Capítulo 66 - Sanguessuga
— Aprendeu?
— Sim! — respondeu ele, ainda meio atordoado. — E… estou me sentindo muito mais forte — completou, cerrando o punho com firmeza.
— Que bom… — murmurou ela, com um leve sorriso por dentro da máscara.
— Lila… sua mão… ela…
A jovem se desconcertou e afastou rapidamente a mão, que ainda repousava sobre o peitoral de Jaro.
— I-isso… eu só estava verificando seu fluxo de mana, pra ver se estava tudo bem! — Ela tentava se justificar, disfarçando o nervosismo.
Hmm… é a primeira vez que vejo ela assim. Reflitia ele, percebendo a ansiedade dela. Espero que isso aconteça mais vezes. Ele sorriu.
— Pftt… claro — ironizou ele.
O que tá acontecendo comigo hoje?! Lila, tentava entender suas ações atrapalhadas.
— Humf… — Ela se acalmou e continou: — Quando você avança de estágio, o pico de mana aumenta de forma monstruosa, o que é ótimo. Mas, se essa energia não for cultivada, ela se dispersa, e você perde a chance de se tornar ainda mais forte. Foi por isso que te ensinei essa meditação. Essa técnica de cultivo vai te ajudar a controlar melhor sua mana, fortalecer o elemento raio e condensar sua energia para que ela não escape durante uma evolução de estágio.
— Muito obrigado, senhorita Lila! — Jaro se curvou com respeito. — Mas… como posso retribuir? Se quiser, eu—
— Não quero nada. — interrompeu ela com um sorriso sob a máscara. — Essa meditação é básica, na verdade. Nem me serve mais. Só me lembrei dela hoje, e achei que seria útil pra você. — Ela o encarou por um instante. — Além disso, ela também não é a ideal pro seu elemento raio. Mas por enquanto vai ter que servir.
As palavras dela o pegaram desprevenido.
Isso significa que existem meditações ainda mais poderosas? Pensou ele. Essa possibilidade indicava um potencial de evolução muito maior. Jaro mal podia esperar para encontrar a meditação ideal para o seu elemento de raio.
— Poderia me falar mais sobre meu elemento? Não achei informações dele em livros e a instrutora não parecia querer me contar muita coisa.
Lila hesitou por um instante.
— Bem… é um elemento que apenas pouquíssimos humanos conseguem dominar. Dá pra contar nos dedos os que conseguiram.
Esse elemento é tão difícil assim?
— Creio que será complicado para você aprender magias com ele — continuou Lila. — Principalmente porque precisaria de um professor, mas como comentei não tem nenhuma humano que o use, atualmente.
Mesmo sem conseguir ver o semblante dele, ela sentiu que ele estava abalado com a notícia. Por algum motivo, aquilo tocou Lila. Um aperto estranho tomou seu peito, um sentimento que ela só lembrava de ter sentido pela irmãzinha presa no colar espacial do Mercador Kao.
Será que eu devo contar? Pensou ela, angustiada e cerrando os punhos. Ah, dane-se!
— Escuta, eu conheço alguém que pode te ensinar a usar esse elemento, porém ele não é humano.
— Sério?! — os olhos de Jaro brilharam. — Eu posso te dar algumas moedas de ouro se você me ajudar a encontrá-lo.
Moedas de ouro? Esse garoto sabe mesmo o que está dizendo?
— Não fique tão esperançoso. Eu não sei se essa pessoa vai aceitar te ensinar, é só uma possibilidade.
— Que tal cinco moedas de ouro? — respondeu Jaro, com um sorriso confiante sob a máscara.
Cinco moedas de ouro?! De onde ele tirou tanto dinheiro? Será que o mercador Kao deu isso pra ele?
— Mas isso deve ser tudo o que você tem.
— Não se preocupe, são apenas cinco moedas de ouro.
Lila suspirou e, depois de um instante, cedeu.
— Se você diz… então, trato feito. — Um leve sorriso curvou seus lábios. — Bom, vamos continuar com o treino.
— Certo. Mas… se eu desmaiar outras vezes, ainda posso usar seu colo pra descansar?
— Da próxima vez, te deixo caído no chão e ainda piso em você.
— Que desperdício…
Por algum motivo, essa frase a deixou feliz. Significava que ele tinha gostado de descansar no colo dela.
— Anda, levanta logo.
Jaro riu por dentro, se levantou e desembainhou sua espada.
— Essa realmente é uma boa espada — elogiou Lila, analisando a arma que o jovem empunhava.
— É, eu também gosto dela — respondeu Jaro, entrando em posição de combate.
Lila colocou a bainha sobre o ombro direito, mantendo uma postura relaxada.
— Venha com tudo novamente.
— Certo!
Quinze dias se passaram. Nesse período, Jaro e os membros da Equipe III frequentavam as aulas diariamente; depois, costumavam comer juntos e seguir para o treinamento em grupo. Em seguida, Jaro e Serena treinavam com Elise, e, logo depois, ele sempre precisava sair mais cedo para a sessão particular de combates com Lila.
Já à noite, encerrava o dia estudando na biblioteca ao lado de Raizen. Sua relação com o bibliotecário, com a Equipe III e, principalmente, com Lila, se tornava mais profunda a cada dia. Para Jaro, aqueles quinze dias já figuravam entre os melhores de toda a sua vida.
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Durante um dos treinos com Lila, ela finalmente anunciou que encontrariam a tal pessoa.
— Essa é a pessoa — declarou Lila, apontando para Raizen, que exibia um sorriso largo e brilhante. — Ou melhor… o elfo.
— O que você aprontou Carl…
Lila interrompeu o bibliotecário com uma cotovelada nas costelas.
— Eu já falei pra não falar esse nome.
— Hahaha, perdão. Mas é que a idade já me alcançou faz tempo, por isso, as vezes me esqueço de pequenos detalhes.
— Você sempre usa essa desculpa. Dessa vez vou te perdoar porque quero te pedir um favor.
— Hmm. — Ele olhou para Jaro, como se já soubesse o que ela diria.
A presença dele realmente é diferente. Mas ele não parece nada com um elfo. Pensou Jaro. Bem, talvez ele seja mestiço.
— Eu quero que você ajude a mercadoria do meu cliente a usar magia, por favor. — Ela se curvou e, ao notar que Jaro permaneceu parado, colocou a mão na cabeça dele, forçando-o a se curvar também.
— Ele não deveria estar aprendendo isso na base subterrânea?
— Infelizmente, ou felizmente, ele nasceu com o elemento Raio, e você sabe que esse não é um elemento simples como os outros. Mesmo com minha ajuda, o máximo que ele conseguiu foi disparar uma bola de raio…
— Hahaha, entendo, entendo… — Raizen levou a mão ao queixo, ponderando a proposta.
— Então…?
— É realmente surpreendente um humano ter nascido com o elemento Raio. Em quinhentos anos, nunca conheci um pessoalmente. Isso torna esse garoto uma joia rara — murmurou o velho, fixando o olhar em Jaro. — Mas não vou ensiná-lo.
A rejeição pegou Jaro e Lila de surpresa.
— No entanto, se você matar o Demônio Azul, não só vou ensiná-lo magia, como também o aceitarei como discípulo. Que tal?
Lila e Jaro se entreolharam, espantados.
— Eu vou trazer a cabeça dele até você — respondeu Jaro, com a voz firme.
— Você fala bonito, criança humana, hahaha!
Lila acertou um soco na cabeça de Jaro.
— Argh! Pra quê isso?!
— Você tem ideia do que acabou de aceitar?! Só um mago ou espadachim no Estágio Místico, ou acima, poderia matá-lo! — Lila lançou um olhar duro para Raizen. — Se você não queria aceitá-lo, era só dizer. Vamos, número 102.
Vamos desistir assim…? Pensou Jaro, mas sentia que Lila escondia algum plano. Os dois começaram a caminhar em direção à saída.
Essa mulher! rosnou Raizen mentalmente, irritado.
— Calma aí, vocês dois!
— O quê? — Lila se virou.
Raizen pigarreou de leve.
— Que tal assim… Eu ensino a ele uma das minhas meditações?
Lila simplesmente voltou a andar, ignorando-o completamente. Isso deixou Raizen ainda mais desesperado.
— Tá, tá! Além da minha meditação, eu ensino também uma magia. Só uma, ouviu? Apenas uma! Se não aceitarem nem isso, então não ofereço mais nada!
— Perfeito! Estamos de acordo, não é? — indagou ela, olhando pra Jaro, como estivesse satisfeita.
— A-acho que sim… — respondeu o jovem.
Raizen passou a mão pela cabeça enquanto observava os dois jovens se sentaram nas poltronas perto a ele.
Tenho que tomar cuidado com essa raposa… Se vacilar, ela é capaz de roubar até minha cabeça sem que eu perceba!
— Hmph. — Ele também se sentou junto a eles. — Se permitirem, antes de ensiná-lo a meditação, vou contar um pouco sobre os demônios e, principalmente, sobre o Demônio Azul. Para que o jovem, entenda melhor o assunto e a situação.
— Muito bem, prossiga — assentiu Lila.
Finalmente vou poder descobrir mais sobre eles… Jaro sempre quis entender os demônios, especialmente desde o momento em que a Chefe revelou sua verdadeira natureza, uma espada destinada a matar o Rei Demônio e forjada pela Deusa da Guerra, Íris.
Porém, não existia nenhum livro sobre o assunto. E, quando ele tentou perguntar diretamente à Chefe, ela exigiu vinte anos de sua vitalidade em troca da resposta…
Você poderia simplesmente ter me perguntado.
Nem pensar. Fazia um tempo que eu estava me sentindo um cassino conversando contigo! Qualquer pergunta que eu fazia, você queria arrancar dias ou anos da minha vida!
Para alguém que queria morrer, você agora parece bem mais apegado a viver.
Aquilo ficou no passado. Agora quero aproveitar cada segundo da minha vida, até o dia fatídico em que eu tiver que fazer o contrato com você.
Compreendo… De todo modo, dedique-se intensamente aos seus treinamentos. Agora que atingiu o estágio Naka, resta-lhe apenas consolidar o fortalecimento do corpo e aperfeiçoar seu controle sobre a mana para conseguir comprar mais booster.
Lá vai você de novo…

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