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    『 Tradutor: Crimson 』


    Zandir recuou do mural, deixando o silêncio se instalar antes de falar novamente.

    “Foi assim que nossa tribo chegou a esta ilha”, disse ele em voz baixa e explicando: “E desde então, vivemos aqui. Exploramos cada canto, cada costa, mas nunca encontramos outra ilha.”

    A chama da tocha crepitava, sua luz dançando sobre os murais como fantasmas de uma era esquecida.

    “A história da sua tribo é… verdadeiramente algo extraordinário”, murmurou Eztein, sua voz ecoando fracamente na câmara. Seus olhos percorreram os murais imponentes pintados na pedra ancestral — deuses descendo, mortais ajoelhando-se, mundos sendo despedaçados e refeitos.

    “Jamais imaginei que seu ancestral tivesse testemunhado o poder dos deuses.”

    “Você… você realmente acredita em deuses?!” Os olhos de Zandir se arregalaram, a descrença cruzando seu rosto como uma chama repentina.

    Ele não esperava aceitação, muito menos convicção. A maioria das pessoas descartava tais histórias como mitos sussurrados ao redor de fogueiras quase apagadas. Mesmo em sua própria tribo, muitos duvidavam. Às vezes, o próprio Zandir não tinha certeza onde a verdade terminava e a lenda começava.

    “Acreditar?” Eztein soltou um suspiro silencioso e explicou: “Já lutamos por deuses no passado. Não é novidade para nós… mas o poder deles continua além da nossa imaginação.”

    “Você já encontrou deuses antes?!” A voz de Zandir falhou, atônita.

    “Sim.” Eztein e Doranjan responderam em uníssono.

    Por um instante, Zandir esqueceu de respirar. A certeza deles o atingiu com mais força do que qualquer arma. Toda a sua vida ele lutara contra a dúvida, questionando se as palavras de seu ancestral não passavam de exageros heroicos contados para inspirar a tribo. Agora, ouvir esses forasteiros falarem com tanta naturalidade sobre deuses… Aquilo abalou algo profundo dentro dele.

    A conversa fluiu, entrelaçando mitos, memórias e os segredos há muito guardados da Tribo Fergo. A luz da fogueira tremeluzia nas paredes, projetando sombras mutáveis ​​sobre os deuses pintados, como se estes se movessem a cada palavra proferida. Para Eztein e Doranjan, era como se estivessem espiando por uma porta para uma era esquecida.

    Por meio das histórias de Zandir, aprenderam não apenas sobre a tribo, mas também sobre os outros habitantes espalhados pela ilha.

    Essa terra, a Ilha da Caixa Vermelha, ficava muito além de qualquer horizonte conhecido. O mar que a circundava era vasto e traiçoeiro, engolindo toda tentativa de atravessá-lo. Por gerações, a Tribo Fergo permaneceu isolada, uma chama solitária ardendo em uma ilha esquecida pelo mundo.

    Existiam outras tribos espalhadas pela ilha — algumas cautelosas, outras abertamente hostis a forasteiros. E além delas, espreitavam monstros e seres sem nome que desafiavam qualquer descrição. Moviam-se pelas sombras como pesadelos incompletos, vistos apenas de relance antes de desaparecerem na escuridão.

    A cada pôr do sol, uma densa neblina cobria a ilha como um véu vivo. Quando a noite caía, o mundo se transformava. Os caminhos se torciam. Os pontos de referência desapareciam. Sons ecoavam de forma estranha, como se sussurrados por coisas invisíveis. Muitos que vagavam durante aquelas horas jamais retornavam — ou, se retornavam, voltavam mudados, incapazes de explicar o que haviam presenciado. Havia lugares, alertava Zandir, que desafiavam toda a lógica, lugares sobre os quais a tribo se recusava a falar.

    Após a longa conversa, Eztein e Doranjan finalmente saíram da caverna. O ar fresco os acolheu, juntamente com os olhares atentos dos membros da tribo que permaneciam por perto. Alguns curiosos, outros cautelosos, todos avaliando silenciosamente os estranhos entre eles.

    “As leis aqui são mais brandas… mas eu não esperava esse nível de desordem”, disse Doranjan em voz baixa, enquanto contemplava o sol baixo no céu, sua luz difusa pela névoa sempre presente e afirmou: “Esses fenômenos estranhos ao redor da ilha são sintomas disso.”

    “Provavelmente está relacionado aos deuses que o Chefe Zandir mencionou”, respondeu Eztein e complementou: “Acho que o ‘deus maligno’ de que ele falou é a Gula.”

    “Eu também acho…” A expressão de Doranjan escureceu e disse: “Se uma batalha entre deuses realmente aconteceu aqui, então um deles deve ter arrastado seus seguidores para este reino secreto para escapar da destruição.”

    A incerteza os oprimia como um peso. Sabiam tão pouco, mal conheciam a superfície da história desta ilha, suas leis, seus perigos. E quaisquer que fossem as verdades ali escondidas, não eram os únicos a procurá-las.

    Eles teriam que agir com cautela. Eram estrangeiros em uma terra esquecida… e não estavam sozinhos ali.

    Havia inúmeros outros que haviam forçado sua entrada neste reino esquecido — caçadores ambiciosos, sobreviventes desesperados e monstros sedentos de poder disfarçados de homens. E agora, todos buscavam a mesma coisa.

    “As frutas lendárias…” Doranjan sussurrou, embora as palavras soassem como um juramento esculpido em pedra, ele o lembrou: “Precisamos obtê-las antes dos outros.”

    Os olhos de Eztein endureceram, uma sombra passando por seu rosto.

    “Eu sei. Elas nos fortalecerão imensamente. Nosso crescimento se acelerará com os recursos certos.”

    O vento mudou de direção. O ar ficou estranhamente calmo.

    Então-

    –BOOOOOOM!!

    O céu estremeceu.

    A explosão destruiu até mesmo as árvores distantes, uma onda de choque reverberando pela terra como o rugido de uma besta despertando. Poeira subiu em espirais no ar. Pássaros se dispersaram, grasnando. Até o chão sob seus pés tremeu.

    Eztein e Doranjan imediatamente se viraram na direção do som.

    Ao redor deles, a Tribo Fergo se dissolveu no caos.

    Crianças gritavam enquanto suas mães as arrastavam para dentro de casa. Os mais velhos mancavam em direção ao abrigo com o terror estampado em seus rostos. Guerreiros se apressavam para formar um perímetro defensivo, segurando suas armas rudimentares com mãos trêmulas. A sombra da explosão persistia no céu como uma ferida.

    “Isto… isto não é normal”, murmurou Doranjan. Sua voz estava tensa, quase fria e dizendo: “Este nível de energia—”

    “Rank herói”, concluiu Eztein, a palavra vindo como uma lâmina e explicando: “Ninguém abaixo desse nível conseguiria fazer algo assim.”

    O ar ainda pulsava com o tremor secundário — denso, violento, sufocante. Um aviso de algo poderoso. Algo perigoso.

    –Swoosh!!

    Antes que a tribo pudesse se recuperar, Eztein e Doranjan dispararam para o alto, rasgando o céu como feixes duplos. No instante seguinte, desapareceram — nada mais que rastros de luz se dissipando no horizonte.

    “Espere! O sol… ele está quase se pondo!” A voz de Zandir tremia enquanto ele estendia a mão, mas já estavam muito além de seu alcance.

    Sua mão desceu lentamente, os dedos se curvando em um pavor impotente.

    Acima dele, o sol se pondo mergulhava atrás dos penhascos, e os primeiros fios da névoa noturna rastejavam pelo chão — frios, densos, vivos. Deslizavam entre as cabanas como uma criatura faminta, engolindo cores, distorcendo formas, deformando o som. A ilha tremia como se reagisse à sua presença.

    O hálito de Zandir gelou o ar.

    Quando a neblina se dissipou, a ilha mudou. Algo mais despertou.

    Criaturas que a tribo se recusava a nomear.

    Vozes que não pertenciam a nenhum ser vivo.

    Sombras que se agarravam às margens da realidade.

    Ele fitou o horizonte onde os dois estranhos haviam desaparecido.

    Ele não sabia o quão fortes Eztein e Doranjan realmente eram. Mas a maneira como confrontaram aquela energia monstruosa sem hesitar… isso lhe disse que já haviam passado pelo inferno antes.

    Mesmo assim, à medida que a névoa se adensava e o mundo mergulhava numa quietude estranha, uma fria certeza insinuou-se no coração de Zandir:

    Esta ilha estava em transformação.

    E o que quer que estivesse por vir… não seria misericordioso.

    Ao longe…

    Uma mulher solitária atravessava a floresta, suas asas brancas batendo freneticamente enquanto ela desviava de feixes de luz incandescente que cortavam o ar ao seu lado.

    –Boom! Boom!

    Explosões irromperam em rápida sucessão, arrancando árvores pela raiz e pintando o céu de fogo. Estilhaços e poeira a perseguiam, mas ela nunca olhou para trás. Não podia. Não se quisesse viver.

    Sua respiração tremia, sua visão estava turva, mas sua determinação jamais vacilou.

    Ela precisava escapar.

    “Você não pode fugir, Esriel!”

    A voz poderosa trovejou pela floresta, fazendo-a estremecer até o âmago. No instante em que a ouviu, algo dentro dela se quebrou. Suas asas vacilaram.

    Ela conhecia aquela voz. Ela temia aquela voz. E agora, ela sabia — talvez não conseguisse sair dali.

    Um feixe de luz deslumbrante cortou o ar.

    –CRACK—BOOOOM!!

    A explosão errou o corpo dela, mas atingiu o chão ao seu lado, detonando com força suficiente para arremessá-la como uma boneca de pano. Esriel atravessou várias árvores antes de cair no chão, com poeira e folhas se espalhando ao redor de seu corpo destroçado.

    Sangue encheu sua boca. Ela tossiu com força, obrigando-se a ficar de pé com os braços trêmulos. Suas asas se contraíram, penas se espalharam. Uma dor lancinante percorreu seu corpo.

    Ela ergueu o olhar… e paralisou.

    Três figuras pairavam acima dela, suspensas no ar como executores aguardando o veredicto. Uma aura sagrada emanava de seus corpos, iluminando a floresta com uma luz branca e assombrosa.

    Um homem. Duas mulheres. Os três com asas brancas e imaculadas. Os três irradiando divindade. Os três com a mesma expressão: olhares frios de julgamento.

    Eles eram anjos.

    “Esriel”, disse um anjo, com a voz gélida e complementou: “Você ousa nos trair? Você enfrentará o castigo.”

    Esriel cuspiu sangue no chão, com a respiração ofegante.

    “Então me matem!” Ela gritou, a voz rouca de raiva e desespero, clamando ainda mais alto: “Cansei da sua justiça! De todos vocês! Cada um de vocês! São uns farsantes!”

    Os anjos não se abalaram. Seus olhos permaneceram vazios.

    “Então diga suas últimas palavras.”

    Uma delas avançou, energia sagrada envolvendo-a como uma lâmina divina, a luz se concentrando para atingi-la.

    –Clap! Clap!

    Os aplausos lentos ecoaram pela floresta em ruínas.

    Os anjos pararam. Os olhos de Esriel se arregalaram. Os quatro se voltaram na direção do som.

    Um homem caminhava em direção a eles através da fumaça que se dissipava, imperturbável pela pressão divina no ar. Seus passos eram calmos. Calculados. Quase entediados. Atrás dele, uma figura com feições dracônicas movia-se como uma sombra ameaçadora, os olhos brilhando com um foco predatório.

    Eztein e Doranjan.

    Eles haviam chegado.

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