Capítulo 52: Mestre e Aluno
No dia seguinte Kenji acordou animado, o que tinha lido na noite anterior despertou o interesse para aprender mais sobre como ser um monge e o que Kallion o ensinaria a seguir.
Ele acordou bem cedo e já se encontrava limpando as mesas e cadeiras empoeiradas na área de alimentação.
Kallion entra no salão e se impressiona vendo a agilidade e determinação do garoto naquele horário da manhã. Ele puxa uma cadeira recém limpa se sentando na mesma e diz:
— Precisamos conversar Kenji!
— Sobre o que? — perguntou o garoto.
— Você limpou e fez o que eu pedi até agora, mas me diga por quê? Não sei se você tem o interesse de virar um monge realmente, então me responda, isso só foi porque você não tinha onde ficar?
Kenji parou de limpar, hesitou por um momento respirou fundo e respondeu:
— Sendo sincero, eu não quero voltar para o lugar que eu pertenço… por questões pessoais.
Kenji criou determinação para se abrir com Kallion, mas ainda assim não foi capaz de contar toda a verdade.
— Então você foge?
— O que? N-não…
De costas para Kallion ele respondia e limpava o balcão com um pano molhado, não ousou se virar para encarar o monge.
— Você gosta da dor?
— Eu não gosto.
— Então por isso foge?
— É, qual é o problema de fugir daquilo que não gosta?
— Porque fugir só aumenta a dor. Você sabe que fugir é errado mas continua fugindo, que diferença isso faz? Nenhuma, você continua fugindo e sofrendo.
— E se eu não quiser mais fugir…
— Encare a dor, não fuja dela.
— Então eu quero aprender, quero me tornar um monge como eu li naquele livro.
— Que livro? — perguntou Kallion.
— Um pequeno diário de anotações, provavelmente de algum antigo aluno seu.
— Entendo. — Kallion alisou a barba, pensou um pouco e continuou. — Então vamos começar!
Kenji e Kallion começaram uma sessão de treinamento, continuando pelo básico, a concentração na cachoeira.
Kenji levou o dia inteiro para aprender e conseguir aplicar finalmente o que Kallion havia dito.
Seu nível de concentração estava elevado, nenhuma voz, pensamento paralelo ou dor no momento de meditação o abalaria.
Os dias foram passando, o templo foi assumindo uma nova identidade, com Kenji limpando o local, cada detalhe e canto daquele lugar estava devidamente limpo e arrumado.
As caçadas também não eram um fardo, Kenji aprendeu sobre paciência e o momento correto para atacar. Volta e meia fazia algumas besteiras, que faziam Kenji voltar a pensar em desistir, mas Kallion percebeu esse padrão no garoto e não deixou que acontecesse.
Às vezes Kallion demonstrava suas habilidades para defesa pessoal, como dizia exatamente naquele diário, Kenji não tinha visto nada igual. Mas Kallion não pretendia ensinar isso a Kenji, era só ele mais uma vez se gabando.
Kenji aprendeu mais sobre criaturas mágicas, espíritos e artefatos antigos que não tinha conhecimento, algo que gerou vários debates com Kallion já que ele expôs que era um explorador.
Ele contou algumas de suas experiências que fez explorando e as trocas de itens que conseguia fazer, ele não contou nada sobre sua família e nem sobre Banehaven.
Aos poucos eles já tinham passado de mestre e aluno e passaram a se tornar amigos, mas sempre se respeitando.
Quatro semanas depois.
— Como anda o crescimento daquela planta? — perguntou Kallion.
— Mesmo eu molhando todos os dias segue meio lento, já dá pra ver um pequeno broto, porém apenas isso. — respondeu Kenji.
— Você disse que ganhou de um espírito, então deve ser alguma semente mágica, deve levar mais tempo do que uma planta normal.
Kenji como de costume estava limpando uma parte mais alta do templo, difícil de alcançar apenas se esticando.
Ele estava em pé apoiado no cabo de uma vassoura na ponta dos pés para alcançar a parte mais alta.
Kallion observava atentamente, bastante orgulhoso de por ver onde o seu aluno tinha chegado.
— Kenji, eu vou meditar um pouco, cuide do templo e limpe o porão. — disse Kallion.
— Sim mestre! — disse Kenji pulando da ponta da vassoura e caindo ao chão de forma magistral.
Kallion segue para meditar na área da cachoeira, ele sempre levava uma simples flauta mágica que costumava tocar.
Kenji não sabia das propriedades daquela flauta, mas sempre que ele tocava, algumas borboletas surgiam em volta dele, era uma cena encantadora.
Kenji desceu para o porão com sua vassoura e pano de sempre, ao chegar no porão sua presença fez com que velas mágicas se acendessem.
— Ok, temos muito que fazer por aqui também.
Ele vê vários objetos mágicos naquele porão, era como uma câmara escondida cheia de troféus, sua curiosidade despertou e seu lado explorador se fez presente naquele momento.
— Ele nem vai perceber se eu mexer nisso. Olha só! Tem alguns bastões aqui, ele nunca me ensinou a usar um desse. Orbes de captura e o que parece ser alguns amuletos.
Kenji pega um dos bastões e começa a girar de um lado para o outro.
— Não acredito! Foi aqui que ele colocou as minhas meias, ele disse que tinha uma surpresa pra mim, talvez ele fosse me devolver isso. Isso me faz lembrar das minhas runas de teleporte. — disse Kenji meio cabisbaixo. — Acho que agora eu poderia tentar voltar lá pra Baneha…
Crac.
Sem perceber, Kenji foi interrompido pois se descuidou e derrubou um dos orbes de captura que ficava exposto em uma bancada.
— Merda, o que foi isso?! — disse Kenji se virando para olhar o que causou aquele barulho.
Ao ver o orbe de captura quebrado ele se abaixa e tenta pegar o mesmo com cuidado para que não faça nenhuma besteira, porém a rachadura se torna maior e finalmente se quebra.
O orbe cria um grande clarão e um espírito aprisionado sai do artefato, ele voa fazendo círculos no porão.
— Aí meu Deus! Tinha uma coisa presa nesse orbe!! O que eu acabei de fazer? O mestre não vai gostar quando saber disso.
— Kenji! Está aí? Eu ouvi um barulho e eu vim dar uma olhada. — disse Kallion descendo as escadas e se depara com aquela cena. — Que diabos aconteceu aqui?!! Kenji! — ele bradou furioso. — Você pode me explicar?
— M-mestre, eu não queria. A-aconteceu sem querer. Eu assumo a responsabilidade, não se preocupe.
Antes que Kallion ou Kenji pudessem fazer alguma coisa, o espírito que voava diante aquela sala voa até a saída assim escapando de sua prisão.
— Eu não sabia que tinha um espírito ali. — disse Kenji em baixo tom, envergonhado.
— E se soubesse? O que teria feito? — perguntou Kallion respirando fundo. — Acho que já está na hora de te contar uma coisa! — disse Kallion de expressão séria.

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