidade de dano, como serviu para reforçar seus dedos e manter a lâmina completamente imobilizada em sua mão.

— Agora, vamos começar a doutrinação?

Usando o cotovelo, Robert removeu a espada das mãos do atacante, deixando-o completamente vulnerável contra um pugilista. A primeira coisa que fez foi cravar os pés no solo e avançar contra seu oponente, agarrando-o pela cintura e o arremessando-o pelos ares.

— Liga Solar: Corrente de Força! — conjurou, enquanto tentava contra-atacar.

O fio mágico saiu dos seus dedos e voaram direto na direção de Robert, para usar seu corpo como um meio de atenuar a queda. Porém, os reflexos do seu oponente não eram fracos. Ele agarrou o fio com a mão esquerda e puxou com toda a força em sua direção, consequentemente puxando o homem junto. Tudo que ele viu foi a sola de uma bota eletrizada atingir seu elmo com uma força tremenda, girando seu corpo no ar e o derrubando no solo.

O investigador pegou o que sobrou do elmo nas mãos. Bronze, de boa qualidade, mas nada muito útil para os dias atuais. Seu atacante tentou se levantou, cuspindo parte do sangue que saiu após parte da sua gengiva ter sido ferida.

— Nem ferrando! Você não é o herdeiro dos Bakir? — perguntou Robert.

Naquele momento, Leonard tocou o seu rosto, percebendo que seu disfarce tinha ido pro ralo.

— Isso não interessa a você! — respondeu.

— Mas é claro que interessa! Você sabe as consequências do que está fazendo aqui, garoto? O fato de ter levantado sua espada pra mim tornou toda a família Bakir uma inimiga do Santo Império. Quão burro você precisa ser para fazer uma coisa dessas?

Foi então que Robert começou a ligar os pontos.

— Então quer dizer que as minhas suspeitas estavam certas! Sua família está em conluio com as outras para desestabilizar o mercado interno de Santa Marília. Sabia que os registros enviados pelo escritório local estavam regulares demais, muito propícios aos grandes latifundiários…isso é gravíssimo!

Leonard percebeu a diferença de habilidade, recursos e experiência entre os dois. Mesmo o alcance dele sendo melhor, ele encurtou a distância e ditou o ritmo da luta. E tudo aquilo sem nem mesmo derramar um fio de suor. Não queria ter que admitir, mas o desgraçado do Malvius estava certo.

— Garoto, largue essa espada e se entregue. Se você fizer isso, a pena que você e sua família receberão será bem mais branda — disse Robert, cruzando os braços.

Tudo parecia acabado naquele momento. Tudo parecia tão seguro e planejado meticulosamente, mas graças a sugestão do Malvius, ele jogou tudo fora para tentar assassinar um investigador imperial. Se fugisse, todo o legado da família morreria no dia seguinte. Se continuasse a lutar, seria derrotado brutalmente e preso, enquanto assistiria todo o legado dos Bakir ir para o lixo. Não importava o que fizesse, o fracasso era a única resolução.

Mas e se não precisasse ser?

Se o investigador morresse, ele teria mais tempo para planejar, encontrar um bode expiatório, ocultar as operações. Tudo seria resolvido se aquele cara morresse. Porém, Leonard precisava de algo que não tinha no momento: mais força, mais velocidade, mais mana, mais poder místico. Algo impossível de acontecer em pouco tempo.

Por isso, tinha que dar o braço a torcer e admitir que Malvius estava um passo à frente. Embora não confiasse nas pílulas do seu aliado, sabia que ele era um grande alquimista. Do seu bolso, retirou uma pílula avermelhada, com uma textura carnosa e que pulsava como se estivesse viva. Felizmente, pediu para Denise conferir antes de ir até esse encontro.

— Garoto, não faça isso! Solte essa pílula e se renda! Esse é o meu último aviso — disse Robert, em um tom imperativo.

Rapidamente, Leonard a jogou goela abaixo e ergueu sua espada mais uma vez, pronto para um segundo round. Vendo que teria de ser da forma mais difícil, ele eletrizou as luvas novamente. Todavia, algo inusitado aconteceu.

Leonard teve uma convulsão e caiu no chão.