Capítulo 71: Proteja a todos
A mesa do café sofria com a tensão ambiente, todos estavam nervosos com o problema que surgiu. Não era mais um roubo, era um assassinato. Por isso, todos estavam com medo de serem acusados.
— Vamos iniciar a conversa. Quero primeiro falar que não estou irritada com nenhum de vocês, já que é claro que existe uma vítima real aqui. Não é mais um mero roubo…
Todos respiraram aliviados com a primeira interação de Bellatrix, e ela continua:
— Isso se tornou um homicídio, algo horrendo, mais do que isso, se tornou uma brincadeira de mal gosto. O assassino, está claramente brincando conosco.
A tensão existia, o medo, era recorrente, e todos não sabiam para onde olhar, apenas sabiam de algo, um deles, era o culpado, e um deles, havia matado Hermione Freya.
— Quero deixar claro uma coisa, infelizmente, atualmente todos somos suspeitos, já que o assassino confirmou estar presente em nossa separação de times. Neste caso, existe apenas a possibilidade de ser um de nós.
— Desculpa falar nesse momento de tensão, eu sei que minhas brincadeiras são para quebrar o gelo, mas nesse caso, eu vou ser franca, não gostei nenhum pouco de Mione ter sido assassinada, mas, qual sua teoria?
Surpreendendo todos, Bianca, pareceu séria, e Bellatrix tossiu para conter a surpresa, e disfarçar que estava boquiaberta.
— Olha, sendo franca, Bianca, você é a principal suspeita, todo esse estilo de brincadeira formada, é algo que você faria.
Um sorriso de ponta a ponta surgiu na faceta diabólica.
— Neste caso, por que não me executam?
— Quê?
— Horas, é um assassinato, não é um roubo, isso deve ser declarado como pena de morte, se eu sou a suspeita…
— Calanga, está dizendo que foi você que matou?
O sorriso se alastrou como fogo em querosene, mas do que tudo, todos sentiram a pressão assassina que Amara demonstrou batendo sua mão sobre a mesa. Bellatrix calma, apenas bebeu sua xícara de café.
— Eu não sou a culpada, mas, se eu sou suspeita, para que se segurarem, me condenem, me amarrem, me ataquem e me culpem. Não temam, se errarem, será apenas uma vítima a menos, até porque, nada confirma que teremos novos assassinatos, certo?
— Muito pelo contrário. — repousou a xícara a mesa. — Na carta que foi deixada ao lado da vítima, foi dito que haverão mais assassinatos.
Bianca pareceu surpresa, e até mesmo tensa.
— É… mesmo?
— Você sabe quem foi que roubou as calcinhas, certo? Com certeza o culpado—
Bianca subiu sobre a mesa, interrompendo Amara. Ela abriu seus braços em meio teatral, e lágrimas escorreram de seus olhos.
— Oh, minha querida amiga, me perdoe, mas, eu vou me entregar nessa grande peça. — Bianca olhou para Amara. — Eu não vou dizer quem é a culpada, eu sou totalmente a favor de me prenderem, me acusarem, me atacarem, sim! Me façam temer pela minha vida. Eu peço perdão, já que eu estou frustrada com a morte dela, mas, eu não vou deixar essa oportunidade passar. Eu sinto, eu vivo a adrenalina, eu sou mais do que perfeita, isso é…. Emocionante.
Sua doce fala emocional era um grito de sua alma, onde, todos na mesa ficaram sem conseguir reagir.
Kizimu, não conseguia prestar atenção na conversa, estava preso em seus próprios pensamentos. Aisha e Eleanor estava fixa em Bianca, enquanto Pandora notou o estado de seu senhor.
Kim, frustrado, enquanto Dalia segurava sua mão com força, dando forças para ele estar ali.
Ernesto, estava irritado, mas, não conseguia parar de pensar que não levou aquele roubo a sério.
Vicenzo, apenas observava Bianca, a qual tinha ligação. Ele não conseguia demonstrar fragilidade, mas, estava levemente abalado com a morte.
Brielle chorava, e Guto acariciava seu cabelo, enquanto Talia, ela se levantou.
— Isso já passou dos limites Bianca. Não consegue entender a situação, isso deixou de ser uma brincadeira, é um assassinato, não é um roubo, não é uma idiotice mais.
— Eu sei, e já disse que estou frustrada, mas, não vou mudar quem eu sou. Até que essa morte chegue em mim, eu serei Bianca Desira!
— Já chega!
Talia afastou a cadeira a força, e saiu da mesa.
— Onde vai? A conversa ainda não acabou.
— Para mim, isso já teve o fim, é claro quem é a culpada, e eu não vou ficar brincando de pega-pega, eu vou provar que ela é quem matou.
Bellatrix tentou impedir, mas, Talia estava decidida, e então, foi embora, deixando a conversa para aqueles presentes na mesa.
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Kizimu estava sozinho.
Cada passo seu, ecoava um som seco. Nervosismo se tornou comum, e o comum se tornou agradável. Mesmo que o peso daquele ambiente existisse, nada separava Kizimu do seu próprio mundo. Se existisse um sentimento de adoração, ou de recebimento, tudo era em prol daquele homem. Tal agradável seria o sentimento de existir sobre o mesmo teto que aquele homem a sua frente.
Como uma lâmina pura, sua postura era impecável, sua existência impermeável, seu eu era divino, e sua presença esmagadora. O sentimento de acolhimento, e de inquietude, sobre a própria existência, não era de nada efêmero. O olhar penetrante, como uma espada que conjugava seu destino, e prorrogava sua carta para o futuro, definia sua estadia com a morte. E declarava qual era seu final.
Aquele que definia se você era merecedor de estar vivo. O homem que sim, era perfeito, aquele que tinha a sua existência equivalente ao mais próximo de divino, sim, era ele — Maxuel Umbral, o grande Rei de Insurgia.
Medo não era o suficiente para mostrar-se inferior, pois, sua presença já irradiava o brilho intenso do impecável. O medo, tremia em Kizimu, por estar diante a algo tão celestial, um homem de aparência e postura tão etéreo. Algo ali, paradoxalmente, fortalecia o rei.
— Kizimu, seja franco. Seu grupo tem envolvimento com o assassinato, ou o tal roubo?
— Não! — Kizimu ajoelhou-se, algo dentro da sua alma, âmago e destino, mostrava que algo não estava certo, tudo dentro de si, provou a essa atitude. — Eu posso garantir que… nenhum de nós teve envolvimento com os assassinatos.
— Eu estou muito irritado, Kizimu.
Ossos tremeram ali. Como se Kizimu vibrasse. O que estava a sua frente, era um rei — não — um soberano. Um mestre do próprio destino, um conquistador formidável, onde, apenas poderia temer.
Cadê aquele homem harmonioso? Ele ainda existia sobre aqueles olhos firmes? Porém… gentis? Eles, que estavam rígidos, amoleceram, e algo na sala, pareceu voltar a correr.
Talvez o tempo tivesse parado, por medo de continuar, ou talvez o ar paralisou por medo de correr. Se Kizimu fosse dizer, ele mesmo, não ousaria mexer um músculo sequer, ao mesmo, se ajoelhou, sem saber o tal significado.
— Desculpe Kizimu, talvez, eu esteja sendo duro demais. Estou mais irritado do que imaginei que ficaria. Já imaginava que algo assim pudesse ocorrer, mas…
— Claro, eu entendo. Ninguém quer ver seus amigos e família… morrer.
— Sei que me entende.
“Kizimu, achei interessante mencionar algo obvio. Sua presença, agora, foi algo dado devido alguma maldição. O medo que sentiu dele, foi resultado de algo muito grande. Talvez o rei, esteja para atingir o ápice da sua própria maldição.”
O que isso quer dizer?
Sem resposta.
Merda.
— Kizimu, pode me prometer uma coisa?
— Diga. — aceitou nervosamente.
— Proteja a todos nesse reino, como se fossem da sua família, e se precisar lutar contra um aliado para proteger o reino, preserve os sorrisos, e seja a lâmina que salvará a pátria que tanto amo.
As palavras do rei, o atingiram como uma flecha.
Família, sorrisos, proteger. A responsabilidade enorme que caiu sobre seus ombros, eram pesados demais, contudo, o rei estava pedindo isso, com todo ímpeto que tinha.
Kizimu não poderia recusar. Não tinha como. Era impossível.
— Eu aceito. Eu vou. Eu protegerei a todos. Não vou deixar que mais ninguém morra.
— Obrigado, eu agradeço, por todos de Insurgia. Pequena esperança.
E ali, mais uma vez, a conversa se encerrou, mais rápida do que começou.
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Um homem esguio, andava eloquente a sua posição. Há tempos, que sua posição de chefe de guarnição já era cargo que tirava muito proveito, mesmo que não fosse uma falsa posição.
Ele era, sim, um grande homem no quesito ensino e técnica, mesmo que seu caráter não fosse o mais correto.
Ainda assim.
— O que droga estou fazendo.
Invadindo o quarto de Vicenzo, Ernesto, olhava o guarda-roupa do garoto.
Bianca era a mais suspeita, e se ela for a culpada, pensou para si, Vicenzo seria seu cúmplice.
Talvez, estivesse apenas querendo suprir seus desejos frios de tocar nas coisas de um garotinho que nunca teve acesso. Mesmo que fosse verdade, deveria achar uma mínima pista.
Diversos livros de estudo estavam sobre a mesa, químicos, e símbolos estranhos. Vicenzo tinha muito gosto por símbolos gregos ao visto, o que não era de incômodo do chefe de guarnição.
Olhando os livros em sua mesa, um monte de baboseiras sem sentido, e coisas que não levavam a nada, mas, entre papéis e livros, algo em tom mais escurecido o chamou atenção.
Um papel antigo, quase um pergaminho, com várias instruções.
— Projeto… pesadelo?
“A morte traz medo. O medo fortalece o receptáculo. A salvação será concluída.”
“Esse é o plano perfeito para acabar com o mal”
— Acabar com o mal? Que tipo de jogo é esse?
Ernesto guardou tudo em seu lugar, esse papel lhe causava estranheza, mas nada nele era incriminador.
— A morte traz medo… por que alguém iria querer sentir medo? Isso com certeza é coisa da Bianca.
Ernesto deixou aquele quarto, com mais certeza que tinha do que antes, ali, poderia não ser a prova definitiva, mas, acharia mais pistas.

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