Track 01. a song is born

O universo sempre foi um mistério. Além de muitos corpos celestes, há também um incontável número de planetas, onde habitam diferentes formas de vida. Em vários deles, existem seres que estão em sua etapa humana de evolução, e, entre eles, alguns recebem poderes diferenciados chamados Potentia.
Estas pessoas recebem a missão de serem responsáveis pela manutenção de seus mundos, fazendo o possível para que se mantenha a harmonia.
Porém, se tudo no universo é ordenado e caminha conforme essas leis, por que, em algum lugar remoto, há alguém que tanto chora?
Planeta Utopia
Era um dia especial, e Akiko, uma jovem de 14 anos, cabelos lilás e olhos azuis claros, corria apressada até um salão repleto de cristais e quartzo rosa. Estava certamente indo a um grande evento.
De estatura média, Akiko havia escolhido para a ocasião um vestido de organza com drapeados, de estruturas firmes e enormes babados nas laterais. Suas cores eram em degradê de azul, rosa e roxo, com efeito furta-cor, combinando com sua personalidade alegre. No salão principal, avistou um grupo de meninas e cumprimentou todas:
— Olá, meninas! Cheguei cedo, viram?
— Nossa, que surpresa, Akiko… — respondeu Naoko com seu jeito debochado.
Naoko tinha 16 anos, possuía cabelos e olhos negros que contrastavam com sua pele clara. Seu vestido longo possuía tons variados de azul e pequenos detalhes em branco que remetiam à ideia do mar.
— Você só chega cedo quando está curiosa — disse Miyu, erguendo as sobrancelhas.
A jovem Miyu tinha 14 anos. Sua pele negra, cabelos e olhos verdes e sua expressão lhe traziam uma aparência jovial e responsável. Seu vestido, trabalhado com tecidos estruturados, imitava folhas de plantas.
— Akiko está aqui? Estou atrasada? — brincou Megumi, dando uma risada contida.
Aos 22 anos, Megumi era uma mulher alta de cabelos loiros ondulados que reluziam. Seus olhos azul-claros eram cheios de simpatia. Seus lábios pintados com batom vermelho, brincavam fingindo sentir surpresa com a situação. Sua elegância era visível, seu vestido longo e fluido contornava seu corpo com leveza, e o brilho sutil iluminava sua figura.
— Ora, ora. Mas que surpresa, não é mesmo? — disse Sayuri, aproximando-se do grupo.
A mais madura do grupo, com 30 anos, Sayuri exibia um sorriso simpático. Seus cabelos eram negros, curtos e ondulados, e seus olhos azuis transmitiam sua simpatia. Seu vestido era longo e leve, remetendo à fluidez do vento e à sua tranquilidade.
— EI! QUE CONSPIRAÇÃO É ESSA? — reclamou Akiko, enquanto as outras colegas riam de sua reação.
Durante as risadas e brincadeiras, uma pequena garota se aproximou. Ela pediu licença em voz baixa e com timidez. Seu nome era Matsui, 7 anos, olhos azul-claros, cabelos avermelhados e ondulados nas pontas, presos em cada lado. Seu vestido era delicado, em suaves tonalidades de rosa. Era feito de organza com estruturas em formato de pétalas, que lembravam uma flor.
— Mana! Vem! — Akiko olhou para trás.
Ao lado da garotinha estava uma mulher alta, de cabelos na mesma cor dos de Akiko. Seu vestido de organza nas cores do arco-íris deslizava pelo chão. Era a Sra. Yajima, 37 anos, mãe de Akiko e Matsui, que franziu sua testa e encarou sua filha mais velha com seriedade:
— Cuide bem de Matsui, certo, Akiko? Não quero ver você correndo por aí. Não se sujem, não se atrasem… Você sabe que a festa dela é hoje à noite.
— Mãe! — reclamou Akiko. — Eu já entendi!
Nesse meio tempo, Sayuri se aproximou da mãe de Akiko e encostou em seu ombro.
— Não se preocupe, Sra. Yajima. Eu cuidarei delas.
— Bom saber disso. Obrigada, Sayuri. Confio em você.
Akiko observou ambas e pensou em como Sayuri era tão boa em se comunicar com os outros. Sra. Yajima logo olhou com carinho para suas filhas e se despediu:
— Bem, estou saindo agora. Até mais!
Após um tempo de espera, o salão de cristais sentiu a presença marcante de uma mulher que surgia. Sua altura, cabelos castanhos longos e ondulados e pele morena eram marcas de sua imponência. Usava um vestido preto assimétrico. De feição autoritária, ela encarava o grupo de jovens.
— Potentia do planeta Utopia. Eu, Ayami, Potentia do Julgamento, estou aqui para conduzir todas vocês hoje — apresentou-se. Cada palavra parecia um comando firme, cheia de formalidade.
A pequena Matsui ficou confusa com a aparição repentina e se perguntou de onde aquela mulher tinha vindo. Sayuri percebeu e apontou na direção do núcleo de cristais, que brilhava intensamente:
— Ela veio dali. Ali é como uma porta que conecta o nosso mundo a outros mais distantes.
Após esta pequena interrupção, Ayami continuou sua fala:
— Vim mais cedo que o combinado, pois gostaria de convidar vocês sete para uma missão.
— Mas, senhora… Nós estamos em seis, não tem sétima, não — corrigiu Akiko, usando toda a educação e formalidade que lhe era possível.
— Ah… é verdade. A sétima está na Terra — confirmou Sayuri.
— Ela foi pra lá de novo? — perguntou Naoko.
— Sim! Aino mora lá, faz tanto tempo que não nos visita — respondeu Megumi.
A sensação de tensão começou a tomar conta do local, a expressão de poder e superioridade de Ayami começou a se desfazer.
— Como? Como pode? Por quê? — murmurou.
— Senhora Ayami!? Por favor, o que está acontecendo? — Megumi estranhou a situação.
— Eu decidi… — disse Ayami de maneira áspera. — Que não quero mais a ajuda de vocês.
Ela levantou sua mão em direção ao altar de cristais por onde veio, deixando as meninas confusas. Os fios metalizados do vestido reluziam como faíscas, acompanhando o movimento. Uma energia escura se formava em sua mão.
Ayami disparou sua Potentia, uma esfera negra que logo tomou o local, e sua força atingiu o centro do altar. O tempo parecia que havia parado, num instante, tudo se apagou, sem espaço para lamentos ou para últimas lembranças. As meninas ficaram incapazes de reagir ou entender o vazio que engoliu a luz diante delas.
A grande explosão que ocorreu deixou um espaço vazio naquele sistema planetário. Utopia havia deixado de existir. Ayami permanecia protegida dentro de uma espécie de escudo arredondado e translúcido que envolvia todo seu corpo. Olhando para aquele nada, ponderou:
— Hum… É, talvez eu tenha exagerado.
A expressão de Ayami era séria e, apesar de sua fala, não havia compaixão nem arrependimento em seu olhar. Na verdade, encontrava-se um certo ar de desdém pela situação.
Enquanto permanecia no local, Ayami sentiu uma presença que, pouco a pouco, se aproximava dela. Quando estava muito próxima às suas costas, se virou, e uma expressão de espanto tomou seu rosto. A presença era de uma outra mulher de longos cabelos rosas que a encarava em silêncio.
— Você! — Ayami arregalou seus olhos, encarando-a.
Planeta Terra, 12 de novembro, noite
No mesmo instante em que o vazio se formava naquele canto do universo, em um planeta distante chamado Terra, uma jovem de cabelos longos, pretos, com franja se revirava na cama, alheia ao que estava por vir, tendo problemas para dormir.
— Que droga! — murmurou, incomodada. — Que sensação estranha… Não consigo dormir.
1º de março do ano seguinte
Numa espaçosa casa de dois pisos, localizada num dos bairros nobres da cidade, um despertador tocava freneticamente. Eram seis da manhã e hora de começar a rotina.
— Ah, não… Eu ainda estou com sono — reclamou um homem de cabelos e olhos negros, chamado Guang.
Sayuri, que estava deitada ao seu lado, não conseguiu conter o riso com o comentário do marido.
— Mas temos que acordar. Vou chamar as meninas.
Sayuri levantou da cama e se dirigiu ao outro quarto, abrindo a porta silenciosamente para chamar as jovens:
— Bom dia, meninas! Hoje é o primeiro dia de aula, vamos acordar!
No quarto havia duas camas simples e um beliche. Megumi já estava se espreguiçando e acordando. Naoko não estava no quarto, pois já havia se levantado e estava se arrumando.
— Bom dia, Sayuri — cumprimentou Megumi, de bom humor.
Na outra cama, a pequena Matsui estava dormindo profundamente. Miyu, que dormia na cama debaixo do beliche, sentava-se lentamente na cama em silêncio, acordando aos poucos. E na cama de cima, Akiko escondia seu rosto debaixo do travesseiro e voltava a se cobrir.
— Não, não, não… — repetia como um mantra, indignada por ter que acordar tão cedo.
Após os eventos confusos de Utopia, todas tentavam levar uma vida normal em seu novo lar. Acostumada com a rotina, Sayuri já sabia o que fazer, e, num tom simpático, disse a todas:
— Vamos rapidinho. Guang precisa trabalhar e vai dar carona para vocês… Ah, e quem demorar vai ficar sem café da manhã.
— QUEEEEEEE?
Akiko levantou num pulo, assustada com a ideia de ficar sem comer pela manhã.
Não demorou para que todas ficassem prontas e tomassem um generoso café. Megumi, que não estava mais em idade escolar, pôde aproveitar esse momento para fazer sua rotina diária com tranquilidade.
— Vamos logo para o carro. Não vamos nos atrasar — chamou Guang.
Antes de ir, ele se aproximou de Sayuri e lhe deu um beijo, avisando que retornaria mais cedo naquele dia.
O carro de Guang era espaçoso o suficiente para comportar ele e as meninas. A escola ficava no caminho, então deixou-as na frente e seguiu até o trabalho.
Chegando, elas desceram do carro e observaram o novo ambiente. O colégio tinha três pavimentos, a vegetação na entrada conferia um clima acolhedor e parecia ter muitos alunos.
Miyu possuía um gosto especial pelos estudos e estava animada, Akiko ficou impressionada com o tamanho da escola. Já Naoko, mais pé no chão, lembrou-as que era apenas um colégio e aquele exagero não era necessário.
Era o dia de estrear o uniforme escolar. A camiseta branca de malha com a estampa do logo da escola era solta e permitia os movimentos agitados das crianças e adolescentes. Os meninos usavam calça e as meninas costumavam usar saia, na cor vermelha. O padrão escolar também exigia meias brancas com tênis brancos ou pretos.
Elas entraram no colégio e avistaram muitos estudantes aglomerados olhando as listagens de folhas espalhadas pelas paredes. O som confuso dos alunos em conversas paralelas, misturado ao barulho incessante dos passos mostravam o quão caótico era aquele ambiente.
— Olha, Akiko, ali tem um grupo grande. Deve ser para ver as turmas — disse Miyu, enquanto apontava para o local.
— Ahhhh, pode crer, vamos lá checar!
Elas conseguiram se aproximar das listas do primeiro ano do ensino médio e viram que estavam juntas na mesma turma, além disso, mais um nome na lista chamava atenção.
— Miyu! É o destino, estamos na mesma sala que a Aino!
— Deve, deve…
Miyu começou a observar em volta e identificou sua amiga, tocando no ombro de Akiko para perguntar:
— Akiko, aquela lá não é a Aino?
Akiko se virou, viu sua amiga e gritou, correndo escandalosamente em direção a ela:
— AINOOOOOO!!!
— MAS O QUÊ? — Aino congelou.
— Aino! Que saudades! Que lindo que tá seu cabelo! Como é bom ouvir sua voz fina como um gatinho miando!
Aino era alta, de ombros tensos, cabelos castanhos com finas mechas loiras, olhos escuros e pele bastante clara. Tinha a voz mais aguda que o normal. Sua preocupação na vida era manter sua reputação, pois não gostava de chamar atenção desnecessária. Algo que Akiko, com seu jeito espontâneo, não estava permitindo. Ela se pendurou no pescoço de Aino e não parecia que a largaria tão cedo.
— Eu tô passando vergonha… — reclamou Aino, mas não adiantou.
Passando ao lado, uma estudante viu a cena e decidiu se unir, pendurando-se no outro ombro de Aino. Akiko e ela acabaram por trocar olhares.
— Olá, sou Akiko. Esta aqui é Miyu, muito prazer! Somos amigas da Aino. — Ela foi se soltando do ombro de Aino para se apresentar.
— Me chamo Yukino. Eu sou prima de terceiro grau da Aino.
Yukino era uma jovem de pele clara, cabelos longos, pretos com franja, olhos castanhos e que vestia o uniforme escolar masculino.
— Nossa! Que legal conhecer uma parente da Aino aqui no plan…
Akiko foi subitamente interrompida por Miyu, que tampou sua boca.
— Que legal, Yukino! — Miyu sorriu sem graça. — E nos conte, como é a escola?
— A escola? Tá, vamos ver. Os professores até explicam bem. Alguns são legais. Mas tem algumas coisas que não são necessárias. Os eventos escolares e competições esportivas, por exemplo, não são exatamente o problema, mas fazem com que seja obrigatória a participação de todos porque vale nota para a equipe vencedora, mas no final, todos sempre ganham a pontuação. O que tá tudo bem, mas todo mundo briga porque pensa que não vai ganhar nada. E falando do pessoal, a maioria está numa fase chata. Parecem até que estão no cio. A preocupação deles se resume em quem consegue beijar mais pessoas em um dia… Mas tem um pessoal legal também — disse Yukino sem pausar, mantendo sua expressão facial neutra.
Miyu e Akiko não conseguiram disfarçar a cara de espanto escutando a menina contar suas experiências naquele estabelecimento de ensino. Internamente, se questionaram se deveriam ter perguntado, mas logo pensaram que poderia ser um exagero dela.
Nesse meio tempo, Naoko, que era alta, facilmente se aproximou da lista de salas do último ano do colegial.
“302, tanto faz, não conheço ninguém mesmo”, pensou Naoko.
As meninas foram para suas salas assistir às aulas. Akiko não parava de pensar em como tudo era tão novo para ela.
Durante suas atividades, a jovem ficava em devaneios e nunca teria imaginado o quão cansativo seu primeiro dia de aula do ensino médio seria.
“Foi a manhã toda de aula. Esse primeiro dia foi bem cansativo. O primeiro professor nem se apresentou e passou o calendário de provas até o meio do ano.
Os alunos ficaram falando mal uns dos outros durante a maior parte da aula. Não fiz nenhum amigo.
Aino ficou babando pelo professor de matemática, várias garotas ficaram. Não consegui entender o porquê.
Reclamaram que eu era muito clara e devia me bronzear para ficar bonita. Mas também reclamaram da Miyu porque era muito escura. Não entendi nada.
Talvez Yukino tenha razão, isso é uma selva”. A mente de Akiko estava em loop infinito de pensamentos sobre aquela manhã, tão diferentes de seus dias em Utopia.

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