Tudo ficou tão claro, tão luminoso, que ele sentiu até sua mente embranquecida.

    “É isso. Eu sei exatamente o que devo fazer.”

    Inspiração, expiração… 

    “Encher, esvaziar pulmões…”

    Um, dois… 

    “Um, dois…”

    Sentiu a energia fluir, escoar por cada uma das veias, por todas as artérias possíveis. Foram Dando contorno, uma imagem ao que deveria ser o corpo dele. De dentro para fora, de fora para dentro.

    “Sentir, preciso sentir…”

    Se não sentisse… 

    “Não teria sentido.”

    Era isso.

    Ele encontrou. Estava aí o tempo todo. O problema não estava longe: estava perto, próximo até demais. Podia sentir, pois cada veia, cada fluxo de kirei… tudo parecia fluir para fora.

    “Tudo para fora, não para dentro…”

    Eis o xis da questão.

    “Estão sugando minha energia. Como eu pareço ter uma quantidade absurda, segundo a minha mestra, o processo ainda não foi interrompido…”

    Mas não era… 

    “Não é só isso.”

    O super choice.

    “Jikan me deixou vivo… eu não posso morrer. Não enquanto ela não fizer o que quer comigo.”

    Não enquanto não tiverem o encontro perfeito.

    “E ela nem deve saber disso… essa garota. Bom, isso não muda o que preciso fazer.”

    O mergulho para dentro…

    “Que leva para fora. Se eu continuar sentindo o kirei, posso rastrear a energia e descobrir o que a suga!”

    Imaginou-se escorregando por um toboágua. O kirei, de forma líquida, o empurrava com força quase titânica, levando-o por metros e metros pelo vazio. Se sentiu sanduichado, pressionado por todos os lados, como tivesse alguma coisa em cima… 

    “…Fazendo força para baixo…”

    …Que fazia força para cima. Era retorcido de todos os jeitos inteligíveis.

    “Como… como se eu fosse chiclete.”

    Até que… 

    “Ah… aqui, é aqui!”

    Não conseguia envolver por completo com as mãos. O fim do túnel era uma esfera, uma bola gigante de energia que bebia dos “canudos” de kirei. Era um núcleo que bombeava mana, alimentando-se e ficando cada vez maior.

    “Um núcleo…”

    Um Motor de Mana.

    “A diferença entre um e outro… mana, kirei… as duas faces do mesmo ser.”

    Os dois lados da moeda.

    “A energia de fora, o mana. A de dentro…”

    O kirei.

    “Essa coisa suga minha energia, mas não pode absorvê-la. Ela faz o kirei roubado flutuar, orbitar em torno da força que o puxa para sempre…”

    Enquanto ele estiver vivo… 

    “Enquanto eu estiver preso a esses… cabos? É, enquanto estiver preso a eles, eu manterei o fluxo ininterrupto. O motor…”

    O motor precisava dele.

    — — — 

    “Eu não sei o que pode acontecer, se eu interromper o fluxo. Pode ser que exploda, sei lá. Se eu estiver em território inimigo…”

    Seria descoberto.

    “É imprudente cortar o fluxo.”

    Mas o que deveria fazer, então?

    “Uma sobrecarga?”

    Poderia funcionar. Havia muita magia flutuando no espaço. Interromper seria terrível, pois a energia perderia a estabilidade e explodiria em todas as direções. Mas, se ele sobrecarregasse o fluxo… 

    “Quem consumiria o motor seria eu!”

    Era um bom plano.

    “Vamos… preciso de algo mais visual. Já sei o que fazer.”

    Forçando o próprio limite, ele fez as veias saltarem. Os “canudos” se alargaram, e mais deles foram surgindo. Surgindo, nascendo, formando uma silhueta… 

    Um corpo humano.

    “Isso… minhas mãos. Agora tenho mãos. Agora que tenho vocês de novo…”

    O ensinamento… 

    “Pode ser aplicado.”

    Como se tentasse agarrar o invisível, Nathan ergueu as mãos e voltou as palmas uma para a outra. Uma fagulha nasceu no ar: Hito-no-Tama, a herança dos Shimada… 

    O diamante da mestra… 

    “O presente de Aoi!”

    Fuh! Uma esfera girava entre as mãos de Nathan.

    Era azul, e dava voltas em si mesma, como a Terra. Como um micro-planeta, uma mini-galáxia. Um universo de bolso! Era azul, assustadoramente índigo.

    “E agora…”

    Ela se expandia. Ele respirava, e ela crescia. Cada golfada de ar, centímetros a mais de esfera. Era proporcional…  Uma calma tão serena, tão imersiva, tão profunda que parecia dissociar, separar Nathan… do Mundo!

    “Suspensão…”

    Absoluta!

    “Consegui…”

    Nada podia parar aquilo. A Hito-no-Tama crescia louca, insanamente. 

    “Eu vou sair daqui!”

    Iria se libertar!

    “Chad Deathapple… eu não sei quem você é, mas saiba… saiba de uma coisa.”

    Ele não era um garoto comum!

    “Eu não sou apenas o discípulo da última Shimada viva…”

    Ele era o inventor… 

    “O criador…l”

    Da terrível… 

    “Ho… mos…”

    — PHEEEE… RAH! — ouvindo a própria voz, lançou a gigantesca bola de kirei. 

    A Homosphera viajou o vazio, cortando o espaço, rumo ao núcleo. Quando chegou perto, Nathan gritou:

    — Exploda!

    Ela obedeceu. O som, de tão alto, o ensurdeceu, e a luz, de tão forte… o cegou.

    “O motor… não sinto mais o fluxo do motor.”

    Estava livre!

    — Fi.. finalmente — murmurou, sentindo os olhos arderem. A visão voltou aos poucos, na mesma velocidade de uma internet ruim. 

    Era um lugar escuro, mas não por completo. A luz do sol invadia a única janela do recinto, que se escondia, tímida, no canto direito da parede. Estava frio. Não tanto quanto o que Nathan sofreu momentos, mas ainda era considerável… 

    Era muito bom sentir a matéria, a textura do chão. O ar entrando pelas narinas, o frio que vinha da natureza, não da alma. Era muito bom estar vivo.

    “Ainda não acabou.”

    Precisava sair dali, mas, antes de pensar nisso, seu pé encostou em algo mole.

    “Pele…?”

    — Meu Deus, Jikan?! — E se ajoelhou. 

    Era ela. Era a garota que o levou para o shopping, sua colega de classe, sua amiga, parceira de aventuras… A mulher que o deixou vivo. Ela e os cabelos cor de limão. Respirava com dificuldade, mas… 

    — Viva… está viva. Ah, cara, que bom!

    Sem conter a si mesmo, ele a pegou pelos ombros e a abraçou. Sua pele era macia, quente, e o rosto, inconsciente, era tão belo quanto se lembrava. 

    — Viva… .está viva. Meu Deus… obrigado! — E apertou o abraço. Não queria soltá-la de jeito nenhum. 

    — E-ei… 

    Seu coração errou uma batida.

    — Sei que está feliz… — murmurou ela, corada. — Eu também sempre quis isso, mas… pega leve, tá? 

    — Des… desculpa! — falou ele, agora a segurando pelos ombros. 

    — Tudo bem… é que você é muito forte. O seu aperto dói um pouco, mas… mas é bom.

    — Certo… — disse Nathan, sem conseguir desviar do olhar dela.

    Olhos de esmeralda.

    — Sabia que alguma coisa ia acontecer… — começou ela, desanimada. — Mas… isso? Isso é sacanagem. Não podemos nem ter um encontro?

    — Eu sei… 

    Ela fez biquinho, emburrada.

    — “Eu sei”… vai me compensar.

    — Hã? — grunhiu ele, confuso.

    — Por isso, oras! Você me deve um encontro! — exclamou ela, pegando as mãos dele. — Não pense em derrotar o vilão e ir dormir! Não hoje!

    Ele riu. Amava esse lado da garota.

    —  Eu vou, Jikan. Eu vou… 

    — Vai, mesmo?

    — Vou… 

    Os olhinhos dela brilharam, e até o seu tom ficou manhoso. Não sabia explicar o motivo, mas ela lembrava uma gata. A mais manhosa de todas.

    — Promete? 

    — Sim, Jikan… — falou, apoiando a cabeça contra o peito dela. — Eu prometo.

    — Não se esqueça disso.

    Ele não iria. Jamais.

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