Capítulo 4: One-shot tosco, parte 4.
— Você prometeu, não se esqueça disso — retomou ela, dando um soquinho no braço dele.
— Certo… bom, acha que tem magia nessa porta?
Eles encaravam a saída. Era uma porta de ferro.
— Acho que não.
— Não? — indagou, surpreso.
— Não. Ele deve ter confiado demais no Motor Mágico. Digo, ele nem devia saber muito sobre você, já que usou aquilo — disse ela, estufando o peito, se vangloriando de ter alguém como Nathan. — Só precisamos chutar essa bodega e sair.
— Mas ele pode ouvir o barulho, Jikan…
— Ah, Nathan! Estamos num castelo! — e rodou, com os braços estendidos. — Olhe essas pedras, a janela… não estamos num calabouço, eles ficam no subsolo. Claramente isso é um castelo, ou uma torre, talvez. Ele não pode ser capaz de escutar tudo que barulha por aqui.
— É, você tem razão… mas e os guardas?
Ele tinha um ponto.
— Não pensei nisso… — murmurou ela, estupefata.
— Bom, parados não podemos ficar. Vou arrombar a porta.
— Vai… vai mesmo? — perguntou ela, agora preocupada.
Tinham que arriscar.
— Agora!
Ele correu e, fazendo a mão queimar em chamas azuis, golpeou a porta. Um baque de estourar os tímpanos ecoou pelos corredores do castelo. Se fantasmas estivessem passando por ali, até eles teriam tido um susto.
A porta voou metros à frente, passando pela janela enorme e caindo para o nada.
— Viu? Não tem ninguém aqui — disse Jikan, rindo. O sorriso dela parecia mais brilhante do que o habitual.
— É… Agora, vamos. Temos que sair daqui.
Deram as mãos e correram para qualquer lugar. Não sabiam para onde ir, mas tinham pouco tempo. Mesmo que não houvesse patrulha por ali, nada garantia que Chad não tivesse ouvido. Se estivesse ali…
Era questão de tempo até aparecer.
— — —
— Quanto… quanto mais precisaremos correr?
A visão era sempre a mesma: metros e mais metros de corredores de pedra, que subiam, desciam, subiam e desciam, sem nunca levar a lugar nenhum. As janelas mostravam o sol de meio-dia.
— Parece… não, é arriscado — falou Nathan, interrompendo a frase.
— O quê?
— Não, nada… só uma ideia boba, não se importe!
— Desembucha! — mandou ela, rindo. — Não pode ser tão boba assim.
Ele coçou o cocuruto da cabeça, indeciso.
— Podíamos… bem, podíamos saltar as janelas — disse ele, esperando a gargalhada da garota.
Mas ela não veio.
— Jikan?
— É uma ideia muito boa — confessou ela, esfregando as mãos. — Se você me carregar, eu topo.
— Sério?!
— Claro que sim. Aí você pode aproveitar e me roubar um beijo! — disse ela, dando uma piscadela. — Só uma ideia.
— Pare com essas brincadeiras, ou…
— Ou…? — repetiu ela, dando pulinhos e o olhando de baixo, no fundo dos olhos.
Engoliu saliva. Ela era muito bonita, bonita demais!
— Ou eu faço. E faço mesmo! — respondeu ele.
— Ah, é? — brincou Jikan, dando as costas. — Vamos, estou esperando!
— Ora, sua… tá duvidando?
— Provocando, querido… — disse ela, suavemente. — Provocando.
Ele não hesitou. Passou um braço pelas dobras dos joelhos dela, o outro apoiando as costas, e a deitou. Ela parecia não crer que ele havia feito isso. Satisfeito com a reação de Jikan, Nathan saltou para o parapeito da janela.
A queda era considerável.
Diante deles, uma ponte que cruzava um abismo que circundava o castelo. Não era tão alto a ponto de quebrá-lo todo, mas ainda doeria.
— No três… — disse ele.
— Tá bom…
Ela fechou os olhos e o abraçou com força.
— Três! — E saltaram.
Como se visse tudo em câmera lenta, Nathan rapidamente encheu as pernas com energia espiritual, as mesmas chamas azuis de antes. O vento golpeou sua face, e a sensação de não sentir o chão o fez sorrir. Nem fizeram barulho ao chegarem no solo.
— Pode abrir os olhos
Estavam na ponte.
— Agora podemos dar no pé — falou Nathan, sorrindo.
— E o beijo? Não vai roubar? É só uma ideia, mas…
Ele o fez.
Tocou os lábios dela com os seus, primeiro com rapidez, depois com calma, como se tivesse todo o tempo do mundo. O ar quente que vinha do nariz, esquentando o beiço dele, era algo totalmente novo em sua vida.
O descolamento foi vagaroso, mas veio.
— Você é louco, caramba?! — falou ela, corada até o último fio de cabelo, ainda nos braços dele.
— Eu sou, é claro que sou.
Depois disso, nem o sol parecia mais tão quente.
— Você é impossível… — murmurou Jikan, incapaz de se recompor.
— Não, você é mais…
— Você que é…
— Eu não, você…
Clap, clap, clap… clap.
— Chega — disse uma voz, grave como um trovão. — Ninguém merece esse show de horrores. Podem parar.
— O-o-o quê?! — gritou Jikan, apertando Nathan com força.
— E pensar que vocês fugiram tão facilmente…. Eu devo ter muita cara de otário, né? Com certeza.
Ele vinha andando devagar, fazendo a ponte tremer. Era alto. Muito alto. A NBA estava perdendo um talento em potencial ali. E não parava aí: cada músculo, cada fibra era torneada, as veias saltadas como raízes de carvalhos velhos.
O bíceps dele tinha o tamanho da cabeça de Nathan!
— Yago Dias… pensei que estava só pele e osso, uma hora dessas — provocou Chad, estalando os dedos.
O garoto riu.
— Seu motor era fraco demais pra isso.
— Eu devia ter imaginado… — dizia, alongando o pescoço, pressionando-o contra o ombro. — Vou providenciar um mais potente, da próxima vez.
— Faça isso. Quem sabe eu morro.
— É, quem sabe.
Nathan deixou Jikan no chão.
— Vai ser perigoso daqui em diante — falou ele, advertindo. — Matenha distância, por favor.
— Tu-tudo bem… só não morra, querido.
— Tá…
E se pôs diante dela, protegendo-a.
“Querido, é?”, pensou ele, gostando de como soava. Era difícil imaginar Kakeru Jikan chamando alguém de querido, principalmente se essa pessoa fosse ele. Seus amigos estariam surpresos — não ficariam, mas ele achava que sim.
Levantou o olhar para Chad, que parecia gostar da ideia de ver alguém levantando os punhos contra ele. Era uma luta sem sentido, Nathan pensava, mas não tinha como negar. Aquele cara era forte, ainda que fosse burro. Não podia evitar aquilo…
— Parece que vai ter que ser no mano-a-mano… — cuspiu Chad, fingindo reclamar.
— Pois é…
“É o que parece.”
Os batimentos cardíacos foram acelerando. Era um vale-tudo. Será que seria forte o suficiente, sabendo que aquele homem era subordinado daquela coisa? Ela não dá vez aos fracos, disso ele sabia. Tinha que dar tudo de si.
Olhou para trás. Jikan ainda estava lá, apreensiva. Era reconfortante. Era legal ter alguém preocupado com a sua saúde, se vai voltar inteiro. Ele sorriu. Perder não era opção.
“Jamais.”

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