Capítulo 103 — O Amador trouxe uma arma para uma briga de magia.
Era muita coisa acontecendo no corpo de Leonard. Seus meridianos estavam inchados, com tanto estímulo em tão pouco tempo. A mana em seu corpo começou a multiplicar, enquanto o sangue bombeava pelas suas veias em níveis absurdos. Sua consciência ia e voltava. Todas as suas preocupações, enevoadas. Uma fome primitiva, insaciável misturada com o desejo de violência falava mais alto em seu subconsciente.
— Talvez seja melhor ir ajudá-lo — questionou Ji-hyun, preocupada.
Robert franziu o cenho.
— Não sei se é uma boa ideia…
Embora inteligente, a jovem não tinha sido despertada com a mana. Logo, ela não tinha noção do que estava acontecendo ali. Robert detectou o fluxo anormal de magia no corpo de Leonard. O que quer que ele tenha tomado, não estava apenas danificando e reconstruindo seus meridianos, mas sim toda sua estrutura corporal.
E parecia estar estabilizando. Logo, ele não poderia garantir a segurança de mais ninguém.
— Ji-hyun, as coisas vão ficar complicadas agora. Eu preciso que você corra e se esconda. Isso aqui vai ficar perigoso — disse Robert, aumentando a eletricidade nas luvas.
— C-como assim? Ele não está derrotado?
— Não, minha cara. Isso ainda não aconteceu. Preciso que você vá para o escritório da administração imperial e contate os inquisidores. Não pare para falar com ninguém, pois não sabemos quantos estão trabalhando para ele.
Quando Ji-hyun olhou novamente na direção de Leonard, seu corpo não estava mais tremendo. Lentamente, ele se pôs de joelhos, como se estivesse recuperando o fôlego. Aquela seria a única oportunidade que a assistente teria, então ela correu em direção a estrada como se não houvesse amanhã. Nunca tinha visto o Robert tão sério daquele jeito, o que era preocupante.
— Garoto, eu não sei o que você fez, mas a ausência da sua rendição será categorizada como um ato de traição ao Santo Império. Não apenas sua, mas de toda a família Bakir.
Seus olhos, agora cintilando em dourado, focaram sua atenção no investigador. A quantidade de mana circulando no seu corpo era surreal. Ainda sentia dores, como se estivesse esmerilhando as suas veias, porém o sentimento de ter o seu potencial aumentado era inebriante.
— Eu não acho que minha família será acusada de alguma coisa, investigador — respondeu Leonard, recuperando a sua espada. Para isso acontecer, precisaria ter alguém para me acusar e tanto você e sua assistente não vão conseguir fazer isso na próxima hora.
Robert encostou uma palma na outra, gerando um poderoso campo elétrico ao seu redor. Os raios açoitavam tudo ao seu redor, queimando a plantação e iluminando os arredores. A ventania da noite profunda esvoaçou seus cabelos, contrastando com seu semblante sério.
— Ótimo! Irei adicionar ameaça na lista de acusações também.
Seus pés fincaram no solo, avançando mais uma vez contra Leonard, que se preparava para receber o golpe. Quando estava prestes a conectar o primeiro soco, fez algo diferente do esperado. Ele girou o corpo no ar, se reposicionando atrás do seu oponente.
— Técnica Imperial: Raio Descendente!
Instantaneamente, um clarão surgiu sobre os céus acompanhado de um poderoso raio que caiu sobre Leonard, gerando um impacto tão poderoso que empurrou o próprio Robert para trás.
— Isso deve calar sua boca por um tempo, garoto.
Quando a fumaça se dissipou, Leonard residia de pé, com a espada erguida cintilando em dourado. A eletricidade se dissipou através dela, deixando nada além de umas pequenas lacerações nos braços, que começaram a fechar sem demora.
— Que porra é essa? — murmurou Robert.
Leonard balançou a espada em mãos, apontando-a na direção do investigador, que teve tempo apenas de inclinar o corpo antes do jovem avançar violentamente em direção ao seu peito. Robert, por sua vez, aproveitou a distância reduzida para emendar um gancho em seu oponente, mas os reflexos de Leonard foram mais rápidos. Sua mão agarrou o braço do investigador com uma força opressiva.
— Essa foi uma péssima decisão, filho. Técnica Imperial: Campo Estático!
De repente, um poderoso pulso eletromagnético saiu do seu corpo, destruindo toda a vegetação nas proximidades. Aquilo era o suficiente para matar quinze homens e consumia uma quantidade absurda de mana do seu corpo.
Mas não tinha sequer movido Leonard de lugar.
Resistir diretamente àquela descarga elétrica não teve um custo barato. Boa parte do torso do jovem sofreu queimaduras graves, algumas até mesmo deixando os ossos expostos. Seu sistema nervoso provavelmente tinha sido completamente fritado e uma parte considerável dos seus órgãos internos deveriam estar em com profundas hemorragias.
Porém, o impensável ocorria: as feridas grotescas estavam atando suas aberturas como se estivessem sendo costuradas em tempo real. Debaixo da pele, uma substância viscosa e profana grudava o corpo do jovem em uma imagem perturbadora.
— Parece que o poder imperial não é páreo para mim — disse Leonard, com um tom calmo perturbador.
Ele cerrou o punho esquerdo e acertou um golpe massivo no abdômen do investigador, fazendo-o perder todo o ar nos pulmões. Como se isso não bastasse, usou o mesmo braço e acertou uma cotovelada em seu rosto, esmagando o seu nariz e o derrubando no chão.
Robert tossiu, tentando estabilizar a visão embaçada. Seu nariz esmagado doía tanto quanto seus dentes frontais dançando pela sua gengiva.
— Eu não queria que chegasse a esse ponto, mas eu e a minha família lutamos muito para chegar onde estamos. Não vou deixar você ou quem quer que seja arruinar isso.
O investigador esboçou um sorriso retorcido. Sincero, mas encharcado pelo sangue.
— Você…acha que eu sou o mais forte? Inocente e ingênuo, pelo que parece. Técnica Imperial: Raio Ascendente!
Leonard ergueu a espada para o alto novamente, esperando o raio cair dos céus. Para sua surpresa, o solo debaixo de si começou a superaquecer, forçando-o a saltar para trás antes que um raio rompesse a terra e ascendesse em direção aos céus. O clarão intenso o forçou a cobrir os olhos rapidamente, dando tempo o bastante para Robert se reposicionar e recuar alguns passos.
O investigador cuspiu os dois dentes, pensando como iria repô-los posteriormente. Então, ele pegou uma cápsula do seu bolso e a mastigou com seus molares. Não era a mesma coisa de uma pílula medicinal, mas serviria para acalmar a dor pelos próximos dez minutos.
— Essa força que seu corpo carrega não é nem um pouco natural. Parece fruto de magia obscura! — disse Robert.
— Não importa de onde venha! Se me ajudar a acabar com os meus inimigos, eu faço um pacto até com os demônios.
De repente, o semblante do investigador ficou drasticamente sério.
— Demônios? A burrice da sua geração é algo que ficará marcado na história. Você não deveria levar um assunto como esse de forma tão leviana, garoto. Você andou tendo contato com demônios? Me responda!
O jovem nobre balançou a espada em sua mão, com um sorriso torto, percebendo que seu inimigo estava muito próximo de colapsar.
— Ah, como eu pude me esquecer? O quanto o Santo Império abomina Magia Obscura. Mais uma vez, um bando de velhos querendo limitar o quão poderosos a minha geração pode se tornar. E tudo que eu precisei foi apenas um gole para conseguir superar você em todos os aspectos.
— Garoto, escuta! — disse Robert, ofegante. — Tem coisas que são do jeito que são por um bom motivo. Magia Obscura e Demonismo nunca fizeram bem para ninguém, nem mesmo para seus usuários. Não é algo feito para humanos utilizarem. O que quer que você tenha feito em seu corpo, não vai compensar.
Leonard ergueu sua mão esquerda e encostou o fio da lâmina nela, puxando-a suavemente sobre sua carne, abrindo um talho nela. Dez segundos depois, a pele começou a se costurar novamente.
— Não…vocês têm medo! A covardia imperial é o que os mantém no topo. Não vamos mais viver sobre seus pés, vamos arrancá-los!
— Tentar te convencer é um erro — respondeu Robert.
Leonard segurou a espada com as duas mãos, tomando impulso no solo e avançando como um feixe de luz na direção do investigador imperial, que nem teve tempo de reagir quando a lâmina penetrou seu peito, abrindo um buraco em seu coração. O jovem puxou a sua espada de volta, deixando Robert cair no chão em sua poça de sangue.
O investigador viu a sua vida esmorecer rapidamente. Sua visão estava ficando embaçada, seu corpo frio e incapaz de responder apropriadamente seus comandos. Mesmo tentando com tudo que tinha, não teve sequer uma chance de vencer. Era melhor tê-lo matado antes que pudesse ter tomado a pílula. Seu olho esquerdo deixou escapar uma pequena lágrima, que escorreu pela sua face temerosa pelo bem-estar de Ji-hyun.
O Mal estava à solta em Santa Marília.

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.