Índice de Capítulo


    『 Tradutor: Crimson 』


    O mundo se distorceu ao redor de Vashno quando ele atravessou a passagem. O espaço se dobrou sobre si mesmo e, em seguida, se abriu bruscamente, revelando um recanto oculto da realidade selado dentro do palácio. Somente com a runa… ou alguém com domínio absoluto sobre o espaço… poderia alcançar este lugar.

    A distorção se dissipou, revelando um reino escuro e compacto — não maior que um pequeno pátio. Uma única casa modesta se erguia em seu centro, sua estrutura de madeira silenciosa e imóvel.

    Mas o silêncio não parecia real.

    Corpos jaziam espalhados pelo chão, em ângulos anormais. O sangue havia se acumulado tempo suficiente para ficar pegajoso e escuro, seu odor metálico denso mesmo nesta dobra isolada do espaço.

    “Eles estão mortos…” Murmurou Vashno ao passar por um cadáver rígido, as botas fazendo um ruído suave em sangue seco.

    Ele se aproximou da casa. A porta rangeu ao abrir sob seu toque.

    Lá dentro, era como se a violência jamais tivesse tocado aquele lugar — nenhum móvel quebrado, nenhuma parede queimada, nenhuma viga desabada. A quietude parecia estranha, como se o próprio espaço se recusasse a reconhecer a carnificina lá fora.

    Apenas algumas marcas de arranhões no chão indicavam uma breve briga.

    Ele percorreu a área com os sentidos. Não havia nada. Quem quer que tivesse vivido ali já havia partido há muito tempo… ou estava morto.

    A julgar pelos cadáveres do lado de fora, a batalha ocorreu há cerca de uma hora.

    Seu olhar se desviou para uma pequena mesa no canto. Sobre ela jazia um único caderno, com a capa gasta pelo uso ao longo dos anos.

    Ele pegou e abriu.

    Um nome lhe chamou a atenção: Anne.

    Uma general de alta patente do império.

    Sua caligrafia era firme, confiante — cada traço carregando o peso de alguém acostumado a comandar. Ela registrou com orgulho seus anos de serviço: as guerras que travou, as fronteiras que protegeu, as pessoas que jurou defender.

    Então o tom mudou.

    Anne descreveu o dia em que o enviado de sua deusa desceu — reluzente, assustador, afirmando que os forasteiros logo invadiriam. Muitos zombaram da ideia. Outros sussurraram que as palavras da enviada eram uma artimanha, uma manipulação.

    Mas então veio a manifestação.

    O enviado revelou o poder dos forasteiros, um poder tão avassalador que Anne escreveu sobre seu imperador caindo em desespero… e sobre ela mesma sentindo algo muito pior: impotência.

    As páginas seguintes retratam a noite em que os forasteiros realmente chegaram.

    Exércitos aniquilados.

    Generais desaparecendo.

    Batalhas perdidas no momento em que começaram.

    O enviado deixou-lhes uma única contramedida: uma pílula capaz de aumentar a força. Mas o seu preço era a loucura. Usar poder em excesso levaria ao colapso mental.

    Vashno virou a página.

    Em branco.

    Outra página.

    Em branco.

    As últimas palavras de Anne terminaram abruptamente — no meio de um pensamento, no meio de uma frase, como se a caneta tivesse sido arrancada de sua mão.

    Vashno fechou o caderno lentamente.

    Ou Anne era um dos corpos mutilados lá fora… ou ela havia tomado a pílula e se perdido completamente.

    Ambos os desfechos foram igualmente sombrios.

    “Enviado…?” Vashno murmurou, franzindo a testa. Como ele havia chegado ali se o reino secreto estava fechado?

    Ele fechou o diário delicadamente, os dedos demorando-se na capa gasta.

    E se ele realmente pretendia proteger o império… então onde está agora?

    Uma leve perturbação roçou a borda de seus sentidos.

    Vashno virou a cabeça bruscamente em direção à porta.

    Ele saiu e então congelou.

    Os cadáveres que antes jaziam espalhados pelo chão como bonecas descartadas agora estavam de pé.

    Duro.

    Chocante.

    Cabeças se contraindo em ângulos anormais enquanto fios invisíveis as puxavam para cima.

    “Mortos-vivos…? Necromancia?” Sua voz baixou para um rosnado gutural.

    Vashno examinou a porção distorcida do espaço, procurando o responsável. O ar estava imóvel. Sem batimentos cardíacos. Sem respiração. Apenas cadáveres — à espera.

    Então atacaram.

    Dezenas de corpos investiram ao mesmo tempo, mandíbulas escancaradas, membros se movendo em movimentos bruscos e frenéticos.

    –Whoosh!

    A expressão de Vashno endureceu.

    “Então eu te mandarei de volta — pro lugar onde nunca deveria ter saído.”

    Sua mana irrompeu como uma detonação vulcânica. O ar ondulou. Seu braço direito se contorceu, expandindo-se em uma massa grotesca e retorcida de carne e tendões. Veias pulsavam como serpentes furiosas sob a pele.

    Longos filamentos de carne, semelhantes a lanças, dispararam, rasgando o ar.

    Eles perfuravam crânios.

    Dilaceraram corações.

    Quebrava ossos com a mesma facilidade com que quebrava galhos secos.

    Dezenas de mortos-vivos foram empalados instantaneamente.

    Com um simples comando de sua vontade, as cordas se retorceram, triturando e despedaçando.

    –Crshhk—krrrch—splatter!

    O sangue jorrava em amplos arcos. Pedaços de carne e costelas estilhaçadas choviam como confete encharcado de sangue. Os mortos-vivos foram reduzidos a nada além de carne moída em segundos, seus pedaços espalhados pelo chão em uma massa fumegante e pastosa.

    O silêncio retornou.

    Vashno retraiu o braço mutante, a carne voltando à sua forma humana com um estalo úmido e nauseante.

    Ele examinou novamente o espaço coberto de sangue — olhos semicerrados, mana se enrolando ao seu redor como uma sombra viva.

    Nada restou, nem um pedaço de osso, nem um resquício de carne podre.

    Apenas o cheiro metálico e sangrento persistia no ar distorcido.

    Mas Vashno estava longe de terminar.

    Um tremor violento percorreu suas costas quando asas douradas, com um tom púrpura, irromperam, rasgando o tecido de seu manto. Penas brilhavam como metal derretido, vibrando com uma força devastadora.

    [Destruição Dourada-Púrpura de Nove Camadas]

    Sua aura explodiu para fora.

    A energia irrompeu violentamente, camada após camada, cada uma delas atingindo o espaço dobrado como um golpe de martelo de um deus irado. Toda a dimensão de bolso estremeceu. O chão sob seus pés explodiu, incapaz de suportar a pressão.

    Vashno disparou para o alto num feixe dourado-púrpura.

    Ele cerrou o punho, os ossos rangendo sob a enorme quantidade de energia.

    Então ele atacou.

    –Boom!!

    O soco não apenas atingiu o ar, ele o estilhaçou.

    Rachaduras espaciais se espalhavam como teias de aranha pela dimensão dobrada. A própria realidade se deformava e rangia como metal sob uma tensão insuportável.

    Ele acertou de novo.

    –BOOM!!

    Dessa vez, as rachaduras não pararam.

    Elas se espalham.

    Multiplicaram.

    Então tudo se quebrou.

    Todo o espaço desmoronou, engolido por uma violenta implosão de luz distorcida.

    Vashno emergiu de volta para dentro do palácio, poeira e distorção rodopiando ao seu redor. Sua presença preenchia o espaço como uma tempestade que desce sobre um campo de cadáveres. Seus sentidos se expandiram — aguçados, implacáveis.

    Todos no palácio se estremeceram.

    Em seguida, moveu-se.

    Então ficou de pé.

    “Exatamente como eu pensava…”

    Sua voz era tão fria que podia congelar o sangue.

    Com um único golpe de suas asas, ele rasgou as muralhas do palácio, estilhaçando a alvenaria. Lá fora, o céu noturno ardia no caos da guerra. Anjos e anjos caídos continuavam a dilacerar os céus.

    Vashno ergueu o olhar, com o maxilar tenso.

    Ele ainda sentia o impacto da necromancia…

    Ainda sentia que algo estava observando…

    E as intenções do enviado mergulharam ainda mais na obscuridade.

    Muitos esquemas se desenrolando ao mesmo tempo.

    “Devo simplesmente ir embora?”, murmurou ele, não por medo, mas porque, mesmo para alguém como ele, aquele caos parecia errado.

    Como se algo muito maior estivesse à espreita por trás da névoa: os mortos-vivos, o enviado e a guerra nos céus.

    Virando a cabeça, ele viu o imperador — outrora um homem venerado desde as favelas mais humildes até as torres mais altas — agora ajoelhado sozinho no telhado destruído de seu próprio palácio.

    O vento passava entre as torres quebradas, carregando consigo o cheiro de fumaça, sangue e pedra queimada.

    Os ombros do imperador tremeram. O desespero tornou seu olhar vazio, transformando seus olhos em duas brasas fracas que fitavam um império reduzido a ruínas fumegantes. O império que ele forjara através de décadas de sacrifício… agora apagado num instante.

    Seus dedos tremiam enquanto ele deslizava a mão para dentro da roupa e retirava um pequeno frasco transparente. Dentro, um líquido negro agitava-se lentamente, salpicado por finas veias de um vermelho brilhante — como sangue pulsando no coração de uma besta.

    “Será este… o fim?”, sussurrou ele, com a voz embargada pelo peso de tudo o que havia perdido.

    O aviso do enviado ecoava em sua mente: “Esta poção lhe concederá poder suficiente para desafiar até mesmo os forasteiros. Mas ela o devorará aos poucos. Não a beba a menos que aceite esse preço.”

    “Não há mesmo outro caminho…?” Murmurou ele, com a voz abafada pelos gritos distantes dos cidadãos moribundos.

    Ele virou à esquerda. Virou à direita. Em todos os lugares, o mesmo pesadelo o recebia.

    Torres majestosas desmoronaram, transformando-se em montes de pó e metal.

    As ruas por onde ele outrora percorria como um governante triunfante estavam agora encharcadas de sangue.

    Os forasteiros devastaram as ruínas, massacrando-se uns aos outros enquanto pisoteavam seu povo.

    O imperador apertou o frasco com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos.

    Pela primeira vez na vida, se sentiu completamente impotente.

    “Hahaha!! Vou matar todos vocês!!”

    A risada do imperador atravessou o céu, selvagem e descontrolada, ecoando sobre as ruínas como o grito de uma besta sem mais nada a perder. A fúria inundou seu coração, consumindo o desespero que o paralisara momentos antes. Seus olhos brilhavam com uma luz enlouquecida e avermelhada.

    Ele ergueu o frasco bem alto e o estilhaçou no ar.

    O frasco estourou como uma pequena estrela, e o líquido negro e oleoso, com fracos brilhos carmesins, espirrou para baixo. Ele abriu bem a boca, deixando cada gota escorrer pelos lábios como veneno engolido de bom grado.

    –Tum!!

    Uma pulsação violenta explodiu em seu peito.

    Os olhos do imperador se abriram de repente e ele caiu de joelhos como se o próprio chão o tivesse puxado para baixo.

    Uma agonia percorreu suas veias. Era como se mil agulhas em brasa o perfurassem de dentro para fora, rasgando músculos, ossos e medula. Sua pele se arrepiava como se algo por baixo dela tentasse se libertar.

    Ele cerrou os dentes, com as veias saltando e a respiração ofegante.

    A dor deveria tê-lo destruído, mas, em vez disso, alimentou ainda mais a chama em seu coração.

    Sua fúria só aumentava. Ficava mais intensa. Mais monstruosa.

    E algo dentro dele começou a despertar.

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