Capítulo 28 - Hipocrisia e pista.
Todas as vozes se calaram, o local ficou em silêncio e o clima pesou. Apenas as respirações pesadas de Satoshi e Kenshi podiam ser ouvidas, enquanto eu estava no meio do fogo cruzado…
— Repete. — ordenou Kenshi.
— É exatamente como você ouviu. — respondeu Satoshi.
Kenshi lentamente caminhou até Satoshi, passo por passo se aproximou e parou bem em sua frente. Senti como se o peso daquelas palavras esmagasse os ombros de Sato, e Kenshi, inclusive os meus. Não estava nada bem.
— Repete. — Kenshi ordenou mais uma vez.
— Você age exatamente como eles. — Satoshi ousou a repetir a frase, que atingiu como uma faca o peito de Kenshi, era nítido.
Kenshi imediatamente se moveu, ergueu seu punho na direção do rosto de Satoshi com velocidade e o golpeou. A raiva consumiu seu ser, e isso se transmitia na aura pesada e energia que emanava de seu corpo.
— Não. Você não vai simplesmente bater em quem contraria você. Não é assim que funciona, nem assim que fazemos. — disse Satoshi, com uma expressão totalmente séria em seu rosto enquanto segurava seu punho, impedindo o golpe de o atingir.
— Quem pensa que é? — esbravejou Kenshi que queimava de raiva, incrédulo.
— Você sabe muito bem quem eu sou, e sabe que não é assim que as coisas funcionam, nunca foi, nem será. — respondeu Satoshi que parecia jogar mais gasolina na fogueira.
O clima era tenso, quente. Parecia que tudo iria explodir. Satoshi seguia firme em suas convicções e enfrentava de frente a raiva explosiva que Kenshi demonstrava no momento.
— Não é você que decide isso. — afirmou Kenshi.
Sora e Kafka se aproximaram, preocupados em como a situação estava. Eles precisavam parar aquilo… Consegui ver a tristeza em seus olhos.
— Não. Deixem eu terminar, por favor.
Kenshi olhou para Sora e Kafka e estendeu sua mão, sinalizou que parassem e então disse.
— É deixem ele continuar. Eu quero saber quem ele pensa que é pra decidir algo com essa ousadia…
— Você também não decide nada. Não vamos mudar nossos ideais só porque Amaterasu desapareceu. Ela se foi mas os ensinamentos permanecem. Você vai totalmente contra o que ela nos ensinou. Qual o sentido disso? — disse Satoshi.
— Não cite o nome dela de novo. O que você é dela mesmo? Você acha que a conhece? Você não sabe de nada. — respondeu Kenshi.
— Quer dizer que ela nos ensinou algo, mas na verdade ela pensava o contrário? Está chamando Amaterasu de hipócrita? Não esperava isso de você… — indagou Satoshi, que foi traiçoeiro em sua fala.
Kafka se aproximou e entrou no meio dos dois, estendeu os braços e os empurrou para longe um do outro, tentando separar a discussão acalorada.
— Já chega! — disse Kafka com firmeza e irritação.
Por um momento, o silêncio pairou sobre o local. Kenshi e Satoshi haviam se calado, mas ambos mantinham sua feição de irritação e se encaravam.
— Imagino a decepção de Amaterasu se visse isso… É melhor vocês pararem por aqui, agora.
— Acabou, galera. Isso passou dos limites, extrapolou tudo. — disse Sora com seriedade.
Sora caminhou e com seus músculos segurou Kenshi e puxou o mesmo que relutava e tentava se desvencilhar do agarrão do companheiro.
Isso é culpa minha…? Eu causei isso? Amaterasu significava demais… Consigo perceber a dor no peito deles. Eu preciso, eu devo ajudar.
— Vocês não tem controle. Nenhum controle. Que decepção… Essa é a lembrança que ela deixou para vocês? — disse Kafka com firmeza.
Satoshi e Kenshi se manteram em silêncio. Era nítido que as palavras de Kafka cravaram em seus corações. Ambos ficaram silenciosos e de cabeça baixa, como se um pingo de noção iluminasse suas mentes naquele instante.
— Respondam! Cadê toda aquela vontade de brigar, de discutir? Hein?! Eu quero ver se vocês tem essa coragem de novo. — disse Kafka irritada.
— Desculpe por isso moleque… — disse Sora, voltado para mim.
Assenti com a cabeça e após isso a abaixei e me mantive silencioso, perplexo com toda aquela situação. Talvez eu não devesse estar ali…
— Bom… O motivo do chamado ser urgente é outro, mas parece que o assunto virou outra coisa não é? Mas que merda… — disse Kafka.
— Eu sabia que era algo importante, só não sei qual é o motivo exatamente… — disse Sora.
— Eu consegui uma informação faz algum tempo e precisava de todos reunidos… É extremamente importante. É sobre nós, sobre ela, Amaterasu.
Os olhos de Kenshi mostravam que sua alma foi iluminada por um lampejo de esperança. Ele deixou de resistir, apenas olhou para Kafka, ansioso pela notícia que aguardava.
— Ela está viva? Você a encontrou? — perguntou Kenshi, extremamente preocupado e ansioso.
— Como ela está? — perguntaram juntos Satoshi e Sora, preocupados.
Kafka fechou os olhos e deu um longo suspiro. Por alguns instantes ela permaneceu em silêncio, mas então abriu os olhos novamente.
— Não sei. Eu não a encontrei, mas encontrei uma pista que vai nos ajudar a encontrar ela. — disse Kafka.
Kafka levantou a mão e estalou seus dedos e fez com que cadeiras surgissem no espaço mental. Após todas as cadeiras se materializarem, ela convenceu todos os ansiosos para se sentarem para que ela pudesse contar.
— Eu retomei minha investigação sozinha fazem algumas semanas. Eu estava buscando por algum rastro de sua energia pelo antigo deserto das tecelãs…
— O mesmo da história? — perguntou Kenshi com curiosidade, pois havia se recordado de algo.
— Sim, o mesmo deserto onde ela nos contou a história… Prosseguindo… Lá, em minha busca, testei minha hipótese. Contei as horas, e exatamente ao meio dia, no exato instante, pude ver um brilho diferente que reluziu de seu disco solar que ela nos deixou. — prosseguiu Kafka.
Ouvi atento de canto, apenas curioso com a história, mesmo que não conhecesse a tal Amaterasu. Kafka deu um leve sorriso, como se a lembrança acendesse uma chama de esperança em seu coração.
— Aquele brilho, tocou meu coração. Foi algo diferente… Foi algo como ela. Vocês entendem, eu sei que sim. Uma conexão. — disse Kafka com um sorriso no rosto.
— Brilho diferente no disco? — Sora perguntou.
— Sim, um brilho diferente. Parecia que tinha algo escrito, mas eu não consigo ler de novo, de nenhum jeito… Eu retornei no mesmo horário diversas vezes, porém nada muda. — respondeu Kafka.
— O deserto… Foi onde conheci Amaterasu. Aquele dia é totalmente inesquecível, quando ela me salvou. — disse Kenshi com nostalgia.

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