Índice de Capítulo

    A luz da fênix alcança um cômodo escuro, carregando consigo a última centelha de resistência contra a tirania de Balmund e o seu Imperador, Liekkien, o Leão das Chamas.

    Porém, enquanto as asas do pássaro flamejante encobrem os seus aliados, as suas penas ficam por onde alçou voo como um vestígio de sua presença.

    Na antiga base, o bar abandonado tem o seu teto aberto por uma explosão abrupta. Uma cratera permite a passagem da luz solar para esse lugar no fundo do subterrâneo.

    Descendo como uma autoridade divina sob a luz, não está somente os Batedores de Balmund, como as Cavaleiras: Sansha Kester de Oito Pontas, Romélia de Sete Pontas e outros rostos desconhecidos, mas com cada um sendo um acréscimo importante dado às insígnias em seu peito de Seis e Cinco Pontas. Porém, a maior autoridade ali se mostra sobre o símbolo da Estrela de Três Pontas.

    Com um par de espadas negras sobre as costas, as vestimentas leves expõem as diversas cicatrizes pelo corpo feminino. Bandagens envolvem os seios, enquanto o colete vermelho se alonga até as coxas como duas caudas.

    Com perneiras e braceletes de ouro subindo até os ombros, os ornamentos expressam consigo a ideia do mais puro inferno e caos ondulante. Os cabelos escuros ficam para trás como um rastro perante a descida, mas uma tiara espiral prende o restante de seus fios. Sobre o rosto, a coloração de seus olhos de jade expressam desgosto por essa resistência insignificante…

    Não demorou para que eles pousassem sobre o chão de madeira do bar. A mulher pequena, mas com a maior hierarquia ali, olha os arredores. Os Cavaleiros e Batedores se espalham como se entrassem em formação no mesmo segundo… Mas não havia nada.

    Por último, a figura demoníaca acinzentada desceu flutuando. Diferente dos humanos, seu controle abissal de energia permite que controle a si mesmo como bem entender.

    Como esperado, aquela mulher mascarada notou o meu nível de habilidade com o breve contato que tivemos. – Pondo os pés sobre as tábuas de madeira, os olhos de bode fisgam o além ao captar a trajetória em que a transição espacial ocorreu.

    一 Você consegue saber para onde foram, Berith? – De braços cruzados, a Grão-Cavaleira caminha pelo bar conforme nota os vestígios de queimadura causada pelas penas flamejantes.

    Sim, senhorita Woundem… Estou quase enxergando… – Porém, conforme atravessava paredes, montanhas e árvores com sua percepção, acabou esbarrando com uma enorme barreira de energia sensorial.

    Tsc… Há um bloqueio denso. Eles foram para além de um forte próximo de montes altos, passando por árvores grandes como montanhas. – O monstro enrugou as sobrancelhas pelo incômodo sensorial que sofreu. A sensação era como bater a cabeça contra algo.

    一 Fugiram para o território da Calamidade da Natureza… Desgraçados, então eles possuem uma aliança com os elfos narcisistas… – Diversas veias sobem pelo rosto da mulher, não há elevação de energia, mas puramente do seu ódio por nunca conseguir capturar esses rebeldes que fogem como ratos.

    一 O que faremos, Grã-Cavaleira? – A voz da jovem com marias-chiquinhas subiu enquanto tinha uma das mãos na cintura. Suas manoplas e perneiras de prata reluzem com a infiltração esbranquiçada vinda do teto.

    Os outros soldados à disposição encaram a mulher com expectativas.

    一 Ha… Vamos voltar. Não há nada o que fazer além de relatar para o Soberano. Provavelmente ele convocará o Nordlicht… Já que não há apenas o caso da ruína da Doença que caiu em nosso território semanas atrás, como a Moral interferiu nela e os fugitivos se abrigaram na Natureza. – Com o suspiro de decepção e frustração, Woundem põe uma das mãos no rosto.

    Ao ouvir aquele nome, todos parecem congelar de medo, com exceção do demônio que voltou a sorrir. Engolindo seco, eles se reuniram para partir.

    Levando um único dedo, Berith faz todos flutuarem rumo aos céus.

    O clarão consome a perspectiva.

    Agora, na paisagem do enorme castelo com quatro camadas de andares, a espadachim de lâminas gêmeas caminha em céu aberto rumo à câmara de audiência.

    A porta protegida pelos dois Guardiões de Ouro portando alabardas, fornecem para ela o acesso após elevar o seu Gewissen carmesim, mas recheado em incontáveis camadas de vermelho, do mais escuro até o mais claro.

    As alabardas sobem, desfazendo o cruzar de haste sobre a porta.

    A enorme entrada se abre automaticamente à medida que as estátuas giram para frente. Ao fundo, a presença de tochas pela sala evocam o clima de tensão no encarar direto do seu Senhor.

    Sob a escuridão, somente o olho direito pulsando em uma cor laranja se mostra. O enorme homem está sentado em um trono digníssimo, mas aparentemente entediado com toda a falta de movimentação no mundo.

    Respirando profundamente, Woundem começa a caminhar em direção à câmara. As enormes portas se fecham perante o bloqueio das estátuas.

    A entidade sentada no trono não é humana. Seu tamanho enorme mais se assemelha ao de um gigante, mas os palmos com garras como as de um lagarto e escamas duras como aço, contrastam com o seu rosto mais parecido com o de um homem.

    A Grã-Cavaleira se ajoelha no meio do caminho sobre o tapete vermelho. A mão sobre o símbolo das Três Estrelas à esquerda do peitoral, o único joelho sobre o chão e a outra perna flexionada, a sua postura é perfeita.

    一 Soberano, trago notícias sobre o exterior que talvez possa deixá-lo animado. – De cabeça baixa, sequer se atreveu a olhá-lo nos olhos.

    Diga. – A voz desanimada e cansada expressa bem o quão entediado estava. Porém, o tom alto se propagou como uma explosão. O barulho áspero e grave deixa ainda mais claro a falta de sua humanidade.

    一 Primeiramente, a ruína da Doença que caiu sobre um vilarejo pacato ao sudoeste já foi completamente desativada e desapareceu. O problema é que a causa disso não foi a nossa interferência, mas sim o Mensageiro das Estrelas que agiu repentinamente…

    O olho direito da criatura finalmente fisga a atenção sobre a subordinada.

    Imoriel normalmente não pode interferir em assuntos do mundo. O papel dele é equilibrar tudo de cima… Não houve testemunhas de alguém ativando o Medalhão de Libra em Kromslaing? – O punho direito escora sobre a bochecha.

    一 Precisamente, Soberano. Houveram testemunhas, mas não vieram de Kromslaing. O clarão foi visto nas cercanias do Campo Rosebond, próximo à fronteira de Roderich e do Forte Krizannon.

    A Calamidade da Guerra demonstra alguma surpresa com essa informação. Ajeitando-se no trono, as costas se escoram completamente para refletir a sua nova compostura.

    Interessante… Então houve algum cidadão que conseguiu escapar de Kromslaing? Lá estávamos cultivando o Receptáculo de Berith… Teve alguma consequência?

    一 Sua dedução está equivocada, Soberano… Não houve fugitivos, mas sim intrusos que passaram pelo cerco de Eilian e Handeret de alguma forma. Eles não só atrapalharam o ritual, como também eliminaram o Marquês Truman e sua família.

    Com essas novidades, a criatura parece congelar. A cabeça dela se abaixa e o castelo inteiro começa a vibrar. O motivo disso não é a elevação do seu espírito ou muito menos intenção assassina… As gargalhadas contidas de Liekken é o que transmite tamanho caos. Os ombros dele balançam conforme a risada acontece e a cabeça transmite a ideia de negação ao ir de um lado para o outro.

    Eilian e Handeret realmente não são competentes quando o assunto é perspicácia. Jamais imaginei que alguém poderia invadir esse lugar… Mas ser capaz de matar os servos de Berith, a família Truman? Isso exige um certo nível de habilidade…

    Engolindo seco, a Grã-Cavaleira sente que a atmosfera mudou.

    一 Eilian nos disse que Handeret escoltou o fundador do Culto da Lua Negra e seus fiéis até as Profundezas. Então, sozinho ele resolveu subir a cidade quando o subterrâneo começou a estremecer… Lá, ele viu que Berith havia saído junto com os invasores.

    Ótimo. Pelo menos Isgaland cumpriu com seu papel em auxiliar o Marquês e possibilitou a vinda de Berith mesmo enfraquecido. Ele deve recuperar sua força total com o tempo… – Suspirou com certa frustração, mas ao menos, não comprometeu todo o seu plano pela Estrela Negra ter sido manifestada fisicamente.

    一 Corretamente. Sobre os invasores, eles estavam filiados às forças rebeldes, os Gatunos. A presença da Lebre, braço direito da traidora Yolina, foi quem os salvou da morte, de acordo com o relato de Eilian. – Ao dizer tais palavras, pareceu morder os próprios lábios em ressentimento por não conseguir pegar esses vermes outra vez.

    Hmpf… Não esperava algo diferente. Aquela criança sempre foi muito inteligente… É a nossa pedra no sapato há tantas décadas nos nossos planos. Conseguiram  ao menos identificar esses novos soldados? – O palmo direito repousa sobre a braçadeira do trono.

    一 Não só isso, como trouxemos o cadáver de Yurgen, o Coruja, intacto. Quem acompanhava ele era um garoto contratante de Leraje, a irmã da Rosa Selvagem e uma elfa desconhecida de sangue impuro. – O olhar dela sobe em um sorriso convencido das conquistas dessa vez.

    De maneira semelhante, a Calamidade sorri de bochecha à bochecha com seus dentes pontiagudos como o de uma besta.

    O cadáver do Coruja é uma ótima aquisição, ainda mais intacto…! Os outros invasores são intrigantes… Um contratante da Décima Quarta e a irmã da ruiva unindo forças com uma meio-elfa… Vocês conseguiram rastrear para onde eles foram? – Satisfeito, escorou a cabeça para trás contra o trono.

    一 Sim… Mas há um problema… Eles fugiram para o território de Valdrien, a Nature–

    Antes de conseguir terminar a frase, sentiu o olhar da criatura se intensificar como um vulcão prestes à eclodir. Os batimentos da Grã-Cavaleira elevaram-se como uma reação natural de estar de frente com um predador natural. A autoridade de Leão acima de Liekken se ergue com uma complexidade incomensurável. É quase como se ele fosse materializado através da Constelação. O rugido furioso dessa besta vinha diretamente contra a alma de Woundem.

    Saia, Woundem. A Ruína de Hastalik e a interferência de Imoriel ainda eram toleráveis pelo Juramento… Mas esses desgraçados se abrigarem sob as asas de Valdrien…?! – Não só o castelo estremecia com a elevação da intenção assassina do monstro, como a própria cidade de Balmund seria palco de sua fúria.

    Acenando com a cabeça, sequer consegue exalar a voz. A Cavaleira se retira o mais rápido que pôde enquanto a criatura fica para trás.

    一 Arf… Arf…! – Ofegante, as mãos sobre os joelhos e a postura inclinada demonstram o quão intensa era a pressão espiritual vinda do Lorde quando se enfurecia.

    Ao olhar para trás, percebe que o castelo está coberto pelo Gewissen colossal da Calamidade. É como se toda a estrutura estivesse em chamas infernais. Porém, repentinamente, a aura se intensifica ao ponto de emitir uma enorme pilastra aos céus.

    O vácuo da energia arremessa a Cavaleira para longe.

    Nesse instante, o céu sobre Balmund se torna laranja como se estivesse ardendo em labaredas. Mas, em seguida, energias tão grandes quanto vêm de norte à sul, de oeste à leste.

    O rastro vermelho colossal de Gewissen vem do extremo oeste de Wynward, passando por incontáveis nuvens de areia.

    Ao norte, o amarelo dourado rasga os céus rumo à pilastra de fogo ao ultrapassar o mar.

    Do leste, a energia verde incomensurável atinge o pilar atravessando as fronteiras de árvores-montanha.

    Ainda mais alto do que as nuvens, o breu coberto pelo amarelo de Imoriel se une.

    No extremo nordeste, o Gewissen azul turquesa é o último a chegar e tingir os céus.

    Com a reunião da energia de todas as Calamidades, o céu se escureceu. Dividido entre os tons, um novo Nordlicht começou.

    As pessoas de Balmund caem de joelhos uma após a outra. Todos sob a união das cores, observam os fluxos de Gewissen catastróficos como uma aurora boreal acima de si.

    Perante o encontro das energias das Seis Calamidades, a reunião emergencial convocada por Liekken, sempre representa uma de duas coisas: um enorme período de paz, ou um período turbulento entre os Reinos.

    O que foi dessa vez, Guerra…? – Três vozes sobrepostas, mas idênticas questionam em um tom de tédio absoluto.

    Violência, o desgraçado da Natureza têm espiões em meu domínio…! Isso não viola o Juramento de Conflito Direto?! – Esbravejando, a figura aperta a braçadeira do trono ao ponto de esmagá-la.

    Guerra, não se precipite. Nós estamos em guerra nas fronteiras usando nossos subordinados há quarenta anos. Esse conflito sempre foi desnecessário, mas eu não almejo as suas terras inúteis ao ponto de jogar tão baixo… – Com um tom divino, a voz demonstra desdém pela estupidez dessa barbárie.

    SE ELES NÃO SÃO SEUS ESPIÕES, O QUE MAIS SERIAM? ELES INTERFERIRAM NOS MEUS NEGÓCIOS E FUGIRAM PARA O SEU TERRITÓRIO! – A Calamidade parece se enfurecer ainda mais com as palavras da Natureza.

    Nesse caso, para provar que eles não são espiões, os expulse do seu território, Natureza. Isso provavelmente eliminará as suspeitas do Guerra sobre você.  – Uma voz feminina angelical ganha força, mas parece suspirar pela nova complicação.

    A Justiça tem razão, rapazes. Mande os invasores para o território da Guerra e isso acabará… – As palavras são calmas quase como um sonífero aos ouvidos alheios.

    Doença… Não foi você que começou essa confusão enviando uma Ruína de Pisces para o território da Guerra? – A Natureza contesta com uma voz mais áspera.

    Não tive escolha… Alguém andou desfazendo o meu feitiço sobre as minhas frutas e vinha do território dele…. – Finalizou com um suspiro pesado por já estar cansada de tanta falação.

    Eu neutralizei a sua Ruína por conta de alguém que obteve o meu Medalhão, Doença. Peço desculpas por isso… – O tom etéreo da entidade da balança acalma os ânimos da reunião emergencial.

    Não precisa se preocupar, Moral… Você apenas seguiu o seu trabalho… – Pareceu sorrir com gentileza ao notar o pedido de desculpas do outro.

    Chega de falar bobagens! Natureza, trate de expulsar essas pessoas do seu território ou eu mesmo irei fazer isso…! São humanos Constelados com máscaras de gato, um contratante de Leraje e uma meio-elfa! – Balançou o braço e desfez toda a elevação de sua própria energia.

    O céu de Balmund volta sobre a claridade do dia e o raiar do sol.

    “Tsc… Leão de merda… Preciso achar esses intrusos, ou esse maldito vai conseguir o que quer… Não posso deixar ele conquistar ou estragar as minhas terras tão ricas…!” – Os olhos azuis turquesa encaram a escuridão. As orelhas pontiagudas e os cabelos loiros indicam um elfo de beleza estonteante. Acima da cabeça, a Constelação de Capricórnio se desfaz, indo da complexidade ao vazio.

    Sob a escuridão de um templo rodeado por árvores coloridas como arco-íris, as penas de fênix decaem. A máscara rosa de energia se estabelece na nova base.

    As preparações para uma nova etapa irão se iniciar…

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