Nathan, enquanto alongava os braços, deu uma breve examinada no campo de batalha: iluminado pelo sol, era uma ponte larga, ideal para desviar de feitiços. Não era cercada por nada, suspensa num abismo de fundo não visível…

    Se fosse necessário, sabia como usar a queda.

    — Puxa… 

    Era Chad. Interrompendo os polichinelos, o olhar meio assustado.

    — Parece que temos pouco tempo… — Parecia nervoso.

    — O que disse?

    — Você não mora nesse castelo, então é justo não saber disso… — começou ele, como se pedisse desculpas. — Mas essa ponte… bem, você já viu que horas são?

    — Não sei… eu tenho cara de índio pra saber, olhando o sol?

    Chad cuspiu um “imbecil!”, junto do catarro.

    — É uma da tarde — falou o homem, coçando os cabelos ruivos. — Eu não devia estar aqui.

    — Eu também não, veja só! — latiu o garoto, rindo.

    — Me ouça! — desesperou-se Chad. — Esse castelo é mágico. Certas portas só se abrem quando você faz carinho nas maçanetas. Algumas janelas não deixam a luz entrar, se você pedir… 

    Como se dissesse “prossiga”, Nathan respondeu com um aceno.

    — Essa ponte… veja, eu não passo a tarde aqui, então ela… ela tira um descanso.

    Silêncio. O vento trouxe uma bola de capim seco, rolando-a entre eles.

    — Ela o quê? — indagou Nathan.

    — Exatamente o que você ouviu — Ele não sabia onde esconder o rosto.

    — Um descanso? Ela tira um descanso? Que história é essa?!

    Nem o dono do castelo sabia dizer.

    — Nunca parei pra marcar o horário, mas… — Ele encarou o sol, como se fosse adiantar de algo. — Deve ser pouco antes das duas horas.

    — Ela vai fazer o quê, tirar um cochilo?

    Chad o fitou, sério.

    — Espera… você tá brincando, certo? — perguntou o garoto, preparando o riso.

    — Nenhum pouco.

    As mãos de Nathan começaram a suar. Devia ser uma piada. Tinha que ser.

    — Ela… ela vai se  deitar? Tipo, soltar o outro lado e se jogar contra… — E olhou para o abismo, sentindo a garganta secar. — Contra o abismo?

    — Uhum… 

    — Tá de sacanagem… 

    De repente, o rosto de Chad assumiu um  tom cinzento. Sua pupila diminuiu, e Nathan, por instinto… 

    “Magia?!”

    …Saltou para o lado, ficando na beira do abismo.

    — IDIOTA! — gritou o inimigo, furioso.

    Quando olhou para trás, o horror invadiu o peito de Nathan.

    — O que você fez?!

    — Nathan?! — gritou Jikan, respirando sem ritmo.

    Havia um circulo.

    Ele surgiu dourado, feito de energia, sob os pés da garota. Ela não conseguia se mexer.

    — Não era pra desviar! — gritou ele com Nathan.

    “Merda!”, amaldiçoou Nathan em sua mente.

    Círculos e mais círculos mágicos, também dourados, surgiram no ar, ao redor de Jikan. Desesperado, Yago Dias não pensou muito.

    Chad percebeu e…

    — NÃO SEJA TOLO!

    Mas ele não deu ouvidos. Embuiu os pés com as chamas azuis e, num salto, se pôs diante da garota.

    — Vai doer, mas é pro seu bem — disse ele.

    — O-O quê?!

    Sem responder ou avisar, Nathan a empurrou com tudo. Ela caiu para trás, longe do centro do círculo…

    Mas o círculo, como se percebesse…

    — IMBECIL! — berrou Chad.

    …Fez de Nathan o seu próximo prisioneiro.

    Os círculos no ar foram nascendo aos montes, como se fossem estrelas em plena luz do dia. Eram vagalumes perigosos voando em torno do rapaz.

    — Muito bem! — disse o dono do castelo, satisfeito. — Por rejeitar a minha mestra, fazendo pouco caso de sua boa vontade, bem na minha frente… eu, Chad Deathapple, como servo de Katharine von Stahl…

    Ergueu a mão aberta, mirando Nathan.

    — …Eu declaro e realizo esta execução…

    Jikan fechou os olhos.

    — PÚBLICA!

    E dispararam. Ao mesmo tempo. Todos os círculos mágicos dispararam no mesmo instante.

    — NATHAN! — gritou Jikan, de joelhos, horrorizada.

    — — — 

    Escuridão…

    A encontrou de novo, a escuridão.

    “Merda!”

    Eram tantos tiros, tantos ataques, que as dores se somaram e…

    “Anularam…”

    …Negaram a si mesmas.

    “Eu não posso morrer…”

    Ainda devia um encontro.

    “Não posso… simplesmente… morrer aqui.”

    Mas…

    “Como posso… como vou sair dessa situação? Tô paralisado… milhões de disparos me acertam, e não matam…”

    E uma voz, a mesma de antes, vinha de algum lugar da mente…

    — Isso pode salvar a sua vida, quem sabe?

    “Mestra!” 

    Era isso!

    “Suspensão…” 

    Não foi tão difícil, já que não sentia mais o corpo.

    — ABSOLUTA!

    Era a mesma situação, a mesmíssima prisão de antes. E se estivesse certo, ele só precisava..

    — Explodir!

    Sobrecarregar o feitiço!

    “É agora!” 

    Imaginou uma fagulha nascer diante dos olhos. Uma sementinha de fogo. Ela foi crescendo, crescendo e crescendo…

    — O que ele está fazendo?! — gritou alguém, parecia Chad.

    Hito-no-Tama!

    Pequena, do tamanho de uma bola de isopor. Mas ela não parou. Continuou crescendo. Absorvia todo o kirei que Nathan lhe enviava…

    …Até os disparos da Execução Pública ela parecia consumir.

    — Não atrase a sua morte, infeliz! — berrou Deathapple, irado. — Quer nos levar pro outro mundo com você?!

    Mas ele não se importou.

    “Agora!” 

    Como se fosse o centro do furacão, a Hito-no-Tama, que não parava de crescer, fazia os ventos girarem em torno de si mesma. 

    — Está… me… arrastando? — indagou-se Jikan, protegendo o rosto com os braços em xis.

    Nem o inimigo parecia firme.

    — Pare com isso, idiota! PARE COM ISSO! 

    O desespero em sua voz entregou tudo. Quando abriu os olhos, Nathan não estava mais preso. A esfera engolira até o círculo mágico de Chad…

    …E agora preenchia a largura da ponte por completo.

    — Ho… — murmurou Nathan, respirando calma e lentamente. — Mos…

    E segurou as últimas sílabas. Chad arregalou os olhos, incrédulo.

    — Desgra…

    — PHE, RA! 

    E a Hito-no-Tama, agora Homosphera, disparou contra o subordinado mais leal de Von Stahl. Ela correu por toda a ponte, deixando um rastro de destruição…

    — MALDIÇÃO! — foi o grito do inimigo, que ia se afastando, morrendo na distância.

    A bola azul, cortando o horizonte, atingiu o outro lado e explodiu. Os destroços voaram por todos lados. 

    O cheiro de pedra queimada reacendeu no ar.

    Nathan não percebeu quando Jikan havia se aproximado, mas não reclamou. Ficou feliz de ser abraçado pelas costas.

    — Eu fiquei com medo… — disse ela, chorosa. — Eu pensei… eu pensei que você fosse…

    — Morrer?

    — Sim, idiota… idiota! 

    — Bem, eu tô vivo — respondeu ele, dando de ombros.

    — Pra sua sorte, idiota!

    E não só isso.

    “Ao que parece…”

    Ele venceu.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota