Capítulo 61 - Mimada
Quatro horas após o fim da aula, na Base de Inteligência do Distrito Azul, uma notificação surgiu no grupo da Equipe III, fazendo o celular de Jaro vibrar.
Alice: — Cadê vocês? Já estou na saída do prédio faz dez minutos!
Vitória: — Já estamos indo, guaxinim.
Alice: — Quem é um guaxinim?! Sua baranga?!!
Vitória: — Você, obviamente. Não sabe ler?
Alice: — #@#$%!
Vitória: — Uii. Que medo.
Elas trocaram farpas por alguns segundos até que a tensão finalmente cedeu, e então o chat se encheu de mensagens que chegavam como uma enxurrada.
Jaro, suspirou… vendo essa situação. Porque essas duas não se conseguem ter conversa normal? Isso vai nos atrapalhar… Preciso tentar fazer alguma coisa, em relação a isso, depois…
Jaro: — Se acalmem… eu e Serena já estamos descendo.
Taylor: — Eu também.
Peter: — Vou me atrasar um pouco…
Alice: — Hahaha! O que aquela maluca te obrigou fazer?
Peter: — Desde aquela hora ela me colocou pra limpar todos os banheiros do prédio. Depois mandou eu arrumar o escritório dela e agora tô aqui, carimbando um monte de documentos. Acho que termino em uns dez minutos…
Alice: — Nossa, ela não pegou leve mesmo.
Taylor: — Complicado…
Jaro: — Da próxima vez, tenta ser mais cuidadoso.
Peter: — Sim…
Jaro guardou o celular e chamou: — Serena, já está pronta?
— Sim! — respondeu ela lá de dentro do banheiro. Minutos depois, saiu e perguntou: — Vamos?
Ela estava bem arrumada, até mais bonita do que nos dias anteriores. Apesar de o visual ser simples e adequado para o treinamento, havia um cuidado especial ali. Jaro a observou por um breve instante, mas apenas assentiu: — Vamos.
Serena caminhou ao lado dele, mas por dentro suspirava, frustrada. Ela tinha se arrumado especialmente para que ele notasse.
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— O lugar é bom mesmo! — comentou Taylor, observando ao redor.
Vitória havia alugado um galpão antigo, afastado do centro do Distrito Azul. Por fora, era apenas um prédio de tijolos envelhecidos, com janelas altas e um portão de metal pesado. Mas por dentro, o espaço era perfeito, amplo, piso reforçado, paredes revestidas com material que abafava impacto e som, e iluminação suficiente para treinos noturnos. Não havia móveis, apenas um grande tapete de combate no centro e alguns suportes com armas de madeira. Era um espaço simples, mas claramente pensado para treinar sem interrupções.
Era o lugar ideal para a Equipe III se preparar, testar suas habilidades em conjunto e, principalmente, entender os limites uns dos outros. Ali poderiam desenvolver estratégias, fortalecer a sintonia em batalha e até simular situações reais de combate. Para eles, aquilo era praticamente um tesouro.
— Realmente demos sorte — afirmou Vitória, pegando uma espada de madeira. — Que tal começarmos pelos duelos?
A expressão dela estava incendiada de determinação. Alice engoliu em seco. Ela sabia que, quando o assunto era espada, Vitória era simplesmente absurda.
— Vai ser divertido — disse Jaro. — Que tal eu e você começarmos? Assim já animamos o pessoal.
— Por mim, ótimo.
Os outros se sentaram no chão para assistir ao duelo, ansiosos para ver o primeiro embate da equipe naquele novo campo de treino.
— Estou ansiosa para ver os dois lutando… — comentou Serena, animada se balançando um pouco.
Taylor sentou-se ao lado dela. Já havia ficado surpreso com o visual de Serena e tentou manter a compostura. Afinal, não era possível que um homem e uma mulher dividissem um quarto sem haver nada entre eles… certo? Além disso, ela sempre olhava para Jaro de um jeito apaixonado.
Para Taylor, era simplesmente impossível sequer pensar em alguma besteira. Mas então, quando sentiu o perfume de Serena, seu autocontrole vacilou por um instante. Sua imaginação e pensamentos simplesmente escaparam da realidade.
— C-concordo, senhorita… Esses dois têm um talento acima da média com espadas — respondeu ele, nervoso tentando não imaginar coisas impossíveis…
Serena riu baixinho.
— Você fala de um jeito tão formal e bonitinho.
— Bonitinho!?
— Fala sim — assentiu ela, sorrindo com doçura.
Taylor engoliu em seco, e seu rosto corou.
Como é que eu, um cavaleiro, posso ficar tão nervoso só por estar perto de uma dama? E, ainda por cima… ela já tem alguém. Reflitia ele, com o peito pesado decepcionado por sentir algo por alguém cujo olhar já parecia pertencer a outro.
— V-vai ser incrível… eles são os mais fortes na esgrima — comentou Peter, empolgado.
Alice sorriu de canto.
— Você também não fica muito atrás, sabia?
Peter corou imediatamente e desviou o olhar.
— Ah… o-obrigado…
— Você fica ainda mais fofo quando fica vermelho — provocou Alice, inclinando-se até ficar bem perto do rosto dele.
Peter travou. Sem querer, quando ela se aproximou, o decote acabou revelando um pouco de seu seio, e ele viu. Isso só o deixou mais desesperado.
— I-i-isso… eu…
Alice soltou um riso leve.
— Ei, eu não mordo. Relaxa. — Ela se recostou de novo e bateu no ombro dele. — Vamos assistir a luta.
— S-sim!
Peter tentou focar na arena… mas não adiantou.
Depois daquele momento, ele mal sabia que passaria noites lembrando da cena.
Jaro e Vitória estavam frente a frente, encarando-se friamente, suas lâminas apontadas e suas manas circulando com vigor pelos corpos.
A energia era tão intensa que seus colegas conseguiam ver, a olho nu, uma fumaça branca escapando de ambos, porém, a de Vitória era muito mais densa.
Aquilo era um prelúdio de que Jaro estava a poucos passos de manifestar sua aura, enquanto Vitória, pelo visto, já havia manifestado a própria. Isso não seria uma batalha qualquer.
— Que tal… eu deixo você começar! — exclamou Vitória, sorrindo.
— Claro, como quiser — e, antes mesmo de terminar de falar, Jaro deixou apenas suas pegadas para trás no solo. Em alta velocidade, aproximou-se de Vitória, desferindo um ataque vertical que gerou uma pequena onda de pressão, a qual ela defendeu facilmente.
— Essa força é muito boa para alguém do estágio Guerreiro — soltou Vitória, ainda segurando o golpe. Em seguida, as lâminas deslizaram, e ela contra-atacou com um corte horizontal, que Jaro mal conseguiu defender.
— A-argh! E para alguém no estágio Naka, essa força é realmente difícil de lidar — murmurou Jaro, com dificuldade.
Vitória apenas riu e lançou mais uma grande sequência de ataques, que Jaro tentava aparar como podia.
O que eu faço?! Ela é muito mais rápida, e seus golpes não são brincadeira.
Mas, em meio aos golpes, ele encontrou uma brecha e contra-atacou com uma sequência de ataques. A cada golpe, o jovem golpeava mais forte e mais rápido.
Porém, Vitória desviava e defendia com certa facilidade, até que o jogo invertou e a ruiva com fúria acertou inúmeros golpes em Jaro, derrubando-o no chão em poucos minutos. Ele arfava com força, caído. Vitória aproximou-se e o ajudou a se levantar.
— Você lutou bem… não… você superou minhas expectativas. Sua esgrima se iguala a minha e até parece que você tem mais experiência do que aparenta…
Ela é muito perspicaz… Pensava Jaro.
— Deve ter sido por causa da missão… eu passei por muitos problemas e enfrentei muitos monstros…
— Faz sentido…
Ainda assim, esse nível de força não é normal para alguém no estágio Guerreiro Pensava Vitória, vendo que sua mão não parava de tremer, além do roxão que ficou em sua barriga e do corte na bochecha por causa dos ataques que Jaro causou.
Se eu não tivesse lutado pra valer, teria perdido… Acho que a força dele se equipara com a daquele lixo… Refletia ela, lembrando de Einar. Mesmo que tenha derrotado Einar facilmente, aquilo tinha sido proposital; se arrastasse a luta com ele como fez com Jaro, também teria sofrido danos e isso poderia atrapalhar seu treino, que aconteceria mais à tarde naquele dia. Deve ser talento, não adianta eu ficar resmungando. Ela sorriu.
— Lutar com Jaro deve ter animado um pouco as coisas por aqui. Espero que ninguém tenha ficado com medo! Quem é o próximo? — provocou Vitória, com um sorriso desafiador.
— Eu vou. — A voz de Alice cortou o silêncio.
Todos se viraram para ela, surpresos. Vitória sorriu ainda mais, finalmente teria a chance de dar uma surra naquela mimada!

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