Capítulo 60 - Apaixonado?
Com a esfera brilhando na palma da mão, Jaro só precisava lançá-la. Eu acho que consigo… Pensou o jovem mascarado, mirando em um ponto vazio.
Jaro. É melhor não fazer isso.
A voz da Chefe ecoou calma em sua mente. Ele respirou fundo, deixando a tensão escapar. Aos poucos, a esfera se desfez em partículas de mana.
Como você comprou o Booster várias vezes, sua quantidade de mana está entre as mais altas da sala. Você já está quase no estágio Naka. Lançar uma esfera pela primeira vez, e de forma controlada, é praticamente impossível. É certo que você vai causar destruição. A Chefe, mudou um pouco o tom da sua voz. Talvez um pouco surpresa. Eu diria que, no momento, você só fica atrás daquela ruiva da sua equipe… Vitória.
Você tem razão… Se eu tivesse lançado, com certeza teria causado um estrago. Nem quero imaginar o castigo que essa lunática inventaria depois. Melhor deixar pra outra hora, por ora, vou apenas fingir que não consigo. Só sentir esse poder já é o suficiente. E, de fato, eu já tinha notado o quanto a Vitória é forte… A origem dela ainda me deixa curioso.
Ele não era o único pensando assim. Todos os alunos da segunda etapa começaram fingir que tentariam até o fim da aula, mas nenhum teve coragem de lançar a esfera.
Hmm… pelo visto eles não são tão idiotas quanto eu imaginei. Refletiu Amélia, observando a turma com um sorriso divertido. A verdade é que, depois de passar da primeira etapa, a segunda é bem simples. O problema é que é a primeira vez deles usando a mana de forma ofensiva. Se lançarem sem prática, é praticamente garantia de explosão! Vai ser um grande entretenimento se alguém errar! Ela deixou escapar uma risadinha satisfeita consigo mesma.
Mas não contava com exceções.
Einar, percebendo que todos estavam hesitando, deu um passo à frente. Se ninguém tinha coragem… ele teria.
Vejam!
A esfera em chamas nas mãos de Einar foi lançada, cortando o vazio em alta velocidade. Antes de atingir a parede, explodiu mas sem causar qualquer dano.
— Parabéns, 101! — elogiou a instrutora, satisfeita. — Como eu suspeitava, ao menos um de vocês conseguiria. Ela lançou um pequeno frasco de vidro em direção a Einar. — Pegue.
Einar apanhou o frasco no ar, com facilidade.
— É uma poção que vai aumentar sua mana e te ajudar a alcançar o próximo estágio.
— Obrigado, instrutora.
A mulher sorriu de canto.
— Ainda tenho algumas poções. Se mais alguém conseguir, darei o dobro.
A promessa acendeu o interesse de Vitória. Sem hesitar, ela concentrou sua mana e lançou uma esfera de vento. Assim como a de Einar, ela explodiu no impacto, sem danificar a sala.
O desafio era apenas uma piada não imaginava que mais alguém iria conseguir… preciso tomar mais cuidado! Pensou a instrutora, sem demonstrar no rosto. Com um gesto rápido, atirou duas poções para Vitória.
— Muito bem…
— Obrigada! — respondeu a ruiva, radiante.
Essa maldita! Como se não bastasse o 102, esses dois sempre aparecem pra me atrapalhar! rosnou Einar em pensamento, irritado ao ver Vitória ganhando dois frascos.
Depois de mais algum tempo, outro pessoa decidiu tentar.
Se eles conseguiram eu também posso! Pensava Peter, determinado.
Uma esfera negra enorme, muito maior que a dos demais, surgiu na palma da mão dele, enquanto ele mirava a parede.
Devagar, devagar, devagar…
A esfera saiu da mão dele em alta velocidade e BOOM! explodiu a parede, o teto e parte do chão. A onda de choque levantou as saias de algumas alunas, que gritaram envergonhadas.
É branca… Pensou Lopez, encarando Aurora.
— O que você tá olhando, seu desgraçado!? — ela gritou, acertando um chute certeiro nas partes íntimas dele. Lopez caiu no chão na mesma hora, gemendo de dor.
Não tem jeito… meu ponto fraco é mulher. Ela podia ter um pouco mais de compaixão. Agora não sei se vou conseguir ter filhos! Refletiu Lopez, contorcendo-se de dor.
Einar também ficou paralisado. Vitória estava bem à sua frente e, por um breve momento, ele conseguiu ver a calcinha vermelha e parte da bunda dela. Ela tentava desesperadamente abaixar a saia, mas a pressão do ar era forte demais.
De repente, Vitória virou o rosto por cima do ombro. O olhar dela dizia tudo: “O que você tá olhando? Quer morrer?!” Einar desviou os olhos na mesma hora, o rosto vermelho como pimentão. Não tinha como eu não ver, sua maluca!
Serena, por outro lado, estava ao lado de Jaro. Mesmo envergonhada, no fundo ela queria que ele tivesse visto. Mas Jaro tinha sido mais rápido, levou a mão aos olhos e não olhou para lugar nenhum. No instante seguinte, a pressão do ar passou.
Por que tapou os olhos, senhor? Poderia estar contemplando um mar de peças íntimas femininas. Inclusive, a garota ao seu lado está bem atraída por você, acho que ela não se importaria se tivesse espiado um pouco.
Hmm. Se você viu minhas memórias, sabe muito bem que eu nunca desperdiçaria uma oportunidade dessas… Mas quero tomar decisões melhores…
Quer se tornar alguém nobre?
Não exatamente. Eu diria que… a mulher que eu quero ver nua não está aqui.
Houve um breve silêncio.
Que profundo, Jaro. Parece até que está apaixonado por alguém.
Talvez seja algo assim… mas espero, sinceramente, que eu esteja errado. Esse mundo não é tão pacífico como era o meu.
Para alguém inteligente, você tá falando algo bem idiota.
Jaro riu.
É melhor ser um idiota vivo, do que morto…
O silêncio tinha caído sobre a sala. Peter ficou imóvel, encarando o estrago que tinha provocado, incrédulo.
— Espero que esteja preparado para sua punição, número 83 — declarou a instrutora, com a voz fria como gelo. — Quero você na minha sala assim que a aula terminar.
— S-s-sim, s-senhora… — respondeu Peter, branco como papel.
Os cochichos começaram imediatamente:
— Esse cara é maluco…
— O que será que ela vai fazer com ele?
— Deve pendurar ele de ponta cabeça até morrer, hahaha!
— Ah… eu queria estar no lugar dele. Ficar sozinho com a instrutora… que inveja.
— Inveja?! Cuidado! Porque nem todo ovelha é uma ovelha.
— Ah, me deixa…
Jaro passou a mão pela testa. Ele se superestimou… só porque ficou um pouco mais forte. Espero que fique tudo bem.
— Vamos prosseguir com a aula prática! — ordenou a instrutora.
— Sim! — responderam todos.
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Quando a prática finalmente acabou, todos estavam esgotados. Manipular mana e empurrá-la do núcleo até os canais drenava uma grande quantidade de energia física e mental, ninguém aguentava mais.
A instrutora consultou o relógio.
— Ainda são sete horas… — murmurou ela. — Vamos terminar com aula teórica até as nove. Depois disso, estarão liberados.
Ao fim da aula, todos pareciam limões espremidos. Manipular mana e absorver a enxurrada de informações da parte teórica havia drenado até a última gota de energia deles. Ainda assim, os jovens estavam sorrindo, estavam cada vez mais perto de conjurar sua primeira magia, e todo aquele esforço parecia um preço justo por esse objetivo.
Além disso, estavam impressionados com Amélia. Ela podia ser esquisita, às vezes até assustadora, mas ensinava com maestria. Muitos já desconfiavam que ela era a mais forte entre todos os instrutores. Mas ao vê-la em ação, até o mais ingênuo e o mais fraco teve certeza do real poder dela.
Jaro, por sua vez, parecia viver um sonho. Era como se tivesse sido transportado para dentro de um de seus jogos de fantasia. A vontade de ficar mais forte, de explorar o mundo e descobrir seus mistérios crescia a cada dia. Sem perceber, seu coração já havia se prendido àquele novo mundo.

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