Índice de Capítulo

    Os olhos de Takeshi se voltaram para Anika.
    Anika apenas balançou a cabeça em silêncio — uma negação curta, quase frágil, como se pedisse para ele acreditar nela.

    O colar trazia a figura de um cão branco, esculpido com detalhes delicados. Pequenos fragmentos de vidro vermelho decoravam a peça, refletindo a luz em brilhos suaves. O cordão que o sustentava era de um tom roxo profundo, contrastando com a leveza.

    Lucius limpou a garganta, devagar. Um sorriso fino se abriu, daqueles que não alcançam os olhos.

    — Como pode ver… 

    Lucius olhando diretamente para Takeshi, embora inclinasse o queixo na direção de Anika 

    — Ela está mentindo para você.

    Seus olhos, afiados como uma lâmina pressionada contra a pele, se prenderam nela.

    — Então, chefa… — Lucius com a voz baixa, tranquila, quase gentil demais — O que nós vamos fazer com ela?

    A mulher apertou a mão.

    O vidro estalou.

    O colar se estilhaçou e os cacos roçaram a madeira — uma gota de sangue escorreu junto.

    — Eu não vou aceitá-la — declarou, abrindo a mão por completo.

    Os cacos deslizaram pelos seus dedos e pousaram sobre a madeira, junto a uma gota de sangue que escorria lentamente pelo corte em sua palma.

    Takeshi puxou a máscara do rosto e a deixou sobre a mesa. O abafamento, a respiração presa — estava tudo começando a irritá-lo.

    “Ela não vai aceitar de jeito nenhum.” Seu olhar vagueou entre os presentes até pousar em Lucius.

    Takeshi com a expressão calma e o corpo levemente inclinado para trás, ele observava tudo sem dizer nada.

    “Então é isso… às vezes parece que ele é o verdadeiro líder.”

    Marlon levantou a mão sem erguer a cabeça.

    — Tem algum problema se eu sair? 

    Um riso alto cortou a sala, deslocado.

    — Hahaha! Ei, velho… isso é importante. Aguente só mais um pouco e eu te faço o café do jeito que gosta. 

    Marlon desviou o olhar, como se aquele esforço fosse grande demais.

    — Se vocês querem tanto o garoto, por que simplesmente não o aceitam logo?

    A mulher respirou fundo, ainda encarando os cacos diante de si. O sangue pingou na madeira.

    — Por causa da garota — respondeu, firme.
    Seu sangue escorreu um pouco mais pela mão, pingando silenciosamente sobre a mesa.

    A atmosfera ficou pesada.
    Ninguém falou por alguns segundos.

    Takeshi apenas observava — atento.

    A mulher se levantou da cadeira em um movimento calmo e seguro.

    Sua camisa, decorada com pequenos pontos amarelos, brilhava suavemente sob a luz, lembrando constelações dispersas. As mangas largas caíam com leveza, conferindo-lhe um ar quase etéreo. Já a calça preta, longa, possuía discretos reflexos que acompanhavam o passo dela, como se a luz escolhesse segui-la.

    — Eu entendo que você está cansado… mas, Marlon, você sabe o que esse grupo fez. Não se lembra? 

    Marlon cerrou o punho até os nós dos dedos doerem. O ar lhe escapava em rajadas, quase descontrolado.

    Levantou-se num só gesto e a palma encontrou a coronha; o clique do tambor ecoou como um anúncio.

    O cano do revólver alinhou-se com a têmpora de Anika. — Eu a mato.

    Os presentes estreitaram os olhos, surpreendidos com a rapidez do gesto.

    A mulher sorriu suavemente e pousou a mão sobre o ombro de Lucius.

    — Obrigada. Mesmo tendo ficado conosco por semanas, você ajudou mais do que imagina. Você será promovido, Lucius.

    Lucius apenas sorriu.

    — Agora, você. — Ela voltou o olhar para Takeshi, firme e direta. — Podemos retomar o nosso acordo?

    Takeshi andou e pousou a mão sobre o revólver.

    Anika inclinou a cabeça, fechou os olhos — já não tremia; parecia apenas ceder ao que vinha.

    — O que você está fazendo? — Marlon arrancou a mão de Takeshi e recolocou a arma junto à cintura.

    — Já disse: se matarem ela, eu não aceito. É melhor ouvirem. — A voz de Takeshi saiu firme, curta.

    Marlon agarrou-lhe o pulso.

    — Eu vou ter que machucar você se entrar nisso — murmurou, entre dentes.

    Takeshi não recuou. O antebraço de Marlon empalideceu e logo ficou vermelho, como se uma pressão invisível o apertasse.

    Takeshi cerrou os dentes; os olhos moviam-se rápidos, calculando cada possibilidade.
    Lucius aproximou-se; o olhar tornou-se sério.

     — Vamos nos acalmar um pouco. — disse, com voz contida.

    Marlon moveu a mão; Takeshi soltou o pulso. Os dois trocaram um olhar tenso por alguns segundos antes de se recolherem aos seus lugares.

    —….

    O silêncio pesou sobre a sala; todos permaneciam se encarando, imóveis.

    —….

    Lucius sentiu um arrepio percorrer a espinha e deixou escapar um suspiro contido, como se tentasse soltar a tensão acumulada.

    — Bem… antes eu estava—

    — Eu não aceito isso. 

    O sorriso dela era água fria; as veias do pescoço se arqueavam. — Acho que você não entendeu—

    — Já entendi. — Takeshi com firmeza, embora a voz traísse um cansaço. — Não tenho medo de vocês. Se querem uma “negociação” justa, então façamos uma.

    As pernas de Takeshi fraquejaram; ele respirou fundo, ajeitou-se na cadeira e buscou uma postura estável.

    — Vocês querem meu conhecimento sobre certas coisas, mas eu quero entender: por que confiaram tão facilmente em mim?

    A mulher levou a mão ao queixo, riu com leveza e um brilho incontrolável nos olhos. — Porque, quando Lucius encontrou você, ele achou duas coisas. A primeira parecia um vagalume — Ela gargalhou, como se a palavra lhe escapasse — e a segunda, uma esfera dourada.

    “Agora faz sentido porque Lucius acreditou em mim.”

    Marlon lançava olhares breves para Anika antes de voltar a fitar Takeshi. Anika se mexia levemente, inquieta.

    — Certo. Eu aceito, mas com algumas condições. — Takeshi começou, a voz firme. — Minha identidade deve permanecer segura. E Anika também.

    — Você já repetiu isso — Lucius comentou, limpando o suor da testa.

    — Ainda não terminei. — Takeshi fechou a mão e ergueu um dedo. — Primeiro: quero informações sobre todas as organizações envolvidas.

    Ergueu um segundo dedo. Lucius abriu os lábios, incrédulo.

    — Segundo: quero que encontrem duas pessoas para mim.

    Por fim, levantou um terceiro dedo.

    — E terceiro: quero respostas claras sobre as habilidades. Todos aqui são obrigados a tê-las ou não?

    Lucius ergueu as sobrancelhas quando viu os lábios de Takeshi se moverem.

    — Calma… ainda não terminei. — Takeshi voltou o olhar para a mulher; sua expressão permanecia tranquila, embora os punhos estivessem cerrados com força. — Eu posso garantir sua vitória contra as outras organizações que estão em conflito com vocês. Posso até usar ela para melhorar os resultados. — Ele apontou para Anika.

    “Esse cara… Como ele consegue se manter tão calmo? Eu achei que ele só tentaria sobreviver.”A cabeça de Lucius latejava.

    A mulher tamborilava os dedos sobre a mesa, avaliando.

    — Eh…

    Lucius levantou a mão, a voz tremendo ao tentar intervir.

    Takeshi o cortou sem hesitar:

    — Não, Lucius. Deixa a sua chefe falar. Ela é quem manda aqui, não é? Ou vai me dizer que você não consegue resolver suas próprias decisões sozinho?

    A mulher apenas acenou a mão em direção a Lucius.

    — Kakakaka. Isso foi bom. — Ela sorriu, o tom divertido porém cortante. — Você nem me deu tempo de apresentar minhas próprias condições. — Seus dedos cerraram-se lentamente enquanto ela se inclinava para frente. — Quero que trabalhe oficialmente para nós. Seus benefícios serão meus: seu dinheiro, suas conquistas, tudo passa por mim. E, claro, também quero saber o nome do seu modificador.

    Takeshi engoliu seco, um arrepio subindo pela coluna.

    — Sua amiga continuará viva, — continuou a mulher, agora com o olhar se estreitando — mas ficará sob nossa proteção. Não podemos correr o risco de ela fugir ou pedir ajuda. Portanto, ela ficará comigo.

    Seus olhos brilharam em um amarelo intenso, ameaçador.

    — Se você não aceita, a garota morre e cada um aqui perde algo, então como quer resolver isso? — a voz dela cortou o ar, doce e afiada.

    Takeshi remexeu as pernas, inquieto, como se cada movimento fosse um pequeno pedido de tempo.

    “Droga. Qual é a melhor opção agora?”

    O suor de Lucius secou; a mão que tremia ficou imóvel. Marlon observava, impassível, como quem conta os minutos.

    “Não vejo a hora de sair daqui.”

    Takeshi buscou o centro da respiração, inspira, expira — o som do vento parecia sussurrar ao seu ouvido, criando um ritmo que o obrigava a pensar.

    — … 

    “Qual seria a melhor escolha?!”
    Levantou-se e fitou todos à sua volta.

    — Ace—

    Antes que pudesse terminar, um estrondo de vozes e batidas ecoou pelo corredor; os gritos eram um horror a dilacerar o silêncio.

    — Veja o que está acontecendo, Marlon. 

    Marlon ergueu-se, abriu a porta e, segundos depois, voltou a escancará-la com força. — Preciso que veja isso, agora.

    A mulher também se levantou; Takeshi e Lucius seguiram-na até a saída. Lá fora, o cenário era de pânico: pessoas corriam em todas as direções, gritando, atropelando-se umas às outras.

    — Acabou para a gente! 

    — Vamos morrer!

    Marlon segurou um homem que soluçava no chão, o corpo tremendo.

    — O que está acontecendo? — a voz firme por cima do caos.

    O homem, entre lágrimas e tremores, repetiu como se precisasse convencer a si mesmo.

    — Acabou para a gente…

    A mulher sentiu um leve formigamento percorrer o corpo, como se a situação finalmente tivesse peso.

    O homem agarrou a roupa de Marlon com força. Todos ali permaneceram imóveis, atentos, quando sua boca enfim se abriu e as palavras saíram, trêmulas:

    — Roubaram todos os alimentos… não sobrou nada.

    Todos arregalaram as sobrancelhas, sentindo a garganta apertar ao mesmo tempo. O ar pareceu ficar mais pesado, difícil de engolir.

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