Capítulo 75: Aprovação Divina
O coração pulsava ainda mais rápido do que um relâmpago, e não se satisfazia com isso; influenciava a respiração a ser tão veloz quanto.
Os olhos não enxergavam a cor do mundo, tampouco o chão que o permitia ficar de pé. Tudo o que sua atenção desejava era alcançar o alvo de nível divino.
Este, por sua vez, observava o jovem à sua frente: caloroso, quase um pequeno sol, no entanto, havia se despedido de tudo para conquistar a força.
Arthur começou a fechar os punhos sem um limite estabelecido, e isso resultou em uma leve consequência: seu próprio sangue escorria pelos dedos.
Isso foi apenas o começo da loucura. Os lábios se comprimiram repentinamente, e o tórax inclinou-se para baixo, mal conseguindo conter a insanidade1.
Logo depois, os pés grudaram no solo feito um ímã; e, a coluna, que mal conseguia suportar tanta energia nascida do ódio, foi forçada a se revoltar contra o céu.
O que veio no fim dessa apresentação foi um horror sonoro. Um grito sinalizador de guerra, com a voz de sua alma, expandiu-se ao horizonte.
E esse som não foi humano. Era grave, hostil e, sobretudo, distorcido com a fragilidade do vento, tornando-se mais imponente do que um rugido de um dinossauro.
Foi impactante o suficiente para fazer o chão tremer sutilmente, e isso foi bom o bastante para arrancar leve arregalar surpreso da divindade.
No entanto, o que temos agora não é alguém que deseja batalha; mas, sim, morte e destruição, sacrificando a própria existência se necessário, e foi.
Arthur desapareceu um momento depois, e o que sobrou de seus rastros foram as pegadas dos pés cravadas no solo, dedurando sua ação.
Logo depois, reapareceu diante da divindade, que manteve o semblante sereno e curioso, mas a situação não era a mesma de antes.
Antes de um segundo se passar, o punho do garoto encarava aquele ser, pronto para acertá-lo assim que chegasse a hora, mas não era veloz o bastante.
O deus inclinou o corpo para trás, uma esquiva que zomba de um ataque tão lento quanto previsível, mas não era recomendável agir dessa forma nessa situação.
Antes desse desvio ser sequer terminado, outro soco, ainda mais rápido do que o anterior, caminhava em direção ao seu abdômen.
Desviar normalmente seria um absurdo para qualquer ser, menos para aquela divindade, que não o fez porque não achou elegante.
Sendo assim, desapareceu em um instante e reapareceu no outro, logo nas costas de seu desafiante, que também sumiu um momento depois.
E, mais uma vez, surpreendeu um deus, ressurgindo logo ao seu lado, com punhos que acertariam um rosto divino se ele não fosse rápido demais.
Essa era a realidade desse cenário: Arthur tentava acertar a todo custo o ser supremo, que manteve as mãos nas costas a maior parte do tempo, enquanto ele mal se esforçava.
Independentemente do que fizesse, jamais poderia acertar um deus; no entanto, esses pensamentos eram queimados antes mesmo de chegarem à consciência.
Ainda que ficasse cada vez mais rápido, sabia que isso não era o suficiente; precisava de um esforço extremo e, sobretudo, ainda mais insanidade.
Foi com esse instinto que recuou, oferecendo um instante de seu tempo para respirar rapidamente, enquanto o sangue que escorria das narinas abraçava as brasas.
A mão direita, sem demora, ergueu-se ao céu com a palma aberta, e desejou agarrar uma das estrelas por um momento, mas preferiu criar seu próprio sol.
Uma esfera flamejante começava a crescer dali, e seu crescimento foi quase tão rápido quanto algo instantâneo, mostrando tanto para o mundo quanto para o deus que não havia somente um criador de universos ali.
Em sequência, sem se importar com as consequências, apontou o dedo a um deus e lançou o sol sobre ele, desejando levar sua vida junto com o leste.
Aquela esfera flamejante não vinha tão rápido quanto os golpes do rapaz; era lenta e, sobretudo, tão bela quanto brilhante, mas devastadora.
Diante desse cenário perigoso para sua moradia, o ser divino esticou a mão esquerda e segurou gentilmente aquele sol, estagnando-o no mesmo instante, enquanto os ferimentos não existiam.
Entretanto, o ataque não tinha encontrado seu fim. Arthur percebeu a oportunidade no mesmo instante e, sem perder tempo, avançou até as costas do ser supremo.
O objetivo era claro, e os punhos se fechavam com uma motivação simples. Em poucos momentos, mais um golpe era lançado contra as costas daquele deus.
Antes que esse soco o acertasse, fechou a palma esquerda sutilmente, transformando aquela enorme estrela em uma chuva de brasas.
Em seguida, com a palma esquerda, que estava em suas costas, defendeu aquele soco facilmente, e olhou para trás logo depois, exibindo semblante satisfeito.
Em seguida, surgiu atrás do garoto, tocando em sua costela esquerda discretamente, mas o impacto não foi tão gentil quanto sua ação.
As costelas de Arthur rangeram de dor, e algumas entregavam-se à destruição. Os pés foram incapazes de o manter firme e, assim, o permitiram voar.
As costas colidiram com o chão, mas não tinham a menor intenção de se manterem abaixo; dessa forma, suas mãos agarraram o solo e o jogaram para cima.
Lá estava ele: ofegante; as pálpebras estavam indecisas sobre se entregar à dor ou continuar lutando, mas o espírito de luta não lhes deu outra escolha.
O sangue que insistia em fugir e as brasas que insistiam em queimá-lo eram dois sinais de que seu tempo estava mais curto do que imaginava.
No entanto, nada disso importava. Entregou, então, as palmas ao horizonte, apertando uma esfera invisível para concentrar seu poder em chamas.
As veias de ambos os braços explodiam uma a uma, sem pressa para a autodestruição. Em compensação, seu calor estava mais intenso do que nunca.
A ponta dos pés, pronta para saltar, avançou logo após, diminuindo brevemente a velocidade assim que chegou às costas do deus. Antes que a divindade olhasse para trás, saltou utilizando o ar de apoio. Agora, estava acima de um ser supremo e, aparentemente, em seu ponto cego.
Era chegada a hora de apostar todas as fichas em somente um ataque. Ao juntar os pulsos, expulsava quase todas as chamas que moravam no peito.
Árvores davam adeus à vida, e as gramas se despediam de seus pais, mas tudo isso só passaria a importar se aquele ser fosse destruído.
Permaneceu assim por minutos, até que sua forma fosse embora com o fogo. Não demorou nem um pouco para que seu corpo também cedesse ao vento.
O resultado era trágico, mas trouxe consigo uma vitória impossível. Não havia mais uma divindade, apenas a existência de Arthur de joelhos no chão.
“Eu… Venci.”
Pensava dessa forma enquanto os braços sangravam mais do que deveriam; sobretudo, a conquista que achava que tinha era obviamente falsa.
A divindade estava do seu lado, observando-o em um misto de orgulho e uma pitada de decepção. O resultado, se ele fosse fraco o suficiente para morrer naquele ataque desesperado, seria uma mãe eternamente arrependida.
— Foi uma boa luta, jovem. No entanto…
A voz que ecoou fechou tanto o caixão da coragem quanto o da energia de Arthur. Perante tamanha força, finalmente desistiu de tentar, após oferecer dez mil por cento de seu esforço.
As mãos da divindade apontavam para seu corpo, e logo depois para o céu. Dessa forma, permitiu que o garoto flutuasse por um breve período de tempo.
— Essa forma perigosa não é algo que eu deva permitir.
Arthur não percebia naquele instante; na verdade, mal estava consciente sobre o próprio estado, e tampouco sabia que estava prestes a morrer.
Cada parte de seu corpo estava queimada. Grande parte das veias estavam entregues à morte, e, as poucas que sobraram, caminhavam para esse destino.
A divindade, sendo o único dali que podia salvar o garoto, começou a fazer isso de bom grado, e a única coisa que cobraria era um selamento.
A ponta de seus dedos repousou sobre o peito de Arthur. Em harmonia com essa ação, uma onda esverdeada se espalhava por todo o corpo, curando quaisquer ferimentos que existiam.
No entanto, um cadeado vermelho brilhava sutilmente em seu coração. O preço da cura foi a utilidade daquela forma kamikaze, que só poderá ser usada se um deus superior a este permitir.
— Lutou de forma digna, e recebeu minha aprovação. Agora, descanse, e acorde só depois que sua mãe despertar um espírito tão corajoso quanto o seu.
O garoto nem sequer ouvia as palavras da divindade, mas o corpo flutuava em santa paz. Sem que as pálpebras percebessem, já estavam fechadas e, sem que o corpo se atentasse, entregou-se ao sono.
O ser divino o moveu gentilmente para uma das árvores que restaram e o permitiu que descansasse ali, prometendo-lhe uma proteção além dos céus até chegar a hora de seu acordar.
Logo depois, bateu palmas sutilmente com uma finalidade única: criar um clone perfeito de Arthur, um que não tinha vida, mas tinha sangue e tempo útil para que seja visto.
E assim foi feito. A réplica estava ao seu lado, com a exata aparência do garoto, e também copiava seu estado: olhos fechados em um sono profundo.
A divindade agarrou esse clone logo depois e, por fim, atravessou sua barriga com os próprios braços, abrindo as portas para seu próximo experimento.
— Sua provação chegou, Luna.
Próximo capítulo: Quando o Amor Morre.
- @Maik: explicação rápida: seu poder, como já dito antes, se resume nas esquivas de algo hostil. Se houver sucesso, é mais dez por cento de atributo para a conta; entretanto, essa transformação multiplica todos os ganhos por dez ao custo de tudo, incluindo a sanidade.[↩]

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